LONDRES, Inglaterra — Comemorando o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Élder Quentin L. Cook, do Quórum dos Doze Apóstolos, usou suas mensagens na quarta-feira, 6 de dezembro, no Parlamento britânico e em uma das igrejas históricas da cidade de Londres, para exaltar os benefícios dos direitos humanos e da liberdade religiosa, bem como para apelar por esforços contínuos em todo o mundo.
“Acredito que o Reino Unido tem estado na vanguarda da extensão do respeito, da tolerância e da proteção legal da liberdade religiosa a pessoas de todas as religiões, não apenas aos cristãos. Vocês são um exemplo poderoso...”, disse Élder Cook. “Nunca devemos desistir de defender e declarar os direitos humanos que celebramos hoje, aqui no Parlamento do Reino Unido.”
A liberdade religiosa e a responsabilidade perante Deus beneficiam indivíduos e países, acrescentou. “A prestação de contas a Deus pelas nossas relações de uns com os outros é uma força poderosa para o bem e apoia fortemente a democracia. Aqueles que se sentem responsáveis perante Deus também sentem a responsabilidade de melhorar a vida dos menos afortunados e de seguir as leis do país.”
Embora muitos desafios ainda existam e precisem ser enfrentados, disse Élder Cook, “os principais componentes e os fundamentos essenciais, que começaram nas Ilhas Britânicas, ainda são centrais hoje.”
Acompanhado por sua esposa, a irmã Mary Cook, Élder Cook proferiu o principal discurso em uma sessão matinal na Portcullis House [Casa Portcullis], do Palácio de Westminster. Também foram proferidos discursos pelaa Enviada Especial do Primeiro Ministro do Reino Unido para a Liberdade Religiosa ou Crença e membro do Parlamento, Fiona Bruce; o membro do Parlamento, Brendan O’Hara, líder de vários grupos parlamentares de todos os partidos, incluindo o da Liberdade Internacional de Religião ou Crença; a professora Stephanie Barclay, diretora da Iniciativa de Liberdade Religiosa da Faculdade de Direito de Notre Dame; e o professor Brett Scharffs, diretor do Centro Internacional de Estudos de Direito e Religião da Faculdade de Direito da Universidade Brigham Young.
Além disso, Élder Cook falou em um evento comemorativo na mesma tarde, patrocinado pela Fundação FoRB [em inglês], uma instituição de caridade voltada para “Liberdade de Religião ou Crença” e registrada no Reino Unido.
Liberdades ‘que falam e pertencem a todos’
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, anunciada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, compreende 30 direitos e liberdades que “falam e pertencem a todos”, e são a base dos direitos humanos para o direito internacional, disse Élder Cook em uma reunião durante a manhã. “Foi a primeira vez que um acordo global universal colocou os direitos humanos, e não a política de poder, em primeiro plano.”
O Artigo 18 afirma: “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.”
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias apoia a liberdade religiosa de todas as religiões, bem como das pessoas sem fé, disse Élder Cook, destacando dois princípios básicos que demonstram o compromisso da Igreja com a liberdade religiosa para todos:
- A 11º Regra de Fé: “Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência; e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde, ou o que desejarem.”
- A afirmação de Joseph Smith sobre a liberdade civil e religiosa: “É o amor pela liberdade que inspira minha alma, a liberdade civil e religiosa para toda a raça humana.”
Élder Cook expressou apreço pela história e pelas ações parlamentares das Ilhas Britânicas, que serviram como precursores essenciais para alcançar os direitos humanos e a liberdade religiosa em escala internacional. Incluída nessas ações históricas está a assinatura da Magna Carta em 1215, que Élder Cook celebrou em um discurso proferido em outubro de 2019, na Universidade de Oxford, na Inglaterra.
“Quando combinamos o impacto histórico da Magna Carta [ou Carta Magna], do direito consuetudinário [normas advindas de ‘uma prática geral aceita como lei’] inglês e da Declaração de Direitos Inglesa de 1689, o princípio da liberdade individual existiu na Inglaterra logo nos primeiros tempos”, disse Élder Cook no Parlamento, mencionando então a frase da Declaração da Independência dos Estados Unidos, “todos os homens criados são iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis.”
Ele acrescentou: “O reconhecimento de Deus, o Criador do universo, como o provedor final dos direitos essenciais, é proclamado de uma forma magnífica e reflete as crenças acalentadas das pessoas em todo o mundo. O conceito de que ‘todos os homens criados são iguais’ fez avanços significativos, mas ainda há muito a ser alcançado.”
A liberdade de religião e a liberdade de expressão são o coração e a base de uma democracia representativa, sendo a liberdade de acreditar em privado e de se reunir e exercer a crença e a expressão em praça pública, sendo essencial para proteger direitos inalienáveis, disse Élder Cook. No entanto, observou ele, nenhuma igreja deve ser a “igreja estabelecida” com direitos legais, que tenham um impacto negativo na fé religiosa daqueles, cujas crenças não estão de acordo com os frequentadores da igreja estabelecida.
Ele falou de seu tataravô, Heber C. Kimball, o primeiro missionário da Igreja a servir nas Ilhas Britânicas, em 1837, e das bases dos atos do Parlamento no início do século XIX, que criaram liberdades religiosas separadas da Igreja estabelecida e predominante da Inglaterra. Por causa das leis então aprovadas, Élder Kimball e outros missionários conseguiram obter uma licença para pregar em Preston, Inglaterra, certificando sob juramento, que as leis da rainha seriam seguidas, mas excluindo a exigência de fazer juramentos de lealdade à igreja estabelecida.
“Este foi um caminho crucial para resolver a questão de uma fé estabelecida em uma terra de muitas religiões”, disse Élder Cook, reconhecendo que a Igreja de Jesus Cristo cresceu de alguns milhares de membros, quando Heber C. Kimball chegou à Inglaterra, até mais de 17 milhões atualmente em todo o mundo. “Sou grato pela liberdade religiosa concedida aos meus antepassados missionários e invoco as bênçãos do céu sobre este Parlamento.”
Em uma sessão subsequente de perguntas e respostas, Élder Cook disse que está otimista quanto ao futuro da liberdade religiosa. Mas ao alertar contra aplicações absolutas em questões que envolvem a separação entre Igreja e Estado, ele citou Presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência. “Este não é um apelo a compromissos doutrinários”, disse Presidente Oaks, “mas sim um apelo à unidade e cooperação na estratégia e defesa, em direção ao nosso objetivo comum de [promover a] liberdade religiosa para todos.”
Insensível à música da fé
O evento da tarde foi realizado no The Sanctuary, o centro diocesano da Igreja Copta Ortodoxa em Londres, localizado em St. Andrew-by-the-Wardrobe, uma igreja do século XII que foi destruída no Grande Incêndio de Londres em 1666, reconstruída e danificada nos bombardeios da Segunda Guerra Mundial.
Juntando-se a Élder Cook e O’Hara nas mensagens da tarde estavam o Arcebispo Angaelos, arcebispo copta de Londres; e Matthew Jones e Deb Barry, ambos da Fundação FoRB.
Élder Cook citou o falecido Rabino Jonathan Sacks, das Congregações Hebraicas Unidas da Comunidade Britânica. Ao abordar como as partes seculares do mundo se tornaram, o Rabino Sacks encontrou um culpado como sendo “um ateísmo científico agressivo, insensível à música da fé.”
Duas bênçãos perdidas quando a sociedade se torna insensível à música da fé, disse Élder Cook, são:
- A forma como a responsabilidade religiosa beneficia indivíduos, países e sociedades.
- A multidão de boas obras que a religião inspira as pessoas de fé realizarem a favor de outros.
O Apóstolo saudou William Wilberforce, “meu herói pessoal”, e outros companheiros cristãos devotamente religiosos na história da Grã-Bretanha, como Thomas Clarkson, Charles e John Wesley e Hannah More, cada um deles tendo um sentimento avassalador de dever e responsabilidade para com Deus. Wilberforce é lembrado por ser a principal força que resultou na abolição da escravatura na Grã-Bretanha, em 1833.
Élder Cook também reconheceu o Reverendo Martin Luther King Jr. e seu trabalho no movimento americano pelos direitos civis, durante a década de 1960. “O movimento pelos direitos civis que ele liderou foi alimentado por suas convicções religiosas e pelas pessoas de fé. Grande parte do poder de sua mensagem se deve ao que poderíamos chamar de ‘música justa de fé’, que foi profundamente sentida.”
Élder Cook falou sobre as muitas contribuições de grupos religiosos, incluindo A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e suas colaborações humanitárias e de bem-estar com outras organizações globais.
Preocupado com o aumento atual de contenda e divisão, com a insensibilidade substituindo a bondade, o Apóstolo também citou o ensinamento do Presidente da Igreja, Presidente Russell M. Nelson, sobre paz: “Como seguidores de Jesus Cristo, somos chamados para sermos apenas isso, em um mundo cheio de conflitos e tumultos. … Precisamos de pessoas dispostas a deixarem de lado suas diferenças, ouvirem com compreensão e amarem umas às outras como irmãos e irmãs, como Jesus fez.”
Élder Cook concluiu: “Meu desafio para vocês hoje é que, em nossas diversas funções, precisaremos enfrentar os ventos predominantes da descrença e da divisão. Vocês saberão melhor como alcançarem isso e permanecerão como um farol de crença e união, em um mundo que muitas vezes desvaloriza ambas.
“É minha oração pessoal que possamos elevar coletivamente o apreço pela fé e pela responsabilidade perante Deus e sermos pacificadores. Tenho esperança de que, tanto pelo que ensinamos como pelo nosso exemplo, possamos ajudar a restabelecer o profundo significado da música da fé.”