Por vários meses antes do início da casa aberta ao público para o Templo de Washington D.C. de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, diferentes tipos de “casas abertas” vêm ocorrendo por todo o Distrito de Columbia. A fim de se prepararem para sua própria casa aberta, pequenos grupos de santos dos últimos dias e seus amigos, têm visitado os locais sagrados de outras religiões, com a esperança de aprenderem e promoverem relacionamentos inter-religiosos.
As visitas são parte da Série Casa Aberta Reversa, embora “recíproca” pudesse ser um termo melhor. A série é dirigida por Diana Brown, uma santo dos últimos dias e diretora assistente de engajamento inter-religioso do Campus da Universidade de Georgetown, que teve a ideia como um projeto final de uma bolsa de estudo, para melhorar experiências e intercâmbios inter-religiosos.
Desde novembro de 2021, a Série Casa Aberta Reversa tem levado pequenos grupos a lugares sagrados através da área de Washington D.C., promovendo diálogos e vários eventos, enquanto aprendem sobre diferentes religiões: desde um tour por uma Basílica Católica, até o estudo do Torá em uma sinagoga ortodoxa judaica, e desde compartilhar uma refeição com uma congregação Sikh, até terminar um jejum com a comunidade Bahá’i.

A série tem sido bem recebida, tanto pelo grupo de participantes nas paradas e tours, assim como pelos líderes e membros das comunidades religiosas que tem encontrado. “Percebi que as pessoas que visitamos e os líderes que ajudam a organizar estes eventos, parecem estar lisonjeados que outros queiram conhecer e se importam [com eles]”, disse Diana Brown.
“Isto demonstra o potencial latente de que os santos dos últimos dias estão realmente preparados para fortalecerem e nutrirem outras comunidades religiosas, … que não somos um grupo isolado e que vemos nossa fé como algo que pode ajudar [outras religiões], além de nossa própria.”
O que amigos e outras religiões estão dizendo
Jack Gordon, um membro da comunidade Bahá’í de Washington D.C. e que tem estado envolvido com o Conselho Inter-religioso da região metropolitana de Washington, disse que os santos dos últimos dias têm sido “um parceiro acolhedor e generoso” na última década nas atividades inter-religiosas locais.
Gordon, que tem um podcast chamado “Interfaith-ish”, disse que tem apreciado a colaboração entre as duas religiões devido à visão em comum que compartilham para a construção da comunidade.
“Esta Casa Aberta Reversa é uma grande ideia porque utiliza este evento único, que é a dedicação do templo, e cria um espaço para aprofundarmos os laços de amizade entre nossas comunidades”, disse ele, acrescentando: “Tenho certeza de que este evento trará ainda mais oportunidades de sermos úteis e influenciarmos o crescimento espiritual de nossa cidade.”
![Os participantes desfrutam de um momento de descontração, após uma visita do grupo da Série Casa Aberta Reversa à Dorothy Day Catholic Worker House, na primavera [nos E.U.A.] de 2022, em Washington, D.C.](https://pt.thechurchnews.com/resizer/v2/ZE6A45ZRRUV76ZNSR5VZBP7TFQ.jpg?auth=935a6839c14857ad481e3aca97d8569eff87ce05ab940b7c5b1d529c15b31ec9&focal=384%2C512&width=400&height=533)
Sunny Neelam é um voluntário não remunerado de tempo parcial, que serve e mora na Dorothy Day Catholic Worker House [Casa do Trabalhador Católico de Dorothy Day] em Washington D.C. Esta é uma das 200 comunidades residenciais leigas católicas, que dão prioridade a um modo simples de vida, em solidariedade com os pobres, comprometidas com a não-violência, e enfatizando os ensinamentos sociais e a abordagem holística do Papa Francisco.
Tendo sido criado como católico em Hyderabad, Índia, Neelam ouviu sobre Joseph Smith e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias pela primeira vez em um documentário. Mas depois de ter se mudado para os Estados Unidos como aluno de pós-graduação da Universidade de Georgetown, ele finalmente teve a chance de conhecer os santos dos últimos dias e aprender mais sobre a religião.
Isso aconteceu quando os residentes de sua comunidade da Dorothy Day Catholic Worker House receberam um grupo da Série Casa Aberta Reversa para um diálogo, e melhor entenderem uns aos outros, juntamente como conversas informais durante um almoço.
“A maioria de nós, na comunidade, tinha um estereótipo criado de que mórmons não são cristãos e não estão abertos a outras tradições religiosas”, disse Neelam. “Esta reunião fez com que todos repensássemos e foi uma grande experiência de aprendizado para nós na comunidade, sobre o engajamento com outras tradições religiosas.”
Um pouco sobre Diana Brown
Depois de crescer em Ogden, Utah, e servir uma missão de tempo integral em Taiwan, Diana Brown recebeu seu bacharelado e mestrado, este com ênfase em Sociologia da Religião, da Universidade Brigham Young. Depois disso foi contratada pelo Escritório de Ministério do Campus da [Universidade] de Georgetown, com o incentivo da universidade para que os alunos participassem de algum tipo de comunidade religiosa, disse ela.

“Temos, provavelmente, o ministério de campus mais robusto e diversificado no país”, disse Brown, que também é professora adjunta de Religião na Universidade George Mason, e membro da Ala Friendship Heights JAS, na Estaca Washington D.C. JAS Norte.
Georgetown, disse ela com uma risada, “é provavelmente o único lugar onde senti que, por ter um histórico santo dos últimos dias, ganhei pontos pela diversidade. Penso que eles estavam animados e intrigados que alguém com minha formação, estivesse interessada em coisas inter-religiosas e naquele ambiente.”
Como a série começou
Brown disse que suas amizades inter-religiosas — “com pessoas de outras religiões, quando a fé e a espiritualidade têm sido algo sobre o qual temos conversado, algo que nos une” — sempre foram fortalecedoras e “podem me conectar com outros de maneiras que eu não esperava, e me dão uma visão sobre as experiências de outras pessoas.”
No ano passado, Brown participou do programa de bolsas internacionais patrocinado pelo Centro Internacional Rei Abdullah bin Abdulaziz para o Diálogo Inter-religioso Internacional, uma das maiores organizações no assunto. Ela era uma das quase duas dúzias de participantes de todo o mundo que estavam trabalhando em instituições de educação religiosa, desde escolas secundárias até o ensino superior e seminários.
Como parte desta bolsa, participantes tiveram de completar um projeto de fim de ano. Em vez de se contentar com um único evento, Brown teve a ideia de criar uma série.

“Estava pensando sobre a casa aberta do templo, e que oportunidade inter-religiosa poderosa ela é, com pessoas de todos os tipos vindo, visitando e demonstrando curiosidade e interesse por nosso espaço sagrado”, ela disse.
“Estava interessada em mostrar reciprocidade, assim como modelar e dar a chance para outros santos dos últimos dias demonstrarem um tipo semelhante de curiosidade, respeito e carinho por outros em nossa comunidade, oferecendo às pessoas e comunidades que visitamos, juntamente com santos dos últimos dias, a oportunidade de pensarem sobre o valor de nossos espaços sagrados, através de uma perspectiva inter-religiosa mais ampla.”
Planejada com o apoio do Interfaith Council of Metropolitan Washington [Conselho Inter-religioso da região Metropolitana de Washington] e do centro King Abdullah, a Série Casa Aberta Reversa não é patrocinada ou afiliada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nem tampouco diretamente associada à visitação pública do Templo de Washington DC.
Interagindo com outras religiões
A Série Casa Aberta Reversa começou com uma primeira visita à Fundação Guru Gobind Singh, um Gurdwara Sikh em Rockville, Maryland, em 19 de novembro de 2021, dia em que comemoram o nascimento de Guru Nanak, o fundador do sikhismo.
Guru Nanak se interessava em cultivar uma comunidade que acolhesse pessoas de qualquer casta, credo ou raça, disse ela. Assim, a visita inaugural começou com “esta comunidade de fé que faz coisas inter-religiosas tão lindamente, que tem isso incorporado de forma automática em sua prática.”

Com cerca de 50 pessoas, o grupo de visitantes participou de um serviço Kirtan, com oração e canto devocional de versos do Guru Granth Sahib, a escritura sagrada central dos Sikhs. Todos cobriram a cabeça, tiraram os sapatos e lavaram as mãos, seguidos por diálogos e perguntas para o Dr. Rajwanr Singh, um dos fundadores do gurdwara.
E havia comida. “Eles são conhecidos por oferecerem comida a qualquer pessoa que entre”, disse Brown.
Outras visitas incluíram:
- The Dorothy Day Catholic Worker House [Casa do Trabalhador Católico de Dorothy Day]. Reunindo-se com aqueles vivendo de forma simples, minimalista e com atividades de advocacia, o grupo da série, com menos de duas dúzias de membros devido ao ambiente pequeno e apertado, participou de uma discussão e refeição. “Com um mundo denegrido pela divisão e ódio, a única forma de prosseguir é através do diálogo, diálogo e diálogo”, disse Neelam, citando a ênfase do Papa Francisco no diálogo, com corações abertos através de perspectivas e metas compartilhadas que transcendam diferenças, enquanto engajados em um esforço comum.
- A Mesquita Bait-ur-Rehman. O evento da série era visitar uma Mesquita Ahmadiyya para uma reunião com os membros de uma pequena seita muçulmana moderna que surgiu no Paquistão, no final do século XIX. As visitantes da série, desta vez apenas mulheres e meninas, foram recebidas pela organização de mulheres da comunidade, que compartilhou sobre a vida e os ensinamentos do profeta Maomé, o fundador do Islã.
- The Freemason Naval Lodge No. 4 [A Loja Naval Maçônica nº 4]. Um surto regional da subvariante ômicron da COVID-19 fez com que a visita planejada à loja maçônica mais antiga em operação contínua no Distrito de Columbia, se transformasse em um diálogo por videoconferência. A loja convidou a Série Casa Aberta Reversa a retornar para uma visita presencial ao local em junho.
- A Congregação Kesher Israel. Reunindo-se com a comunidade Judaica Ortodoxa Moderna, o grupo da série participou das orações da noite e de um estudo do Torá juntos na sinagoga da congregação.
Eventos de março dos Bahá’ís e na Basílica
Brown e Gordon planejaram um jantar-diálogo no dia 17 de março, em uma capela dos santos dos últimos dias local, para concluir o jejum anual Bahá’í. Com 30 visitantes bahá’ís e 50 anfitriões santos dos últimos dias, as perguntas em cada mesa ajudaram os participantes a se engajarem em conversas sobre a fé.
“Este evento foi uma excelente oportunidade para discutirem o jejum, tanto na tradição Bahá’í, como na dos [santos dos últimos dias], assim como com amigos de outras origens”, disse Gordon, acrescentando que os participantes comentaram “como eles apreciaram a hospitalidade e tempo para terem conversas espirituais juntos.”

Alguns dos participantes se reuniram novamente para darem continuidade às conversas sobre as religiões, com um outro evento menor planejado para o futuro.
Talvez o nome mais reconhecido das paradas feitas pela série seja o da Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, com o tour do dia 19 de março pela basílica nacional tendo sido planejado em cooperação com a Arquidiocese Católica de Washington. A visita coincidiu com a época da Quaresma, quando católicos jejuam e fazem sacrifícios intencionais para manterem o foco espiritual, antes da comemoração da Páscoa.
Para Brown, o reconhecimento do nome da visita à basílica é grande e valioso para a série, mas foi mais um tour do que uma interação e diálogo. “Para mim, os mais valiosos são os pequenos grupos que poucos conheciam, se importavam ou mesmo notaram que existiam.”
No dia 23 de abril, a Série Casa Aberta Reversa usará uma outra capela dos santos dos últimos dias para sediar um iftar, a refeição noturna feita pelos muçulmanos durante o Ramadã, com o Rumi Forum, uma comunidade de base islâmica que faz trabalho inter-religioso.
Um futuro possível

A participação na série não é limitada apenas a santos dos últimos dias. Indivíduos de outras religiões, incluindo alunos da Georgetown, também têm participado.
Com um pequeno time de amigos se reunindo semanalmente para revisar os esforços de planejamento e comunicação, a série é promovida através de um site, Reverseopenhouse.org, e página do Instagram, assim como por um pequeno boletim informativo e convites para algumas alas santos últimos dias locais.
O plano original era que a Série Casa Aberta Reversa fosse realizada de novembro de 2021 a maio de 2022, mas com a data da casa aberta do Templo de DC sendo prorrogada, a série também pode ser estendida pelo mesmo período, e até mesmo além dele.
“Quanto mais tempo isto durar, mais penso que talvez possamos apenas reduzir a frequência [das visitas], mas ainda continuar a série porque é realmente valiosa”, disse Brown. “Está bem claro que isto seria valioso como um programa contínuo.”
O que os participantes estão dizendo
![O grupo da Série Casa Aberta Reversa visita a Dorothy Day Catholic Worker House, na primavera [nos E.U.A.] de 2022 em Washington, D.C.](https://pt.thechurchnews.com/resizer/v2/Z6OQ7BYGOJF42OLH6CACHJXH7Q.jpg?auth=7fa082152d704854093add36ac6bf4370b786e83361376c660e1e81a1e42446e&focal=384%2C512&width=400&height=533)
Owen Bates, membro da Ala Friendship Heights JAS, foi criado em um lar santo dos últimos dias em Utah, onde compreender outras tradições religiosas, e às vezes indo à igreja católica, batista, luterana, episcopal e evangélica, era uma forma de desenvolver sua própria fé.
Quando Bates, estudante de pós-graduação da Universidade de George Washington, ouviu falar da Série Casa Aberta Reversa, ele pensou que seria uma forma de visitar uma variedade de locais sagrados da área, e ampliar sua compreensão sobre outras religiões. Ao se preparar para a visitação pública do Templo de Washington D.C., ele refletiu sobre o que o templo significa para ele, e queria aprender sobre os locais onde outras pessoas adoram a Deus.
“Penso que há uma força que surge quando pessoas religiosas de todas as origens se reúnem em união e mostram respeito pelas crenças umas das outras”, disse Bates. “Toda esta experiência tem me ajudado a ver outros como filhos de Deus, e a me conectar de forma significativa.
“Por causa das pessoas maravilhosas que conheci, minha própria fé foi fortalecida e tive novas percepções sobre a maneira como vivo minha fé, inclusive por meio da oração, estudo das escrituras e jejum.”
Paige Plucker, estudante de Georgetown e recém-conversa ao judaísmo, admite ter feito muito trabalho inter-religioso, e diz que a Série Casa Aberta Reversa “tem seu próprio tipo de mágica”. As conversas da série, com pessoas que nunca se conheceram antes, são iniciadas facilmente e a hospitalidade e o acolhimento são palpáveis, acrescentou.
![Os participantes observam cartazes e placas como parte de uma visita da Série Casa Aberta Reversa à Dorothy Day Catholic Worker House, na primavera [nos E.U.A.] de 2022 em Washington, D.C.](https://pt.thechurchnews.com/resizer/v2/PVIWTCAOIL6H4XMDGCSFD4KAJQ.jpg?auth=f1706c0aaa40ad69ea595e337c037317ee2d94f992efd8fae63d0dafa14b2747&focal=384%2C512&width=400&height=533)
“Mesmo quando não estamos em uma sinagoga, as pessoas estão interessadas em minhas crenças e práticas religiosas. Como minoria religiosa, eu gostaria que todos os espaços, especialmente os inter-religiosos, tivessem o mesmo carinho que a Casa Aberta Reversa tem”, disse Plucker.
“Participar desta série me ensinou muito mais sobre a Igreja, outras religiões como o sikhismo e até mesmo minha própria fé. Eu realmente espero que esta série continue, e que santos dos últimos dias por todo o país implementem este modelo de construção da comunidade inter-religiosa.”
Ixchelle Waite, da Ala Kensington da Estaca Washington D.C., participou de eventos da série porque queria fazer amizade com pessoas de diferentes religiões, e ser melhor educada sobre suas crenças.
“Ao participar da Série Casa Aberta Reversa, fiz amizades para toda a vida”, disse Waite, acrescentando que, naquele mesmo dia, ela havia desfrutado de uma caminhada com um amigo bahá’í que conheceu em um evento da série. “Encontrei a beleza na diversidade da Série Casa Aberta Reversa e espero continuar tendo experiências com diferentes religiões, povos e culturas.”
‘Abraçando o santo e sagrado’

A Série Casa Aberta Reversa está ajudando a completar uma espécie de círculo. As visitas servem como um lembrete àquelas pessoas de outras religiões, da visitação pública do Templo de Washington D.C. que está iniciando, e da rara oportunidade de se fazer um tour público gratuito.
“Parece torná-los mais interessados em ir, porque agora eles têm essa outra conexão”, disse Brown, “e parece mais como um diálogo de ida e volta, em vez deles virem apenas para ver.”
E o que Brown espera que seus amigos e líderes de outras religiões possam sentir com a visita à casa aberta do templo de D.C.?
“Espero que os ajude a se sentirem mais capacitados a abraçarem o santo e o sagrado em sua vida.”