Aos cinco anos de idade, Vai Sikahema olha timidamente para a câmera, de pé com seus pais, Ruby P. e Sione Sikahema, a irmã de três anos, Lynette, e o irmão de um ano, Kap, em frente ao Templo da Nova Zelândia, em uma fotografia tirada há mais de meio século.
Aquele menino de cinco anos de Nuku’alofa, Tonga, não viu a imagem até cerca de um ano atrás, pouco depois de ser chamado como Setenta Autoridade Geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. E ao ver e segurar pela primeira vez a impressão de 8 por 10 polegadas, Élder Vaiangina Sikahema chorou abertamente.
O que a imagem mostrava era significativo e tocante a vários níveis.
Primeiro, a fotografia captura os Sikahemas fora do templo em um dia ensolarado de outubro de 1967, logo após a família ter sido selada.
E é uma foto rara da família daquela época, então rapidamente se tornou uma lembrança preciosa.
Ao fundo, com outro casal, está o presidente John H. Groberg: o líder da missão em Tonga no final da década de 1960, e mais tarde Setenta Autoridade Geral, que acompanhou um grupo com cerca de 100 santos dos últimos dias tonganeses naquele ano, ao templo em Hamilton, Nova Zelândia. Atrás da câmera que tirava a foto estava sua esposa, a irmã Jean Groberg. Portanto, a imagem também destaca a ligação entre os Grobergs com a Igreja em Tonga e o apoio de familiares e amigos que ajudam aqueles que viajam para o templo.
E a fotografia representa o papel do Templo da Nova Zelândia como o único templo da Igreja no Pacífico Sul por um quarto de século, após sua dedicação em 1958, até a construção de templos na Austrália, Tonga, Samoa e Taiti no início e meados da década de 1980.
“Para muitos dos quais eu chamaria de ‘os santos pioneiros do Pacífico’, o Templo da Nova Zelândia continua sendo um farol de esperança, onde podemos ir e receber todas as bênçãos da exaltação no templo, com as ordenanças disponíveis para nós”, disse Élder Sikahema. “Foi incrivelmente poderoso para nós, mesmo para aqueles que eram muito jovens para entender o que realmente estava acontecendo.”
Hoje, a Igreja tem 17 templos em operação, em construção ou anunciados em sua Área do Pacífico. Com o primeiro, hoje conhecido como o Templo de Hamilton Nova Zelândia a ser rededicado no domingo, 16 de outubro, após ter estado fechado para uma reforma de quatro anos, as experiências dos Sikahemas servem como uma representação daqueles dias significativos e tocantes a tantos níveis para muitos santos dos últimos dias.
Preparação
Como outros em toda a área, os santos dos últimos dias tonganeses se sacrificaram para viajar grandes distâncias para frequentarem o templo. “Assim que um casal se casava, mesmo antes de se casarem, eles começavam a economizar, conforme incentivado pelos líderes locais”, relembrou Élder Sikahema.
Casados em 1961, Sione e Ruby Sikahema se tornaram supervisores de dormitório na Liahona High School [Escola de Ensino Médio Liahona], recebendo moradia e refeições gratuitas no refeitório, nada mais. Seu trabalho com os serviços de tradução da Igreja em Nuku’alofa forneceu alguma renda suplementar.
Economias adicionais vieram dos Sikahemas vendendo produtos como milho, melão e inhame de sua grande horta. “Era um dos meus trabalhos aos 5 anos de idade, separar melões por tamanho para vender, e tudo era feito em casa”, disse Élder Sikahema. “As pessoas faziam o que podiam, então é uma doce lembrança para mim que participei de alguma forma.”
Os santos dos últimos dias também entraram em contato com familiares e amigos na Nova Zelândia, nos Estados Unidos e em outros lugares para ver se poderiam ajudar a contribuir para suas viagens ao templo.
A viagem
O grupo tonganês deixou Nuku’alofa de barco em 1967 com destino a Suva, Fiji, depois cruzou aquela ilha de ônibus para Nadi, depois voou para Auckland, Nova Zelândia, e seguiram para Hamilton de ônibus. “Lembro-me da emoção da viagem”, relembrou Élder Sikahema citando a descrição de Charles Dickens “pick and flower” [a picareta e a flor da Inglaterra], ao se referir aos santos dos últimos dias ingleses emigrando a novas terras.
“É assim que me sinto em relação aos santos tonganeses que fizeram a viagem”, disse ele, mencionando alguns pelo nome, como a família Fifita Sitake, os avós do técnico de futebol americano da BYU, Kalani Sitake. “O Senhor continuou a abençoar nossas famílias de maneira notável.”
Enquanto quase metade do grupo eram crianças, poderia ter havido ainda mais. Muitas famílias grandes não tinham dinheiro suficiente para todas as crianças viajarem, então algumas tinham que decidir quais iriam e quais não iriam. Às vezes, os pais optavam por crianças pequenas, pensando que as crianças mais velhas poderiam ter experiências no templo como estudantes em faculdades endossadas pela Igreja ou recebendo chamados missionários.
“Ninguém precisa fazer este tipo de escolha agora: ‘Quais crianças eu levo comigo para serem seladas no templo.’ Esta é uma escolha difícil.”
Altitude e céu
Uma lembrança duradoura que Élder Sikahema tem foi a altitude do voo. “Duvido que qualquer um dos homens ou mulheres naquele avião tenha subido mais alto do que a altura de um coqueiro”, disse ele, acrescentando que é aproximadamente a mesma altura do prédio mais alto de Nuku’alofa, um edifício de dois andares com o escritório da missão e departamento de tradução no andar superior.
Quando o avião decolou, os tonganeses estavam com as persianas levantadas e olhando pela janela. “Os adultos estavam todos gritando — tonganeses não são tímidos — e todo mundo também gritou. Tenho certeza de que o piloto estava se perguntando: ‘O que está acontecendo lá atrás?’ Foi apenas um grito coletivo.”
Seguiu-se outro momento memorável. Élder Sikahema se lembra de uma mulher mais velha, chamada Meleame, que estava sentada atrás dele chorando no voo. Quando o presidente Groberg foi ver como estava, ela perguntou: “Kolipoki, ko hevani ei?” — ou “Groberg, estamos no céu?”
Élder Sikahema disse: “No contexto de uma pessoa idosa de Tonga que nunca havia andado de avião e que olhava para fora e estava acima das nuvens, ela se perguntava se estávamos no céu. E Élder Groberg respondeu: ‘Sim, estamos no céu, porque o céu é estar com seus entes queridos, e o céu será assim.’”
O dia
As lembranças de Élder Sikahema do dia do selamento no templo incluem todas as crianças tonganesas esperando no berçário do templo. “Pense naqueles pobres líderes do berçário e nessas crianças que nunca tinham visto brinquedos: era como se estivéssemos soltos na Disneylândia.”
Ao caminhar para a sala de selamento com Lynette e um oficiante do templo carregando Kap, ele pôde ver seus pais através da porta aberta, também vestidos de branco, ajoelhados no altar. Ao ver seus filhos se aproximando, sua mãe soltou um suspiro audível e começou a chorar. “Não tínhamos certeza do que estava acontecendo”, disse ele sobre os irmãos que se juntaram para a ordenança, “mas sou grato por ter uma lembrança disso.”
Seus irmãos mais novos não se lembram do momento exato. “Mas eles têm lembranças de crescerem e ouvirem meus pais falarem sobre isso, ensinando sobre a importância do templo e de sermos selados.”
As fotos
Élder Groberg e sua filha Liz estavam vendo slides e fotografias na época do falecimento da irmã Groberg, no início de outubro de 2021, até encontrarem um de uma jovem família no templo em 1967. Reconhecendo que eram os Sikahemas no slide, eles fizeram uma cópia e a enviaram.
“Eu apenas chorei, porque nunca tinha visto uma foto da minha família junta”, disse Élder Sikahema. “Foi a primeira vez que vi uma foto dos meus pais naquela idade.”
Outra foto da viagem ao templo ressurgiu na mesma época: o passaporte de Ruby Sikahema e seus filhos. Os passaportes tonganeses da época permitiam que as crianças fossem fotografadas com um dos pais.
“Provavelmente tem estado na família, mas surgiu de algum lugar recentemente. Essa foto do passaporte foi provavelmente a primeira vez que nos sentamos para tirarem uma foto nossa”, disse ele, acrescentando: “Às vezes tenho inveja de pessoas da minha idade — atualmente tenho 60 anos — que têm fotos de bebês e fotos de família. Não temos nenhuma.”
Os Sikahemas foram fotografados algumas vezes anteriormente. “Se você tivesse a sorte de conhecer missionários americanos, a maioria deles trouxe boas câmeras [para a missão]. Mas muitos deles não conseguiam revelar as fotos em Tonga, apenas quando voltavam para a América.”
O retorno
Na fotografia, o presidente Groberg está ao lado de Percy e Anna Harris, tios de Ruby Sikahema. Com uma boa condição financeira e morando na Nova Zelândia, eles não apenas ajudaram os Sikahemas com os custos da viagem, mas também ajudaram a manter os Sikahemas durante seus três meses na Nova Zelândia.
Para os Sikahemas, não foi uma viagem ao templo de uma ou duas semanas. Élder Sikahema soube mais tarde que seus pais haviam conseguido o suficiente para uma passagem de ida, com fé para encontrar trabalho e economizar para voltar para casa.
Os santos dos últimos dias locais ajudaram os membros tonganeses com oportunidades de trabalho. Élder Sikahema se lembra de um dia ir com seu pai tosquiar ovelhas em um rancho. “Não era um trabalho com o qual os tonganeses estavam familiarizados, mas eles foram ensinados a fazê-lo.”
Seis anos para economizar para ir ao templo e três meses para ganhar o suficiente para voltar para casa.
Posfácio
Em 1969, Ruby e Sione Sikahema partiram para Laie, Havaí, para frequentarem a BYU-Havaí; o jovem Vai se juntou a eles em 1970, e os três foram para Mesa, Arizona, onde morava o irmão de seu pai. Sendo cuidados pela família em Tonga, os dois filhos mais novos chegaram a Mesa em 1972.
“Então, foram três anos e meio de separação...”, a voz de Élder Sikahema se arrasta em terna reflexão. “Mas nós fomos selados.”
As bênçãos dessa ordenança do templo foram manifestadas e creditadas pelos Sikahemas ao longo de suas experiências de vida, desde proteções físicas e espirituais, até sucessos educacionais e profissionais. O templo da Nova Zelândia foi um destaque quando Élder Sikahema levou sua esposa, a irmã Keala Sikahema e seus quatro filhos, em uma viagem para reviver suas raízes no Havaí, Nova Zelândia e Tonga em 2007; e o selamento da família em 1967 trouxe uma perspectiva eterna com o falecimento de Ruby Sikahema em 2013.
“Fomos imensamente abençoados, e isso remonta a outubro de 1967”, disse Élder Sikahema.
“E eu honestamente não acho que nossas experiências foram tão singulares. “Estava acontecendo entre os fijianos, os samoanos, os maoris, as pessoas em Vanuatu, Kiribati e em todo o Pacífico.”
Experiências que foram significativas e tocantes a tantos níveis, para tantos santos dos últimos dias — e às vezes capturadas em fotografias.