Élder Michael Fauber — o missionário de tempo integral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias gravemente ferido no dia 3 de dezembro de 2021, durante um tiroteio em uma capela no Alabama — saiu do incidente com vestígios de cinco balas em seu corpo, mobilidade limitada em seu braço e mão direita, e apreço e testemunho do evangelho fortalecidos.
“Minha recuperação é realmente um milagre — acho que devo continuar”, disse Fauber, de 18 anos, recentemente desobrigado da Missão Alabama Birmingham. “Havia a probabilidade de que eu ficasse instantaneamente paralisado devido à bala que atingiu a minha coluna vertebral. Eu poderia ter sangrado até morrer com o tiro que atingiu o meu fígado.”
Poucos dias após o tiroteio, seus pais,David e Rachel Fauber da Ala Kettering da Estaca Dayton Ohio, falaram sobre seu “sentimento de calma” e gratidão pelas bênçãos e milagres. E em uma recente entrevista com o Church News, Michael Fauber fez seus primeiros comentários públicos sobre o incidente, seus ferimentos, sua reabilitação e sua perspectiva da experiência.
O cenário
Vários companheiros missionários estavam organizando jogos de basquete nas noites de sexta-feira na sede da Estaca Birmingham Alabama em Vestavia Hills, usando os jogos informais para conversar com os participantes, compartilhar uma mensagem espiritual e avaliar o interesse das pessoas em aprender mais sobre a Igreja.
No dia 3 de dezembro, Fauber e seus dois companheiros chegaram atrasados devido à um compromisso de jantar e viram que os outros missionários haviam dado início à atividade, com jogos já em andamento.
Um jogador se destacou. “Ninguém sabia nada sobre ele — tenho certeza de que era a primeira vez que ele comparecia à atividade”, recordou Fauber, descrevendo-o como um homem magro de aproximadamente 1,80 m de altura. “Ele estava jogando muito bem e todos estavam tendo dificuldade para jogar contra ele.”
Depois que o jogo terminou, o jogador se afastou, sentando-se à beira do palco quando outro jogo começou pouco antes das 20h30.
“Eu me sentei ao lado dele e perguntei qual era o seu nome”, disse Fauber. “Ele não respondeu nem disse nada, apenas ficou olhando. Foi meio esquisito.”
O missionário pegou um Livro de Mórmon, voltou-se ao capítulo de 3 Néfi 11 e relatou a visita do Cristo ressuscitado às Américas. “Ofereci-lhe um exemplar e expliquei-lhe brevemente o que era, mas, novamente, não obtive nenhuma resposta, e ele meio que olhava para a frente.
“Naquele momento, decidi deixá-lo em paz, então agradeci a ele por ter vindo, me levantei e deixei um exemplar do livro ao seu lado, caso ele quisesse levá-lo para casa.”
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O tiroteio
Quando Fauber se levantou para voltar a fazer a contagem de pontos, o jogador tirou uma arma de sua mochila. Ele deu dois disparos rápidos, esperou alguns segundos e depois apertou o gatilho mais quatro vezes.
O primeiro tiro atingiu missionário no ombro direito e na área da clavícula. “Eu não sabia que os outros tiros que ele havia disparado tinham me atingido, porque todo o meu corpo entrou em choque. Eu realmente não senti os efeitos das outras balas.”
Fauber sabia que ainda estava consciente, supondo que nenhum tiro havia atingido sua cabeça ou um órgão vital. “Eu estava deitado lá, muito abençoado por não sentir tanta dor”, disse ele, recordando respirar com muita dificuldade.
“Tive a forte impressão de que tudo ficaria bem”, disse ele, consciente do plano de salvação que ele, como missionário, estava ensinando e pensando nas possibilidades. “A opção A era sobreviver a isso e continuar fazendo o que eu estava fazendo — me recuperar e continuar com o trabalho aqui na Terra. Ou morrer e realizar o trabalho do outro lado do véu. Então, de qualquer jeito, tudo ficaria bem; de qualquer forma, as coisas dariam certo.
“E isso apenas aumentou o meu testemunho sobre o plano de salvação. Isso é algo que nunca esquecerei: eu estava lá, possivelmente sangrando até a morte, mas relativamente calmo. Eu estava apenas pensando: “Bem, não importa o que aconteça, tudo vai ficar bem.” … “Para as pessoas que não têm o evangelho em sua vida, duvido que elas pudessem ter sentido isso.”
Os ferimentos
O missionário foi ferido por cinco balas, e uma sexta atingiu sua cabeça de raspão. Todas as cinco balas ainda estão em seu corpo. Os médicos optaram contra a cirurgia invasiva para remover as balas, as quais não representam problemas nem ameaças de envenenamento, pois não são feitas de chumbo.
A primeira bala atravessou sua clavícula direita. “Tenho essa grande placa apoiando meu ombro e tudo lá agora”, diz Fauber. “Provavelmente levará algum tempo até que ela possa ser removida, quando a clavícula estiver restaurada.”
Outra bala atingiu o ombro direito e se fragmentou. “Ela meio que inflou e explodiu, então há um monte de fragmentos no mesmo ombro direito.”
Um desses tiros danificou o plexo braquial, o sistema nervoso que vai da medula espinhal até o ombro e desce até o braço e a mão.
“Essa é a pior lesão até agora”, disse Fauber, que inicialmente ficou com o braço e a mão paralisados. “Após dois meses, consegui mover meus dedos. E faço fisioterapia para melhorar a mobilidade do meu ombro, tentando relaxar os membros afetados e ajudar com o processo de recuperação da melhor forma que posso.”
Os especialistas detalharam os desafios dos danos nos nervos e o que ele chama de tempo de recuperação “louco e longo”, pois os nervos danificados ou cortados levam um tempo substancial para se regenerarem ou se reconectarem. “Eles me disseram que é muito possível que, caso eu consiga restaurar a mobilidade completa do meu braço e da minha mão, isso leve pelo menos uns dois anos.”
Outra bala está alojada em sua coluna vertebral, tendo atingido o missionário e talvez “ricocheteado antes de parar em minha coluna”, disse ele. Até agora, isso não causou grandes problemas nas costas.
Uma quarta bala atingiu seu fígado, o qual está praticamente cicatrizado. No início de fevereiro, os médicos removeram um stent [pequeno tubo] previamente inserido no fígado para estancar o sangramento. Esse procedimento não foi invasivo, disse Fauber, chamando-o de “um dos mais fáceis, pois eles são simplesmente inseridos por via oral e não exigem cirurgia.”
A quinta bala atingiu seu pulmão direito, explodindo ao rasgar o tecido e quebrando uma costela. O pulmão também está praticamente curado; Fauber apenas sente dor quando as respirações profundas pressionam a costela quebrada.
Uma sexta bala atingiu o lado esquerdo da cabeça do missionário de raspão, onde ele reparte o cabelo. Essa “divisão” é um pouco mais larga e perceptível agora, após o missionário ter tido a área raspada e recebido alguns pontos para cuidar do ferimento.
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A ambulância e o hospital
De relance, enquanto estava deitado devidos aos ferimentos causados pela chuva de balas, Fauber viu o atirador fugir primeiro, seguido por todos os outros que se dispersavam para fora do salão cultural. Logo, os outros missionários retornaram, após terem observado o atirador fugir em um veículo e poderem fornecer detalhes críticos mais tarde. Eles estancaram os ferimentos do missionário e conversaram com ele para mantê-lo acordado e consciente. Eles também lhe deram uma bênção do sacerdócio.
Os paramédicos chegaram, assumindo o controle, transportando-o a uma ambulância para uma viagem de 15 minutos até o Hospital UAB em Birmingham. “Lembro-me de ouvi-los dizer: ‘Estamos chegando — aguente firme”, recordou Fauber, com as luzes brilhantes da ambulância o forçando a manter os olhos fechados. “A próxima coisa de que me lembro foi quando acordei na UTI.”
Foi o início de uma hospitalização de quase três semanas, com Fauber chamando os primeiros cinco dias na unidade de terapia intensiva de “bastante miseráveis”, durante os quais o jovem passou por alterações no estado de consciência, foi submetido a várias cirurgias de trauma, quase não pôde dormir, acordou no escuro, ficou sozinho e se sentiu desconfortável o tempo todo. “Aquelas primeiras noites foram difíceis.”
Ele ficou feliz com a mudança da UTI para o centro de trauma, onde ficou em um quarto com grandes janelas e um sofá de canto onde sua mãe podia ficar dia e noite. Deixando rapidamente sua casa em Dayton após o tiroteio para ficar com seu filho no hospital, os pais de Fauber haviam passado as primeiras noites na casa da missão em Birmingham.
Mesmo assim, ele pouco fez, além de ficar deitado na cama o dia todo, se sentindo inquieto. Quando lhe pediam para fazer breves caminhadas, ele apenas conseguia se arrastar de forma desajeitada. E a alta planejada para voltar para casa e iniciar a reabilitação foi adiada devido a infecções no sangue.
A volta para casa
Fauber passou a primeira noite após receber alta do Hospital UAB na casa da missão, antes dele partir com seus pais em uma viagem de mais de 800 km de Birmingham a Dayton, da qual chegaram no dia 21 de dezembro. Ele não se esqueceu das palavras de despedida do presidente da Missão Alabama Birmingham, Chad W. Allred. “Ele me disse: ‘Está tudo bem. Apenas vá para casa e trabalhe com afinco em sua recuperação e fisioterapia, e seja paciente. Não fique muito ansioso ou chateado por ter que estar em casa.’”
Após sua chegada no dia 21 de dezembro, ele não conseguia sair muito da poltrona reclinável, mas gostou de estar em casa e poder se recuperar lá, com a família e a companhia de outras pessoas. Alguns dias depois, Élder Fauber foi desobrigado como missionário de tempo integral por seu presidente de estaca, cerca de cinco meses após ter iniciado o treinamento missionário em casa no final de julho de 2021.
“Pensei que ficaria chateado com isso”, disse ele, acrescentando: “Compreendi que o Senhor tem um plano para mim. Ele sabia que isso aconteceria, Ele obviamente me salvou, então claramente há um trabalho que preciso fazer.”
Sua meta é trabalhar para poder voltar a servir como missionário de tempo integral. “Espero que eu possa chegar a um ponto em que meu braço não esteja doendo e que não seja mais necessário usar uma tipoia, mesmo que eu não tenha função motora completa em meus dedos, provavelmente escolherei voltar assim que puder.”
Hoje
Atualmente, Fauber, que completa 19 anos no domingo, dia 20 de fevereiro, se aventura em consultas médicas, visitas a especialistas, sessões de fisioterapia e outros passeios, como reuniões da Igreja e compras. Ficar em pé por mais de duas horas seguidas pode ser desconfortável, por isso ele passa a maior parte do dia sentado em uma poltrona reclinável com o braço sobre um travesseiro. “Sinto falta de viver uma vida normal e, claro, sinto falta de estar na missão.”
A investigação sobre o tiroteio resultou na prisão de um homem de 18 anos que foi acusado de tentativa de homicídio, o que acarreta uma pena mínima de 15 anos de prisão.
Fauber diz que pensa com frequência sobre atirador e seu estado mental e emocional, e se pergunta se algum dia eles terão a oportunidade de conversar. “Espero que ele esteja em um estado melhor para que eu possa conversar com ele e lhe fazer algumas perguntas e, de certa forma, compreender seus sentimentos. Ele certamente não está levando uma vida feliz, tendo sucesso na escola e vivendo em uma boa situação familiar se ele simplesmente decidiu fazer algo assim.”
O que o incidente do tiroteio e o serviço missionário em geral significaram para Michael Fauber? “Bem, isso mudou minha vida, e acredito que tive a sorte de ter pelo menos ajudado a mudar a vida de outras pessoas ao compartilhar o evangelho.”
Sua compreensão de que a vida mortal é “um pequeno espaço de tempo” em uma perspectiva eterna aumentou, assim como sua compreensão e apreciação pelo evangelho. “Foi assim que a experiência da missão me ajudou a ver que a coisa mais importante que podemos fazer é servir aos outros e lhes apresentar a oportunidade de aceitarem o evangelho de Jesus Cristo.”
E servir ao Senhor foi apenas uma contribuição relativamente pequena. “Compreendi que meu sacrifício de dar dois anos de minha vida para propagar a palavra não é realmente um sacrifício”, disse ele. “É o que todos deveríamos estar fazendo… se vemos uma oportunidade de compartilhar o evangelho, é algo que nunca deveríamos hesitar em fazer.”
