Vários anos atrás, a Amazon adquiriu os direitos da série de “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, e buscou orientação criativa de escritores de Hollywood para um novo programa.
O roteirista e membro da Igreja, J.D. Payne, lembra que alguns escritores apresentaram ideias centralizadas em um único personagem, como as aventuras do jovem Aragorn ou uma história derivada sobre o anão Gimli.
Payne e seu parceiro de redação de 25 anos, Patrick McKay, imaginaram um épico grandioso e arrebatador que ele comparou a uma festa de Natal.
“Se for para parecer com um jantar de Natal, você quer ter peru, farofa, molho de cranberry e purê de batatas”, disse Payne. “Com Tolkien, isso significa que [estamos falando de] monstros, elfos, anões, homens, magos e hobbits.”
A ideia dos dois se concentrou na Segunda Era da Terra-média e na criação dos grandes anéis (três para os elfos, sete para anões e nove para homens), referenciados no início da trilogia “O Senhor dos Anéis”, do diretor Peter Jackson.
“Se você puder pegar esse prólogo de cinco minutos e fazer disso um programa de TV de 50 horas, seria uma [história] épica que valeria a pena contar”, disse Payne. “Nós a apresentamos para a Amazon, ela passou pelas etapas e, eventualmente, no verão de 2018, eles nos disseram que tínhamos o trabalho e nossas vidas inteiras mudaram.”
Mais de cinco anos depois, Payne e McKay deram vida à sua visão criativa como produtores executivos de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder”.runners and executive producers of “The Lord of the Rings: The Rings of Power.”
“É uma experiência surreal”, disse Payne.
Dias antes da tão aguardada estreia da segunda temporada do programa em 29 de agosto, Payne, um membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, natural do norte da Virgínia, falou com o Church News via Zoom de Londres, Inglaterra. Ele discutiu seu trabalho em “Os Anéis de Poder”, experiências importantes como missionário que o prepararam para sua carreira e como sua fé tem abençoado sua vida e sua família.
“Esta vida é algo que sinto que fui capaz de criar em parceria com o Pai Celestial”, disse ele. “Sinto como se estivesse passando pela vida com propulsores de foguetes. Tentei em vários momentos da minha vida viver sem a orientação do Espírito, fazendo as coisas com a minha própria força, intelecto e talento e, inevitavelmente, não consigo ir longe nem tão rápido. Nos momentos em que tentei estar mais em sintonia espiritualmente, o Senhor está comigo e é capaz de fazer milagres que eu nunca conseguiria fazer sozinho.”
Lições aprendidas como missionário
Como um jovem missionário de tempo integral em Roma, Itália, Payne disse que aprendeu diversas lições essenciais que o prepararam para uma carreira como escritor e produtor.
Primeiro, sua missão forneceu a Payne amplas oportunidades de conhecer pessoas interessantes e discutir coisas que motivam e importam na vida. “Você está abrindo uma janela para a alma das pessoas e o que as faz vibrar, e é disso que se trata o drama”, ele disse.
Toda semana, em seu dia de preparação, Payne documentava suas experiências em longas cartas para casa.
“Tenho mais de 1.000 páginas de cartas manuscritas que detalham minhas experiências missionárias, e muitas delas descrevendo pessoas e personagens”, ele disse. “Era como um jovem artista fazendo esboços de personagens para desenvolver suas habilidades como pintor. Eu tive uma experiência semelhante como escritor.”
Contar às pessoas sobre a Primeira Visão de Joseph Smith e a Restauração, bem como ensinar histórias das escrituras, especialmente de Jesus Cristo, e ver como elas impactaram outras pessoas, ensinou a Payne o poder de se contar histórias.
“Eu passei a ver o poder que a história tem para as pessoas”, ele disse. “E talvez houvesse histórias que só eu poderia contar.”
Como missionário, Payne aprendeu habilidades de liderança que o serviram bem como produtor. Ele supervisiona uma organização como milhares de pessoas, incluindo designers de produção, figurinistas, diretores de elenco, dublês, cenários, efeitos visuais e muito mais, e é responsável pelo roteiro, pré-produção, produção, pós-produção e promoção, levando uma história do início à conclusão.
Outra lição de vida essencial foi aprender a lidar com a rejeição, assim como perseverança e resiliência. No processo de ser constantemente rejeitado como missionário, ele aprendeu a visualizar a rejeição como um trampolim.
“Se eu entregasse a Deus, Ele me lançaria de volta como um trampolim”, ele disse. “Experiências que me empurraram para baixo se tornaram um combustível para ser elevado pelo Senhor. Depois que comecei a usar essa visualização, eu ficava quase que espiritualmente elevado com a experiência de apenas ser impulsionado por Deus.”
Depois de estudar Literatura Inglesa na Universidade de Yale, Payne se mudou para Hollywood sem uma única conexão ou conhecimento da indústria do entretenimento. Ele não tinha onde morar, mas tinha seu computador, uma mala, seu Toyota Prius, seu diploma universitário e alguns roteiros que ele havia escrito.
“Fui rejeitado muitas, muitas, muitas vezes antes de finalmente encontrar um agente e um empresário, e então começar a conseguir trabalho”, disse ele. “Então essa foi uma experiência importante: aprender a lidar com a rejeição.”
Fé, família e serviço na Igreja
Nos últimos 25 anos, Payne e McKay colaboraram em mais de 20 roteiros, incluindo o trabalho em “Star Trek: Sem Fronteiras” para o produtor J.J. Abrams, “Jungle Cruise” para o Walt Disney Studios e outros. Seus muitos roteiros de longa-metragem e televisão incluem projetos para a Sony, Warner Bros, Legendary, 20th Century Fox e Paramount Pictures.
Ao longo do caminho, Payne se esforçou para começar seus dias com oração e estudo das escrituras, permanecer perto do Pai Celestial e do Salvador, e viver os dois grandes mandamentos: amar a Deus e amar o próximo como a si mesmo.
McKay não é um santo dos últimos dias, mas compartilha valores cristãos semelhantes. Quando eles contratam pessoas, Payne diz que as duas principais qualificações são ser excelente no trabalho e tratar bem as outras pessoas.
“Ter o Espírito afeta como interagimos com todos”, ele disse. “Não importa onde elas trabalhem na produção... você apenas tenta amar as pessoas e tratá-las bem.”
Trabalhar em “Os Anéis de Poder” poderia ser um trabalho de 24 horas por dia, mas Payne fez questão de passar tempo com sua esposa e seus três filhos pequenos, além de servir na Igreja.
Sua esposa, Rachel Payne, é uma segunda soprano com formação clássica que já se apresentou como cantora de ópera ao redor do mundo. Eles se casaram no Templo de Washington D.C. Eles frequentam a Ala Hyde Park 1, na Estaca Londres Inglaterra Hyde Park, onde ele serviu como presidente da Escola Dominical da ala.
Payne nunca recusou um chamado, mas ele considerou seriamente dizer “não” alguns anos atrás. Ele e sua esposa estavam criando um filho pequeno com necessidades especiais e um bebê de 3 meses quando a produção da primeira temporada de “Anéis de Poder” começou na Nova Zelândia. Ele foi chamado como professor do Seminário matutino e depois de alguma consideração, ele disse sim. Um mês depois, a COVID-19 encerrou a produção, e ele pôde dar aulas no Seminário remotamente.
“Foi um grande impulso espiritual durante um momento difícil”, disse ele.
Trabalhando em ‘Os Anéis de Poder’
Diferentemente dos dramas convencionais de TV sobre médicos, advogados ou trabalho policial, Payne disse que recriar a imaginação complexa e detalhada de Tolkien é um desafio diário. Cada elemento, de figurinos a objetos e cenários, deve ser feito sob medida. Para os fãs do programa e por profundo respeito a Tolkien, eles não querem apenas que seja bom, eles querem que seja “incrível e excelente.”
“Não existe uma Target [loja de departamento] onde você possa ir e comprar fantasias da Terra Média direto da prateleira. Não existe um Walmart da Terra Média. Tudo tem que ser criado”, disse ele. “Escolha qualquer cena do programa, e eu poderia te contar 100 decisões criativas diferentes que foram tomadas, e as 10 opções que falamos para essas 100 decisões criativas diferentes. O volume disso é muito para se acompanhar.”
Ao longo do caminho, ele teve “momentos que pareciam um sonho”. A primeira vez que eles fizeram testes de figurino e maquiagem para os anões, Payne sentiu como se um portal da Terra-média tivesse se aberto e ele estivesse conhecendo um dos personagens reais de Tolkien. Ele queria falar com o personagem, não com um ator, mas como se fosse um embaixador de outro país.
“Obrigado por estar aqui conosco. Nós amamos seu povo”, ele disse com uma risada. “Eu já tive outros momentos como esse em que você tem que se beliscar porque parece tão real.”
Payne disse que a 2ª temporada é mais ampla, mais profunda e maior do que a primeira temporada, com grandes cenas de batalha e uma variedade de personagens novos e interessantes. Ele está animado para que o público veja. Ele compartilhou um tema da série que ele sente que reflete o evangelho.
Sem criar spoilers, em um episódio, alguns personagens lamentam a destruição maligna que ocorreu, e um personagem pede desculpas por não ser forte o suficiente para impedi-la.
“O outro personagem pensa por um momento e diz: ‘Talvez precisemos lembrar que não é a força que vence a escuridão, mas a luz. Pois em sua presença, toda a escuridão deve fugir’”, disse Payne. “Em tempos realmente difíceis, é útil para o mundo se lembrar... de tentar responder à escuridão com luz.”
‘Mantenha-se firme em sua fé’
Ele não sabe bem o porquê, mas Payne é frequentemente questionado por outras pessoas sobre como permanecer firme na fé enquanto trabalha na indústria do entretenimento. Ele diz que sempre foi direto sobre suas crenças como santo dos últimos dias, e agora seus colegas de trabalho não o deixam trabalhar aos domingos, mesmo que ele quisesse. Ele aconselha os outros a não terem vergonha do evangelho de Jesus Cristo, mas a serem diretos sobre ele.
“Mantenha-se firme em sua fé. Não tenha vergonha de sua fé”, disse ele. “Sua fé é parte do que o torna único.”