RIO DE JANEIRO, Brasil — O Brasil é internacionalmente conhecido e respeitado por sua diversidade e pluralismo racial, étnico e religioso. Mas assim como lares, comunidades e outros países, o Brasil poderia se beneficiar de uma arquitetura e estrutura com liberdade religiosa, um elemento estrutural muito necessário para se preservar e melhorar este pluralismo.
Falando no Primeiro Simpósio Brasileiro de Liberdade Religiosa, promovido pelo Centro Internacional de Estudos em Direito e Religião da Faculdade de Direito J. Reuben Clark da Universidade Brigham Young, Élder Ulisses Soares, do Quórum dos Doze Apóstolos, enfatizou a liberdade religiosa como sendo a chave para a coexistência do pluralismo brasileiro.
Em nome de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ele se reuniu com representantes de outras religiões, assim como governantes, civis, educadores, imprensa e outros palestrantes.

“Não é apenas o Brasil, mas o mundo inteiro precisa deste alicerce”, disse ele ao ChurchNews sobre sua palestra da quarta-feira, dia 23 de março. “Todos precisamos desenvolver esta estrutura para que possamos respeitar uns aos outros. Podemos respeitar a maneira como vivem, o modo como conduzem sua vida e depois vivermos em paz com estas diferenças.”
“Minha mensagem é baseada no princípio de que, assim como respeitamos uns aos outros e vivemos em paz uns com os outros, temos, ao mesmo tempo, o direito de viver aquilo que acreditamos e ter o respeito de outras pessoas. Esta é a base de uma boa sociedade, uma boa ‘família’, para que possamos apreciar a beleza que o Pai Celestial criou para nós, o mundo vivendo em paz e sermos capazes de adorarmos nosso Pai Celestial da maneira como acreditamos ser certo.”
Primeiro Simpósio de Liberdade Religiosa da BYU no Brasil
Com o título “Simpósio Brasileiro de Liberdade Religiosa: Fundamento para Convivência, Justiça e Paz”, o evento que ocorre no Rio de Janeiro de 23 a 25 de março, foi organizado pelo Centro Internacional de Estudos em Direito e Religião da Faculdade de Direito J. Reuben Clark, da Universidade Brigham Young, em parceria com o Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais.
Élder Soares participou do painel da noite de abertura, intitulado “Caminhos para a Convivência Pacífica no Contexto da Pluralidade Religiosa”, ao lado do Pastor Stanley Arco, Presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a América do Sul; Mohammed Al Bukai, sheik e imam, e Diretor de Assuntos Religiosos da União Nacional de Entidades Islâmicas; e o diácono Nelson Águia, Secretário da Comissão da Arquidiocese do Rio de Janeiro para o Diálogo Inter-Religioso.

A palestra de abertura foi dada por Nazila Ghanea, professora de Direito Internacional dos Direitos Humanos e diretora de programas de Direito Internacional dos Direitos Humanos da Universidade de Oxford, Reino Unido.
Outros painéis, sessões e palestrantes foram distribuídos pelos três dias de duração do simpósio, com representantes do Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, Itália, Portugal, Reino Unido e Uruguai. Os tópicos das apresentações e painéis de discussão incluíram a liberdade religiosa como um direito fundamental, a liberdade de expressão e o papel da religião na sociedade civil.
Na manhã da quarta-feira, dia 23 de março, Élder Soares pessoalmente conduziu a visita de VIPs pelo novo Templo do Rio Janeiro Brasil, formado por um grupo dos principais palestrantes e participantes do simpósio, incluindo um grupo liderado pelo Cardeal Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro.
Como ‘uma oculta dor’ proporcionou uma nova perspectiva, enquanto Élder Soares conduz as visitas ao Templo do Rio de Janeiro
Na noite de quinta-feira, 24 de março, outros participantes do simpósio são esperados na visitação pública do templo, como parte da programação de eventos culturais do simpósio.
O propósito da arquitetura
Em sua palestra, intitulada “A arquitetura de uma sociedade plural”, Élder Soares disse que todas as pessoas necessitam de um lar, uma comunidade e um lugar para viverem e se sentirem bem-vindas, destacando a importância dos colaboradores da comunidade que encontram sentido quando estão com outros.

“O lar é onde crescemos, cometemos erros, desculpamo-nos, perdoamos, trabalhamos, repousamos e sonhamos. Uma grandiosa realização humana — seja vivenciada em uma nação, cidade, família, em um casamento ou nas amizades — assemelha-se ao que se realiza em casa.
A arquitetura é a arte, propósito e design para se colocar diversos materiais juntos para formar uma estrutura. Para se construir uma casa, por exemplo, madeira, metal, concreto, vidro, e muitos outros materiais, são usados para criar uma edificação com quartos e salas para diversos usos e funções.
Da mesma forma, ele continuou, uma sociedade próspera também possui uma arquitetura e necessita de seu próprio plano para canalizar as várias ideias conflitantes, grupos de interesse, política, facções culturais e organizações religiosas, uma vez que todas procuram sua própria visão do que consideram o bem. “Quando todos tivermos um lugar para viver, um espaço para pensar e o direito de falar, as comunidades serão melhores. Contanto que não prejudiquem nem coajam ninguém, nossas diferenças podem enriquecer nossa coexistência.”
A globalização e a tecnologia aproximaram mais as pessoas, expandindo comunidades e sociedades, resultando em conflitos de identidades e valores, disse ele. “Nossas diferenças não precisam ser vistas como ameaças; mas, sim, como contribuições singulares para nosso bairro, local de trabalho e escola. Diversidade integrada, não ideologia armada, é o caminho a seguir. O ato de construir é o ato de pertencer.”
Uma estrutura para administrar nossas diferenças
A sociedade é grande demais para evitarmos aquelas pessoas que não gostamos ou nossos inimigos. “Não somos obrigados a aceitar as crenças religiosas ou políticas de nossos vizinhos, mas a harmonia e a estabilidade social exigem que convivamos com tais crenças, embora sejam diferentes das nossas. … Nossa única escolha é, então, aprender a coexistir.

A liberdade religiosa serve como a arquitetura de uma sociedade saudável, abrindo espaço para a expressão da consciência e permitindo que diferenças argumentem sem violência, disse ele. “Sem essa infraestrutura, a sociedade se divide em blocos de ressentimento, queixas, reivindicações da verdade e lutas pelo poder. Deixadas à sua própria sorte, as pessoas retornam a seus antigos instintos de proteção. Contudo, a sabedoria humana evoluiu o suficiente para nos oferecer melhores ferramentas de cooperação.
O Apóstolo disse que a estrutura da liberdade religiosa repousa no alicerce duplo da lei e da cultura, acrescentando que um sistema jurídico justo e uma cultura de respeito devem trabalhar juntos para protegerem seus cidadãos contra as tempestades de ignorância e intolerância. Governos e tribunais não podem garantir algo que as pessoas não acreditam, assim como a consciência dos cidadãos não pode ser protegida sem os direitos consagrados na lei.
Tais relacionamentos de reforço mútuo exigem cuidados constantes, com uma sociedade estável mantendo o equilíbrio entre ideologias, crenças e práticas, ao mesmo tempo que encoraja o respeito e assegura que todos cumpram a lei, disse ele.
As constituições ao redor do mundo protegem a liberdade de expressão, o livre exercício da religião e a liberdade de se reunir pacificamente. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim como vários tribunais e convenções regionais, também proveem amplo apoio a essas aspirações. Esta arquitetura nem sempre é bem-sucedida, mas é nossa melhor esperança num mundo plural.
Brasil, um exemplo positivo
O Brasil, disse Élder Soares, é um exemplo positivo de como essa arquitetura pode funcionar, evitando conflitos sectários ao atravessar uma mudança dinâmica do Catolicismo Romano para igrejas pentecostais, protestantes e outras. Os diálogos entre as diversas comunidades religiosas ajudam a diminuir quaisquer tensões.

Ele citou então Presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência, em seu recente discurso dado em Roma, Itália, sobre a liberdade religiosa: “A chave para a estabilidade e a harmonia não é uma homogeneidade religiosa ou em outras crenças básicas, mas a garantia compartilhada de que todos estarão protegidos ao seguirem suas crenças básicas”.
Élder Soares disse que, uma maneira de se estabelecer o bem comum na arena política e cívica é sendo justo em todas as abordagens em questões complexas, tais como imigração, sexualidade, identidade e religião, que requerem uma empatia ainda maior.
“O ambiente da mídia de hoje faz com que as pessoas vejam essas diferenças como uma batalha em que o vencedor leva tudo — uma visão de mundo prejudicial que diz que você precisa perder para que eu ganhe. No entanto, em muitos casos envolvendo desacordos sinceros, o equilíbrio entre interesses opostos — não uma guerra colocando uns contra os outros — é uma prática mais humana da democracia.
“Contudo, nenhuma sociedade pode prosperar apenas na diferença. Os cidadãos precisam de uma base moral comum e uma visão compartilhada do bem. Moralidades individuais esparsas não conseguem suster uma cultura diversificada.”

‘A regra de ouro’
Élder Soares disse que a liberdade é alcançada quando indivíduos apoiam a liberdade daqueles que consideram seus adversários. “O verdadeiro trabalho da liberdade religiosa tem início quando percebemos que nossos interesses estão atrelados aos interesses de todos os demais.”
Citando Mateus 7:12, quando o Salvador disse “tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles”, Élder Soares disse que “a regra de ouro tem o ressoar da verdade e se aplica tanto à vida pessoal como à cívica.”
Ele então concluiu: “O lar que buscamos requer uma atitude de vulnerabilidade. A transparência pode fazer maravilhas para aproximar as pessoas. Ter a fé que permite que as diferenças dialoguem pode mudar o mundo. Que edifiquemos um lar para que todas as pessoas de boa vontade se tornem irmãos e irmãs.”
‘Como um sonho’ no Rio: Élder e irmã Soares retornam à sua antiga missão, se reunindo com membros, missionários e líderes
O Brasil adota a diversidade religiosa
A liberdade religiosa gerou muito interesse no Brasil, disse Gary B. Doxey, diretor associado do Centro Internacional de Estudos de Direito e Religião da Faculdade de Direito J. Reuben Clark da BYU, co-presidente do simpósio, ao lado de Rodrigo Vitorino Souza Alves, da Universidade Federal de Uberlândia.
Repleto de pluralismo e diversidade, “o Brasil é um país que mais ou menos lidera o caminho na adoção da diversidade. Ele não cria muitas das tensões que vemos em outras regiões do mundo”, disse Doxey. “E a diversidade religiosa não é exceção.”
Ele continuou: “É um país com pouca hostilidade social dirigida à religião ou à diversidade religiosa, com pouca interferência do governo em relação à religião. É uma sociedade aberta. E de muitas maneiras, poderia ser um exemplo para outros países em como lidar com a diversidade e liberdade religiosas.”
Muitas das ordens dos advogados em todo o Brasil possuem comissões de liberdade religiosa. E a Sociedade da Faculdade de Direito J. Reuben Clark tem uma grande presença no país. Ela não é tanto uma associação de ex-alunos, mas mais uma associação profissional para advogados desejando exercer sua profissão considerando a fé religiosa, com muitos não membros de A Igreja de Jesus Cristo [dos Santos dos Últimos Dias], disse Doxey.

O papel de Élder Soares e dos líderes da Área Brasil
Doxey destacou a importância da participação de Élder Soares no simpósio.
“Não consigo pensar em uma pessoa que seja mais bem posicionada para representar o evangelho de Jesus Cristo, falando sobre a liberdade religiosa para os brasileiros”, disse ele. “Sendo brasileiro e um Apóstolo de Jesus Cristo, ele possui um sentimento profundo sobre a importância destas questões e um grande amor pelo povo, demonstrando o poder de Sua mensagem.”
Doxey também agradeceu a assistência dada pela presidência da Área Brasil e seus funcionários para a realização do simpósio. “Foram seus contatos e amizades com pessoas de muitas outras religiões e em vários setores da sociedade que tornaram este evento possível. Eles conhecem as pessoas, eles já têm redes de contatos.”