Sob o céu claro e azul na manhã de 11 de abril de 2020, oito pessoas silenciosa, respeitosa e reverentemente se reuniram em um bosque em Glen Allen, Virgínia, tentando evitar a curiosidade e agindo com cautela.
Elas haviam se reunido para uma cerimônia simples, porém sagrada, de abertura de terra para o Templo de Richmond Virgínia.
Em circunstâncias normais, Glen Allen e a área metropolitana adjacente de Richmond estariam repletas de residentes com destino a atividades de recreação, compras e outras, realizadas comumente nas manhãs de sábado. Também em circunstâncias normais, o serviço de abertura de terra atrairia centenas de pessoas e seria transmitido para capelas em todo o distrito do templo.
Mas as circunstâncias estavam longe do normal naquele dia, com o mundo nos estágios iniciais da pandemia global da COVID-19.
Ainda assim, a abertura de terra havia sido solicitada pela Primeira Presidência de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e autorizada pelo governador do estado da Virgínia, que doze dias antes havia emitido uma ordem executiva para que todos permanecessem em casa, orientando os residentes de Virgínia a não se reunirem em grupos com mais de 10 pessoas.
Uma condição fundamental da permissão do governador: não publicar relatos ou fotos da abertura de terra, até que a pandemia se tornasse uma memória distante.
Isso foi há mais de três anos.
Assim, esta é a história não contada da abertura de terra do Templo de Richmond Virgínia, que levou à construção do templo, sua recente casa aberta e dedicação, que será realizada neste domingo, 7 de maio de 2023, por Presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência.
Antes da abertura de terra em 11 de abril de 2020, a Primeira Presidência havia suspendido todas as reuniões relacionadas à Igreja em 12 de março e, duas semanas depois, fechou todos os templos em todo o mundo.
Mas com a autorização condicional do governador da Virgínia e sob a designação da Primeira Presidência, Élder Randall K. Bennett, Setenta Autoridade Geral e então presidente da Área América do Norte Nordeste da Igreja, presidiu a breve cerimônia e fez uma oração dedicando o local e o processo de construção.
Linha do tempo
Em sua primeira conferência geral como Presidente da Igreja, Presidente Russell M. Nelson anunciou um templo para Richmond, Virgínia, um dos sete locais anunciados em 1º de abril de 2018.
Em janeiro de 2020, a Primeira Presidência anunciou a abertura de terra para o Templo de Richmond Virgínia [em inglês], designando Élder Bennett para presidi-la. O anúncio incluía detalhes iniciais sobre o templo e o local, um edifício de dois andares com pouco mais de 3.344 m2, e planos para a construção de uma capela adjacente.
Naquele mesmo mês, Glade Knight, ex-presidente de estaca e fundador da Southern Virginia University [Universidade do Sul da Virgínia], e sua esposa, Kathleen Knight, foram chamados como copresidentes do comitê para o evento da abertura de terra.
Nos dois meses seguintes, os Knights se prepararam para realizar um evento com entrada limitada, que acomodaria 700 visitantes e membros convidados, completo com uma grande tenda, púlpito e sistema de som. Programas e ingressos foram elaborados e impressos, com ônibus para transportar os participantes do estacionamento de uma escola próxima. Planos foram feitos para transmitir os serviços para as 13 estacas no distrito do templo.
A reunião
Fundamental para a realização da cerimônia de abertura de terra, embora não conhecida na época, foi uma reunião entre Élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, com o então governador Ralph Northam, no Capitólio do Estado da Virgínia, em Richmond, no dia 3 de março. O Apóstolo presenteou o governador com um exemplar encadernado em couro do Livro de Mórmon e informações sobre a história de sua família.
A visita foi uma das várias paradas de Élder Christofferson em um ministério na Área América do Norte Nordeste [em inglês] que, por causa da pandemia, seria sua última viagem designada da Igreja, pelo resto daquele ano até 2021.
Élder Michael M. Dudley, Setenta de Área, estava entre os que acompanhavam Élder Christofferson, e se lembrou de vê-lo se levantar e posicionar sua cadeira para ficar mais perto do governador Northam.
“E ele não apenas lhe entregou o livro”, disse Élder Dudley. “Ele abriu o livro e lhe mostrou as gravuras do Salvador e outras belas imagens no início. E então ele foi até 3 Néfi e eles leram o livro juntos. Foi uma experiência incrível ver como um Apóstolo representa o Senhor Jesus Cristo.”
Élder Christofferson relembrou: “Passei mais tempo do que normalmente passo com dignitários, para familiarizá-lo com o Livro de Mórmon. Falei sobre seu surgimento, o período histórico do livro e como o usamos. Li o cabeçalho de 3 Néfi 11 com ele. Ele foi muito gentil em me ouvir.”
Isso levou a uma conversa sobre o templo anunciado para Richmond e a empolgação em torno da abertura de terra planejada para o mês seguinte. “Fiz questão de convidá-lo como convidado especial para comparecer e participar da abertura de terra”, disse Élder Christofferson. “Mais uma vez, ele parecia genuinamente disposto a considerar estar lá.
“É claro que não sabíamos que a COVID-19 tornaria impossível a realização do grande evento público que tínhamos em mente”, continuou o Apóstolo, acrescentando: “Talvez o fato dele saber o quanto o templo significava para nós tenha influenciado a permissão para que, mais tarde, continuássemos com uma cerimônia limitada.”
A permissão
Em meio à agonia da COVID-19 e às restrições resultantes, um evento de abertura de terra em grande escala estava fora de questão. Mas uma pequena abertura de terra e dedicação eram necessárias, antes que as máquinas de construção começassem a limpar o terreno do templo na segunda-feira seguinte, dia 11 de abril.
Embora muitas empresas, escolas e serviços tenham sido fechados após o surto de COVID-19, a construção foi considerada um “serviço essencial”, e o projeto de construção do templo de Richmond estava dentro do cronograma.
Foi feita uma consulta ao gabinete do governador: a Igreja poderia realizar uma cerimônia pequena, íntima e sensível à pandemia na data programada, antes do início da construção?
“A equipe do escritório do governador indicou que ele apoiava a abertura de terra”, disse Élder Bennett, “mas seu pedido era que fossem poucas pessoas, 10 ou menos. Fotos poderiam ser tiradas, mas ele pediu para que, se possível, pudéssemos atrasar a publicação de uma história ou postar fotos, até que o COVID fosse apenas uma ‘memória em nosso espelho retrovisor.’”
Os participantes fizeram exatamente isso, mantendo a abertura de terra longe das conversas, das redes sociais e dos olhos do público.
“Realmente vimos a mão do Senhor”, disse Élder Bennett, “ao levar o governador a permitir o que teria sido uma exceção a tudo que estava acontecendo no país, bem como no estado da Virgínia.”
Além de sua designação na abertura de terra do templo, Élder Bennett deveria presidir a conferência da Estaca Midlothian Virgínia naquele fim de semana, mas ela foi cancelada. Assim, com sua esposa, a irmã Shelley Bennett, eles conseguiram um voo saindo de Salt Lake City na tarde de sexta-feira, 10 de abril, permaneceu em um hotel vazio por causa da pandemia naquela noite, dedicou o local na manhã seguinte e voou para casa naquela mesma tarde.
O evento
Com a permissão para uma abertura de terra simples, os Knights começaram a trabalhar na criação de uma estrutura privada no meio do lote do templo, repleto de árvores, uma bela atmosfera onde tudo foi adequado às diretrizes da pandemia, disse Élder Bennett.
E na manhã fria e fresca de sábado, 11 de abril de 2020, oito pessoas chegaram à 10915 Staples Mill Road, em Glen Allen, reunidas perto de uma pequena tenda onde uma versão orquestrada de “No Monte a Bandeira” estava tocando silenciosamente. Juntando-se a Élder e irmã Bennett estavam os Setentas de Área locais prestes a serem desobrigados e recém-apoiados e suas respectivas esposas: Élder Dudley e irmã Michelle Dudley; e Élder J. Matthew Scott e irmã Allyson Scott, assim como Glade Knight e a fotógrafa Cindy Jones.
“Pediram-nos que nos mantivéssemos calados, para que pessoas curiosas não aparecessem naquele dia”, disse a irmã Dudley. “Éramos apenas nós oito, não conversávamos muito sobre isto e, quando as pessoas perguntavam quando aconteceria a abertura de terra do templo, não dizíamos nada, porque era assim que nos pediam para responder. E então, meio que esqueceram.”
Notavelmente ausente do evento estava Kathleen Knight, que adoeceu e foi hospitalizada na noite anterior, com uma doença não relacionada à COVID. “Ela foi tão instrumental em fazer tudo isso acontecer, e todos nós ficamos arrasados”, lembrou Élder Bennett.
Para homenagear seus esforços no planejamento da cerimônia, sua imagem foi editada em algumas das fotos da abertura de terra.
Após o canto de um verso de “Cantando Louvamos”, a irmã Dudley fez a oração de abertura, após a qual cada participante prestou testemunho de Jesus Cristo, Sua Expiação e Seu evangelho restaurado.
Em seus breves comentários, Élder Bennett falou sobre a importância dos convênios e das ordenanças associadas. “O testemunho de Élder Bennett sobre o Pai Celestial e Seu Filho, Jesus Cristo, Seu amor por nós, Sua presença consistente e Sua liderança constante de Seu reino na Terra, foi prestado de uma maneira que nos fez saber que estávamos pisando em solo sagrado”, Élder Dudley relembrou.
Élder Bennett então ofereceu uma oração dedicando o local para a construção, orando pela segurança dos trabalhadores, um acabamento perfeito do templo e sua conclusão dentro dos prazos. Ele também elogiou os santos dos últimos dias locais por sua fidelidade, dignidade e esperança na preparação para o futuro templo.
Com pás comemorativas em mãos, o grupo se deslocou até uma área de terra, preparada para a revolverem com as pás, sinalizando simbolicamente o início da construção do templo. Eles concluíram cantando “Sou um Filho de Deus”, com Élder Scott oferecendo a oração de encerramento.
“Foi um momento lindo, edificante e cheio do Espírito [que tivemos] juntos, e foi muito breve”, disse Élder Bennett sobre a cerimônia que durou entre 20 e 30 minutos. “Começamos, terminamos e saímos do lote. Queríamos honrar a confiança do governador e não tirar vantagem do que eu pensava ser uma generosidade inspirada e boa vontade de sua parte.”
Ele pediu aos participantes que escrevessem suas impressões sobre a cerimônia e as enviassem para ele. Glade Knight se sentiu inspirado a escrever suas impressões de forma poética.
Os Knights garantiram que os participantes voltassem para casa, não apenas com uma pá comemorativa e um medalhão comemorativo especialmente encomendado, mas também com as azáleas em vasos que foram posicionados para embelezarem o cenário da abertura de terra.
“Nós as chamamos de nossas azáleas do templo”, disse a irmã Dudley, “e as plantamos em um lugar que nos fará lembrar em nossa casa o que aconteceu em um terreno para outro lar: a Casa do Senhor”.
As reflexões
“A irmã Scott e eu sentimos uma proximidade de uma hoste celestial invisível observando a cerimônia. Também sentimos uma maior reverência dentro de nosso pequeno grupo, sabendo que testemunharíamos um evento histórico na Restauração”, escreveu Élder Scott.
“Todos os procedimentos foram acompanhados pelo Espírito Santo, que permaneceu em nosso coração e mente, testificando da verdade que foi compartilhada em testemunho e oração”, acrescentou. “Também aprofundou nossa compreensão da importância eterna dos eventos do dia, e das bênçãos que fluiriam desta santa Casa do Senhor nesta parte de Sua vinha.”
Glade Knight disse: “Seria difícil expressar o espírito poderoso e os sentimentos que estavam presentes. Ficou muito claro que este era o local do Senhor para Sua casa sagrada, e Sua presença foi sentida naquele dia.”
Élder Bennett resumiu: “O fato de estarmos lá, foi obra de Deus. Tentamos seguir o Espírito e fazer o nosso melhor, e Ele preparou o caminho, fornecendo inúmeros milagres que tornaram tudo isto possível.”
