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Por que este pesquisador propõe reconsiderar políticas públicas sobre pais que não moram com os filhos

Durante uma palestra na BYU, Ronald B. Mincy, da Universidade de Columbia, compartilha como se pode melhorar a qualidade das interações entre pais e filhos

PROVO, Utah — A política pública dos Estados Unidos nas últimas décadas tem se concentrado, quase exclusivamente, na importância dos pais que não vivem com os filhos como provedores financeiros.

Contudo, de acordo com sua extensa pesquisa, Ronald B. Mincy, professor de Política Social e Prática de Serviço Social da Universidade Columbia, acredita que mais pode ser feito para melhorar a qualidade das interações entre estes pais e seus filhos, o que poderia ter um impacto positivo no desenvolvimento intelectual, social e emocional das crianças, além do dinheiro de seus pais.

“O que sabemos é que os filhos de pais que (...) aprendem a proporcionar interações de qualidade com eles têm melhor desempenho em termos de comportamento, realização acadêmica etc.”, disse Mincy durante uma palestra no Hinckley Center no campus da Universidade Brigham Young, no dia 9 de fevereiro.

Mincy viajou para o campus de Provo, Utah, como orador de destaque na 19ª Palestra Anual da Cátedra Marjorie Pay Hinckley, em Serviço Social e Ciências Sociais.

Mincy, que tem um bacharelado da Universidade de Harvard e doutorado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), é um dos principais pesquisadores do The Future of Families and Child Wellbeing Study (O Estudo do Futuro das Famílias e do Bem-estar das Crianças), anteriormente conhecido como “The Fragile Families and Child Wellbeing Study” (O Estudo de Famílias Frágeis e do Bem-estar das Crianças), que acompanhou 5.000 crianças nascidas entre 1998 e 2000, bem como suas mães e seus pais, durante os últimos 22 anos. 

Ronald B. Mincy — Professor de Política Social e Prática de Serviço Social e diretor do Centro de Pesquisa sobre Pais, Filhos e Bem-Estar Familiar na Universidade de Columbia — foi o convidado especial da 19ª Conferência Anual da Cátedra Marjorie Pay Hinckley no campus da BYU em Provo, Utah, em 9 de fevereiro de 2023.
Ronald B. Mincy — Professor de Política Social e Prática de Serviço Social e diretor do Centro de Pesquisa sobre Pais, Filhos e Bem-Estar Familiar na Universidade de Columbia — foi o convidado especial da 19ª Conferência Anual da Cátedra Marjorie Pay Hinckley no campus da BYU em Provo, Utah, em 9 de fevereiro de 2023. | Fornecida por Ronald B. Mincy

“O objetivo do estudo é descobrir como as circunstâncias dos pais e das políticas sob as quais eles agem, ou da comunidade em que vivem, influenciam o desenvolvimento das crianças”, disse Mincy.

A pesquisa de Mincy se concentrou em pais que não moram com os filhos, os quais constituem uma população crescente.

“Estamos gastando bilhões de dólares para coletar a pensão alimentícia que a maioria dos pais que não residem com os filhos não têm condições de pagar, e ignorando as outras coisas que eles podem fazer para beneficiar seus filhos”, disse Mincy em um comunicado de imprensa da BYU. “A questão em minha mente é, se pegássemos parte do dinheiro que gastamos na coleta de pensão alimentícia e, em vez disso, desenvolvêssemos pais engajados em programas parentais, os benefícios para as crianças seriam melhores?”

Por que falar de pais que não moram com seus filhos?

Em 1954 nos E.U.A., os homens se casavam, em média, aos 23 anos de idade e as mulheres, aos 20 anos. Atualmente, essas idades estão mais próximas dos 29 e 27 anos. Ao mesmo tempo, a porcentagem de jovens que se casam está caindo. 

“O casamento se tornou um bem de luxo”, disse Mincy. 

Os jovens são mais propensos a se casar se preencherem três requisitos: eles acreditam que terão uma renda segura, pouca ou nenhuma dívida, e um emprego estável, explicou Mincy. As pessoas com maior probabilidade de preencher esses requisitos são aquelas com diploma universitário. 

Ronald B. Mincy, Professor de Sociologia na Universidade de Columbia, deu uma palestra intitulada ‘Dinheiro e mais: Como pais ajudam seus filhos a se desenvolverem’‘, durante a 19ª Conferência Anual da Cátedra Marjorie Pay Hinckley no campus da BYU em Provo, Utah, em 9 de fevereiro de 2023.
Ronald B. Mincy, Professor de Sociologia na Universidade de Columbia, deu uma palestra intitulada 'Dinheiro e mais: Como pais ajudam seus filhos a se desenvolverem'‘, durante a 19ª Conferência Anual da Cátedra Marjorie Pay Hinckley no campus da BYU em Provo, Utah, em 9 de fevereiro de 2023. | Taylor Woodson, BYU

Em 2016, entre as mulheres casadas, 68% tinham diploma universitário, 45% tinham diploma do ensino médio e apenas 27% não haviam concluído o ensino médio. 

No entanto, o fato de que as pessoas não estão se casando não significa que não estejam formando famílias e tendo filhos, disse Mincy. O número de filhos de casais coabitantes têm aumentado drasticamente nas últimas décadas.

De 2011 a 2013, 68% da mulheres sem diploma do ensino médio deram à luz fora do matrimônio, enquanto apenas 11% daquelas com diploma tiveram filhos.

Mincy disse que, quando começou seu trabalho há 30 anos, esta estatística representava principalmente afro-descendentes e latinos, mas agora representa a população em geral.

“Creio que isto esteja se tornando um desafio com o qual todos deveriam se preocupar, se nos importamos com as crianças”, disse ele.

No que os sociólogos chamam de homogeneidade no relacionamento entre casais — no qual as pessoas tendem a se relacionar com aqueles que são como elas — os homens nestas relações de coabitação tendem a ser indivíduos que também não têm um diploma universitário.

Casais coabitantes também têm uma probabilidade muito maior de se separarem dentro de um a cinco anos, do que aqueles que são casados. “Obviamente, sustentar os filhos com uma única renda é muito difícil para estas mulheres menos instruídas. No entanto, os pais (...) de seus filhos também são pouco qualificados.”

Mincy observou que a média de renda por hora da maioria dos homens sem diploma universitário tem diminuído desde meados dos anos 70. “Isso é realmente muito preocupante e, portanto, estamos tendo um número crescente de pais que têm dificuldades para sustentar seus filhos e cumprir a obrigação de pagar pensão alimentícia.” 

Por que se concentrar na pensão alimentícia?

“O programa de pensão alimentícia é muito importante nos Estados Unidos”, disse Mincy. 

O Office of Child Support Enforcement (Escritório de Fiscalização de Pensão Alimentícia) coletou quase US$ 30 bilhões em 2019, com 13,6 milhões de processos.

O sistema formal de pensão alimentícia é caro, mas muito necessário para famílias de baixa renda. Em 2017, 43% das famílias carentes dependiam da renda recebida através do sistema formal de pensão alimentícia.

Mincy explicou, entretanto, que a pensão informal, ao invés de pagamentos recebidos pelo sistema formal, é muito mais comum entre pais que não residem com seus filhos, o que significa que essas mães e esses pais chegam a um acordo informal sobre como o pai ajudará a sustentar a criança. 

“A maioria dos pagamentos de pensão alimentícia feitos dentro do primeiro ano de vida de uma criança é informal”, disse ele.

Estudos anteriores sobre pensão informal mostraram uma associação entre pais que pagaram pensão alimentícia informal acima da média e filhos que apresentaram melhores habilidades cognitivas e menor insegurança alimentar.

No entanto, em muitos casos, trata-se de homens que viveram com a mãe e o filho, mas se separam dentro de três a cinco anos de relacionamento. Eles chegam a um acordo informal sobre o apoio financeiro do pai, mas as circunstâncias mudam, o pai deixa de fazer pagamentos e a mãe entra no sistema formal.

Uma das falhas dos estudos anteriores sobre o impacto da renda no desenvolvimento das crianças é que os estudos não consideraram a transição do apoio informal para o formal enquanto as crianças ainda são pequenas, disse Mincy.

O estudo do bem-estar da criança

Um item que o estudo de Mincy examinou é a associação entre o apoio financeiro formal e informal de pais que não residem com os filhos e os resultados na segunda infância. 

Os resultados medidos foram as pontuações de leitura e matemática das crianças em testes padronizados, e o índice de comportamento agressivo das crianças aos 9 anos de idade. O estudo também analisou as variáveis mediadoras, ou o mecanismo a partir do qual o apoio financeiro impactaria os resultados para as crianças. Portanto, questões como: Há materiais de aprendizagem em casa, ou eles têm condições de comprar livros e brinquedos ou outros materiais de aprendizagem? A mãe e o pai participam de atividades de aprendizagem, como cantar, ler etc.? Existe insegurança alimentar? A renda afeta o nível de estresse, a reação ou a capacidade de disciplinar positivamente em vez de severamente? O estudo também analisou o vocabulário reflexivo das crianças aos 5 anos de idade.

De todas as formas possíveis pelas quais o aumento do apoio financeiro afeta as crianças, apenas um foi considerado estatisticamente significativo, que foi: “Dos dólares que o pai pagou ao vocabulário receptivo da criança em seu quinto ano de idade, o que por sua vez influenciou o desempenho acadêmico, tanto em matemática como em leitura, da criança aos 9 anos, (...) e isso só aconteceu quando o pai pagou a porcentagem mais alta”, disse Mincy.

O fato dos pais terem pago 75%, o valor médio ou menos, não fez diferença nos resultados para as crianças. Quando um pai pagava uma porcentagem alta, isso afetava o desempenho acadêmico da criança, mas não o desenvolvimento social ou emocional.

No entanto, os pais que forneciam dinheiro também tendiam a estar mais envolvidos na vida da criança. Infelizmente, este envolvimento não teve impacto no bem-estar da criança. Em outras palavras, embora os pais estivessem tentando se engajar com seus filhos, eles não sabiam o que fazer para melhorar o bem-estar deles, disse Mincy.

Para ilustrar, Mincy usou o exemplo de seu neto de 5 anos, Emmanuel ou “Man”.

“Posso ensinar qualquer coisa se for por meio de um dinossauro”, observou Mincy. O livro que Man mais gosta de ler com seu avô é “Tiny T-Rex and the Very Dark Dark” (O Pequeno Tiranossauro Rex e o Escuro Muito Escuro). 

Mincy disse que aprendeu, apesar de sua agenda lotada, a passar tempo com seu neto e levar seu nível de compreensão em consideração. Durante uma visita recente, enquanto Mincy tentava se preparar para sua palestra, ele parou para brincar de Pequeno Tiranossauro Rex no porão com Man. Eles apagaram as luzes e se esconderam dos “gnominhos”, que são os olhos brilhantes no escuro do livro. 

“A imaginação de Man está simplesmente florescendo em torno do Pequeno Tiranossauro Rex”, disse Mincy. Por fim, eles construíram uma cabana com uma lona esticada sobre um banco de musculação para se esconderem, como o Pequeno Tiranossauro Rex faz no livro.

A brincadeira durou apenas cerca de 15 minutos, porque a capacidade de atenção de Man é curta, disse Mincy, mas este tipo de interação é importante para o desenvolvimento de uma criança.

Porém, como convencer um pai de 21 anos de idade, que não reside com seus filhos e trabalha com mudanças de turno, que ele precisa estar envolvido com seus filhos em suas brincadeiras de Pequeno Tiranossauro Rex ou qualquer outra coisa que dê asas à imaginação? Perguntou Mincy. Como ensinar ao pai que trocou seu horário de trabalho noturno para visitar o filho que, mesmo que ele não pareça estar interessado no livro que estão lendo juntos, há um vínculo sendo criado e a criança ainda está aprendendo coisas importantes?

Os resultados do estudo sugerem que os esforços federais e estaduais para coletar pensão alimentícia, especialmente de pais de baixa renda, podem ser inadequados, disse Mincy. É preciso dar mais atenção a como os arranjos financeiros poderiam ser reconfigurados, para também melhorar as relações dos pais com seus filhos, e a qualidade de suas interações para o bem-estar das crianças.

Outros estudos mostraram que filhos de pais que participam de programas como o Head Start ou o Early Head Start, que fornecem educação infantil abrangente para famílias de baixa renda, melhoraram os resultados das crianças, tais como a melhoria de habilidades linguísticas e de prontidão matemática.

“O que deveríamos fazer é casar as obrigações financeiras [desses pais] para com seus filhos, com a ajuda para que eles aprendam como ler e estar envolvidos, de maneira eficaz, com seus filhos”, concluiu Mincy.

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