Para muitos, ele é o armador alto e careca, que sempre usa sua faixa de cabeça, da Utah State University [Universidade do Estado de Utah]. Para sua classe de jovens da Escola Dominical, ele é o irmão Miller, o divertido e enérgico professor que dá vida ao “Vem, e Segue-me”. Para sua família, ele é Brock, um marido, filho e irmão mais novo, prestes a obter um diploma de Mestre em Administração de Empresas [MBA] e se tornar pai na primavera.
Ele também é um amigo, que se encontra pessoalmente com crianças e adolescentes, e abriu uma conta Instagram neste último ano para conectar famílias e indivíduos com alopecia. Brock Miller tem alopecia universal, uma doença autoimune que faz com que o indivíduo perca todos os pelos do corpo.
Mas isto não o define, nem o desanima. A fé, a família e o basquete o ajudam.
Seguir o profeta
“Dizem que ‘ser careca é lindo’”, comentou Miller, e a calvície é algo com o qual ele tem vivido durante a maior parte de sua vida.
Miller cresceu em Sandy, Utah, em uma família de jogadores de basquete. Seu irmão mais velho, Corbin, jogou na Harvard University e foi destaque no Church News em 2012 [em inglês]. Outro irmão, Brandon, jogou na University of Utah e na Dixie State University. Seu pai jogou na BYU-Havaí, e seu avô jogou na University of Nevada Nevada, Las Vegas. Vários primos e primas jogaram, ou ainda jogam, basquete a nível universitario. Miller começou a jogar quando criança.
Sua família não sabia exatamente o que estava acontecendo quando ele começou a ficar careca aos 8 anos de idade. Independentemente de quais médicos visitassem, ou quais tratamentos tentassem, nada realmente mostrava resultados por muito tempo.
Sua irmã mais velha o ajudava cortando seu cabelo uniformemente duas vezes por semana, conforme as falhas apareciam em seu couro cabeludo. Seus irmãos o apoiaram e cuidaram dele. Ele se apoiou em sua família.
“Tive muita sorte de ter um grupo de apoio familiar tão maravilhoso. Sou o mais jovem, e todos realmente me protegeram e me ajudaram”, recordou Miller.
Ele aprendeu sobre o poder de seguir o profeta durante essa época. Um de seus irmãos mais velhos lhe disse que os profetas ensinaram que abrir o Livro de Mórmon convida o Espírito.
“Eu deixava meu Livro de Mórmon aberto no parapeito da minha janela, bem ao lado da minha cama, o tempo todo. Seguir o profeta foi algo que me ajudou muito a chegar onde eu precisava estar mental, espiritual, emocional e fisicamente em minha vida.”
Os membros de sua família viviam o evangelho e guardavam os mandamentos juntos, como uma unidade familiar. Miller sabe que isso fez com que eles pudessem ter a companhia Espírito, o que lhe proporcionou perspectiva e paz, permitindo que aprendesse a aplicar a Expiação de Jesus Cristo em sua vida.
Transformar desafios em pontos fortes
Ele não dá muitos detalhes sobre seus anos no Ensino Fundamental II, mas apenas diz que sofreu bullying. Foi uma época muito difícil. As outras crianças não eram gentis com o jovem adolescente, que nessa altura já estava completamente careca. Contudo, essa experiência o tornou gentil e lhe proporcionou empatia e um desejo de estender a mão para ajudar outras pessoas.
Ela é parte da razão pela qual ele iniciou uma página no Instagram intitulada “Alopecia Family” [em inglês], onde crianças e adultos podem compartilhar suas histórias e se conectar com outras pessoas que estão passando por coisas semelhantes. Ele também convidava crianças com alopecia e suas famílias para assistirem a jogos de basquete na USU, ou para almoçarem com ele.
Essa conexão e empatia também estão presentes nas aulas que ele ensina com sua esposa, Bailey, aos domingos, para sua classe de jovens da Escola Dominical, cujos membros têm aproximadamente a mesma idade que ele tinha na época em que mais sofreu com o bullying.
Seu bispo, Jeff King, da Ala Riverside Ward na Estaca Logan Utah Mount Logan, disse que Brock e Bailey Miller são perfeitos para o chamado, e ambos sempre exemplificam atitudes positivas e otimistas.
“Brock é um amigo para nossos jovens”, disse o bispo King. “Ele é um grande exemplo, tanto para jovens quanto para adultos, de alguém que aplica os princípios do evangelho e transforma os desafios da vida — sejam quais forem — em pontos fortes.”
O basquete se tornou outra válvula de escape, além do evangelho e de sua família, durante a época desafiadora da adolescência. Ele ganhou confiança por dentro e por fora, à medida que seus talentos e seu testemunho cresciam.
Miller jogou basquetebol na Brighton High School e depois serviu como missionário na Missão Argentina Buenos Aires Sul, de 2015 a 2017. Sua altura — 1,98 m — e sua alopecia fizeram com que ele se “destacasse na multidão”. Porém, ele disse que teve uma experiência maravilhosa e oportunidades incríveis.
“Tive muitas situações nas quais as pessoas se aproximavam e perguntavam: ‘Por que você é careca?!’”, disse ele, rindo. Mas isso nunca o ofendeu. Ele lhes respondia e lhes dizia seu nome — “e também, a propósito, sou um missionário de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e esta é nossa crença.”
As pessoas abriam as portas, o convidavam a entrar, e queriam conhecer sua história. Ele contava piadas para pessoas nas ruas para quebrar o gelo. Isso lhe permitiu ter muitas experiências e oportunidades de ensino que ele nunca teria tido sem a alopecia.
Os Aggies
Miller começou a jogar basquete na Utah State University em 2017. Miller é um dos principais pontuadores dos Aggies nesta temporada, e recentemente ajudou o time a vencer o jogo contra Oklahoma, um adversário da conferência Big 12, no Myrtle Beach Invitational em novembro, marcando 16 pontos, incluindo quatro arremessos feitos da linha de 3 pontos após recebimento de passe.
Seu recorde é de sete cestas de 3 pontos em um único jogo, o qual está empatado com o do sexto colocado na história da USU. Suas honrarias incluem o prêmio Academic All-Mountain West das três últimas temporadas, e o prêmio Mountain West Scholar-Athlete, por quatro anos consecutivos.
Ele ganhou atenção nacional durante três anos consecutivos em jogos que disputavam o título do torneio da Mountain West Conference, bem como no NCAA Tournament de 2021, quando a USU foi a 11ª colocada contra a Texas Tech em março passado. Locutores de televisão e repórteres esportivos comentaram sobre sua faixa de cabeça de costume e sua habilidade como armador. Os Aggies não passaram da primeira rodada, mas Miller confia nas habilidades dos membros de seu time neste ano.
“Nós nos damos muito bem”, disse ele a respeito de seus companheiros de equipe. “É muito divertido, nossa sintonia é muito boa. Jogamos bem juntos, compartilhamos a bola. Creio que este será um ano realmente especial se melhorarmos a cada dia.”
O que ele espera para o futuro
Miller está terminando um curso de pós-graduação na USU e tem apenas mais um semestre pela frente. Embora esteja prestes a se formar, ele poderá continuar jogando basquete universitário por mais um ano, devido às medidas implementadas devido à COVID-19. Ele espera ajudar os Aggies a se qualificarem novamente para o NCAA Tournament nesta primavera.
Ele também espera pela chegada de alguém importante na primavera. Bailey está esperando um menino, o primeiro filho do casal, que deve chegar no dia 4 de março. Os Aggies têm sua última partida da temporada regular marcada para o mesmo dia em San José, Califórnia. Mas Miller disse ter ouvido que o primeiro filho costuma chegar atrasado, então ele gostaria que o bebê nascesse no intervalo entre a última partida e o torneio da Mountain West Conference, no dia 9 de março.
Miller planeja continuar ajudando outras pessoas com alopecia e conectá-las no Instagram por meio da página Família Alopecia. Ele iniciou a página, em parte, porque almoçou com um indivíduo que sofria de alopecia há anos, mas nunca havia conhecido alguém com a mesma condição de saúde.
“A ideia por trás da página é conectar pessoas que sofrem de alopecia ou que conhecem indivíduos que têm a doença, para que elas possam então compartilhar suas experiências e ajudar umas às outras. Eu quero formar uma grande família. Além de criar conscientização, a página também conecta as pessoas umas às outras, disse Miller.
Ele tem mais basquete pela frente na USU e, quem sabe, até mesmo após a faculdade. Ele mantém um bom relacionamento com sua família, que sempre o ajudou durante toda sua vida e continua a apoiá-lo agora. Mas acima de tudo, ele realmente quer que as pessoas saibam a respeito de seu profundo testemunho do evangelho, o qual foi desenvolvido desde uma tenra idade ao abrir o Livro de Mórmon em seu quarto e ao acessar o poder capacitador da Expiação de Jesus Cristo.
“Conheço a sensação de me sentir sozinho às vezes e de ser o esquisito”, disse ele. “Mas é incrível que, quando aplicamos os princípios do evangelho em nossa vida, podemos transformar desafios em grandes experiências para ajudar outras pessoas.”