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Como um santo dos últimos dias encontrou alegria ao servir como missionário quatro anos depois do acidente que o deixou sem movimentos

PROVO, Utah — o élder Josh Hinton era aquele “cara” que você conhece na escola e que parece equilibrar o mundo numa corda enquanto todos os outros estão tentando sobreviver ao sétimo ano.

Josh era o “amigão” de todos no campus da Escola de Ensino Médio Park High de Utah, apesar de ele mesmo não se ver assim.

Mesmo quando era o presidente do corpo estudantil, esse membro da Igreja desde o nascimento encontrava tempo para ter boas notas e competir no Stallion Track Club e em equipes de cross country.

E Josh era dançarino. Ele dançava qualquer estilo: dança de salão, jazz, hip-hop.

“Comecei a dançar em meu primeiro ano no ensino médio, e no terceiro ano comecei a levar a dança muito a sério”, afirmou.

Seu estilo favorito era o balé. Depois de se formar no ensino médio, Josh passou o verão estudando na Escola de Dança Anaheim Ballet, na Califórnia.

Ele decidiu que a dança sempre faria parte de sua vida, fosse como dançarino ou instrutor.

Mas ele planejou que antes estudaria na Universidade Brigham Young e depois serviria missão de tempo integral.

Passaram-se quatro anos desde que ele havia se matriculado nessa universidade da Igreja. E élder Hinton, que já está servindo missão há vários meses no estúdio de cinema da Igreja em Provo, sabe que mesmo a vida mais bem planejada raramente segue um caminho regular e livre de obstáculos.

Ele tem apenas 22 anos, idade em que a maioria dos membros da Igreja está começando a sentir os ares da idade adulta. Mas esse missionário, com seu largo sorriso e olhos que irradiam sabedoria, já está bem amadurecido devido às tempestades de mudança e decepção que se abateram sobre ele.

Tragédia inconcebível

O dia 29 de agosto era o sábado anterior ao início de mais um semestre na BYU, e Josh Hinton, de 18 anos de idade, se divertia em sua festa de Orientação aos Calouros realizada ao ar livre.

No dia 29 de agosto de 2015, Josh Hinton quebrou o pescoço enquanto participava das atividades de instruções aos calouros da BYU. Enquanto ele estava na UTI, sua mãe, Jen Hinton, colocou o iPhone perto do ouvido dele e tocou música de Alex Boye. Ela disse que viu seu filho se acalmar e respirar com mais facilidade. | Cortesia da família

Sendo ele sempre muito competidor, decidiu correr com outro aluno através da pista inflável de obstáculos. “Quando entrei em um túnel da pista, bati a cabeça em alguma coisa (…) e quebrei três vértebras.”

Sua medula espinhal  também ficou seriamente ferida. Ele não sentiu nenhuma dor enquanto estava no chão. Na verdade, ele não sentiu nada.

“Eu não estava morrendo de medo, mas lembro que gritei por socorro. Não conseguia respirar direito, e por isso me concentrei na respiração. As palavras saiam com dificuldade.”

Uma ambulância o levou para um hospital de Provo, dando início ao que viria a se tornar mais de um ano de tratamento médico intensivo e terapia em instalações médicas em Utah e no Colorado. Aquele jovem e promissor bailarino e provável futuro missionário havia perdido os movimentos das pernas e grande parte dos movimentos dos braços, inclusive das mãos e dedos.

Sua primeira defesa foi não aceitar as consequências do acidente. “Sou um procrastinador de natureza”, disse rindo.

Mas, através de cada estágio do tratamento — as passagens pela unidade de tratamento intensivo, o início e término da terapia de reabilitação em casa, e a volta para casa numa cadeira de rodas — ele foi forçado a aceitar que sua rotina diária havia mudado para sempre.

Foi difícil. Sua vida mortal jamais seria como antes.

O marco de dois anos após o acidente chegou com um desânimo justificado. “Eu continuava na mesma”, comentou. “Foi muito triste quando percebi que esta situação poderia continuar por mais tempo do que eu imaginava.”

No dia 29 de agosto de 2015, Josh Hinton participava das instruções aos calouros da BYU. Ele estava correndo em uma pista de obstáculos inflável quando bateu a cabeça em um dos postes infláveis e quebrou o pescoço. | John Wilson, Deseret News

Mas também houve vitórias.

Durante o tempo em que permaneceu na UTI, os médicos não sabiam se ele recobraria os movimentos dos braços. Porém ele se dedicou arduamente com os especialistas durante o longo período em que esteve em um centro de reabilitação no Colorado. Esforçar-se para recobrar a força em seus braços se tornou seu “trabalho” de tempo integral.

“Três meses após o acidente, eu havia progredido de modo impressionante.”

A maior parte de sua terapia concentrava-se em fazê-lo recuperar habilidades diárias, como entrar e sair da cadeira de rodas, escovar os dentes, amarrar os sapatos e se vestir.

Enquanto isso, especialistas em tecnologia o ajudaram a reaprender a usar o teclado do computador, o smart phone e outros dispositivos.

Começar de novo

Depois de mais de um ano de reabilitação no Colorado e em Utah, Josh estava pronto para voltar para a faculdade. Ele estudou no BYU Salt Lake Center por um ano antes de se mudar com a irmã para o Condado de Utah para estudar no campus de Provo.

A transição para uma vida de aluno de tempo integral trouxe algumas emoções inesperadas.

“Eu estava com medo e ficava nervoso com qualquer coisa”, confessou Josh. “Eu ia para a aula e depois voltava para casa o mais rápido possível, onde eu sabia que encontraria segurança.”

Mas mesmo durante os momentos mais difíceis e estressantes da recuperação, o maior desejo de Josh, de usar a plaqueta de missionário, nunca desapareceu.

Sua mãe, Jen, havia servido no Brasil. Seu pai, Todd, no Japão. E ele passou a amar a Califórnia quando lá esteve para estudar balé depois do ensino médio. “Então, quando eu imaginava onde serviria missão, Brasil, Japão e Califórnia sempre me vinham à mente.”

“Mas o serviço missionário em uma terra distante, ou mesmo em um estado vizinho, não era mais uma opção; mas seus talentos ainda eram necessários”, afirmou o bispo de Josh, John Russell.

“Quando perguntei ao Josh se ele estava interessado numa missão de serviço, ele brilhou como uma árvore de Natal”, comentou o bispo Russell, que preside a ala 215 para jovens adultos solteiros, em Provo.

Josh aceitou o chamado para servir cinco dias por semana durante dois anos no estúdio de cinema, onde muitos dos filmes e vídeos patrocinados pela Igreja são produzidos. Assim como missionários em todo o mundo, élder Hinton aprendeu o valor de ser flexível. Às vezes ele recebe a designação de realizar pesquisa histórica para futuros projetos de filmagem. Outras dias ele passa editando vídeos ou transcrevendo diálogos que serão enviados para tradução.

O élder Joshua Hinton, ao centro, conversa com o élder Jacob Mower, à esquerda, e com o élder Saxon Tornow, antes de uma reunião do conselho de liderança no LDS Motion Picture Studio, em Provo, na quarta-feira, dia 10 de abril de 2019. | Laura Seitz, Deseret News

Ele também é líder na missão, responsável por cuidar de outros missionários de serviço. Ele frequentemente se reúne com élderes e sísteres para incentivá-los, passar designações e ajudá-los a ter sucesso no chamado.

Ryan Johnson, gerente de operações dos missionários de serviço da Igreja no estúdio, diz que o élder Hinton é um “astro” e um “líder nato”.

“Ele é muito carismático e amigável. Sempre o vejo otimista a respeito de uma designação”, afirmou Ryan. “Outros missionários o buscam por sua liderança.”

Tanto Ryan quanto o bispo Russell percebem que o élder Hinton não tolera ser definido por suas dificuldades físicas. Eles tem seus dias positivos e, é claro, seus dias não muito bons. Mas se concentra no serviço e em suas habilidades.

“Para qualquer coisa que eu lhe peça para fazer, sua resposta é sempre ‘Ok, vou tentar’. Então ele vai e descobre como solucionar o problema”, acrescentou Ryan.

O bispo Russell disse que várias pessoas da ala (inclusive ele mesmo) são inspirados pela personalidade  que o élder Hinton tem de sempre achar que é capaz de fazer algo. Se o jovem missionário não estiver servindo no estúdio, ele vai estar provavelmente concentrado em sua designação na ala de jovens adultos solteiros: líder de noites familiares. Ele planeja e coordena as reuniões de noite familiar de cada semana, certificando-se de que cada atividade promova inclusão e aprendizado do evangelho.

O élder Joshua Hinton e a irmã Kirsten Widmer escolhem um hino durante a reunião do conselho de liderança no LDS Motion Picture Studio, em Provo, na quarta-feira, dia 10 de abril de 2019. | Laura Seitz, Deseret News

“O élder Hinton é muito grato pelo evangelho em sua vida”, disse o bispo. “Ele tem certeza de que um dia ele será curado”, acrescentou.

Ao observar os vários meses em que já está servindo como missionário, o élder Hinton percebe seu desenvolvimento pessoal. Ele diz que tem sido abençoado por seus esforços.

“Sou sem dúvida mais autoconfiante agora”, afirmou. “Meu conhecimento do Salvador cresceu muito, e conheço a felicidade que temos ao servir a Ele.”

O élder Hinton planeja servir até maio de 2020, depois do que retornará a seu curso de finanças e administração empresarial.  E também espera um dia se casar com a garota de seus sonhos.

Enquanto isso, ele dirige o próprio carro, adaptado com um joystick que ele usa para acelerar e frear com uma das mãos enquanto controla o volante com a outra. “Dirijo até Saint George ou Logan ou até onde eu precisar ir”, explicou.

Mais dificuldades o aguardam, mas ele disse que tem ferramentas nas quais pode confiar, como a oração e o estudo das escrituras.

“Servir também ajuda muito, além de passar tempo com minha família. (…) Sei que eles sempre vão estar ao meu lado.”

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