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Como um roubo levou uma família a criar um armário com comida gratuita para os que têm fome

A filha de quatro anos e o filho de dois anos de Xan Craven são fotografados em frente a um armário com comida gratuita que a família Craven organizou em Menlo Park, Califórnia, em janeiro de 2021. Crédito: Xan Craven
A filha de quatro anos de Xan Craven dá uma olhada nas doações de alimento dentro do armário com comida gratuita que eles pintaram e colocaram na esquina de uma rua em Menlo Park, Califórnia, em janeiro de 2021. Crédito: Xan Craven
O armário com comida que Xan Craven e sua família organizaram em Menlo Park, Califórnia, em janeiro de 2021, tem um quadro branco na parte de dentro, no qual as pessoas podem solicitar itens. Crédito: Xan Craven
O filho de dois anos de Xan Craven, perto do armário com comida gratuita que a família colocou na esquina de um cruzamento em Menlo Park, Califórnia, após terem tido comida roubada de sua garagem aberta em janeiro de 2021. Crédito: Xan Craven

Algumas semanas atrás, Xan Craven recebeu uma intrigante mensagem de texto de seu esposo. 

“Ei, você mudou meus lanchinhos de lugar?” Spencer Craven perguntou. Não, ela não tinha mudado. 

O lanchinho guardado na garagem aberta de seu apartamento em Menlo Park, Califórnia, consistia de comida e bebidas que eles não compravam normalmente – guloseimas que Spencer poderia pegar no seu caminho de ida para o trabalho ou de volta para casa, depois de longas horas de trabalho na unidade de tratamento intensivo do Hospital de Stanford. 

Perplexa com o lanchinho desaparecido, Xan Craven verificou as imagens da câmera de segurança de sua casa. Ela viu que, enquanto buscava sua filha na escola, um homem em uma bicicleta entrou na garagem, colocou a comida e as bebidas em sua mochila e foi embora. 

“Fiquei muito ansiosa e com muito medo”, ela disse. Apesar de viverem com um orçamento reduzido – Spencer Craven ainda está em treinamento como residente de cuidados neurocríticos – não se tratava apenas de comida.

Este não foi o primeiro roubo que tiveram. Quando se mudaram para seu apartamento, no último verão, a bicicleta de Spencer Craven foi roubada. Uma fotógrafa que fica em casa, em período integral, com seu filho de dois anos e sua filha de quatro anos, Xan Craven disse que se sentia preocupada e desanimada. 

Ela postou sobre sua experiência em grupos locais do Facebook e no aplicativo Nextdoor para alertar os vizinhos. Na esperança de encontrar compaixão e consolo, algumas respostas a surpreenderam – e afinal, mudaram sua reação à situação. 

Embora muitos tivessem sido gentis e compreensivos, alguns sugeriram que ela deveria ter mantido o lanche mais escondido e que o homem, provavelmente, precisava da comida. Alguns mencionaram que durante a Grande Depressão em 1930, pessoas colocavam comida no lado de fora para aqueles que estavam com fome, ou um sinal em suas casas, os convidando para entrarem e se alimentarem.  

“Aqueles foram os comentários que mais me fizeram pensar”, ela disse. Com os desafios da pandemia de COVID-19 e muitas pessoas perdendo seus empregos, “estamos praticamente vivendo uma outra Era de Depressão.”

Ela pensou nas disparidades econômicas que vê na cidade de Menlo Park – evidente nas ruas cheias de moradores de rua vivendo em veículos recreativos, ao mesmo tempo que entradas de casas repletas de carros elétricos da Tesla. 

Xan Craven também se lembrou da conduta abnegada de seu marido. Se o homem que roubou sua comida fosse um dos pacientes de Spencer, “ele cuidaria dele, sem dúvida alguma. Meu esposo ficaria com ele se sua família não pudesse estar lá. …

“Então”, ela disse, “decidi tratar da situação com caridade, ao invés de medo e raiva.”

Da caixa ao armário e mais

Xan Craven pegou uma caixa e, com seus filhos, começaram a olhar a dispensa. Colocaram vários alimentos dentro e ela escreveu com tinta permanente: “Caixa com comida gratuita do bairro. Doe se puder. Pegue o que precisar.”

Eles colocaram a caixa na esquina de um cruzamento perto de sua casa. Xan Craven tirou uma foto da caixa e a publicou online.

O filho de dois anos de Xan Craven, perto do armário com comida gratuita que a família colocou na esquina de um cruzamento em Menlo Park, Califórnia, após terem tido comida roubada de sua garagem aberta em janeiro de 2021.
O filho de dois anos de Xan Craven, perto do armário com comida gratuita que a família colocou na esquina de um cruzamento em Menlo Park, Califórnia, após terem tido comida roubada de sua garagem aberta em janeiro de 2021. | Crédito: Xan Craven

Desta vez, ela disse, “Foi uma enxurrada de comentários gentis e pessoas solidárias, não apenas torcendo por mim, mas perguntando se eles poderiam também contribuir com comida.” Até o final do dia, outras caixas rodeavam a sua. 

Nos dias seguintes, Xan Craven observou mais sacolas e caixas com comida indo e vindo. Logo ela percebeu que eles precisavam de um meio mais adequado de organizar e guardar as crescentes doações. 

Alguém da comunidade viu um armário grátis online e perguntou se a pessoa que estava doando o armário poderia trazê-lo. Xan Craven e seus filhos usaram sobras de tinta spray para arrumá-lo e escreveram nele: “Comida grátis”. Com um skate, eles levaram o armário até a esquina, cheio de comida nova doada pela professora do Jardim de Infância de sua filha.

Dentro do armário, eles colocaram um quadro branco e marcadores para que as pessoas pudessem pedir algo mais específico e que estivessem precisando.

Logo depois da palavra “leite” ter sido escrita, “olhei no armário e alguém já havia colocado muitas caixinhas de leite achocolatado”, Xan Craven disse. “Foi tão rápido. Não tinha tido a chance ainda de falar com todos na página do Facebook e alguém já estava agindo.”

Enquanto as informações se espalhavam e as doações de alimento se multiplicavam, Xan Craven disse que continua a se surpreender pelas respostas de apoio de sua comunidade.

“Na verdade, estamos procurando um outro armário porque o atual não consegue guardar toda a comida que as pessoas estão deixando. Alguém até mesmo se ofereceu para pegar o excedente de comida e deixá-lo no banco de alimentos local, uma vez por semana.

Caridade e uma mente aberta

O bispo David E. Entwistle, da Ala Menlo Park, Estaca Menlo Park, Califórnia, disse que, em um momento quando as pessoas estão limitadas em suas atividades, a experiência negativa da família Craven “na verdade criou um ponto de conexão na comunidade” e tornou-se em uma “verdadeira experiência positiva”.

As restrições da COVID-19 ainda continuam em sua área desde que o pior e mais recente surto da pandemia na California começou, em meados de outubro. Até o dia 25 de janeiro, eles estiveram sob ordem estadual de ficar em casa e toque de recolher às 22h.

A filha de quatro anos de Xan Craven dá uma olhada nas doações de alimento dentro do armário com comida gratuita que eles pintaram e colocaram na esquina de uma rua em Menlo Park, Califórnia, em janeiro de 2021.
A filha de quatro anos de Xan Craven dá uma olhada nas doações de alimento dentro do armário com comida gratuita que eles pintaram e colocaram na esquina de uma rua em Menlo Park, Califórnia, em janeiro de 2021. | Crédito: Xan Craven

O bispo Entwistle disse que ele espera que o exemplo da família Craven possa levar outros a se perguntarem: “Como tornar algo que é difícil em alguma coisa que seja boa?”

Ele ainda acrescentou: “Se observarmos o amor, a compaixão, em suma, a atitude cristã que, de fato, leva alguém a ‘dar a outra face’ – isto é certamente algo grandioso.”

Ao voltar a mente para o “roubo que se tornou em um armário com comida gratuita”, Xan Craven lembra de uma de suas escrituras favoritas: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação.” (2 Timóteo 1:7). 

“O Pai Celestial nos deu um espírito de fortaleza e de amor”, ela disse. “Foi uma lição que eu realmente precisava – nunca julgar ninguém. Sempre há mais na história das pessoas do que aquilo que vemos na superfície.” 

Ela também disse que espera que seus filhos aprendam com esta experiência no futuro, quando encontrarem pessoas com perspectivas diferentes – como os comentários de sua primeira postagem sobre o roubo. 

“Ouça”, disse ela. “E sempre reaja com caridade e uma mente aberta.”

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