Muitas vezes ensinamos princípios doutrinários de modo isolado e certamente há o seu momento e lugar. Às vezes, no entanto, é importante ensinar a relação entre tais princípios, uma vez que todos têm o mesmo objetivo principal, ou seja, nos ajudar a obtermos a vida eterna.
Assim, os princípios doutrinários tendem a suplementarem, complementarem, sobreporem e reforçarem uns aos outros nesta busca. Entender a correlação entre tais princípios pode nos dar uma nova e mais ampla perspectiva — algo como olharmos para um quebra-cabeça completo em vez de vermos cada peça individualmente. Por exemplo, alguns podem perguntar: “Como os três princípios doutrinários a seguir se relacionam entre si: O plano de salvação, a Expiação do Salvador e a doutrina de Cristo?”
Conforme compreendemos essas relações doutrinárias, percebemos que cada princípio é um componente essencial do mesmo “quebra-cabeça do evangelho”, em vez de serem individualmente um “quebra-cabeça do evangelho”. Na verdade, cada princípio doutrinário do evangelho depende dos outros para seu sucesso final. Um princípio, sem os outros, não pode atingir plenamente o objetivo para o qual se destina.
O Plano de Salvação
O plano de salvação é o programa divino que estabelece o caminho para retornarmos à presença de Deus e nos tornarmos mais como Ele, para que possamos experimentar a plenitude da alegria. Ele revela nossa origem e nosso destino divinos. O autor deste plano é Deus, o Pai.
Em certo sentido, este plano pode ser comparado a um mapa que nos mostra a única maneira possível de voltarmos a Deus e nos tornarmos como Ele. Por si só, porém, este plano ou mapa não pode nos levar ao destino desejado, daí a necessidade da Expiação do Salvador, parte integrante do plano.
A Expiação do Salvador
A Expiação do Salvador torna possível alcançarmos o objetivo primordial do plano de salvação — retornarmos à presença de Deus e nos tornarmos como Ele. Em outras palavras, é o meio para alcançarmos o fim desejado. Para atingirmos esta meta, o Salvador cumpriu Sua Expiação, que gerou os poderes necessários para vencermos os obstáculos que dificultam nossa busca pela vida eterna, ou seja: a morte física, o pecado, as aflições e fraquezas.
Os dois primeiros obstáculos mencionados podem ser vencidos pelo que poderia ser chamado de poderes redentores da Expiação de Cristo, pois Ele nos redimiu da morte através de Sua ressurreição, a qual também nos limpa de nossos pecados, disponibilizando a condição do arrependimento. Os dois últimos obstáculos podem ser vencidos pelo que poderia ser chamado de poderes habilitadores de Cristo, possibilitados por Sua Expiação, pois Seu sofrimento O investiu com o poder de nos fortalecer em nossas aflições (ver Alma 7:11), assim como o poder de nos ajudar a superarmos as fraquezas para que possamos nos tornar mais divinos (ver Morôni 10:32-33).
O autor, ou contribuinte, da Expiação é, naturalmente, Jesus Cristo. Em certo sentido, a Expiação de Cristo pode ser comparada a um veículo espiritual que tem o poder de nos transportar ao longo do caminho divino designado pelo plano de salvação. Mas este veículo, por si só, não pode nos levar ao destino desejado sem um motorista, daí a necessidade da doutrina de Cristo.
A Doutrina de Cristo
Esta doutrina nos comanda a termos fé em Jesus Cristo, nos arrependermos, sermos batizados, recebermos o dom do Espírito Santo, nos banquetearmos com as palavras de Cristo e perseverarmos até o fim (ver 2 Néfi 31:15-21), tudo isto feito propositalmente por causa da Expiação de Cristo.
Mas esta doutrina só se torna plenamente eficaz quando também contribuímos para a equação — quando cada um de nós coloca esses princípios e ordenanças em funcionamento. Conforme a aplicamos, nos tornamos o motorista espiritual, que pode então recorrer aos plenos poderes de Cristo, possíveis por meio de Sua Expiação (o veículo espiritual que torna nosso progresso possível). Isto nos permite voltar à presença de Deus e nos tornarmos mais semelhantes a Ele.
Assim, a doutrina de Cristo se torna a chave que desbloqueia os poderes da Expiação do Salvador para que o plano de salvação possa se tornar uma realidade em nossa vida e não apenas um sonho idealista.
Resumo em forma de gráfico
Sob uma perspectiva, a inter-relação entre estes três princípios doutrinários pode ser resumida usando componentes de um gráfico da maneira como segue.
Nenhum destes princípios doutrinários sozinhos pode nos salvar, mas quando trabalham em harmonia, o objetivo da salvação, até mesmo a exaltação, é possível. Por isso é tão importante, não só compreender separadamente os princípios doutrinários do evangelho, mas também como eles se relacionam uns com os outros. Isto melhora nossa visão do “quebra-cabeça do evangelho por inteiro”. E com esta visão aprimorada vem a fé e a motivação aprimoradas para trilharmos o caminho que conduz à vida eterna.
Talvez tenha sido isso em parte a que Paulo estava se referindo quando disse: “Para, na dispensação da plenitude dos tempos, tornar a congregar em Cristo todas as coisas” (Efésios 1:10). Todas as coisas certamente incluem os princípios doutrinários e as ordenanças do evangelho. Portanto, conforme entendemos melhor sua inter-relação, ajudamos a “congregar todas as coisas em Cristo”.
— Tad R. Callister é setenta autoridade geral emérita e ex-presidente geral da Escola Dominical.