Quando Suha Tutunji tinha entre 10 e 11 anos de idade, a guerra eclodiu em seu país natal, o Líbano. Ela teve semanas de aulas interrompidas e, às vezes, obter uma educação foi uma batalha.
Agora, Tutunji é a diretora acadêmica do Programa de Educação para Refugiados da Jusoor [em inglês], uma organização sem fins lucrativos em Beirute. Ela lidera a iniciativa para educar crianças sírias refugiadas, que estão fugindo da guerra em seu país de origem.
“Não é culpa das crianças que isso tenha acontecido”, disse ela. “Isso não é culpa delas.”
Tutunji conversou com o Church News sobre o relacionamento da Jusoor com A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Ela disse que, até agora, o financiamento humanitário da Igreja proporcionou a Jusoor a capacidade de melhorar a vida de 1.100 crianças.
Azima
Azima vem da palavra árabe que significa determinação, disse Tutunji. É também o nome de um programa de aprendizagem on-line que a Jusoor está testando, com a ajuda da Igreja, para alcançar estudantes refugiados que não podem frequentar a escola presencialmente.
As raízes do programa Azima têm origem nas iniciativas da Jusoor durante os confinamentos causados pela pandemia de COVID-19. Quando as escolas foram fechadas, os professores usaram o WhatsApp para enviar lições para seus alunos nos acampamentos. Embora a maioria das pessoas não tivessem computadores, algumas tinham smartphones.
“Com a ajuda dos Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias e da Igreja, conseguimos comprar cerca de 100 dispositivos móveis, os quais foram distribuídos para as famílias que mais precisavam”, disse Tutunji. “Com o pouco de dinheiro que sobrou, pagamos pelos dados [para os dispositivos] móveis.”
Os alunos faziam suas tarefas no papel ou diretamente na tela do telefone, e tiravam fotos ou capturas de tela de seus trabalhos para entregá-los ao professor. Tutunji disse que até 36 ou 37 por cento dos alunos participaram do ensino, uma porcentagem de frequência alta, em comparação com outras organizações que estavam ensinando on-line.
De volta presencialmente após a suspensão das restrições, Tutunji sabia que a Jusoor poderia fazer algo com o que eles aprenderam com as lições via WhatsApp. Em especial, eles queriam alcançar meninas refugiadas que não estavam frequentando a escola por vários motivos. O trabalho, o cuidado de crianças, a distância ou questões culturais mantêm mais meninas do que meninos fora da escola.
Foi assim que o programa Azima nasceu. A Jusoor treinou três professores e começou a entrar em contato com os acampamentos para encontrar alunas. “Atualmente, temos cerca de 325 alunas neste programa. Pensávamos que, se conseguíssemos 100, já teria sido bom”, disse Tutunji.
As meninas têm entre 8 e 21 anos de idade. Elas aprendem leitura e escrita, matemática funcional, habilidades para a vida, orçamento, competências socioemocionais e muito mais, tudo on-line, por meio de seus dispositivos móveis. Em breve, as meninas farão sua terceira avaliação e, quando o projeto terminar em julho, a Jusoor escreverá um relatório final.
“Este projeto é totalmente coberto pela Igreja, por meio dos Serviços de Caridade [dos Santos dos Últimos Dias]”, disse Tutunji.
Alunos presenciais
Os alunos que podem comparecer presencialmente também estão se beneficiando muito com as doações humanitárias da Igreja, as quais são usadas para adquirir materiais educacionais e tecnologia, e proporcionar manutenção de prédios, transporte e alimentos.
Tutnji disse que fornecer um lanche saudável diariamente na escola tem sido uma das coisas mais benéficas para as crianças, as quais têm de 3 a 12 anos de idade: “Todos os estudos mostram que, se as crianças estão com fome, elas não conseguem se concentrar no trabalho.”
Muitas vezes, o lanche é o único alimento que as crianças consomem até retornarem a suas casas para o jantar. Na primeira vez que os lanches foram distribuídos, algumas crianças guardaram a metade de sua porção para levarem para casa para um irmão ou irmã. Tutunji disse que dá comida extra a qualquer criança que lhe peça.
“Geralmente é um sanduíche e frutas ou vegetais. Na semana passada, trouxemos uma pequena pizza. Elas ficaram muito felizes”, disse ela.
As doações também permitiram que a Jusoor fornecesse uma cesta de alimentos a cada criança: lentilhas, arroz, macarrão, farinha, óleo e outros mantimentos. E o dinheiro permitiu que a organização consertasse o aquecedor do prédio e estabelecesse transporte para trazer os alunos de seus vilarejos ou acampamentos até a escola.
Recuperando sua identidade
Outra parte fundamental das iniciativas da Jusoor inclui o Programa de Identidade, que ensina as crianças sobre suas raízes na Síria. Tutunji disse que, há alguns anos, quando eles perguntaram às crianças de onde eram, elas responderam o nome do vilarejo onde estavam hospedadas no Líbano.
“Então, começamos a ensiná-las sobre a Síria, o clima, a vegetação, como o país é dividido em condados, o que há de especial em cada região, as tradições, a cultura e a diversidade que existe lá”, disse Tutunji.
Brett Macdonald, dos Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias, criou fichas de vocabulário e pôsteres educacionais para as crianças usarem. Cada criança recebeu um pequeno livreto chamado “Minha História Inacabada”. As crianças mais velhas falam de onde vieram, seus vilarejos e tradições, quem são seus pais e avós, e recordam o passado o máximo que podem.
“A ideia é ajudar crianças e jovens a se lembrarem de que fazem parte de algo e que, apesar do que perderam e do que foram afastados, têm conexões e histórias de família que podem levar com eles onde quer que forem”, disse Macdonald em uma postagem de blog em laterdaysaintcharities.org sobre essa iniciativa [em inglês].
Tutunji disse que a escola trabalha nisso durante um período de atividades, uma vez por semana. Após terminar o projeto com os alunos mais velhos, a equipe da escola se concentrará nos alunos mais jovens e em como eles podem saber mais sobre quem são, bem como por que, como indivíduos, são importantes.
“Esta foi uma grande contribuição da Igreja”, disse Tutunji. E isso se encaixa perfeitamente na missão da Jusoor: desenvolver a Síria e ajudar os jovens a alcançarem seu potencial.