Depois de assisti-lo recentemente em um touchdown espetacular e revolucionário, qualquer pessoa não familiarizada com a história do receptor Devaughn Vele, da Universidade de Utah (Utes), pode ter feito algumas suposições falsas, embora compreensíveis.
Primeiro, vamos redefinir o termo “espetacular”.
Em 9 de outubro, faltando segundos para o final do primeiro tempo no Los Angeles Memorial Coliseum, os Utes mantinham uma pequena vantagem sobre a rival Universidade do Sul da Califórnia. Na quarta descida, o quarterback de Utah, Cam Rising, lançou um passe para um touchdown de 37 jardas para Vele, um santo dos últimos dias esguio e atlético.
E com isso, os Utes saíram vitoriosos — derrotando a USC por 42×26. Alguns sugeriram que o touchdown de surpresa de Vele alterou a temporada de Utah; os Utes estão classificados nacionalmente e se preparando para receber um dos melhores times do futebol universitário, o Oregon, no sábado, 20 de novembro.
Agora, de volta às falsas suposições sobre Vele.
Um receptor calouro em quem seus treinadores e companheiros de equipe confiaram em um momento tão crítico em um importante jogo do torneio certamente deve ter seguido um caminho fácil para a competição de futebol universitário. Nem tanto.
Como o simpático Vele disse ao Church News, sua trajetória de futebol para Salt Lake City — começando em San Diego e desviando por Samoa — raramente foi clara e jamais simples. Ele percorreu seu caminho contínuo com medidas iguais de paciência e humildade. E, disse ele, pôde reconhecer a mão do Senhor a cada passo.
Confiar no Senhor com humildade
Filho de Afagaila e Efaraima Vele, o jovem Devaughn cresceu em um lar bem típico dos santos dos últimos dias — participou das atividades dos jovens, frequentou o Seminário e desfrutou das conexões de sua rica herança polinésia. E também sempre foi um atleta talentoso.
Ele havia planejado continuar sua carreira no futebol imediatamente após se formar no ensino médio da escola Rancho Bernardo, em San Diego. Uma missão de tempo integral não estava incluída nesses planos. “Eu não estava totalmente engajado na Igreja (…) estava apenas indo por obrigação”, disse ele sobre sua adolescência.
No campo de futebol durante o ensino médio, ele foi um recebedor durante toda a liga e até completou um passe para um touchdown de 45 jardas. Inteligente, rápido e com mais de 1,80m de altura, Vele parecia possuir todos os requisitos que os recrutadores de futebol da Divisão 1 procuram em um receptor.
“Mas eu realmente não tinha tantas ofertas”, disse ele. “Isso realmente me humilhou a ponto de eu ter que recorrer ao Senhor. Foi quando recebi a resposta de que precisava servir uma missão. (…) Sou muito grato por isso, porque minha missão me ajudou a aumentar meu testemunho da Igreja. Não estou mais me apoiando apenas no testemunho de meus pais.”
Servir em sua terra ancestral de Samoa foi uma emoção abençoada. “Quando recebi o envelope contendo meu chamado para a missão, lembro-me de ter pensado: ‘Por favor, que seja Samoa’”, disse ele, rindo. “Fiquei em êxtase e tentei entregar todo o meu coração ao Senhor durante o tempo em que servi em Samoa.”
Vele falava algumas palavras de samoano, mas ainda tinha que estudar o idioma e praticar continuamente para ensinar e construir relacionamentos com seus pesquisadores e membros locais. Ele até ensinou e batizou um parente em Samoa. “Aquela”, disse ele, “foi uma experiência incrível”.
Compartilhar o evangelho em Samoa e jogar como um receptor no futebol universitário podem parecer atividades completamente opostas — mas Vele consegue encontrar semelhanças. “Há inúmeras lições que aprendi como missionário que se aplicam ao que estou fazendo agora como jogador de futebol.”
Uma missão, disse ele, o ajudou a amadurecer e a se tornar mais independente e automotivado. Também o ensinou a ser sempre humilde, estar preparado e confiar no Senhor.
O líder do sacerdócio de Vele, Bispo Alexander Salima, da Ala 1 de Salt Lake para jovens adultos solteiros, diz que o jovem jogador de futebol é “um excelente rapaz que merece todas as bênçãos que está recebendo”. O bispo ainda acrescentou que a natureza respeitosa de Vele para com sua família e outras pessoas o torna um exemplo para todos, independentemente de serem fãs de futebol.
Suportar Dificuldades — dentro e fora do campo
Quando voltou para casa depois da missão, ele prosseguiu na Universidade de Utah. A universidade era uma boa opção para Vele. Ele tinha muitos parentes na área, e seu primo Isaac Asiata fora um jogador famoso dos Utes. Havia também muitos contatos com santos dos últimos dias na universidade de Salt Lake City.
Ainda assim, ele não tinha nenhuma promessa de bolsa de estudos ou tempo de jogo. Sem garantias. “Mas eu sabia que minha hora estava chegando. Aprendi em minha missão a confiar no Senhor e em Seus caminhos”. O potencial e capacidade atlética de Vele foram rapidamente evidentes para os treinadores e companheiros de equipe durante os treinos. Ele também se comprometeu a ser sempre treinável. Ele estudou técnicas de jogos, aprendeu as várias posições e se preparou para os momentos em que era mais necessário.
Os Utes tiveram dificuldade para abrir a temporada de 2021, perdendo dois dos três primeiros jogos. Mas a equipe se recuperou, venceu seis dos últimos sete jogos e está de volta ao ranking nacional. Vele, por sua vez, é o segundo da equipe em jardas de recepção, com média de 18 jardas por recepção.
“O surgimento de Devaughn Vele foi um grande fator positivo para nós”, disse o técnico do Utah, Kyle Whittingham, recentemente ao Deseret News.
Os altos e baixos normalmente definem uma temporada de futebol americano universitário. Existem vitórias. Existem derrotas. Existem capturas de touchdowns que se tornam virais. Há passes descartados. Mas Vele e seus companheiros tiveram que enfrentar desafios muito além da classificação da liga e estatísticas.
No ano passado, o astro que jogava como running back de Utah, Ty Jordan, morreu em um tiro acidental. Depois disso, em 26 de setembro deste ano, o defensor Aaron Lowe foi baleado e morto. Ao lado de seus companheiros Utes, Vele lamenta a perda de seus companheiros de equipe e amigos.
“Essas tragédias nos uniram”, disse Vele. “Estamos dedicando esta temporada aos nossos irmãos de time. Nós nos tornamos um grupo muito unido. … Todos nós nos certificamos de que estamos cuidando uns dos outros”.
Quando o Church News conversou com Vele, seu foco era se preparar para o jogo contra Oregon. Uma captura de touchdown (ou dois, talvez?) contra os Ducks seria enorme. Mas ele ficou feliz em mais uma vez, por um breve momento, reviver aquele touchdown contra a USC.
“Foi incrível, especialmente para um garoto da Califórnia. (…) Mas, por melhor que tenha sido aquele momento, continuei me lembrando do que me levou até lá. Tudo graças ao Senhor, porque eu não teria estado lá sem Ele.”