Nota do Editor: Este artigo foi publicado originalmente em inglês em 7 de junho de 2018, na comemoração dos 40 anos da Revelação do Sacerdócio. Esta semana, ao comemorarmos os 43 anos da dedicação do primeiro templo da América do Sul de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, temos o prazer de compartilhá-lo com nossos leitores em português e espanhol.
SÃO PAULO, Brasil — Para Nilo Maria Leal, a bênção patriarcal que ele recebeu após a criação da Estaca São Paulo Brasil em 1966 indicava que um dia ele estaria no templo com sua família.
“Era um sonho impossível”, lembrou ele. “Não tínhamos perspectiva. O templo não era esperado.”
Para Marcelo Leite Silveira, que tinha 4 anos quando seus pais foram batizados em 1959, o templo mais próximo nos 15 anos seguintes foi em Mesa, Arizona, a cerca de 9.300 km de São Paulo. A adição do Templo de Washington D.C. em 1974 reduziu a distância para 7.500 km.
“Tínhamos a sensação de que um templo no Brasil seria muito difícil”, lembrou ele, “que passariam muitos, muitos anos antes que tivéssemos um templo aqui”.
E para Helvécio Martins, impedido de receber o sacerdócio após seu batismo em 1972 por causa de sua ascendência africana e as restrições da época, o templo nem foi levado em consideração — exceto que, em uma reunião com o Presidente Spencer W. Kimball alguns anos depois de seu batismo, o profeta lhe prometeu que, se ele fosse fiel e exercesse lealdade, todas as bênçãos, em algum momento, seriam suas.
Para esses e os outros 208.000 santos que moravam no Brasil em 1978, foi como se as janelas do céu se abrissem com uma abundância de bênçãos vindo na sequência de dois eventos importantes naquele ano — o anúncio em 9 de junho da revelação que possibilitaria o sacerdócio ser dado a todos os membros dignos do sexo masculino com 12 anos ou mais, e a dedicação do Templo de São Paulo Brasil em 30 de outubro. De mãos dadas. Essa é a melhor maneira de descrever como esses dois eventos serviram como um catalisador para o enorme crescimento da Igreja nas quatro décadas seguintes.
Revelação do sacerdócio
Além dos índios nativos que compõem as populações indígenas da área, colonizadores portugueses e escravos africanos chegaram no século XVI, com a Grande Imigração do final do século XIX e início do século XX, resultando em um aumento substancial de imigrantes europeus, bem como outros do Japão, Oriente Médio e Europa Oriental.
A Igreja remonta suas primeiras raízes brasileiras ao final da década de 1920, no sul do país, e influências europeias predominantes; os primeiros membros foram imigrantes alemães, e o alemão foi a primeira língua usada pelos missionários, depois seguido pelo português brasileiro. Grande parte da população com herança africana é encontrada mais nas regiões norte e nordeste Brasil, especialmente ao longo das áreas costeiras.
Com a restrição da Igreja na época em relação ao sacerdócio, os membros da Igreja com ascendência africana — como a família Martins no Rio de Janeiro — sabiam que os ofícios e chamados do sacerdócio, bem como as oportunidades do templo, estavam fora de questão.
Então veio o anúncio de 9 de junho de 1978 a respeito do sacerdócio. Para os santos dos últimos dias afrodescendentes — como a família Martins no Rio e em todo o mundo — o sacerdócio e o templo se tornaram bênçãos imediatas, enquanto o trabalho missionário entre esta faixa da população no Brasil se tornou imediato.
“A revelação abriu as portas para todas as famílias”, disse Élder Marcos A. Aidukaitis, Setenta Autoridade Geral que presidiu a Área Brasil da Igreja.
Nascido em Porto Alegre, Brasil, Élder Aidukaitis começou seu próprio serviço missionário em São Paulo, um ano após o anúncio de 1978. “Ensinamos todo mundo no Brasil. E eu acho que é por isso que a Igreja explodiu em termos de número de membros.”
O irmão Silveira disse, contendo as lágrimas ao se lembrar do resultado da revelação: “Foi difícil não chorar quando víamos um menino afrodescendente distribuindo o sacramento. E coisas assim mostram como o Senhor está conduzindo a obra. Entendemos por que somos santos dos últimos dias.”
Um templo para o Brasil
Embora o anúncio da revelação tenha sido feito de forma repentina e inesperada, a dedicação do templo foi o ápice em vários anos. Tudo começou durante a primeira conferência de área em São Paulo, realizada no Anhembi em 28 de fevereiro de 1975, quando Presidente Kimball anunciou planos para se construir o primeiro templo da América do Sul em São Paulo, Brasil.
“Foi um sonho que se tornou realidade”, disse o irmão Leal. Sua esposa, Sheila, acrescentou: “Foi um momento de muita alegria.”
Até aquele ponto, relativamente poucos santos brasileiros tinham ido a um templo nos Estados Unidos ou o fariam antes da dedicação do templo de São Paulo. Geralmente, aqueles que o faziam eram ou os membros tinham recursos financeiros para fazer isso, ou eram membros de presidências de estaca ou bispos convidados pela Igreja a visitar Utah para participar de treinamentos e ordenanças do templo, a fim de ajudá-los em suas responsabilidades de liderança no Brasil.
Foi o caso de Demar e Sandra Staniscia. Enviados para a conferência geral de outubro de 1973, enquanto ele servia como conselheiro da presidência da estaca, os dois receberam a investidura e foram selados no Templo de Salt Lake, vários anos após o casamento civil em 1966 e batismo em 1967.
Um ano após o anúncio do templo, Élder James E. Faust, na época da Presidência dos Setenta, presidiu a abertura de terra em 1976. A propriedade a oeste do Rio Pinheiros, em São Paulo, foi então limpa de arbustos, ervas daninhas e bananeiras, com uma capela, escritórios de área e alojamentos a serem construídos no terreno ao lado do templo.
O templo não seria apenas o primeiro do Brasil, mas o primeiro da América do Sul. Como tal, o novo distrito do templo incluiu nove nações inteiras — Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Uruguai — e as doações vieram de membros e famílias de todo o continente, com o valor principal arrecadado no Brasil.
Contribuições de dinheiro e trabalho
Os membros doaram suas economias, venderam seu ouro e joias, reduzindo suas despesas diárias e as compras planejadas a fim de ajudar a financiar sua parte nas contribuições financeiras. Crianças e jovens também se envolveram, renunciando a mesadas ou, como os adultos, vendendo bens pessoais.
“Eles encontravam coisas como um jogo de xadrez que tinham e vendiam por alguns reais [cruzeiros na época], para que pudessem doar para a construção do templo”, disse Élder Adilson de Paula Parrella, Setenta Autoridade Geral e atual Presidente da Área Brasil.
“Financeiramente se falando, isso provavelmente fez pouca ou nenhuma diferença. Mas acho que ajudou a construir e fortalecer a compreensão dos membros e jovens sobre o templo e como ele é sagrado e o que significaria em suas vidas.”
Os membros voluntários ajudaram nos esforços de construção, incluindo a construção da capela vizinha e a criação de 50.000 blocos de pedra externa — semelhantes aos usados nos templos de Provo, Ogden, Idaho Falls, Oakland e Los Angeles. Os blocos apresentavam uma mistura de pequenas lascas de mármore em cimento branco, seguido por um revestimento de silicone.
Luiz Pires de Godoy, que foi batizado em fevereiro de 1974, em Curitiba, e logo se mudou para São Paulo após um grave acidente de carro que quase matou sua esposa e resultou em graves ferimentos na coluna, encontrava-se regularmente no canteiro de obras criando blocos de construção e fazendo qualquer outra tarefa necessária.
“Trabalhamos aqui aos sábados. Escrevemos nossos nomes, os nomes de nossa ala e estaca e nosso número de RG e então começamos a trabalhar”, disse o irmão Godoy, que mais tarde trabalhou como funcionário do templo na manutenção geral de 1979 a 2006, e serviu por longo tempo como oficiante do templo.
Nomes de antepassados com um toque diferente
Os líderes procuraram ajudar 10.000 novos membros a receberem sua recomendação para o templo antes da dedicação e incentivaram os membros a enviarem folhas de genealogia de quatro gerações, que forneceram até 100.000 nomes para as ordenanças do templo.
Até aquele ponto, todos os registros genealógicos e envios de nomes para o trabalho do templo passavam pela sede da Igreja em Salt Lake City. Mas o templo de São Paulo seria o primeiro templo independente onde nomes poderiam ser revisados e aprovados localmente para uso no templo.
Staniscia, cujas três décadas de trabalho no escritório da Área do Brasil incluem a supervisão do Departamento Genealógico para o país, e outras partes da América do Sul, mudou-se com sua família para Salt Lake City na última metade de 1977 para aprender os processos e voltar a ensinar a área e os membros da estaca para implementar os novos procedimentos genealógicos.
Com a construção concluída, uma visitação pública foi realizada para dar as boas-vindas aos visitantes do templo. Os missionários que retornaram e seus cônjuges serviram como anfitriões da turnê, e os membros ofereceram convites para seus amigos e vizinhos; Godoy e sua esposa distribuíram mais de 1.000 eles próprios.
Dedicação e abertura
Presidente Kimball, que havia anunciado o templo em 1975, presidiu a colocação da pedra fundamental em 1977, anunciou a revelação do sacerdócio de junho de 1978, e voltou a São Paulo para dedicar o templo em 30 de outubro de 1978, na primeira de 15 sessões realizadas em vários dias.
Com o templo agora disponível para os membros fazerem suas próprias ordenanças como indivíduos e famílias, bem como por seus antepassados, Octávio Bautista de Carvalho, que como bispo havia sido convidado para um treinamento em Utah em 1976 e já tinha ido para os templos de Provo e de Los Angeles, foi convocado para ajudar a reunir pessoas para assistirem à primeira sessão de investidura no novo templo.
Um mês depois, ele foi selado à sua esposa, Leda, que não pôde acompanhá-lo aos Estados Unidos em 1976.
“Foi ótimo para mim”, disse ele. “Porque quando eu não era membro da Igreja, sempre me perguntei como seria depois desta vida. Não tinha esperança de vida eterna e era muito triste por causa disso. Então, quando aprendi que as famílias podem ser eternas e que eu poderia ser selado à minha esposa e filhos, foi muito especial.”
Em meados da década de 1980, os templos começaram a se espalhar pela América do Sul, primeiro em Santiago, Chile; Lima, Peru; e Buenos Aires, Argentina. Mas por 22 anos, o templo de São Paulo foi o único no Brasil, um país quase do tamanho dos Estados Unidos. Então, na mesma semana de dezembro de 2000, templos foram dedicados em Recife e Porto Alegre.
Atualização em 30 de outubro de 2021, no 43º aniversário da dedicação do Templo de São Paulo Brasil
O Brasil agora abriga cerca de 1,43 milhão de santos dos últimos dias em quase 300 estacas, mais de 2.140 congregações e 36 missões. Além do templo de São Paulo, o Brasil tem templos em funcionamento em Recife (dedicado em 2000), Porto Alegre (2000), Campinas (2002), Curitiba (2008), Manaus (2012) e Fortaleza (2019), com um templo no Rio de Janeiro marcado para dedicação assim que as condições pandêmicas da COVID-19 permitirem. Futuros templos estão em construção ou anunciados para Belém, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, São Paulo Leste e Vitória.
Membros brasileiros de longa data — incluindo os entrevistados para este artigo — já serviram como bispos e presidentes ou conselheiros de estacas, missões e templos. Muitos serviram como oficiantes do templo, seladores do templo e patriarcas. Élder Helvécio Martins foi chamado como membro do Segundo Quórum dos Setenta em 1990, servindo por cinco anos como Setenta Autoridade Geral.
Os colegas e cônjuges faleceram, o próprio Élder Martins em 2005. Mas sua segunda e terceira gerações no Brasil continuam — portando o sacerdócio, cumprindo seus chamados e enchendo os templos. De mãos dadas.