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Podcast do Church News: A linguagem unificada do evangelho, com Vanessa Fitzgibbon, coordenadora de tradução do Church News

Vanessa Fitzgibbon, coordenadora de tradução do Church News, fala sobre o processo de tradução dos artigos para os idiomas espanhol e português no Episódio 49 do podcast do Church News. Crédito: Gráfico do Church News
Vanessa Fitzgibbon e seus filhos posam juntos para uma foto de Natal — a primeira foto de família tirada em 10 anos e após todos os seus quatro filhos terem retornado de suas missões. Da direita para a esquerda, Marcelo (Missão Brasil Belém); Felipe (Méxi Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon
Intérpretes em cabines no porão do Tabernáculo, na conferência geral de abril de 1963. As pessoas que receberam a interpretação estavam sentadas dentro do Tabernáculo, ouvindo as mensagens através de fones de ouvido. Crédito: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Intérpretes trabalham nos bastidores durante a conferência geral. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Vanessa Fitzgibbon, centro, recebe o prêmio Brigham Awards da BYU em 2014, e posa com o então presidente da BYU, Cecil O. Samuelson, centro à esquerda, e três de seus filhos e seu genro. Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon
Vanessa Fitzgibbon e seu filho, Felipe, no show de Donny & Marie Osmond em 2019 em Las Vegas. Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon
Fotos que Vanessa Fitzgibbon tinha da Universidade Brigham Young, tiradas de uma revista quando ela era jovem no Brasil. Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon
Traduções em inglês e espanhol do Livro de Mórmon à mostra, com vários outros idiomas. Crédito: Jason Olson, Deseret News
Élder Cory Jarrett distribui equipamento para interpretação durante a 188ª Conferência Geral Semestral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em Salt Lake City, no domingo, dia 7 de outubro de 2018. Crédito: Adam Fondren, Deseret News
Entrega de equipamentos para interpretação antes da sessão da tarde de domingo da 187ª Conferência Geral Semestral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em Salt Lake City, no domingo, dia 1º de outubro de 2017. Crédito: Adam Fondren, Deseret News
Voluntários recolhem fones de ouvido de interpretação após a sessão do sacerdócio da 187ª Conferência Geral Semestral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em Salt Lake City, no sábado, dia 30 de setembro de 2017. Crédito: Adam Fondren, Deseret News
Kristy Shelley distribui fones de ouvido para interpretação antes da 180ª Conferência Geral Anual, no sábado, dia 3 de abril de 2010. Crédito: Jason Olson, Deseret News
Élder Ulisses Soares, do Quórum dos Doze Apóstolos, e sua esposa, irmã Rosana Soares, à direita, participam em um devocional transmitido a partir do Edifício dos Escritórios da Igreja em Salt Lake City no domingo, dia 21 de março de 2021. Rory Bigelow, Ad Crédito: Jeffrey D. Allred, Deseret News

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é uma religião global, com 16,5 milhões de membros que falam vários idiomas. Este mês de outubro marca 60 anos desde que os líderes da Igreja começaram a traduzir os discursos da conferência geral semestral. Em 1961, as mensagens foram compartilhadas em holandês, alemão, samoano e espanhol. Na próxima conferência — refletindo este crescimento global da religião — os discursos serão traduzidos para 97 idiomas.

Este episódio [em inglês] do podcast do Church News apresenta a coordenadora de tradução do Church News, Vanessa Fitzgibbon. Ela falará sobre o milagre da tradução, que conecta uma Igreja global, e sobre a tradução dos artigos do Church News do inglês para os idiomas espanhol e português. O espanhol e o português são o segundo e terceiro idiomas mais falados na Igreja. Fitzgibbon, que nasceu no Brasil, compartilha sua história de conversão, o processo de tradução do conteúdo do Church News e a necessidade de se buscar o Espírito durante o processo.        

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Reel do Podcast do Church News em inglês. Transcrição e tradução do original em inglês

Sarah Jane Weaver: Sou Sarah Jane Weaver, editora do Church News. Sejam bem-vindos ao podcast do Church News. Vocês serão levados em uma jornada de conexão enquanto discutimos notícias e eventos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias com líderes, membros e outras pessoas da equipe do Church News. Terminamos cada podcast do Church News dando a nossos convidados a última palavra e a oportunidade de responderem a uma pergunta muito importante: “O que você sabe agora?” Esperamos que cada um de vocês também possa responder a mesma pergunta e dizer: “Acabei de ouvir o podcast do Church News, e isto é o que sei agora.” 

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é uma igreja global, com 16,5 milhões de membros atualmente. O ano de 2021 também marca o 60º ano desde que as conferências gerais começaram a ser traduzidas [em inglês]. Em 1961, as mensagens foram compartilhadas em holandês, alemão, samoano e espanhol. Na próxima conferência — refletindo este crescimento global da igreja — os discursos serão traduzidos para 90 idiomas. Além disso, o Livro de Mórmon agora está completamente traduzido para 95 idiomas; e, nos últimos dois anos, os artigos do Church News foram traduzidos para o espanhol e o português. Um registro vivo da Restauração, o Church News está trabalhando com afinco para alcançar uma audiência global que continua a crescer. 

Kristy Shelley distribui fones de ouvido para interpretação antes da 180ª Conferência Geral Anual, no sábado, dia 3 de abril de 2010.
Kristy Shelley distribui fones de ouvido para interpretação antes da 180ª Conferência Geral Anual, no sábado, dia 3 de abril de 2010. | Crédito: Jason Olson, Deseret News

Neste episódio do podcast do Church News, temos conosco a coordenadora de tradução do Church News, Vanessa Fitzgibbon. Nascida no Brasil, Vanessa recebeu diploma de Bacharel em Literatura Portuguesa e Inglesa [no Brasil], Mestrado em Literatura Luso-Brasileira pela BYU e Doutorado em Português, com ênfase em Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Wisconsin-Madison. Vanessa, estamos muito felizes por recebê-la no podcast do Church News.

1:58  

Vanessa Fitzgibbon: Obrigada. É um prazer estar aqui e poder falar um pouco sobre nossos idiomas.

Sarah Jane Weaver: Então, Vanessa, diga-nos — como você começou a estudar idiomas?

Vanessa Fitzgibbon: Bem, falar mais de um idioma sempre foi algo muito natural em nossa casa. Fui criada bilíngue, porque meu pai era inglês e não falava muito português. Na verdade, foi assim que ele e minha mãe se conheceram, porque minha mãe falava inglês perfeitamente. Havia um soldado que tinha vindo da Inglaterra, que não falava português e estava muito doente. Então minha mãe apareceu, o alegrou, lhe fez companhia e, embora estivesse muito doente, ele não morreu disso. E eles tiveram um casamento feliz por 40 anos. 

Assim, sempre tivemos esta ideia de falar dois idiomas em casa, ao ponto de eu muitas vezes não saber a diferença entre o inglês e o português. Lembro-me de uma vez que fui a uma loja — eu tinha cerca de 11 anos de idade — e perguntei algo, e o vendedor disse: “Do que você está falando?” E eu não sabia por que ele não podia me entender. Eu estava sendo bem clara. E, então, comecei a chorar, e então, um vizinho veio e lhe explicou: “Bem, ela fala inglês e português. Então é isto que ela quer.” E eu perguntei: “Há uma diferença?” Portanto, essa foi uma das minhas primeiras experiências com o bilinguismo. 

Assim, fui criada bilíngue, e minha mãe também falava vários idiomas, incluindo francês, russo, alemão e alguns outros. Então estávamos sempre misturando todos esses idiomas em casa, a ponto de conseguir me lembrar até hoje de palavras em russo ou em alemão, porque minha mãe estava sempre falando esses idiomas — e muito italiano também. 

Durante o ensino médio, eu estava me preparando para estudar arquitetura. Eu queria ser arquiteta, porque adoro física e tudo que tem a ver com matemática e projetos. Contudo, nós nos mudamos para uma cidade que não tinha uma faculdade de arquitetura, então fiquei um tanto decepcionada. E eu estava pensando em estudar Administração de Empresas. Eu tinha 17 anos de idade quando comecei a faculdade. Então, minha mãe olhou para mim e disse: “Sabe de uma coisa? Acho que você não deveria fazer este curso. Acho que você deveria estudar literatura e idiomas.” E eu perguntei: “Por quê? São duas coisas completamente diferentes.” E ela disse: “Você adora livros. Vejo que você lê quatro ou cinco livros por semana.” E não eram apenas livros sobre o Brasil ou literatura luso-brasileira — eu adorava ler livros da Inglaterra, da Itália e de países de língua espanhola. Sempre adorei a literatura de línguas estrangeiras — [mas isso] não significa que eu estivesse lendo nesses idiomas.

Então, comecei a estudar idiomas e literatura na faculdade — especificamente português e inglês — mas, devido ao costume da época e à maneira em que as universidades são organizadas no Brasil, tive que cursar quatro anos de latim. Eu costumava frequentar a faculdade das 19h00 às 23h00, e minhas aulas de latim eram das 9h30 às 11h00, o que significa que dormi muitas vezes na sala de aula — mas foi uma experiência fantástica. Na verdade, aprendi muito sobre tradução por causa dessas aulas. 

Eu também queria estudar idiomas na BYU algum dia, porque sabia que a universidade tinha um excelente programa de idiomas. Porém, meu pai teve um derrame sério, e minha mãe achou que sair do país não seria uma boa ideia, então decidi ficar no Brasil. Meu primeiro emprego foi trabalhar como secretária bilíngue para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD]. Eu tinha 18 anos de idade. E, desde então, comecei a traduzir do espanhol e do inglês para o português. E foi assim que comecei a trabalhar: tendo a tradução como profissão, entre outras coisas. E, mais tarde, fui para a BYU, continuei meus estudos em português e tive a oportunidade de adquirir mais experiência com o espanhol e outros idiomas. 

Intérpretes em cabines no porão do Tabernáculo, na conferência geral de abril de 1963. As pessoas que receberam a interpretação estavam sentadas dentro do Tabernáculo, ouvindo as mensagens através de fones de ouvido.
Intérpretes em cabines no porão do Tabernáculo, na conferência geral de abril de 1963. As pessoas que receberam a interpretação estavam sentadas dentro do Tabernáculo, ouvindo as mensagens através de fones de ouvido. | Crédito: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

Então, basicamente, foi assim que fiquei tão interessada em idiomas. E até hoje, adoro assistir a filmes estrangeiros. Por exemplo, ontem eu estava assistindo a um filme norueguês, e nunca havia visto um filme norueguês, então estava lendo as legendas em inglês e ouvindo o norueguês, para ver qual era a relação das palavras em norueguês com o inglês. Tenho paixão por idiomas.

Sarah Jane Weaver: Bem, tenho que lhe dizer: adoro idiomas, porque adoro palavras, e sou muito grata por podermos usar as palavras que elaboramos para o Church News, e estender seu alcance a um público que talvez não possa lê-las em inglês. Por que é tão importante que façamos isso?

6:58  

Vanessa Fitzgibbon: Bem, nem todas as pessoas têm a chance ou a oportunidade de estudar idiomas. Às vezes, estamos falando de pessoas que não têm sequer a oportunidade de estudar seus próprios idiomas, como o português ou o espanhol, devido a situações financeiras. Portanto, como você disse, nós elaboramos a linguagem — não apenas para ser uma tradução, mas também para levar o Espírito, a intenção do autor e o intuito da mensagem, com o propósito de alcançarmos aqueles que realmente precisam das mensagens que estamos publicando. 

E hoje, mais do que nunca, a Igreja é uma igreja global. Portanto, é interessante que, quando vejo que estamos alcançando pessoas que nunca teriam a chance se não fosse por — primeiro, a tecnologia; segundo, nossos esforços de colocarmos a mensagem em seu idioma, e de maneira que possam compreendê-la, sinto que, quando estamos traduzindo, também precisamos traduzir com o Espírito. Se traduzimos com o Espírito, estamos enviando uma mensagem que vai junto com o Espírito. Portanto, é uma comunicação de mão dupla. 

Adoro ler os comentários de algumas pessoas. Outro dia, havia um comentário de uma pessoa de Angola, do outro lado do oceano, e eu disse: “Sim! Alguém recebeu nossas mensagens.” É um sentimento que não se pode traduzir. 

Recordo-me de ter assistido à conferência quando entrei para a Igreja,— acho que foi em português, mas o som estava muito distante e difícil de entender, e me lembro de querer ter acesso ao Church News quando ainda era muito jovem, mas isso não era possível. Agora, esse acesso está na palma de nossas mãos. Basta apertarmos um botão, e podemos ler em tempo real sobre coisas estão acontecendo aqui, em Utah. Portanto, isso é algo que vai além do meu entendimento; embora eu entenda, intelectualmente, como funciona. O fato de estarmos enviando o Espírito com nossas mensagens é surpreendente para mim.

Sarah Jane Weaver: Bem, crescendo no Brasil, deve ter sentido que você estava muito longe da sede da Igreja. Percebi que, ao viajar, às vezes parece que estou muito distante de tudo o que está acontecendo, e a tecnologia nos permite tornar a Igreja um pouco menor; e à medida que disponibilizarmos o conteúdo em vários idiomas, também fechamos um pouco essa lacuna. Conte-nos sobre como você se filiou à Igreja.

9:39  

Vanessa Fitzgibbon e seu filho, Felipe, no show de Donny & Marie Osmond em 2019 em Las Vegas.
Vanessa Fitzgibbon e seu filho, Felipe, no show de Donny & Marie Osmond em 2019 em Las Vegas. | Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon

Vanessa Fitzgibbon: Quando estava no Brasil, eu fazia parte de um fã clube do Donny Osmond. Tínhamos talvez oito pessoas em nosso fã clube, e decidimos realizar uma reunião para nos conhecermos. Éramos todas de São Paulo. Então nos conhecemos, e uma das jovens era santo dos últimos dias, e nós nos tornamos amigas muito íntimas. Um dia, após nossa reunião, ela me enviou um telegrama. Não tínhamos mensagens de texto naquela época. E ela enviou um telegrama com a seguinte pergunta: “Você gostaria de vir e ver o Profeta de nossa Igreja?” 

Eu tinha cerca de 15 anos de idade. Eu pedi permissão à minha mãe — morávamos em uma cidade muito próxima a São Paulo, mas levaria duas horas de viagem de ônibus para chegar ao local onde eu deveria encontrá-la. Minha mãe consentiu, e quando fui lá, eu esperava ver um profeta parecido com Moisés — de barba longa e bata — como alguém que tivesse vindo dos tempos antigos. 

E sabe quem eu vi quando cheguei lá? Presidente Kimball. Mais tarde, fiquei sabendo que foi quando a cerimônia de colocação da pedra angular do Templo de São Paulo foi realizada, então eu estava vendo algo que era imenso em termos de história da Igreja. E lembro-me de ter olhado para as pessoas ao seu redor, e todos estavam de terno, muito reverentes, bem diferente de todas as pessoas das igrejas que eu já havia visto em minha vida. Naquela época, eu era muito ativa na igreja católica, mas lembro-me de ter tido este sentimento: “Eles não são esquisitos, eles têm boa aparência.” Ninguém pode ver Presidente Kimball e não amá-lo, não é mesmo? Lembro que tive uma experiência incrível lá. 

O Templo de São Paulo Brasil e o Centro de Visitantes em São Paulo, Brasil, no dia 31 de agosto de 2019.
O Templo de São Paulo Brasil e o Centro de Visitantes em São Paulo, Brasil, no dia 31 de agosto de 2019. | Crédito: Jeffrey D. Allred, Deseret News

E enquanto estava lá, ela também me colocou em contato com os missionários de minha cidade, Santo André, São Paulo; e algumas semanas depois, os missionários vieram e começaram a ensinar minha família. Como eu disse, eu tinha 15 anos; e quando os missionários vieram, descobri algumas coisas sobre minha família. Na verdade, a primeira visita dos missionários à nossa casa aconteceu em 1966, durante a época da ditadura militar. Os missionários deixaram uma revista em nossa casa, e eles vieram porque meu pai falava — nós falávamos inglês em casa, e os missionários não falavam português, então eles entraram em contato com nossa família, e nos deixaram uma revista. Eu não sabia disso até que os missionários chegaram e meus pais começaram a falar sobre este assunto. 

De fato, eu havia encontrado essa revista alguns anos antes. Eu não sabia do que se tratava, mas vi algumas fotos bonitas, e disse: “Adoro estas fotos. Quero colocá-los na porta do meu quarto e quero ir a este lugar um dia.” Então, tive essas fotos por muitos anos e sempre dizia: “Este é o lugar mais lindo da Terra, e eu quero ir lá um dia.” Na verdade, descobri que aquelas eram fotos da BYU, e eu havia mantido isso como uma meta por muitos anos. 

Fotos que Vanessa Fitzgibbon tinha da Universidade Brigham Young, tiradas de uma revista quando ela era jovem no Brasil.
Fotos que Vanessa Fitzgibbon tinha da Universidade Brigham Young, tiradas de uma revista quando ela era jovem no Brasil. | Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon

Infelizmente, eu fui a única a se filiar à Igreja, mas minha família sempre teve um grande amor pela Igreja e pelas mudanças que ela causou em minha vida. Mesmo durante as provações que passei em minha vida, meus irmãos foram muito solidários, e sempre dizem o quanto admiram o trabalho da Igreja em nossa vida, o quanto a Igreja nos tem apoiado de maneiras que — vão além de um auxílio financeiro, além de uma ajuda material. A Igreja apoia quem somos. Portanto, esta é minha pequena história. Ela começou com um fã clube de Donny Osmond, mas acabou se tornando uma história real.

Sarah Jane Weaver: E terminou na BYU, onde você acabou trabalhando também. 

Vanessa Fitzgibbon: Sim, lecionei na BYU por 18 anos. 

Sarah Jane Weaver: Uau. Bem, que tal nos contar sobre o processo de tradução? No que você pensa ao traduzir uma frase do inglês para o português, ou do inglês para o espanhol, ou do espanhol para o português?

13:49 

Vanessa Fitzgibbon: Sim, este é um processo muito interessante. Antes de mais nada, não posso ter nenhum barulho ao meu redor. Tenho que ficar tranquila, no meu canto. Então, geralmente mergulho no idioma com o qual estou trabalhando, e preencho minha mente com pensamentos nesta língua. Portanto, é como se eu apertasse um botão para acionar esse idioma. A primeira coisa que faço é ler o documento original algumas vezes para que eu possa entendê-lo. Como muitas pessoas sabem, às vezes temos palavras, mas palavras por si só não dão significado a uma frase. Temos que buscar o significado geral, a mensagem completa, e então colocarmos as palavras, umas ao lado das outras, que farão sentido, às vezes mudando a ordem da sequência.

Então preciso estar naquele lugar tranquilo para fazer uma boa tradução, e na verdade, pensando bem, é um processo muito lento. Com o Church News, temos artigos que são sensíveis em termos de tempo para publicação, mas eu faço exatamente a mesma coisa. 

Captura de tela da versão do aplicativo Church News em português.
Captura de tela da versão do aplicativo Church News em português. | Crédito: Captura de tela do aplicativo do Church News

A diferença de quando eu estava traduzindo para as Nações Unidas, por exemplo, para o que estou fazendo agora, é que temos a incrível companhia do Espírito. E aprendi muito cedo em minha vida, mesmo quando estava estudando, quando fazia traduções para empresas, ou — numa ocasião especial, quando estava fazendo traduções para a DEA, com o FBI aqui em Utah, que o que eu estava fazendo era extremamente importante. Então, como eu era membro da Igreja, orei para que pudesse encontrar o significado do que estávamos procurando. E consegui, e na verdade não era português; era galego-português — que é uma língua que mistura o espanhol e o português. E os tradutores espanhóis não conseguiram descobrir o que era, você tem que ser um falante nativo de português para poder entender, porque é uma mistura dos dois idiomas. E se eu não tivesse meu conhecimento em espanhol, também não poderia ter traduzido, porque tive que usar minhas habilidades nas duas línguas. Portanto, mesmo quando eu não fazia algo que fosse relacionado à Igreja, eu sempre confiava no Espírito. Mas no caso do processo com o Church News, adoro o fato de que temos que ter o Espírito, como disse antes, temos que compartilhar mais do que a mensagem, mais do que palavras, precisamos compartilhar o Espírito por trás dessas palavras, e isso faz muita diferença. 

Portanto, não importa o que fazemos, se tivermos o Espírito do Senhor, Ele nos guiará e nos ajudará. Então, quanto ao processo linguístico: leio o original em inglês, transfiro a informação para o novo idioma e, às vezes, trabalho tanto com o português quanto com o espanhol — então comparo os três idiomas para ver qual é a melhor tradução para o espanhol e para o português, para ver se estamos refletindo exatamente o mesmo significado da mensagem original em inglês, e por isso é um longo processo.

Sarah Jane Weaver: Parece que a cultura, os costumes e as tradições também influenciam as traduções — o fato de que algumas palavras podem significar algo em um país, e algo totalmente diferente, ou ter um contexto diferente, em outra nação. Como você lida com tudo isso?

17:17

Vanessa Fitzgibbon: Então, como eu disse, é muito importante ter o conhecimento intelectual. Portanto, além dos estudos e da experiência que obtemos por meio do trabalho, é muito interessante termos o conhecimento sobre o país, sua história, seus costumes e coisas desse tipo. Ter um conhecimento cultural é fundamental em termos de tradução. Por exemplo, há muitas palavras no português continental que não posso utilizar, porque elas são palavrões no português brasileiro, portanto, é preciso levar isso em consideração. E, às vezes, há certas palavras em inglês para as quais não temos uma tradução, tanto em espanhol como em português, porque não temos tais coisas em nossos países. Então, tentamos fazer o nosso melhor. Temos os melhores tradutores, falantes nativos de espanhol e português, e eles estão conscientes de nossas necessidades, em termos de cultura, em termos de tradições. 

Por exemplo, existe uma enorme tradição católica nos países latino-americanos e de língua portuguesa. Então, como podemos fazer algo que não ofenda as pessoas com um passado nesta igreja e que foram convertidas? Sou uma conversa da igreja Católica, e tenho muito respeito. Então, tentamos encontrar uma linguagem que traduza as ideias, assim como o conteúdo, mas que também se adapte à sua realidade. Precisamos estar muito conscientes das diferenças em termos sociológicos, financeiros e políticos, temos que ter uma compreensão do que estas pessoas estão vivenciando e como esta mensagem os afetará. 

Intérpretes trabalham nos bastidores durante a conferência geral.
Intérpretes trabalham nos bastidores durante a conferência geral. | A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

Por exemplo, notei que toda vez que publicamos algo sobre os templos, é maravilhoso ver os comentários porque os leitores sentem que seus países e idiomas estão sendo levados em consideração, e também ficam felizes por outros países, por outros templos ao redor do mundo. Isso faz com que a Igreja se torne muito pequena. 

Tivemos uma série sobre as Olimpíadas recentemente, e foi maravilhoso porque tivemos santos dos últimos dias, nosso povo, que está ligado à Igreja, e todos estavam torcendo por eles. Assim, nos tornamos uma comunidade muito unida, e acho que o mais importante é que temos um senso de união em nossos idiomas, temos respeito por suas tradições, pelas diferenças, e podemos respeitar seu modo de pensar. E é por isso que é importante termos tradutores que também vêm de diferentes origens, porque eles podem traduzir essas ideias com uma perspectiva que pode ser muito diferente da minha. Portanto, o conhecimento intelectual, juntamente com a experiência e a compreensão, formam um processo completo em termos de adaptação cultural dos artigos do Church News para uma Igreja global.

Sarah Jane Weaver: Tive algumas experiências interessantes durante minhas viagens nos últimos anos; especificamente, em turnês de ministração com Presidente Russell M. Nelson. Quando Presidente Nelson viajou pela América Central e do Sul, ele começou a proferir seus discursos em espanhol; e, de repente, me encontrei em nações de língua espanhola com um Profeta que falava às multidões em sua língua nativa, e fui eu quem fiquei de fora. Fui eu que não consegui, e nem podia, me conectar com o que estava acontecendo. Foi a primeira vez que senti a necessidade de querer me conectar, de saber que algo importante estava acontecendo e que, de alguma forma, estava fora do meu alcance. E é por isso que a tradução se tornou tão valiosa para mim — porque o intérprete se tornou minha conexão com os eventos que estavam acontecendo nessas turnês de ministração globais, e é isso que você faz com grande parte do que fazemos para o Church News -— você conecta outras pessoas aos artigos e as ajuda, ao disponibilizá-los em seus idiomas. Agora, eu também vi em minhas viagens o estresse dos intérpretes quando estão ao lado de um discursante, interpretando simultaneamente. Quão difícil é isso?

21:38

Vanessa Fitzgibbon: Oh, o trabalho de um intérprete é muito difícil. Lembro-me muitas vezes de estar interpretando para alguém e, de repente, me dá um branco, um enorme branco, e eu penso: “Minha nossa, a pessoa deve estar pensando que eu sou uma tola.” Não sou tola, apenas me deu branco. 

Presidente Russell M. Nelson, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, discursa durante um devocional em Apia, Samoa, no sábado, dia 18 de maio de 2019. O intérprete, Jason Joseph, se encontra à direita.
Presidente Russell M. Nelson, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, discursa durante um devocional em Apia, Samoa, no sábado, dia 18 de maio de 2019. O intérprete, Jason Joseph, se encontra à direita. | Crédito: Ravell Call, Deseret News

Mas uma coisa que tenho que dizer é como tem sido importante para os membros estrangeiros da Igreja ouvirem o evangelho, dessas autoridades gerais, do Profeta, em sua própria língua. Sinto-me muito emocionada, porque há respostas na linguagem que só a pessoa que a está falando pode dar, e como eu disse, muitas pessoas não têm o privilégio que alguns de nós temos de ter o conhecimento de diferentes idiomas e a habilidade intelectual para compreendê-los. E uma coisa que sempre me vem à mente é meu pai, e os desafios que ele teve ao viver em um país de língua portuguesa. Ele sempre trabalhou com [pessoas] britânicas, sempre trabalhou com norte-americanos, sempre teve que falar inglês na sociedade em que estávamos — e no trabalho. Ele falava inglês em casa. Então, ele não tinha necessidade de falar português. Mas as coisas começaram a mudar, e a necessidade de falar português começou a crescer, e ele ainda estava lutando com isso. E eu me lembro de ter lhe perguntado um dia: “Pai, qual é a coisa mais difícil para você com relação a viver no Brasil?” E ele disse que era se sentir como um estrangeiro, quando ele amava tanto o Brasil, mas não era capaz de se comunicar bem no idioma. E muitas pessoas tiravam proveito disso, do fato de que ele não compreendia o idioma. Então, sempre pensei sobre isso. 

E na Igreja, temos a bênção de pensar que não há estrangeiros em nosso meio; nós falamos a língua do evangelho. Portanto, algo que penso é que, quando falamos de línguas, não enviamos essas mensagens nesses idiomas apenas para pessoas que vivem em países latino-americanos ou de língua portuguesa — também as enviamos para muitas pessoas que vivem, por exemplo, nos Estados Unidos, em diferentes partes dos Estados Unidos, mas que têm dificuldade para aprender o inglês. Sempre me senti muito abençoada porque, quando cheguei aqui, já compreendia a cultura, o idioma e tudo mais. Mas quantos de nossos vizinhos estão tendo dificuldades com um idioma, especialmente o inglês? Assim, quando traduzimos, estamos servindo ao nosso próximo neste ofício, portanto, estamos nos aproximando das pessoas. É uma forma de podermos servi-las — tentando aprender uma língua, um costume, uma tradição diferente, e celebrar nossa(s) diferença(s) com elas. 

Portanto, acho que um dos elementos principais que temos que compreender aqui nos Estados Unidos, nós que falamos a língua e entendemos o Profeta quando ele fala em sua língua nativa, é que precisamos pensar nas pessoas que não têm esse mesmo privilégio e tentar ajudá-las, compartilhando o evangelho e as mensagens que estamos recebendo, aprendendo um pouco sobre elas e compartilhando essas experiências. Nós nos tornamos melhores. E estas pessoas — confesso que presenciei muitas vezes que elas não têm palavras suficientes para me agradecer quando consigo me comunicar em sua língua. Portanto, abraçarmos o evangelho e servirmos ao próximo faz parte de sermos membros da Igreja.

Élder Ulisses Soares fala durante a transmissão do devocional realizado no Edifício dos Escritórios da Igreja em Salt Lake City no domingo, dia 21 de março de 2021.
Élder Ulisses Soares fala durante a transmissão do devocional realizado no Edifício dos Escritórios da Igreja em Salt Lake City no domingo, dia 21 de março de 2021. | Crédito: Jeffrey D. Allred, Deseret News

Sarah Jane Weaver: Sim, eu vi os irmãos fazerem isso muitas vezes no último ano, durante a pandemia de COVID-19. Houve uma série de devocionais transmitidos para jovens adultos solteiros ao redor do mundo, apresentados por Apóstolos. O primeiro foi apresentado por Élder Neil L. Andersen e sua esposa, a irmã Kathy Andersen, e transmitido totalmente em francês. O devocional foi apresentado originalmente em francês, sem nenhuma versão em inglês. Eles discursaram para santos dos últimos dias falantes de francês, e essa série terminou com Élder Ulisses Soares discursando em português para membros falantes da língua portuguesa. E isso é algo muito belo — o fato de que temos Apóstolos, muitos dos quais falam outros idiomas além do inglês nativo, e temos dois Apóstolos que falam inglês como segunda língua, como Élder [Dieter F.] Uchtdorf e Élder Soares. Portanto, esta é uma Igreja global, e o conceito de não haver estrangeiros em nosso meio é maravilhoso e notável. Diga-nos: Como podemos fazer para que a Igreja seja um pouco menor? Como podemos fechar a lacuna que faz o mundo parecer tão pequeno?

26:37  

Vanessa Fitzgibbon: Acredito que a tecnologia é uma bênção, que tudo tem sido parte do plano do Pai Celestial, e a maneira como o mundo está globalizado hoje — podemos, em questão de segundos, cruzar muitas fronteiras porque temos a tecnologia e os meios para nos comunicarmos com uma pessoa do outro lado do mundo. Mas ainda temos limitações, porque nem todos os países têm os mesmos benefícios de ter a tecnologia que nós temos, por exemplo, nos Estados Unidos. Nem todos os países têm acesso à Internet, nem todos os membros tem um computador em casa. E quando levo isso em consideração, fico muito emocionada ao pensar: “Como podemos fazer melhor? Como podemos melhorar para que estas mensagens possam chegar a estas pessoas?”

Presidente Thomas S. Monson, à esquerda, se reúne com o vice-presidente do Brasil, José Alencar, segundo da direita para a esquerda, e Élder Russel M. Nelson, à direita. O intérprete, Edson Lopes, está sentado à esquerda do vice-presidente.
Presidente Thomas S. Monson, à esquerda, se reúne com o vice-presidente do Brasil, José Alencar, segundo da direita para a esquerda, e Élder Russel M. Nelson, à direita. O intérprete, Edson Lopes, está sentado à esquerda do vice-presidente. | Crédito: Gerry Avant, Church News

Fico muito emocionada ao pensar que a conferência geral agora é traduzida para 93 idiomas [artigo em inglês], porque recordo como era difícil ouvir as mensagens e entender o que os discursantes estavam dizendo. E como eu disse, não me lembro se era em português ou inglês, porque o som era realmente muito ruim. E hoje, podemos ver o Profeta discursar de Salt Lake City para o mundo inteiro. Assim, o Church News se torna um porta-voz oficial para muitos países. Estamos muito próximos dos irmãos. Estamos muito próximos da mensagem que eles compartilham, e o fato de que podemos tornar a Igreja ainda menor com os dois idiomas que estamos traduzindo neste momento, é maravilhoso. 

Por exemplo, sempre dizemos que a Igreja é pequena no Brasil porque todos se conhecem, e rimos sobre isso. Mas o fato é que formamos uma comunidade muito singular, e somos capazes de atravessar fronteiras culturais, linguísticas e físicas pela mensagem do evangelho. E penso que um elemento essencial para tornarmos este mundo menor são nossos maravilhosos missionários. Penso no missionário que me converteu, que realmente me ajudou com as lições e me batizou. Na época, ele não conseguia falar muito português. Seu português era muito ruim naquela época, mas ele era o único missionário que — meus pais disseram: “Você pode ser batizada se este missionário a batizar.” E não foi por causa de suas habilidades linguísticas, porque ele também conversava em inglês com meus pais, mas foi por causa do espírito que ele trazia consigo. 

E uma coisa em que realmente acredito é no dom das línguas. Acredito que, quando nossos missionários atravessam o mundo — e é importante termos missionários em todas as partes do mundo — eles têm este manto e podem se comunicar, não apenas por palavras, mas também pelo Espírito, e todos sabemos que isto é o que converte. Portanto, os missionários unem ainda mais a Igreja — não tenho palavras para expressar como é maravilhoso ouvir a mensagem da Igreja pelos missionários que aprendem o idioma de maneira muito difícil, e usam seu próprio tempo e cobrem suas próprias despesas, para compartilharem algo que é maravilhoso. 

E me lembro dos anos em que dei aulas na BYU para missionários retornados. Eles não tinham mais o manto, então chegavam às aulas apenas com o seu conhecimento. E, às vezes, eu olhava para o ex-missionário e pensava: “Como você pôde sobreviver dois anos falando dessa maneira?” Mas, como eu disse, quando compartilhamos o evangelho, usamos mais do que apenas nosso conhecimento intelectual — é o Espírito quem traduz para nós, e não posso dizer quantas vezes tive que confiar no Espírito para traduzir o significado, não apenas as palavras, mas também os sentimentos de outras pessoas em outros idiomas. Senti que, muitas vezes, mesmo quando eu estava no Brasil, havia regiões onde as pessoas falavam de maneira muito diferente de como eu falava. E lembro que temos que usar uma linguagem que todos nós entendemos. Há uma linguagem comum para todos nós. Temos que ser capazes de falar com as autoridades governamentais, com a pessoa mais pobre do planeta e temos que ser capazes de nos comunicar, mas o Espírito fará grande parte disso.

Sarah Jane Weaver: Bem, essa é uma mensagem muito bonita para a mãe de uma filha que está servindo uma missão no Brasil. Ela só está lá há poucos meses, e acho que está tendo dificuldades para aprender o idioma.

31:26  

Vanessa Fitzgibbon: Eles geralmente têm dificuldades. Eu tive — todos os meus filhos serviram em um país de língua estrangeira. Dois serviram no Brasil, que não era tão estrangeiro assim, mas dois serviram em países de língua espanhola. E lembro que meu filho mais novo era o que tinha menos experiência com o português, e foi chamado para servir na Bolívia. E eu pensei: “Minha nossa!” Sei que o Senhor os protege. Mas também esperamos que eles possam aprender um pouco por conta própria, a parte intelectual. Por isso, fiquei muito preocupada. Após três meses na missão, ele disse: “Mãe, não consigo dizer uma palavra em espanhol.” Então, o tempo se encarregou disso. Ele voltou falando não apenas o espanhol, mas também um belo português. Ele aprendeu português melhor em sua missão do que estava aprendendo em casa. E ele também aprendeu o quíchua boliviano, o que significa que ele se tornou trilíngue, capaz de compartilhar o evangelho nessas três línguas, além do inglês. E é maravilhoso. Portanto, acredito no manto que esses missionários têm, e no trabalho que eles realizam, que torna a Igreja ainda mais unida. E cada um deles é incrível. Só uma mãe sabe como é difícil deixar seus filhos servirem uma missão. Mas vale pena. Vale a pena cada segundo que eles passam no campo missionário.

Vanessa Fitzgibbon e seus filhos posam juntos para uma foto de Natal — a primeira foto de família tirada em 10 anos e após todos os seus quatro filhos terem retornado de suas missões. Da direita para a esquerda, Marcelo (Missão Brasil Belém); Felipe (México Cidade do México Noroeste); Vanessa Fitzgibbon; Natália (Missão Brasil Brasília); Danilo (Missão Bolívia Cochabamba).
Vanessa Fitzgibbon e seus filhos posam juntos para uma foto de Natal — a primeira foto de família tirada em 10 anos e após todos os seus quatro filhos terem retornado de suas missões. Da direita para a esquerda, Marcelo (Missão Brasil Belém); Felipe (México Cidade do México Noroeste); Vanessa Fitzgibbon; Natália (Missão Brasil Brasília); Danilo (Missão Bolívia Cochabamba). | Crédito: Fornecida por Vanessa Fitzgibbon

Sarah Jane Weaver: Bem, sou muito grata pela oportunidade de conversar com você sobre a Igreja global, línguas, como podemos fazer a Igreja parecer menor e como podemos conectar pessoas de todas as línguas através da linguagem do Espírito; e temos uma tradição no podcast do Church News em que gostamos de dar aos nossos convidados a última palavra, e pedimos a todos eles que respondam à mesma pergunta. Então, Vanessa — depois de estudar idiomas, traduzir, contar com Espírito para ajudá-lá a transmitir as palavras dos irmãos, e trabalhar tanto conosco para traduzir os artigos do Church News — o que você sabe agora?

33:39  

Vanessa Fitzgibbon: Eu sei muitas coisas, mas também tenho um longo caminho a percorrer para aprender mais. E, como disse, tenho enfatizado aqui que, quando estamos trabalhando com a Igreja, estamos trabalhando com o Espírito. Assim, há algumas semanas, recebi um texto para ser traduzido, e era um documento muito importante da Igreja. Eu já havia feito isso muitas vezes, e sabia que era capaz e que tinha as habilidades. Eu sabia o que era necessário — mas, de repente, senti que não conseguiria fazer a tradução. Lutei contra este sentimento por vários dias, dizendo para mim mesma: “não posso tocar nisto. Isto é muito sagrado, não sou capaz de traduzi-lo. Não sou boa o suficiente.” 

Então tive esta sensação horrível de que não estava qualificada para o trabalho, e lembro de ter orado dia e noite para entender o que estava acontecendo comigo; e recordo que, quando finalmente me senti bem o suficiente para tocar naquele documento mais uma vez, senti a abundância do Espírito, e foi como se pudesse fazer algo em algumas horas, algo que eu estava tendo dificuldade para fazer por várias semanas.

Satanás está atrás de nós, tentando nos fazer acreditar que não somos capazes, especialmente quando lidamos com idiomas. A escolha de uma palavra errada pode mudar todo o significado do texto, e alguém pode ficar ofendido. É claro que essa nunca é nossa intenção, mas há muito tempo, na verdade, aprendi isto. Como disse anteriormente, tenho uma extensa formação acadêmica e muita experiência, mas quando reflito sobre o trabalho que Joseph Smith realizou ao traduzir o Livro de Mórmon — e não creio que haja uma única vez que eu não pense nele e na obra maravilhosa que ele realizou em apenas, quantos dias? Digamos que foram alguns dias para quantas páginas? Para centenas de páginas, em um idioma que ninguém conhecia naquela época. E olho para o resultado de seu trabalho, e comparo muitas vezes o que leio no Livro de Mórmon em inglês, espanhol e português para entender as três línguas, e compreendo que — não posso duvidar disso, não há dúvida de que ele foi guiado pelo Espírito. Com todo o conhecimento que podemos ter em termos de idiomas, cultura e contexto histórico, sei que não somos capazes de fazer nada semelhante. O número de dias que ele passou traduzindo, a precisão das traduções e o vocabulário que ele usou — em termos de escolaridade, ele tinha o nível da terceira série do ensino fundamental. Tal feito deveria ter sido impossível. Conheço muitas pessoas com todos os diplomas que podemos imaginar que existem no mundo, que não podem escrever 10 páginas, muito menos traduzi-las. Portanto, o que eu sei é que, desde o início, nossa Igreja foi abençoada pelo dom de línguas. Temos o Livro de Mórmon, graças a uma tradução que a maioria de nós jamais poderia ter feito, se pudéssemos contar apenas com o conhecimento que temos. 

Após se mudar com as placas para Harmony, Pensilvânia, para evitar perseguições, Joseph Smith traduz enquanto Oliver Cowdery serve como escriba.
Após se mudar com as placas para Harmony, Pensilvânia, para evitar perseguições, Joseph Smith traduz enquanto Oliver Cowdery serve como escriba. | Crédito: Intellectual Reserve Inc./Del Parson

Mas isto é algo que sei agora; é que, em primeiro lugar, Joseph Smith traduziu com o poder de Deus. As mensagens culturais, evangélicas e históricas que temos nesse livro estão além de nossa compreensão humana, e isso foi feito por meio da tradução. Se não fosse pela tradução, não teríamos o Livro de Mórmon, e se não tivéssemos essa tradução para o inglês, não teríamos o Livro de Mórmon traduzido para tantos [outros] idiomas hoje. 

Portanto, o que eu sei é que precisamos ter a capacidade de estarmos abertos para receber a inspiração, e precisamos ser humildes para permitirmos que o Espírito nos guie. Precisamos ser humildes para não permitirmos que nosso conhecimento intelectual e acadêmico interfira em nosso trabalho para a Igreja. Sei muito mais agora que traduzir não é algo simples, como apenas traduzir palavras — podemos fazer isso com o Google Tradutor, ou, às vezes, com um de seus primos. Mas é um trabalho que combina o conhecimento, é claro, com um espírito aberto para recebermos a inspiração. E quando penso nesta experiência que tive há alguns dias, reflito sobre como o Senhor, por meio da oração, me ajudou a compreender — não apenas minha própria língua, mas a mensagem que precisava ser transmitida. 

E eu acho que esta é a grande tarefa que temos quando trabalhamos com a Igreja, não importa qual seja nossa função. Sempre temos o Espírito para nos guiar, e sei que, muitas vezes, não teria conseguido consertar algo se não fosse pela voz do Espírito me dizendo: “Volte, verifique isto e aquilo”, e eu digo: “Uau, que legal! Eu nunca teria encontrado isto.” Portanto, temos que nos alegrar quando convidamos a companhia do Espírito por meio de uma mensagem que influencia nossa vida de forma positiva, ou uma mensagem que nos consola. Eu adoro assistir aos vídeos que estamos disponibilizando no Church News. São vídeos curtos, mas reflito profundamente sobre suas mensagens e conselhos — especialmente os vídeos que contam com a participação das mulheres. Nos comentários sobre um desses vídeos, pude ler que pessoas de alguns países ficaram tão felizes que queriam pular e gritar de alegria, e dar um grande abraço nas irmãs [Camille N.] Johnson e [Bonnie H.] Cordon, pelas belas mensagens que elas haviam compartilhado. Este é o poder da comunicação, e este é o poder das traduções. Podemos atravessar muitas fronteiras, mas precisamos de uma pequena ajuda do Espírito para chegarmos lá.

“A Primeira Visão de Joseph Smith” (vitral, 2,10 x 1,50 m) no Templo de Palmyra, Nova York. O guia “Vem, e Segue-Me” de 13 a 19 de novembro inclui Tiago 1:5, a escritura que ajudou a abrir caminho para a Restauração.
Vitral da “Primeira Visão de Joseph Smith” no Templo de Palmyra Nova York. | A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

Sarah Jane Weaver: Vocês ouviram o podcast do Church News. Sou sua anfitriã, Sarah Jane Weaver, editora do Church News. Espero que vocês tenham aprendido algo hoje sobre A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ao olharem através da janela do Church News comigo. Por favor, não se esqueçam de seguir este podcast. E se vocês gostaram das mensagens que compartilhamos hoje, por favor, compartilhem o podcast com outras pessoas. Agradeço aos nossos convidados, à minha produtora, KellieAnn Halvorsen, e a outros que fizeram com que a gravação deste podcast fosse possível. Juntem-se a nós todas as semanas para um novo episódio. Encontrem-nos em seu canal favorito de podcasts, ou com outras notícias e atualizações sobre a Igreja em thechurchnews.com

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