Três anos depois de sua primeira humilde oração ter sido respondida no Bosque Sagrado, Joseph Smith proferiu outra oração fundamental, na noite de 21 de setembro de 1823.
O jovem de 17 anos buscou perdão e compreensão sobre seu lugar perante Deus.
“Recorri à oração e à súplica ao Deus Todo-Poderoso para pedir perdão por todos os meus pecados e imprudências, pedindo também uma manifestação para que eu pudesse saber qual era o meu estado e posição perante ele; pois tinha plena confiança de receber uma manifestação divina, como acontecera anteriormente”, escreveu ele (Joseph Smith—História 1:29).
Enquanto ele orava, uma luz e um ser celestial apareceram em seu quarto.
“Chamou-me pelo nome e disse-me que era um mensageiro enviado a mim da presença de Deus e que seu nome era Morôni”, escreveu Joseph (Joseph Smith—História 1:33) e “Deus tinha uma obra a ser executada por mim.”
Esta foi a primeira de quatro visitas que Morôni fez a Joseph, durante a noite e na manhã seguinte. Nas repetidas mensagens de Morôni durante estas quatro visitas, ele revelou a localização próxima de um antigo registro escrito em placas de ouro, o Livro de Mórmon, e citou escrituras sobre a Restauração do evangelho de Jesus Cristo e a coligação de Israel.
Este ano, de 21 a 22 de setembro de 2023, é comemorado os 200 anos desde aquele evento histórico, que marca o início da Restauração, disse Élder Kyle S. McKay, Setenta Autoridade Geral e historiador e registrador de A Igreja de Jesus Cristo de Santos dos Últimos Dias.
“Se você perguntasse a Joseph em sua época, quando foi o início do surgimento da Igreja de Jesus Cristo nestes últimos dias, ele não teria apontado para a Primeira Visão. Esse foi o início da redenção de Joseph”, disse Élder McKay. “O início da redenção ou Restauração da Igreja e do evangelho aconteceu em 21 de setembro de 1823, quando Morôni apareceu e disse: ‘Joseph, sou um mensageiro enviado da presença de Deus. Meu nome é Morôni. Vamos ao trabalho.’”
Em muitos aspectos, este é o momento em que a Restauração se torna pública, disse Keith A. Erekson, diretor de pesquisas históricas e parcerias do Departamento de História da Igreja.
“Joseph teve a experiência que hoje chamamos de Primeira Visão, mas isso foi em grande parte uma coisa privada”, disse Erekson. “Mas, neste momento, isso se tornaria algo grandioso para a família Smith.”
Élder McKay e Erekson refletiram sobre o aniversário da visita de Morôni a Joseph Smith e os eventos subsequentes, durante uma recente entrevista ao Church News, realizada no Museu de História da Igreja.
As 4 visitas de Morôni a Joseph Smith
As três primeiras visitas ocorreram durante a noite. Quando a terceira terminou, Joseph ficou surpreso ao ver o sol nascendo. Ele tentou trabalhar, mas estava exausto. Seu pai mandou Joseph para casa para descansar. No caminho para casa, suas forças se exauriram e ele desmaiou.
Ele acordou com a quarta aparição de Morôni, que repetiu a mesma mensagem e instruiu Joseph a contar a seu pai tudo o que havia acontecido, o que ele fez. Seu pai acreditou nele e o encorajou a fazer o que o anjo instruiu. Joseph foi ao Monte Cumora e encontrou as placas de ouro e outros itens, em uma caixa de pedra, mas Morôni, aparecendo novamente, o proibiu de tê-los.
No dia seguinte, depois de descansar e de um dia inteiro de trabalho, Joseph contou a toda a sua família tudo o que aconteceu, e eles acreditaram nele.
A família Smith era uma família crente, unida e fiel, disse Élder McKay, mas eles também tiveram uma confirmação espiritual da veracidade destes acontecimentos.
“Faz mais sentido acreditar que, ao ouvirem o irmão e filho contar a sua experiência, eles tiveram uma confirmação e souberam que era verdade”, disse ele. “E então eles seguiram com fé.”
O que Joseph Smith aprendeu de suas visitas com Morôni?
Em suas múltiplas visitas, Morôni contou a Joseph sobre o registro escrito em placas de ouro, antes de citar as profecias do Velho Testamento contidas nos escritos de Malaquias, Isaías e Joel a respeito da Restauração (ver Joseph Smith—História 1:27-54).
“Morôni conta a Joseph sobre o registro, porque este registro daria início a tudo, mas Morôni se concentra na Restauração em si”, disse Élder McKay. “Ele começa com esta incrível profecia de Malaquias sobre o profeta Elias e as chaves do selamento, o poder selador que surgirá por causa de sua visita. Gosto de dizer que as chaves do sacerdócio restauradas por Elias foram prometidas em Palmyra, Nova York, restauradas em Kirtland, Ohio, e entregues em Nauvoo, Illinois.”
Joseph aprendeu que o registro, que mais tarde traduziu e publicou como o Livro de Mórmon, seria a principal ferramenta para coligar Israel.
“Uma grande parte daquilo que Morôni falou a Joseph foi sobre a coligação de Israel, foi sobre a Restauração, não apenas do evangelho, mas do povo do convênio de Deus. E o Livro de Mórmon, este registro sobre o qual estou falando, é a sublime ferramenta para essa coligação”, disse Élder McKay.
O Livro de Mórmon abre a Restauração para a Terra, mas também oferece às pessoas a oportunidade de aprenderem a verdade pessoalmente e desenvolverem um relacionamento duradouro com Deus.
“Duzentos anos depois, é difícil sobrestimar a importância do Livro de Mórmon”, disse Erekson. “Ele lançou o alicerce e deu início ao trabalho. Em milhões de casos, é o primeiro encontro que os convertidos ao evangelho restaurado têm ao conversarem com os missionários. ... O livro em si é um convite, não para ficar apenas nas páginas do livro, mas para o leitor buscar a Deus e pedir mais.”
Os primeiros 5.000 exemplares do Livro de Mórmon foram impressos em 1830 [em inglês]. Até outubro de 2020, a Igreja havia publicado 192 milhões de exemplares do Livro de Mórmon em 112 idiomas.
Impacto na família Smith
A notícia das visitas celestiais de Joseph chamou a atenção de alguns membros da comunidade, que estavam interessados nas coisas de Deus, enquanto outros estavam mais interessados em tesouros.
“Começa a haver uma competição entre o valor espiritual deste trabalho e o ganho financeiro a ser obtido”, disse Erekson. “Também aumenta a notoriedade de Joseph como um vidente, alguém que pode encontrar coisas e ver coisas que outros não podem ver.”
Joseph e sua família suportou a atenção extra durante os quatro anos seguintes, enquanto ele se encontrou anualmente com Morôni, se casou com Emma, procurava emprego e continuava a viver sua vida.
Por que 4 visitas de Morôni?
Élder McKay disse que um padrão semelhante de repetição é encontrado nas escrituras. Em 3 Néfi 11, Jesus Cristo diz repetidamente aos nefitas para se arrependerem e serem batizados.
“A mesma coisa aconteceu com Joseph para que ele entendesse estes princípios e se lembrasse deles”, disse Élder McKay. “Morôni fez isso de uma maneira que ficasse na mente de Joseph e fosse um aprendizado pelo Espírito e pela visão. Era importante que Joseph ouvisse isto de novo, de novo e de novo.”
Aprendizados pessoais
Uma das percepções pessoais que Erekson obteve, ao estudar os eventos de 21 de setembro de 1823, é o quão pouco Joseph sabia no início e como sua compreensão se desenvolveu ao longo do tempo.
“Tenho uma humilde admiração pelo fato de Joseph ter recebido estas instruções realmente simples”, disse ele.
Na Primeira Visão, Joseph é instruído a não se filiar a uma igreja, apenas esperar.
Então a instrução que Morôni lhe deu foi que, ‘você precisa ser digno para aceitar este registro’, algo que leva anos. Então ele recebe o registro e é instruído a traduzi-lo.
“Em todos estes momentos, ele ainda não sabia que deveria organizar a Igreja”, disse Erekson. “Nós apenas o vemos aceitando humildemente aquela inspiração, aquela instrução do Senhor e a cumprindo. Então o Senhor pode dizer: ‘OK, aqui está outra coisa’. Vejo uma grande lição nas instruções simples que recebemos.”
Élder McKay disse que a vida de Joseph, incluindo as experiências do Bosque Sagrado e de Morôni, são exemplos de arrependimento diário.
“É um padrão no qual Joseph reconheceu a necessidade de se arrepender e ser perdoado”, disse ele.
Tanto Élder McKay quanto Erekson ficaram impressionados ao considerarem a idade de Joseph Smith, na época em que foi chamado para realizar estas importantes tarefas.
“Uma coisa que gosto sobre Joseph naquele momento é como ele é jovem”, disse Erekson. “Hoje, no século XXI, muitas vezes subestimamos o que Deus pode fazer através dos jovens. Pensamos: ‘Ah, você não tem idade suficiente para esse importante chamado.’ Vemos que esta primeira geração de Joseph e seus escreventes, as testemunhas e os primeiros membros da Igreja, são pessoas na faixa dos 20 e 30 anos e estão na vanguarda de algo enorme.”
“É notável”, acrescentou Élder McKay. “Eles estavam cheios de energia, fé e crença. Deus os levantou e os preparou para isso. ... Essa mesma capacidade e expectativa fazem agora parte do plano de Deus para os jovens na Igreja. ... Ele pode pegar qualquer um que esteja disposto e usá-lo para um propósito grande e glorioso.”