Dois apóstolos incentivaram os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nesta terça-feira, dia 19 de outubro, a entender melhor as semelhanças e diferenças que eles têm com 1,8 bilhão de seguidores do Islã no mundo.
“As duas religiões são diferentes em muitas de nossas principais doutrinas, mas muitos de nossos valores e as maneiras pelas quais praticamos nossa respectiva fé são semelhantes e refletem nosso amor a Deus e ao próximo”, disse Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos.
Élder Gerrit W. Gong, também do Quórum dos Doze Apóstolos, disse que isso deve ser feito de forma aberta e honesta, “com gratidão por sermos irmãos e irmãs com uma humanidade em comum.”
Élder Bednar e Élder Gong falaram juntos no campus da Universidade Brigham Young em Provo, Utah, durante a sessão final da conferência de dois dias, “O Mundo Islâmico Hoje: Questões e Perspectivas” [em inglês], relatou a Sala de Imprensa da Igreja [em inglês].
Élder Gong disse que os santos dos últimos dias devem aprender mais sobre seus amigos muçulmanos, porque esse conhecimento “nos ajudará a sermos mais bondosos e verdadeiros no que dizemos e sentimos uns pelos outros.”
Élder Bednar repudiou quaisquer comentários depreciativos e declarações generalizadas que os santos dos últimos dias tenham feito sobre os seguidores do Islã. Esses comentários, disse ele, são errados e ofensivos.
“Esses preconceitos fazem com que aqueles que se sentem assim, ignorem a gentileza e a bondade da esmagadora maioria de todos os muçulmanos”, disse Élder Bednar. “Sugerir que todos os muçulmanos estão vinculados a crimes graves aqui nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar do mundo é … impreciso e ofensivo para eles. Os muçulmanos rejeitam tais ações, assim como os santos dos últimos dias o fazem. Todas as grandes religiões têm extremistas que interpretam mal os ensinamentos de sua própria religião, ou que procuram fazer o que é errado em nome da religião.”
Os apóstolos enfatizaram os esforços conjuntos da Igreja com os muçulmanos para defender a liberdade religiosa e se engajar no trabalho humanitário. Eles também apontaram recursos que fortalecem o entendimento mútuo e destacaram várias crenças comuns que as duas comunidades religiosas compartilham.
Liberdade religiosa
“Ao nos reunirmos com líderes muçulmanos em todo o mundo”, disse Élder Gong, “falamos sobre a defesa da liberdade religiosa. Pessoas de fé precisam se unir pela tolerância e dignidade de pessoas de todas as crenças religiosas.”
Alguns exemplos de líderes da Igreja que se reuniram com líderes muçulmanos nos últimos anos incluem um encontro de Élder Gong com um líder muçulmano sunita [artigo em inglês], enquanto esteve na Ásia e na Oceania em 2019; Élder Bednar se reuniu no ano passado com líderes do Sudão em seu país e na Praça do Templo; e Élder Ronald A. Rasband, do Quórum dos Doze Apóstolos, conheceu vários líderes muçulmanos no Fórum Inter-religioso do G20 de 2021, realizado na Itália.
Na conferência da BYU, Élder Gong leu um decreto de 1841 da cidade de Nauvoo que mostra a tolerância religiosa nas raízes do movimento santo dos últimos dias. “Seja decretado pelo Conselho Municipal da cidade de Nauvoo”, diz o texto, “que os católicos, presbiterianos, metodistas, batistas, santos dos últimos dias, quackers, episcopais, universalistas, unitaristas, [muçulmanos] e todas as outras seitas e denominações religiosas, sejam quais forem, devem ser tolerados e ter privilégios iguais nesta cidade.”
Élder Bednar compartilhou alguns dos comentários sobre a liberdade religiosa que fez no Fórum Inter-religioso do G20, realizado de forma virtual no ano passado, organizado pela Arábia Saudita. No fórum, ele pediu soluções para a COVID-19 que não excluam pessoas com diferentes experiências de adoração.
“[Apoiamos] fortemente a liberdade religiosa, não apenas para nós, mas para todos”, disse Élder Bednar. “Como alguns muçulmanos nos Estados Unidos, ou em qualquer outro lugar do mundo, os membros de nossa Igreja sentiram os efeitos da perseguição e discriminação, e nos unimos a boas pessoas em todos os lugares para condenar tais ações.”
Trabalho humanitário
Os dois apóstolos visitaram a Indonésia [em inglês] — o país com mais muçulmanos no mundo — depois que um tsunami em dezembro de 2004 matou cerca de 225.000 pessoas. Élder Bednar acabara de ser chamado para o Quórum dos Doze Apóstolos e Élder Gong estava trabalhando para a BYU.
Élder Gong disse que eles se encontraram com o presidente da Indonésia, visitaram a maior mesquita de Jacarta, doaram suprimentos médicos e humanitários necessários, e visitaram o local mais devastado. Os Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias trabalharam com a Islamic Relief e com o governo indonésio para fornecerem milhões de dólares de ajuda necessária.
Élder Bednar disse que a ajuda pós-tsunami de ambas as organizações durou anos, enquanto elas permaneceram para reconstruir as comunidades.
“Este é apenas um exemplo, de muitos, de como os santos dos últimos dias trabalharam juntos com nossos irmãos e irmãs muçulmanos para ajudarem a aliviar o sofrimento e garantir que toda a humanidade seja tratada com bondade, compaixão e respeito”, disse Élder Bednar.
“Sou grato pela ajuda humanitária global de nossa Igreja que se estende a pessoas em cerca de 200 países e territórios, independentemente de raça, religião ou etnia”, acrescentou Élder Gong.
Outros trabalhos humanitários recentes da Igreja para a comunidade muçulmana incluem uma doação de US$100.000 em maio de 2019 para ajudar a reconstruir duas mesquitas atacadas em Christchurch, Nova Zelândia. Élder Gong e Presidente Russell M. Nelson visitaram os líderes muçulmanos na cidade e entregaram um cheque.
“Fiquei grato por estar junto com nosso Presidente da Igreja em amor e solidariedade com nossos amigos muçulmanos”, disse Élder Gong. “Estendemos a mão para os indivíduos que foram feridos nos ataques à mesquita. Fiquei feliz por podermos fornecer ajuda prática em face à tragédia e dor, e prometermos trabalhar juntos para aumentarmos a compreensão.”
Recursos para aumentar o entendimento mútuo
Élder Gong apontou três fontes que a BYU disponibilizou para ajudar os muçulmanos e os santos dos últimos dias a se entenderem melhor:
- Série de Tradução Islâmica da BYU [em inglês]. Esta é uma coleção de 14 das contribuições filosóficas e escolásticas clássicas mais conhecidas do Islã.
- A exposição de arte islâmica “Beauty and Belief” [em inglês] de 2012, organizada pela BYU.
- Conferências da BYU sobre o Islã. Esses intercâmbios acadêmicos entre estudiosos do Islã são uma das tradições mais antigas da universidade.
Sobre o terceiro item, disse Élder Gong, um estudioso do Islã disse a ele que “aqui [na BYU], entre os crentes religiosos, sinto que posso deixar, mesmo que temporariamente, o deserto secular moderno.”
Os dois apóstolos leram trechos de um recurso futuro — um novo panfleto chamado “Muçulmanos e Santos dos Últimos Dias: Crenças, Valores e Estilos de Vida”. Ele será publicado no aplicativo Biblioteca do Evangelho em janeiro de 2022. Élder Bednar disse que o documento é fruto de anos de trabalho, incluindo a colaboração com imãs muçulmanos.
O documento descreve áreas em comum e observa as principais diferenças de crença, incluindo:
- A fé em um Deus onisciente e onipotente é fundamental.
- Os profetas fornecem orientação de Deus.
- A revelação de Deus dada por mensageiros como escritura é o alicerce para se conhecer a vontade de Deus, cumprir compromissos e participar da adoração com fé.
- Os seres humanos devem se comunicar com Deus por meio da oração diária.
- Deus se deleita na pureza e castidade.
- As mulheres são essenciais na sociedade e em casa.
- A família é a unidade fundamental da sociedade e uma fonte essencial de felicidade.
- Jesus Cristo desempenha um papel importante, embora diferente, para ambos os grupos.
“Jesus Cristo ensina que os dois grandes mandamentos são amar a Deus e amar uns aos outros”, disse Élder Gong. “Compreender melhor uns aos outros nos ajuda a nos amarmos mutualmente. Que possamos aprender a compartilhar e compreender de forma aberta e precisa, para que possamos nos encontrar com as mãos estendidas de respeito e boa vontade, e não com os punhos cerrados de ignorância ou antagonismo.”
Aos amigos muçulmanos presentes na noite de terça-feira, Élder Bednar expressou o desejo sincero da Igreja de “unir-se a vocês na prática do bem”. Ele orou para que “o Deus de Abraão — o Deus de todos nós — zele e abençoe cada um de nós neste esforço importante e essencial.”
Conectando-se com vizinhos muçulmanos
A Conferência Mundial Islâmica de 2021 [site em inglês] ofereceu à universidade de propriedade da Igreja uma ocasião oportuna de explorar uma das tradições religiosas mais influentes do mundo.
“À medida que a população muçulmana continua a crescer e se expandir em todo o mundo no século XXI, é mais importante do que nunca entendermos nossos amigos muçulmanos e sua fé”, observou Grant Underwood, chefe da cátedra Richard L. Evans de compreensão religiosa da Universidade Brigham Young, em suas boas-vindas aos participantes da conferência.
“Para este fim, esta conferência patrocinada pela BYU [fornece] uma introdução intensiva, porém acessível, aos principais aspectos do Islã e deixará claro por que tais informações são relevantes, até mesmo essenciais, para os cidadãos de hoje.”
Junto com Élder Bednar e Élder Gong, a conferência de dois dias, de 18 a 19 de outubro, reuniu um rico grupo de estudiosos de várias disciplinas e universidades dos Estados Unidos. Mais da metade dos estudiosos apresentados eram mulheres.
Os tópicos explorados durante a conferência incluíram política islâmica contemporânea, percepções do Islã no Ocidente, mulheres e gênero no mundo islâmico, sondagem da diversidade islâmica e as origens históricas do Alcorão.
Globalmente, os muçulmanos constituem o segundo maior grupo religioso [em inglês]. Quase um quarto da população mundial é muçulmana.
