OXFORD, INGLATERRA – Ao visitar a McGowin Library [Biblioteca McGowin] que abriga as coleções especiais de Pembroke College na Universidade de Oxford, Élder Quentin L. Cook examinou uma série de livros antigos e comentários sobre as Leis da Inglaterra.
A coleção — as obras de Sir William Blackstone, um jurista e juiz inglês do século XVIII — tem grande significado, tanto para a faculdade, quanto para Élder Cook, membro do Quórum dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
A obra de Blackstone se baseia nas iniciativas que começaram séculos antes. As ideias de liberdade religiosa criaram raízes em solo inglês cinco séculos antes do nascimento de Blackstone, com a Carta Magna de 1215.
“Um dos motivos pelos quais estamos aqui é que queríamos ver a influência das leis, os eventos e as pessoas da Inglaterra que tiveram um grande impacto sobre a Constituição dos Estados Unidos e, especialmente, sobre a liberdade religiosa e individual”, disse Élder Cook, que foi recebido em Oxford pelo honorável Sir Ernest Ryder, Mestre de Pembroke College.
Sir Ernest, Mestre de Pembroke desde julho de 2020, tem formação jurídica. Ele serviu no Judiciário do Reino Unido como Presidente Sênior dos Tribunais (Chefe de jurisdição) e como Juiz da Corte de Apelação, antes de aceitar uma posição em Oxford.
Élder Cook — que também exerceu a profissão de advogado antes de seu chamado para o serviço de tempo integral na Igreja — sentou-se para uma entrevista com o Church News em frente à pintura de Blackstone no Senior Common Room em Pembroke College, e falou sobre “os preciosos precursores” da Declaração da Independência, a Constituição dos Estados Unidos e documentos relacionados. Os documentos, que previam responsabilidade perante Deus, foram inspirados, disse Élder Cook.
A progressão dos princípios básicos “estabeleceram a liberdade religiosa como parte dos direitos essenciais ou inalienáveis — o direito fundamental de cada indivíduo de viver de acordo com sua religião e suas crenças”, explicou ele.
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Runnymede
Élder Cook — juntamente com o Presidente M. Russell Ballard, Presidente em Exercício do Quórum dos Doze Apóstolos, e Élder Jeffrey R. Holland, também do Quórum dos Doze Apóstolos — viajou à Inglaterra na última semana de outubro para discursar para membros e missionários. Os três líderes seniores da Igreja serviram como missionários nas Ilhas Britânicas, e cada deles se referiu à Inglaterra como um “lar espiritual” que ancorou suas vidas.
Élder Cook lembrou que ele estava pensando em seguir uma carreira jurídica mesmo enquanto servia como missionário.
Em um certo dia de preparação, Élder Marion D. Hanks, seu presidente de missão, o levou a Runnymede, um prado no rio Tamisa que fica a cerca de 30 km de Londres, onde a Carta Magna foi selada em 1215 por um grupo de barões que se opunha à tentativa do Rei John de cobrar impostos. Como resultado, a Carta Magna contém cláusulas que limitam o direito do rei de cobrar tributos, bem como declarações importantes relacionadas à liberdade religiosa e como a justiça era aplicada.
A Cláusula 1, por exemplo, declara: “Primeiro, nós concedemos a Deus, e com nossa presente Carta, confirmamos em nosso nome e em nome de nossos herdeiros para sempre, que a Igreja inglesa deve ser livre e deve ter seus direitos em plenitude e suas liberdades intactas.”
Presidente Hanks também conversou com o jovem Élder Cook em Runnymede sobre os caminhos que ele poderia tomar.
“Ele me deu uma visão mais grandiosa de que o Direito não era apenas uma ocupação que seria uma boa profissão, mas que se encaixava muito bem nos meus objetivos de ter uma família e priorizar o evangelho.”
A importância do local teve um impacto sobre Élder Cook — tanto na época em que serviu como missionário de tempo integral quanto hoje.
“Uma das razões pelas quais eu queria falar sobre Runnymede e sobre estas provisões constitucionais é porque elas são cruciais para que possamos ir ao mundo inteiro e sermos missionários, e foram estabelecidas para que as pessoas religiosas possam compartilhar as preciosas verdades do evangelho que elas sentem.”
Oxford
Há mais de 800 anos, no dia 15 de junho de 1215, o Rei John selou a Carta Magna em Runnymede. Do século XIII, restam apenas 17 documentos, e quatro deles encontram-se nas Bodleian Libraries [Bibliotecas Bodleian] da Universidade de Oxford.
Oxford é também um lugar apropriado para se falar sobre a Constituição dos Estados Unidos e liberdade religiosa. A Pembroke College patrocina o Projeto Quill, uma iniciativa focada em constituições em todo o mundo. Élder Cook ofereceu um discurso histórico em 2019 na universidade como parte do projeto.
Durante o discurso e na recente entrevista para o Church News, Élder Cook falou sobre a liberdade religiosa.
Em aproximadamente 1600, aproveitando a Carta Magna como “a incorporação das boas leis”, Sir Edward Coke produziu a consolidação da lei inglesa na forma escrita, explicou Élder Cook. Sua obra foi produzida no mesmo período em que os escritos de Shakespeare. A obra de “Coke foi para a lei o que os escritos de Shakespeare representaram para a literatura”, disse ele.
Mais de um século depois, os comentários de Blackstone sobre as leis da Inglaterra foram considerados “mais importantes” e “muito preciosos”, porque “ele reconheceu a responsabilidade perante Deus”, disse Élder Cook. “Seus comentários tiveram influência excepcional sobre as colônias americanas.”
Blackstone morreu em 1780 — quatro anos depois que a Declaração de Independência registrou “as palavras inspiradoras ‘todos os homens são criados iguais’ e dotados por seu Criador com certos direitos inalienáveis.”
“Para mim, o reconhecimento de Deus, o Criador do universo, como o supremo concessor dos direitos essenciais é proclamado de uma forma magnífica”, disse Élder Cook.
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Por que isso é importante
Élder Cook considera William Wilberforce, que viveu na Inglaterra de 1759 a 1833, seu herói pessoal. Wilberforce, que era muito religioso e desempenhou um papel importante na transformação moral da sociedade, dedicou o trabalho de sua vida à abolição da escravidão em sua nação.
Apenas quatro anos antes da chegada dos missionários santos dos últimos dias à Inglaterra, “na última semana de vida de Wilberforce, o parlamento votou pela abolição da escravidão no dia 29 de julho de 1833”, disse Élder Cook.
Nesse ambiente moral na Inglaterra, os primeiros missionários santos dos últimos dias — inclusive Heber C. Kimball, trisavô de Élder Cook — tiveram um sucesso considerável; estima-se que entre 1837 e 1841, cerca de 7.500 a 8.000 pessoas se filiaram à Igreja na Inglaterra.
Ao ler uma parte de seu discurso de 2019 em Oxford, Élder Cook explicou por que a liberdade religiosa é importante. “Vivemos em uma época na qual partes significativas de nossa herança moral, além de não serem apreciadas, são, em muitos casos, mal compreendidas ou até mesmo rejeitadas, quase com desdém”, disse ele.
Como resultado, as proteções contidas em várias constituições podem ser corrompidas ou enfraquecidas, disse ele.