HANNOVER, Alemanha — A foto, tirada por um fotojornalista na fronteira com a Ucrânia em março passado, registra uma imagem de Olga Zabrodina e seus filhos.
Com roupas de inverno e uma aparência exausta, Zabrodina carrega o carrinho de bebê de seu filho de 2 anos, Sasha, com a criança ainda afivelada ao assento. É evidente que a mãe santo dos últimos dias não conseguia mais empurrar o carrinho pelo terreno acidentado, rochoso e congelado.
Depois que a guerra irrompeu na Ucrânia, os líderes locais pediram aos membros que orassem para receber revelação e determinar se deveriam deixar ou permanecer no país, em meio à escalada do conflito militar.
Zabrodina fala inglês muito bem e sabia que seu talento poderia abençoar a nação. Seu marido já estava lutando junto às forças ucranianas. Ela queria ficar e ajudar.

Mas, conforme orava, ela sabia que deveria deixar o país para salvar seus filhos.
Com seus três filhos, seu pai idoso, sua irmã e duas sobrinhas, Zabrodina cruzou as fronteiras de cinco países em 11 dias — chegando à Alemanha com apenas alguns itens pessoais em uma mochila. “Alguém da Igreja estava lá para carregar meu filho e me dar um pouco de água”, disse ela.
Sem poder sacar dinheiro do banco e sem saber se o marido estava vivo, ela orou para que o conflito acabasse.
No entanto, ela foi sustentada por um forte sentimento de paz. “Saímos por revelação. Recebemos ajuda. Somos muito abençoados”, disse ela.
‘Deus está no comando’
Oito meses depois dessa longa jornada, Zabrodina e outros refugiados santos dos últimos dias se reuniram no dia 6 de novembro de 2022 com Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, e sua esposa, a irmã Patricia T. Holland, em Hannover.
Traduzindo para outros refugiados, Zabrodina detalhou suas dificuldades e suas bênçãos. Ela e outros refugiados falaram sobre o desejo de retornarem à Ucrânia, com gratidão pelos santos dos últimos dias que permaneceram no país para defendê-lo. Ela chorou ao falar sobre seu marido, que continua a servir no Exército ucraniano.
“A Igreja é tudo o que temos agora”, disse ela.
Élder Holland ofereceu um carinhoso incentivo apostólico. “Tudo ficará bem”, disse ele. “Deus está no comando. A melhor coisa que todos nós podemos fazer é sermos fiéis aos nossos próprios convênios.”
Em seguida, ele acrescentou uma promessa poderosa. “As orações de poucas pessoas justas podem mudar o curso da história de um país inteiro.”

“Isso será resolvido”, disse ele. “Sairemos dessa situação. Tudo ficará bem.”
Mais tarde, Élder Holland disse que não estava preparado para a profunda emoção que sentiu ao conhecer Zabrodina e os outros refugiados.
“Os santos se organizaram, acolhendo-os em suas casas”, disse ele. “É o evangelho em sua absoluta essência. (...) É o evangelho em ação.”
A irmã Holland disse aos refugiados que havia lido tudo o que podia sobre sua situação. “Estou profundamente emocionada por poder me reunir com alguns de vocês”, disse ela.
Com base na promessa de Élder Holland, a irmã Holland reiterou que algumas pessoas fiéis poderiam abençoar uma nação. “Acredito que, com todas as nossas orações e todo o nosso amor, podemos fazer isso.”

Estabilidade em um mundo instável
Élder Erich W. Kopischke, conselheiro na presidência da Área Europa Central e Setenta Autoridade Geral, disse que a disposição de ajudar demonstrada pelos membros da Igreja na Alemanha foi algo “maravilhoso de se observar”.
“A Igreja proporciona estabilidade em um mundo instável”, disse ele. Em meio ao atual conflito militar, “a Alemanha voltou a ser um dos principais países de acesso para os refugiados. Os membros ucranianos se sentem bem-vindos pelos santos alemães. Este ministério, por ambos os lados, traz bênçãos para os dois grupos.”
À medida que os preços do gás e do petróleo disparam, a inflação sobe e os membros lutam contra o aumento do custo de vida, o principal desafio é “enfrentar o inverno”, disse Élder Kopischke.
Élder Markus Zarse, Setenta de Área na Alemanha, acrescentou: “Da mesma forma, ainda sofremos com os impactos causados pelo coronavírus e as consequências das ações tomadas para combater a pandemia, especialmente o isolamento social entre os jovens e os efeitos do confinamento prolongado”, disse ele.
K. Günter Borcherding, presidente da Estaca Hannover, Alemanha, também se preocupa com os santos dos últimos dias locais em relação aos próximos meses. “Os membros não estão vivendo com medo”, disse ele. “Eles têm muita confiança em Deus.”
Presidente Borcherding e sua esposa, Ingrid, abriram sua casa para os refugiados quando o conflito começou. Eles receberam Poulina e Sergei Gorski, cuja idade e saúde dificultaram muito a decisão de deixar a Ucrânia.

Após se reunirem com Élder Holland, os Borcherdings e os Gorskis relembraram o dia em que se conheceram.
Segurando o telefone e falando com a ajuda de um aplicativo de tradução (os casais não falam o mesmo idioma) Ingrid Borcherding disse a seus amigos: “Vocês não tinham nada, além de sacolas plásticas”.
Enquanto o aplicativo traduzia suas palavras em alemão para o ucraniano, presidente Borcherding acrescentou: “... então, vocês foram às compras”.
Os Gorskis compraram os ingredientes básicos necessários para fazer a sopa borscht. “Eles chegaram aqui sem nada e queriam compartilhar algo conosco”, disse presidente Borcherding. “A atitude deles não era o que podemos receber. Eles queriam saber o que poderiam oferecer.”
Ajuda para os refugiados
Os refugiados são alguns dos mais de mil santos dos últimos dias que deixaram a Ucrânia em março, e foram acolhidos em casas de famílias de membros em toda a Europa Ocidental. Os membros da ala de Zabrodina na Ucrânia, por exemplo, se estabeleceram em oito países diferentes.
Desde os primeiros dias do conflito, a Igreja estabeleceu um Conselho de Resposta a Emergências, sob a direção da presidência da área e liderado por Élder Michael Cziesla, Setenta de Área, disse Élder Zarse. A resposta foi imediata, à medida que os santos dos últimos dias na Alemanha “abriram suas portas e seu coração” para acolherem os refugiados. “Muitos se lembraram de que eles mesmos haviam sido refugiados durante a Segunda Guerra Mundial, e estavam ansiosos para poderem ajudar outras pessoas.
Além da ajuda que os refugiados receberam dos membros, a Igreja forneceu mais de 900 toneladas de mantimentos e outras provisões para os ucranianos.
A Igreja doou 2 milhões de dólares ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados e 2 milhões de dólares ao Programa Mundial de Alimentos [em inglês] para ajudar pessoas deslocadas pela crise. Esta doação da Igreja ao ACNUR ajudou cerca de 40 mil famílias deslocadas; o PMA forneceu alimentos para cerca de 11 mil pessoas durante quatro meses.
Após essas doações, mais 4 milhões de dólares foram destinados a esforços humanitários na Europa [em inglês] — incluindo alimentos enviados para a Ucrânia; primeiros socorros, medicamentos e produtos de higiene, roupas, abrigo e transporte para os refugiados, por meio do Projeto HOPE, da Associação de Neonatologistas da Ucrânia e do Corpo Médico Internacional.
Até o momento, a Igreja ajudou 1,6 milhão de refugiados e pessoas deslocadas internamente através de 100 projetos em 32 países na Europa.

‘Trabalho em equipe semelhante à Sião’
Zabrodina sabe que o Senhor está ciente dela. Ela e sua família haviam seguido a orientação dos líderes da Igreja de preparar documentos e kits de emergência para três dias. “Estávamos prontos para partir”, disse ela.
Quando chegou à Alemanha, ela soube que os jovens visitariam o templo no mesmo dia em que uma ida ao templo havia sido planejada para os jovens na Ucrânia. Ela acompanhou seus dois filhos mais velhos nesta ida ao templo.
Poulina e Sergei Gorski também listaram inúmeras bênçãos e milagres, em meio a seu desespero pessoal. Quando o conflito irrompeu na Ucrânia, por exemplo, a luz acabou e sua cidade ficou no escuro. Uma bomba atingiu seu prédio, mas não explodiu. Eles passaram a noite no metrô. “Compreendemos que Deus está conosco”, disse ela. “Ele não nos abandonou.”
Mesmo assim, eles aguardam ansiosamente o dia em que poderão voltar para casa na Ucrânia. “Sabemos que Deus conhece cada um de nós pessoalmente e cuida de nós durante nossas dificuldades.”
Zabrodina disse que, mesmo com o amor e o apoio dos membros, morar longe — entre aqueles que não falam ucraniano — é solitário. Ela fala inglês, mas não sabe falar alemão. Seus filhos estão aprendendo a falar os dois idiomas.
Presidente Borcherding disse que, em sua estaca em Hannover, a disposição de ajudar os refugiados superou a necessidade. Os refugiados tiveram um lugar temporário e, em seguida, um alojamento mais permanente, roupas doadas e alimentos, e ainda receberam caronas para irem à Igreja. “Estamos cercados por muitos membros fiéis”, disse ele.
Conforme os vizinhos ajudavam, a união entre a Igreja e a comunidade aumentava.
“Foi um trabalho em equipe, semelhante à Sião”, disse ele.






