A fé é tão essencial quanto o alimento, disse a irmã Sharon Eubank no Fórum Inter-religioso G20 no sábado, dia 17 de outubro.
“Proteger o papel poderoso e singular da religião na sociedade é um dos principais objetivos possíveis do Fórum Inter-religioso G20”, disse durante o último dia da conferência virtual de cinco dias, organizado pela Arábia Saudita.
Participando remotamente de Utah, a irmã Eubank, primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro e diretora dos Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias, falou sobre o “comprometimento das redes religiosas para a redução do risco de desastres.”
Sua Santidade Catholicos Aram I Keshishian, Patriarca da Catholicosato da Grande Casa da Cilícia no Líbano, ofereceu o principal discurso. Dr. Thoraya Ahmed Obaid, ex subsecretário geral das Nações Unidas, foi o moderador da sessão em que a irmã Eubank apresentou breves comentários e respondeu a perguntas.
Durante a sessão, a irmã Eubank disse que é um erro deixar os socorros e as preparações e, caso de desastres, exclusivamente nas mãos de governos e ONGs, quando comunidades religiosas — com seu alcance prático — podem ajudar.
Os comentários da irmã Eubank seguiram palavras semelhantes do Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, que discursou no Fórum Inter-religioso na quarta-feira, dia 14 de outubro.
Citando as palavras do Élder Bednar, a irmã Eubank disse: “O respeito à dignidade das pessoas religiosas paga dividendos valiosos. Mas estas poderosas oportunidades e benefícios só são possíveis se oficiais reconhecerem que, para crentes e suas comunidades de fé, a religião é essencial para sua identidade e seu próprio ser!”
Fome iminente
A irmã Eubank disse que 265 milhões de pessoas estão agora encarando uma grave insegurança alimentar — quase o dobro do número de 2019, de acordo com os últimos dados das Nações Unidas. Isto ocorreu após a severa infestação de gafanhotos no final de 2019, o rápido início da recessão global provocada pela COVID-19, e as medidas de segurança pública tomadas para prevenir a disseminação da COVID-19.
“Sem ser muito alarmista, se não abordarmos esta crise de maneira coordenada, prevê-se que ela cresça e seja uma das piores fomes da história da humanidade”, disse.
Os Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias montou a maior operação de socorros em seus 35 anos de história, para a COVID-19 e a crise alimentar associada, disse a irmã Eubank.
Novos participantes criativos
Os projetos realizados pelos Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias em resposta à crise se baseiam em relacionamentos de confiança com governos, comunidades e outras religiões, a irmã Eubank continuou.
“Talvez, como eu, vocês tenham ficado chocados ao verem no início do ano, lojas vazias e cadeias de abastecimento interrompidas pelo coronavírus”, a irmã Eubank comentou. “O The New York Times reportou que produtores de leite despejaram milhões de litros todos os dias porque os programas escolares não estavam comprando o produto. Os produtores de batata e cebola estavam arando a safra de volta ao solo, porque restaurantes não estavam comprando. E tudo isso durante um grave período de fome. Cadeias de abastecimento estavam encolhendo e redes de comunidades tradicionais ficaram tensas. Contudo, estas antigas redes encontraram novas combinações criativas.”
Élder Bednar no fórum do G20: ‘Compreender a religião como algo essencial — reflexões sobre a crise de COVID-19 e o lugar da religião’
Cidadãos, estudantes universitários e outros, incluindo os Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias, não tinham experiência, mas diante da crise começaram a comprar leite, batatas e outros produtos crus, disse. Os Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias começaram a comprar batatas e semanalmente colocá-las em caminhões de alimentos e enviá-las para armazéns de alimentos por todo os Estados Unidos.
“As batatas e leite excedentes foram desidratados para serem transportados para outros lugares”, disse. “A antiga rede foi criativa, as novas parcerias foram ágeis e deu certo.”
Jejuar como solidariedade
Falando sobre a “profunda tradição religiosa” dos santos dos últimos dias de jejuar, a irmã Eubank se referiu ao convite do Presidente Russell M. Nelson a todas as pessoas religiosas para participarem de um jejum mundial no dia 10 de abril, pedindo a Deus para ajudar e aliviar os fardos daqueles sofrendo com a pandemia.
“Este convite uniu milhões de pessoas em uma causa unificada. Recebi dúzias de mensagens, mas aqui está uma que meus amigos em Rahma Relief enviaram: ‘Muito obrigado pelo … convite para jejuar. Para nós, jejuar é uma grande experiência e um exercício que fazemos durante … todo o mês do Ramadã, do nascer ao pôr do sol, que começará em 23 de abril. Minha esposa e eu fazemos o jejum e oramos pela segurança de todos, independentemente do local ou religião.’”
Os fundos doados pelas pessoas que jejuaram possibilitaram centenas de milhares de refeições para pessoas famintas, disse a irmã Eubank. “Também trouxe solidariedade e uma coesão social que parece ocorrer unicamente quando as pessoas cooperam voluntariamente.”
Resposta imediata
Centenas de projetos dos Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias ficaram responsáveis por levarem comida imediata às famílias. Uma família no Irã, cujo pai e filho de 8 anos coletavam sucata para um corretor, foi um caso típico entre aqueles em necessidade. “Quando o pai faleceu de COVID-19, o jovem rapaz e sua irmã de 7 anos não conseguiam coletar sucata suficiente para comprar comida. Eles estavam famintos, até que a organização Mother Without Borders, com recursos provindos dos Serviços Humanitários Santos dos Últimos Dias, levou um mês de suprimentos alimentares e ajuda para a família.”
A irmã Eubank acrescentou que, “à medida que as cadeias de abastecimento se desintegram, que a seca piora, que as remessas não aparecem, e conforme o número de mortes pelo vírus atingem os pais nas famílias”, este será um problema cada vez maior.
“Comunidades religiosas podem fazer mais do que identificar pessoas em maior necessidade, pois podem juntar suas carências com as forças locais e fornecer um apoio contínuo a famílias como esta.”
Preparação a longo prazo
A irmã Eubank disse que as famílias podem e devem enfocar em preparações a longo prazo. “Recuso-me a ignorar o impacto de uma família economizando uma simples colher de sopa de arroz colocada todas as noites em uma garrafa pet para construir uma pequena reserva, ou uma lata extra de água escondida debaixo da mesa”, disse. “Aplaudo as comunidades locais que fazem cópias de documentos de identidade ou asseguram um gerador solar. Quero que cada criança conheça a árvore designada onde sua família se reunirá, caso se separem.
“As famílias e comunidades que fazem estas pequenas coisas constroem autonomia. Elas sabem que, se podem resolver estes problemas, podem resolver outros problemas e não precisam necessariamente esperar por agências provendo socorros. Elas precisarão de ajuda? Claro. Mas verão a si mesmas como agentes, e não vítimas.
“Melhor do que qualquer campanha nacional de mídia e mais energética do que qualquer agenda de desenvolvimento das Nações Unidas, comunidades religiosas têm a autoridade moral e alcance para encorajar estes resilientes hábitos de preparação que servem às sociedades em cada nível.”
O que os legisladores podem fazer?
A irmã Eubank ofereceu duas sugestões para legisladores e como podem ajudar líderes religiosos a agirem de maneira mais eficaz.
Primeiro, disse, devem “implementar as questões do Sendai Framework designadas para ajudar comunidades a pensarem por meio de sua preparação.
“Formamos um conselho de líderes locais que incluem as partes religiosas interessadas para fornecerem comunicação e coordenação durante um desastre? As famílias têm alimento e água para emergências por pelo menos 72 horas? A comunidade foi mapeada? Há energia de reserva, instalações de saúde adjuntas, transporte/comunicação alternativa, centros de comando designados e abrigos? A comunidade testou seu plano de emergência? O que podemos fazer para minimizar a perda de vidas e danos e que não estamos fazendo agora?”
Segundo, disse que agentes religiosos devem ser convidados para o processo de decisão. “Sejamos o mais diversificados e inclusivos possível em nossas discussões. Aproveitem o tempo para conhecerem os pontos fortes e as lacunas que estiverem faltando. Desenvolvam relacionamentos pessoais de confiança e respeito.”
Por exemplo, a irmã Eubank elogiou o trabalho contínuo da Baronesa Emma Nicholson e o Diálogo de Windsor “ao colocar líderes religiosos iazidis pela primeira vez em contato próximo com outros líderes religiosos no Iraque, a fim de explicarem sua doutrina, reduzirem o medo sobre sua adoração e para curarem feridas antigas. Este é um claro esforço para se evitar o próximo genocídio com as cinzas do antigo. Quando alguém lhe perguntou, ‘Como vocês conseguiram que eles viessem?’ Ela disse, ‘Convidei-os’”.
Nos momentos finais da sessão, a irmã Eubank falou sobre uma importante prioridade para se seguir em frente: “A pandemia nos revelou algo que é mais assustador do que uma pandemia de saúde global, que é a fraqueza que temos ao desconfiarmos, ao omitirmos informações e ao não sermos capazes de cooperarmos juntos, e creio que esta seja uma advertência para nós.”