Recentemente, enviei um cartão pelo correio para uma amiga que está passando por algo profundamente doloroso e injusto. No cartão, incluí uma pequena gravura representando o Salvador no Jardim do Getsêmani.
Dentre as muitas representações do sofrimento de Cristo no Jardim do Getsêmani, aprecio especialmente aquelas que me conectam à sagrada Expiação do Salvador com uma emoção crua e vívida. Em algumas obras de arte, Sua agonia física é palpável: ombros curvados, joelhos caídos, sangue manchando Suas vestes (ver Mateus 26:39).
Pensei novamente nessas representações quando surgiram as notícias do trágico acidente de ônibus em Lesoto, na África, que matou oito moças e duas de suas líderes e deixou muitos outros feridos. Que perda horrível para a comunidade local e para as famílias afetadas. Algo incrivelmente devastador.
Élder Dale G. Renlund, do Quórum dos Doze Apóstolos, falou sobre a “injustiça revoltante” de tais situações. Durante a conferência geral de abril de 2021, ele disse: “Algumas injustiças não podem ser explicadas; injustiças inexplicáveis são revoltantes. A injustiça existe por termos um corpo imperfeito, por ficarmos feridos ou doentes. A vida mortal é inerentemente injusta. Algumas pessoas nascem ricas; outras não. Algumas têm pais amorosos; outras não. Algumas vivem muito; outras, pouco. E assim por diante. Algumas pessoas cometem erros nocivos até quando estão tentando fazer o bem. Outras optam por não aliviar as injustiças quando poderiam. Infelizmente, alguns usam o arbítrio que Deus lhes deu para prejudicar os outros, quando nunca deveriam fazer isso.”
Ele continuou: “Nada se compara à injustiça que [o Salvador] suportou. Não foi justo que Ele tenha sentido todas as dores e aflições da humanidade. Não foi justo que Ele tenha sofrido por nossos pecados e erros. Mas Ele decidiu fazê-lo por causa de Seu amor por nós e pelo Pai Celestial. Ele compreende perfeitamente o que estamos passando.”
Certamente, qualquer um que tivesse visto a incomparável injustiça do sofrimento de Cristo no jardim jamais teria banalizado Sua experiência. Certamente, alguém que caminhasse pelo solo mais sagrado que já existiu na Terra teria caído de joelhos e chorado ao ver o Salvador em tanta dor. Certamente, teriam permanecido com Ele e prestado testemunho sagrado do sangue espremido de Sua pele como o azeite das azeitonas.
Será que podemos fazer menos, então, quando se trata das agonias individuais de outras pessoas? A responsabilidade de honrar a dor uns dos outros é tão importante que Alma declarou que os membros da Igreja têm a sagrada responsabilidade de “chorar com os que choram... e consolar os que necessitam de consolo” (Mosias 18:9). Certamente devemos jejuar e orar por nossos amigos em Lesoto, certamente devemos confiar que tudo acabará sendo resolvido por meio do Salvador, mas, por enquanto, talvez nosso foco deva ser chorar com e por eles. Quando se trata da “injustiça revoltante” da vida, talvez a coisa mais importante que possamos fazer seja suportar o fardo, como nosso Salvador faz por cada um de nós.
Em um artigo da Liahona de junho de 2018, Presidente Jeffrey R. Holland colocou desta forma: “Na experiência da Expiação, Cristo vivenciou indiretamente os pecados, as tristezas, os problemas e as lágrimas de toda a humanidade — e suportou esses fardos — desde Adão e Eva até o fim do mundo. Assim, Ele não pecou de fato, mas sentiu a dor e as consequências por aqueles que pecaram. Ele não vivenciou pessoalmente um casamento desfeito, mas sentiu a dor e as consequências por aqueles que o vivenciaram. Ele não vivenciou pessoalmente o estupro, a esquizofrenia, o câncer ou a perda de um filho, mas sentiu a dor e as consequências que sofrem aqueles que passam por isso. Do mesmo modo que sofreu por outra infinidade de fardos da vida que despedaçam corações.
“Essa perspectiva de como funciona a Expiação revela o verdadeiro exemplo divino de empatia que o mundo já conheceu. …
“Empatia. Parece um tanto inadequado, mas é um ponto de partida. Podemos não ser capazes de alterar a jornada, mas podemos garantir que ninguém a percorra sozinho. Certamente é isso que significa carregar os fardos uns dos outros: são fardos. E quem sabe quando, ou se, serão aliviados na mortalidade? Mas podemos caminhar juntos e compartilhar a carga. Podemos elevar nossos irmãos e irmãs como Jesus Cristo nos elevou. E, por meio de tudo isso, certamente adquirimos uma apreciação nova e mais clara pelo que o Salvador, em última análise, faz por nós.”
— Kaitlyn Bancroft é repórter do Church News.