Jenet Erickson consegue se lembrar de onde estava sentada durante a Reunião Geral da Sociedade de Socorro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em 23 de setembro de 1995, quando Presidente Gordon B. Hinckley se levantou para ler “A Família: Proclamação ao Mundo” pela primeira vez.
“Lembro-me de pensar, como sempre fazíamos quando Presidente Hinckley falava, que havia poder em sua mensagem, algo poderoso e significativo naquilo, mas eu não tinha ideia de quão importante cada frase daquela proclamação seria para mim em meu próprio estudo e compreensão da família”, disse Erickson.
Nos 30 anos que se passaram desde então, ela teve ampla oportunidade de estudar, ensinar e defender as verdades expostas na proclamação, tanto como professora quanto como pesquisadora e cientista social. Como professora de Educação Religiosa na Universidade Brigham Young, Erickson ministra uma disciplina chamada “A Família Eterna”, que se aprofunda nos princípios ensinados na “Proclamação da Família”, linha por linha. Ela também é membro do Instituto Wheatley e do Instituto de Estudos da Família [ambos em inglês], que se concentra em pesquisas e políticas relacionadas ao casamento e à família.
Erickson conversou [em inglês] recentemente com o Church News para discutir sua nova pesquisa e como ela se conecta à doutrina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias descrita na “Proclamação da Família”.

Transtornos na família
Na época em que foi proferida, muitos não compreenderam a natureza profética da proclamação, disse Erickson. “Acho que todos nós tivemos o mesmo sentimento: ‘Ah, não há nada realmente único ou extraordinário. Por que a necessidade de se fazer uma declaração como essa? Todo mundo já não sabe disso?’ Mas quem poderia prever que, em poucos anos, até mesmo questões significativas sobre a estrutura essencial da família, tais como o próprio casamento, a necessidade de ter filhos, o desejo de ter filhos, por que a família precisava ser estruturada da maneira que é, todas essas questões estariam em debate. E certamente, em nossa época, vimos algumas das consequências, as implicações, dessa unidade natural sendo rompida.”
Há apenas dois anos, o segundo líder mais sênior da Igreja falou aos jovens adultos santos dos últimos dias em todo o mundo.
Entre outros tópicos, o primeiro conselheiro na Primeira Presidência, Presidente Dallin H. Oaks, expressou sua preocupação e a de outros líderes da Igreja sobre a natureza e a extensão do casamento nos Estados Unidos e na Igreja.
Presidente Oaks mostrou um gráfico que ilustra a redução na porcentagem de adultos que se casam nos Estados Unidos. Não só menos americanos estão se casando, como também estão se casando mais velhos e, portanto, tendo menos filhos, inclusive dentro da Igreja.
Esses declínios representam oportunidades perdidas e bênçãos adiadas, disse Presidente Oaks. “Significa menos oportunidades de trabalharem juntos para edificarem o reino de Deus. E, o mais importante, significa menos filhos nascidos para crescerem com as bênçãos do evangelho.”

De acordo com dados divulgados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos E.U.A. [em inglês], menos de 1,6 crianças nascem por mulher nos Estados Unidos, o que está abaixo da taxa de fertilidade de reposição de 2,1 bebês por mulher.
Em uma sessão de perguntas e respostas com jovens adultos solteiros em 2021, Presidente Jeffrey R. Holland, Presidente em Exercício do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou que um dos motivos pelos quais a Igreja se concentra no casamento é porque o significado doutrinário do casamento e da família em todo o mundo tem sido ignorado nas últimas décadas. “O Senhor espera que reverenciemos o casamento, a família e a geração de filhos”, disse o Apóstolo.
Embora as causas para o declínio do número de casamentos e famílias sejam multifacetadas, um fator contribuinte parece ser a desvalorização da família e dos filhos.
Um estudo conduzido pelo Pew Research Center no ano passado [em inglês] descobriu que, entre os jovens adultos sem filhos, menos da metade das mulheres, cerca de 45%, disseram que querem ter filhos algum dia.
Ao mesmo tempo, pesquisas do Instituto de Estudos da Família [em inglês] mostram que mais mulheres nos E.U.A. estão deixando de lado a maternidade. Em 2020, 1 em cada 6 mulheres que chegaram ao fim da idade fértil nunca havia dado à luz.

No discurso de Presidente Oaks, ele citou uma pesquisa nacional conduzida pelo Wall Street Journal e pela Universidade de Chicago [em inglês], que mostra que a importância de ter filhos para os adultos caiu nos últimos 25 anos de 66% para 33%.
Jean M. Twenge, professora de Psicologia na Universidade San Diego State, observou recentemente em uma coluna para a revista “The Atlantic” [em inglês], que muitas reportagens e fóruns de mídia social e on-line enquadram o comprometimento e a maternidade como fatores que deixam as mulheres infelizes.
Twenge citou um artigo de opinião escrito no New York Times [em inglês] que afirma: “A maternidade heterossexual casada na América, especialmente nos últimos dois anos, é um jogo que ninguém ganha”. Ao mesmo tempo, a Bloomberg, uma agência de notícias financeiras e empresariais, publicou um artigo [em inglês] com o título “Mulheres que permanecem solteiras e não têm filhos estão ficando mais ricas.”
“Vivemos em uma época em que as mulheres, mesmo aquelas que cresceram com uma orientação voltada para a família, veem o casamento e a maternidade como uma transição de perda, perda de identidade, perda de autonomia, medo de não serem iguais”, disse Erickson. “No entanto, todas as pesquisas mostram consistentemente que as mulheres mais felizes são as mães casadas.”
Erickson e Twenge, além de Wendy Wang, diretora de pesquisa do Instituto de Estudos da Família, e Bradford Wilcox, professor de Sociologia da Universidade da Virgínia, foram coautores de um estudo publicado no mês passado, [em inglês], analisando o impacto do casamento e da maternidade no bem-estar da mulher.
Eles entrevistaram 3.000 mulheres norte-americanas, com idades entre 25 e 55 anos, no início de março de 2025. Controlando por idade, renda familiar e educação, a pesquisa constatou que mães casadas são o grupo mais feliz de mulheres, superando mulheres solteiras, mulheres casadas sem filhos e mães solo em quase todos os indicadores de bem-estar. Quase o dobro de mães casadas disseram ser “muito felizes”. As mães casadas também eram mais propensas a dizerem que a vida parece agradável na maior parte do tempo ou durante todo o tempo.

Importância dos relacionamentos
A pesquisa sobre o bem-estar das mulheres [em inglês] ofereceu várias percepções sobre por que mães casadas são mais felizes. Por exemplo, os dados mostraram que mulheres casadas têm menos probabilidade de se sentirem sozinhas.
“Embora casar e ter filhos possa significar menos tempo com os amigos, o casamento e os filhos também estão associados a outros tipos de engajamento social, incluindo trabalho voluntário, frequência à igreja e conexões comunitárias”, observou Erickson em um comunicado à imprensa do Instituto Wheatley [em inglês] sobre o estudo.
A pesquisa também revelou a importância do toque físico para o bem-estar feminino. Pesquisas associam o contato físico à redução do estresse, ao aumento da resiliência emocional e à maior felicidade geral. Mulheres que relataram níveis mais elevados de contato físico tiveram três vezes mais probabilidade de se descreverem como “muito felizes”.
“Estamos em uma situação de escassez de contato por causa da tecnologia”, disse Erickson ao Church News. “E o que podemos ver é que seres humanos precisam do contato corporal. E quem são aqueles com maior probabilidade de experimentarem o contato? São as mães casadas.”

Mais importante ainda, o estudo constatou que a maternidade proporciona às mulheres um senso mais profundo de significado e propósito na vida. Mães casadas eram mais propensas a afirmarem que suas vidas pareciam significativas na maior parte ou o tempo todo, e que o que faziam na vida era valioso e gratificante.
“A maternidade é uma experiência incrivelmente nutritiva e florescente para as mulheres, apesar da narrativa”, disse Erickson.
No entanto, continuou ela, isso não significa que seja fácil. A pesquisa também revelou que mães casadas eram mais propensas a relatarem que se sentiam exaustas, sobrecarregadas ou que desejavam mais tempo para si mesmas. “Não há dúvida de que [a maternidade] é um trabalho de fé.”
Algo mais
Erickson explicou que as verdades expostas na “Proclamação da Família”, seja a importância do casamento, a importância da lei da castidade e da fidelidade no casamento, a importância dos filhos, que mães e pais oferecem algo diferente para o desenvolvimento de seus filhos, “tudo isso podemos ver socialmente, e é confirmado em milhares de estudos de pesquisa sobre o bem-estar humano.”
No entanto, a proclamação também oferece algo maior, algo além do que pode ser visto na mortalidade: a família “é um desígnio eterno” e essencial ao plano de salvação do Pai Celestial.
“É por isso que existimos, porque temos um [Pai e uma Mãe Celestiais], e o Seu trabalho é nos capacitar a crescermos, para que possamos viver na qualidade dos relacionamentos que eles têm como pai e mãe. Então, é como se todo o plano estivesse fundamentado nessa realidade da família. Se não houvesse a família, não haveria plano”, disse Erickson.
Nos últimos cinco anos, disse Erickson, o mundo vivenciou uma “epidemia de solidão”, em que indivíduos estão optando pelo isolamento. Embora a cultura diga que a vida ideal é autônoma, em busca de prazer e livre de obrigações com os outros, “na verdade, isso nos deixou famintos e vorazes por aquilo que, em nossa essência, precisamos... precisamos de relacionamentos fortes e essenciais”.
Erickson enfatizou: “Somos parte de uma família eterna. Somos feitos para relacionamentos profundos e eternos. É disso que se trata toda a obra expiatória de Cristo: trazer reconciliação aos nossos relacionamentos, e é aí que encontraremos a alegria eterna.”
Cada indivíduo é um filho de Deus, criado para encontrar plenitude em relacionamentos profundos e fortes. “Qualquer coisa que nos diga o contrário é uma distorção sobre quem realmente somos e onde habita a felicidade”, disse Erickson.

