Enquanto servia sua missão no Brasil, um dos melhores jogadores de futebol americano universitário, DJ Arnson, escapava um pouco do seu dia de preparação quando pegava de sua mochila uma bola em forma de esfera feita de couro.
Seus pesquisadores e amigos, loucos por futebol, esperavam ver uma bola de futebol. Ao invés disso, o élder Arnson lhes entregava uma bola de futebol… americano.
“Isso sempre ajudava a iniciar uma conversa porque, raramente, alguém já tinha visto uma bola de futebol [americano],” disse, sorrindo. “Os brasileiros sempre perguntavam, ‘por que você está chutando essa bola oval se nós temos tantas bolas redondas por aqui?’”
Confusão à parte, uma coisa era certa. O missionário americano conseguia chutar aquela bola estranha muito alto e muito longe.
Por fim, a extraordinária habilidade de Arnson de chutar uma bola de futebol americano fez com que ganhasse uma bolsa de estudo na Universidade do Norte do Arizona e a premiação como um dos melhores jogadores universitários. O aluno do último ano da universidade e santo dos últimos dias espera que essas mesmas habilidades o ajudem a conquistar um lugar entre os profissionais, depois de finalizar sua carreira esportiva universitária com os Lumberjacks ainda este ano.
Só não fale para Arnson, com 1,83m de altura, que ele é pequeno demais para jogar no próximo nível do esporte. Já falaram isso para ele antes — e ele adora mostrar que os que duvidam estão errados
O nome de seu técnico de futebol, Chris Ball, está no topo da crescente lista daqueles que acreditam em Arnson.
“DJ é uma arma,” disse o técnico para o Church News. “Ele consegue virar o jogo muito rápido.”
Para um jogador que chuta (punter), “virar o jogo” é uma habilidade inestimável. Isso acontece quando um jogador (punter) chuta a bola com distância, altura e precisão suficientes para colocar a unidade ofensiva da equipe rival em seu próprio lado do campo, bem longe do “end zone” da outra equipe.
Um legado de fé — e futebol americano dos Lumberjacks
Um produto de “famílias de santos dos últimos dias muito antigas”, Arnson foi criado em Gilbert, Arizona. Ele é grato por sua herança centralizada no evangelho. Ele reverencia o compromisso de seus ancestrais com o serviço da Igreja e o trabalho do templo.
“A fé sempre foi uma parte importante da minha vida,” disse. “Tive ótimos líderes dos Rapazes e dos escoteiros enquanto crescia e, depois, um grande presidente de missão. Minha fé sempre me sustentou e ajudou a enfrentar muitas coisas em minha vida.”
Arnson era um dos melhores jogadores na escola de Ensino Médio Basha, no Arizona, mas conseguiu chamar pouca atenção dos recrutadores universitários. Mas depois de voltar da Missão Brasil Piracicaba em 2016, ele percebeu que ainda tinha o “jeito” para o futebol americano. Ele também sabia que possuía as habilidades para ser um jogador (punter) universitário.
Ele ingressou na Universidade do Norte do Arizona em Flagstaff, onde seu pai, Derek Arnson, havia jogado antes. Os treinadores da universidade eram encorajadores — mas não prometiam oportunidades no jogo ou uma bolsa de estudo.
“Enfrentar essa adversidade foi um teste de fé,” Arnson admite. “Houve momentos quando me perguntei, ‘por que estou aqui? O que estou fazendo errado? Por que não está sendo mais fácil?’
“Mas por meio de jejum e oração … soube que lá era o lugar onde eu deveria estar.”
Ao relembrar essas coisas, ele consegue enxergar muitas maneiras de como sua missão de tempo integral o preparou para os desafios ao enfrentar um caminho desconhecido. Arnson estava acostumado a fazer coisas difíceis. E ele sabia que a sorte parecia sempre estar a favor daqueles que trabalhavam arduamente.
“Quando voltei de minha missão para casa, eu era um homem, não um menino — e isso me ajudou. … Minha missão continua a sustentar o que sou hoje,” disse.
Arnson entrou para os Lumberjacks nos treinos da primavera de 2017. Quando a temporada de outono começou, ele já havia ganho a posição inicial para chutar e, pouco tempo depois, uma cobiçada bolsa de estudo esportiva.
“Eu não poderia pedir uma bênção maior,” disse. “Tudo volta para o Senhor. Eu O ouvi e me certifiquei de estar na melhor posição possível — e Ele fez todo o resto.”
Como alguém que começou do zero, Arnson venceu os obstáculos ao encontrar seu caminho em direção ao campo de jogo e conseguir uma bolsa de estudo. Mas ele superou todas as expectativas ao se tornar um dos jogadores (punter) de elite da Subdivisão do Campeonato de Futebol Americano (FCS) do esporte universitário.
Durante o terceiro ano da faculdade, ele liderava a Conferência Big Sky com uma média de chute de 41,9 metros. Dezesseis de seus chutes passaram dos 45 metros. E apenas um de seus 57 chutes chegou no ‘end zone’ e marcou um ‘touchback’ [quando o time atacante deixa a bola sair de campo e é recuperada pela defesa do outro time, passando este a ter a posse da bola]. Seu anonimato no futebol americano parece uma memória distante depois de receber várias premiações como um dos melhores jogadores universitários e ter sido indicado finalista do “Jogador (punter) do Ano” da FCS em 2019.
Apesar de valorizar sua habilidade de virar o jogo, Chris Ball é rápido em observar que as contribuições de Arnson não se refletem apenas nas estatísticas. A maturidade e as experiências de vida desse jovem de 24 anos fazem dele um tipo de treinador para as equipes especiais dos Lumberjacks e mais.
“DJ é um grande líder,” disse o treinador, “e seus colegas do time o respeitam. Ele preza muito nosso time.”
Arnson chama de “grande bênção” e uma honra ser um mentor para seus colegas mais novos. “Tento ensinar um velho ditado que aprendi com meu avô: ‘O homem sábio aprende com seus próprios erros. Mas o homem mais sábio aprende com os erros dos outros’.”
A pandemia de COVID-19 impactou de forma dramática os esportes universitários nos Estados Unidos. Para a Universidade do Norte do Arizona e outras universidades da FCS, a temporada tradicional do outono foi reagendada para a primavera de 2021. Os Lumberjacks iniciaram sua temporada no dia 27 de fevereiro, vencendo com dificuldades a Universidade do Sul de Utah por 34-33.
No último outono, Arnson sentiu falta de praticar o esporte que tanto ama. Mas ele é grato por estar competindo agora e espera retornar aos jogos universitários tradicionais no outono. Em seguida, ele se concentrará na Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). Ele sabe que as oportunidades para jogadores (punters) são limitadas entre os profissionais, mas ele está determinado a fazer parte da lista.
“Fui deixado de lado a maior parte da minha carreira de jogador em razão do meu tamanho, sei que não passo no teste visual [para jogadores ‘punters’ profissionais]. … Mas sei que posso colocar uma bola no campo tão bem quanto, ou até melhor, do que qualquer outro,” disse
Metas além do futebol americano
Atletas universitários são classificados como atletas estudantis — mas para alguns jogadores, a parte “estudantil” é colocada em segundo plano. Não para DJ Arnson
Premiado três vezes por excelência acadêmica pela Big Sky, ele já possui bacharelado em Ciências Biomédicas, com ênfase em Química. No momento, ele busca uma especialização em Relações Humanas. A faculdade de Medicina o espera depois que ele chutar sua última bola de futebol americano em jogos de competição.
Mais uma vez, ele atribui ao evangelho o mérito de ter desenvolvido autodisciplina e o gerenciamento de seu tempo de forma inteligente.
“Sempre me recordo dos meus dias de missão.”
Arnson está animado para começar uma nova temporada de futebol americano universitário. Após a primeira semana, os Lumberjacks estão invictos. O otimismo é abundante, mas a estrela (punter) do time também está empolgado para, logo, acrescentar outro título em seu currículo pessoal: esposo.
Ele recentemente pediu a mão de sua namorada em casamento — a também missionária retornada — Sydney Drummond. Ela disse “sim” e eles planejam o casamento para o verão dos Estados Unidos.