Em 11 de setembro de 2001, a vida mudou drasticamente na cidade de Nova York e arredores, após os ataques terroristas de 11 de setembro — assim como com os missionários de tempo integral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e seu trabalho lá.
Os líderes das duas missões da Igreja em Nova York na época testemunharam dos preparativos divinos, proteção e consolo durante e após o 11 de setembro.
“O Senhor sabia o que estava acontecendo e se preparou para isso”, disse o presidente G. Lawrence Spackman, que com sua esposa, a sister Flora E. Spackman, presidiram a Missão Nova York Nova York Sul em 2001.
Assim como foi dito ao Church News 20 anos antes, hoje presidente Noel G. Stoker conta que os missionários sentiram que foram enviados pelo Senhor para ajudar em tempos de crise. “O Senhor sabia que precisávamos estar aqui nesta época”, disse ele em 2001, presidindo a Missão Nova York Nova York Norte com a sister Carol R. Stoker.
Atualmente, os dois casais são líderes de missões de serviço — os Stokers em Fresno, Califórnia, e os Spackmans em Calgary, Alberta. Com a retrospectiva de duas décadas, eles continuam a destacar os milagres e a misericórdia diante de plano mortal e destrutivo — e descartando um boato frequentemente repetido de 20 anos atrás.
A ilha de Manhattan e o World Trade Center estavam nos limites da missão Norte. Mas, assim como as enormes nuvens de fumaça, poeira e destroços, o terrível impacto foi levado para as missões vizinhas Sul e New Jersey Morristown.
“Apenas um milhão de pessoas realmente vivem na ilha [de Manhattan], mas um número muito maior que esse vai trabalhar lá todos os dias”, disse o presidente Spackman.
Missionários no 11 de setembro
11 de setembro deveria ser um dia de transferências para a Missão Nova York Nova York Norte — com os missionários que iriam partir tomando seu café da manhã e uma reunião de testemunho na casa da missão antes de irem para o aeroporto e voltar para casa, e novos missionários chegando de avião para iniciarem suas orientações e serviços.
Mas o presidente Stoker havia enviado os 18 missionários que retornavam para casa uma semana antes, pois seria melhor para suas oportunidades educacionais.
Após os ataques, a FAA paralisou todos os voos, e aquele em que os novos missionários estavam foi redirecionado para Denver, Colorado. Os 21 missionários foram temporariamente hospedados por uma missão de Denver até finalmente chegarem à missão Norte em 17 de setembro.
O primeiro dos dois aviões a atingir as Torres Gêmeas ocorreu às 8:46 da manhã, horário do leste dos Estados Unidos, bem antes de os missionários deixarem suas residências durante o dia. “Disseminamos a palavra por meio da liderança para que cada missionário ficasse em seu apartamento e ligasse para seus pais imediatamente”, disse o presidente Stoker.A sister Stoker acrescentou: “Se tivesse sido apenas uma hora depois, todos eles teriam saído.”
Isso inclui os doze missionários que moravam perto do marco zero e tiveram que ficar em seus apartamentos por três dias.
As três missões, dentro e ao redor da cidade de Nova York, em 11 de setembro de 2001 conseguiram localizar e contatar todos os missionários naquele dia — com exceção de dois.
Sob as torres gêmeas
O élder Joseph R. Seymour de Huntington Beach, Califórnia, e o élder Seth Fillmore de Murray, Utah, estavam viajando de metrô para um projeto de serviço aprovado na ilha Ellis. Na parada sob o World Trade Center, os passageiros foram alertados da atividade policial acima. Sem permissão para descer ou subir, o metrô continuou seu trajeto.
A dupla desceu na estação Battery Park e saiu no extremo sul da ilha de Manhattan, vendo multidões correndo em sua direção antes de perceber uma onda de fumaça ao norte. Um casal santo dos últimos dias os viu e pediu aos élderes que os acompanhassem ao prédio vizinho.
Após a chegada, a Torre Norte desabou, enterrando todos em uma enorme nuvem escura de poeira e destroços. Os élderes deram seus lenços para mães com filhos nos carrinhos e voltaram para o Battery Park, usando a gravata para cobrir o nariz e a boca.
Lá eles conheceram uma jovem santo dos últimos dias em visita a Nova York que tinha se perdido de seus pais. Eles usaram suas gravatas como coleiras para ficarem juntos quando o colapso da Torre Sul resultou em visibilidade quase zero.
Às 14h, os élderes finalmente conseguiram ligar e relatar seu status.
Os três foram finalmente evacuados em embarcações para o lado de Nova Jersey, onde os missionários de Morristown passaram várias horas evitando estradas e rodovias congestionadas e usando estradas secundárias para alcançá-los e buscá-los. Por fim, os três se encontraram com os Stokers por volta da meia-noite na ponte Tappan Zee [que ligava Nova Jersey a Manhattan].
Mito e realidade
Se o que se ouviu falar sobre os missionários na cidade de Nova York em 11 de setembro é que eles teriam tido uma conferência missionária no World Trade Center naquela manhã fatídica… bem, isso é um mito.
Muito antes do advento das mídias sociais atuais, uma história fabricada começou a circular na Internet, detalhando uma conferência missionária planejada para ser realizada no World Trade Center na manhã de 11 de setembro — mas que todos os missionários milagrosamente falharam em chegar na conferência devido a uma variedade de circunstâncias.
“Essa história é um péssimo boato”, disse o presidente Stoker ao Church News em setembro de 2001. “É um tipo de coisa maliciosa, destruindo histórias de fé confiáveis.”
A invenção contém uma fração da verdade — metade da Missão Nova York Nova York Sul estava se reunindo às 9h do dia 11/9, mas não em Manhattan. O presidente Spackman disse que se sentiu inspirado a programar grandes conferências de várias zonas naquela época — metade dos missionários em 11 de setembro, a outra metade no dia seguinte.
Com a conferência começando poucos minutos após o ataque inicial, os líderes da missão sabiam que o dia seria díficil. Mas os Spackmans transmitiram uma garatia significativa às famílias de missionários — embora falar com os pais que moravam no Paquistão, Rússia, Japão e quase todos os países da América Central e do Sul tenha demorado mais do que um dia.
“Pude dizer a cada família, a cada pai: ‘Eu vi seu missionário; eu pessoalmente abracei seu missionário’”, disse o presidente Spackman. “E isso foi reconfortante para eles — eles não queriam apenas saber que ouvi que seu missionário estava bem.”
Uma fatalidade ‘missionária’
Na mente dos Spackmans, Stokers e outros, um “missionário” morreu naquele dia no World Trade Center.
Ivan Carpio era um peruano de 24 anos que trabalhava no restaurante Windows of the World, localizado nos 106º e 107º andares da Torre Norte.
Membro da Igreja há um ano, ele esperava se tornar um missionário. Mas como ele estava nos Estados Unidos apenas com autorização de trabalho, problemas com a documentação o impediam de servir uma missão de tempo integral.
No final de agosto, na capela onde Carpio estava se reunindo com seu presidente de distrito sobre a possibilidade de fazer missão, o presidente Spackman foi convidado a se reunir e ajudar a explicar as restrições. Depois de uma breve conversa, o presidente da missão disse: “Irmão Carpio, simplesmente permaneça fiel e poderá servir em uma missão.”
O presidente Spackman relembrou: “Ele ficou muito aliviado e feliz, e foi embora muito alegre. Fui até o carro e disse à minha esposa: ‘Acabei de cometer um grande erro. Eu disse a um jovem que ele poderia servir em uma missão, mas ele não vai poder ir. Não sei por que disse isso — e me sinto péssimo.’”
Carpio deveria estar de folga no dia 11 de setembro, mas ele se ofereceu para cobrir o turno de outro funcionário e morreu nos ataques de 11 de setembro, a única fatalidade santo dos últimos dias nas torres gêmeas.
“Duas semanas depois [após a entrevista], descobrimos por que isso aconteceu e ele foi levado.”
Mas o trabalho missionário do falecido jovem era mais do que apenas compartilhar o evangelho do outro lado do véu.
Os pais de Carpio compareceram ao funeral em Nova York um mês depois. Seu pai se aproximou do presidente Spackman e, enquanto segurava um exemplar do Livro de Mórmon contra o peito, disse em um inglês hesitante: “A última coisa que meu filho me disse é que eu deveria ler este livro e orar a respeito. E eu lhe digo, presidente, eu vou.”
O pai voltou ao Peru logo em seguida, mas a mãe de Carpio permaneceu, foi ensinada e foi batizada.
O trabalho após 11 de setembro
Logo após o 11 de setembro, missionários na cidade de Nova York e arredores ajudaram nos centros da Cruz Vermelha como voluntários, coordenadores e intérpretes. E eles continuaram a compartilhar sua mensagem de paz e esperança.
Eles normalmente encontraram tenros corações — embora alguns tenham sido endurecidos pelos ataques, traumas e mortes.
A sister Spackman gostava de comparar os nova-iorquinos com os chocolates M&Ms — duros por fora, mas doces por dentro. “E depois do 11 de setembro, tudo isso se dissipou e todos eram amáveis por dentro e por fora”, disse o presidente Spackman.
Ficou mais fácil para os missionários, facilmente reconhecidos, abordarem as pessoas, mesmo nas ruas. “Nós apenas parávamos as pessoas e perguntávamos: ‘Como você está?’”, disse ele.
A sister Stoker lembra que as distinções políticas ou socioeconômicas entre as pessoas desapareceram rapidamente. “Éramos todos americanos — e todos sorriam. De repente, todos ficaram afetuosos e gentis uns com os outros”, disse ela, acrescentando que cerca de nove meses depois, “lentamente, foi voltando a ser como era antes.”
O plano de salvação — o propósito da vida e a natureza eterna da vida — é um ponto de partida no ensino do evangelho. Presidente Gordon B. Hinckley dirigiu a produção de um vídeo sobre este assunto que os missionários de área de Nova York puderam compartilhar com aqueles que haviam perdido entes queridos na tragédia.
P.S. — ‘E se …’
Cirurgião oral, bucal e facial de profissão, o presidente Stoker tinha bastante experiência em traumas. Estabelecendo o escritório da missão do Norte como um centro para comunicações, ele estava ansioso para enviar missionários para ajudar em qualquer esforço de emergência no local do ataque ou próximo dele. “Eu tinha essa mentalidade, mas o Senhor simplesmente não me deixou enviar os missionários ao marco zero.”
Mais tarde, ele entendeu por que, ao ver muitos dos primeiros respondentes e outros que trabalhavam no local do ataque sofrerem efeitos de longo prazo e muitas vezes fatais, como doenças pulmonares, devido à inalação de tanta poeira contaminada.
Como presidente da TransCanada Energy e tendo feito várias viagens anuais às torres gêmeas por vários anos antes de sua designação para a missão, o presidente Spackman temeu o pior quando viu não um, mas dois jatos com combustível atingi-las.
“Quando vi isso acontecer, disse a mim mesmo que 50.000 pessoas acabaram de morrer. E se as coisas não tivessem acontecido tão perfeitamente como aconteceram, teria sido realmente este número de pessoas. Porém, menos de 3.000 morreram.
“E um deles foi enviado para a missão.”