Em junho de 2012, sentei-me com Nazaré Negreiros nas arquibancadas de uma arena em Manaus, Brasil, e observei sua neta e outros jovens ensaiarem para a celebração cultural do templo na Bacia do Rio Amazonas.
Com a ajuda de um tradutor, Negreiros e eu conversamos sobre um novo templo no Brasil, que seria dedicado naquela semana pelo então Presidente Dieter F. Uchtdorf, da Primeira Presidência. Fazia duas décadas desde que o primeiro grupo de santos dos últimos dias da Bacia do Rio Amazonas embarcou em uma viagem de 15 dias de barco e ônibus para o Templo de São Paulo Brasil.
Muitos na pequena caravana venderam terrenos e pertences para irem ao templo. Alguns adoeceram durante a viagem; outros tiveram dores musculares depois de longas horas sentados na mesma posição em um veículo lotado.
Negreiros falou sobre aquela primeira caravana do templo, e as dezenas que se seguiram, com muita casualidade. Ir ao templo, ela disse, é uma jornada e sempre exigiu sacrifício, ela explicou.

Dos arquivos de 2012: Jornada para o templo — uma história de fé [em inglês]
Para ilustrar, ela falou sobre sua própria jornada.
Em 2001, ela e sua mãe, Delzuita Guerreiro, se juntaram a um grupo de santos dos últimos dias em uma caravana para o Templo de São Paulo quando seu ônibus foi assaltado por ladrões.
Negreiros estava dormindo no ônibus e, ao acordar, viu cinco homens mascarados com armas. Eles roubaram dinheiro, câmeras e telefones celulares dos santos dos últimos dias. Mas os ladrões ficaram desapontados; eles esperavam que o grupo tivesse mais dinheiro. Negreiros disse que os homens perguntaram a ela por que um grupo de pessoas pobres estava viajando junto.
“Por que você está indo para São Paulo se não tem dinheiro?”, perguntaram. Negreiros lhes disse que nunca entenderiam. “Estamos indo para a Casa do Senhor”, disse ela.
Suas palavras me trouxeram paz.
Por alguns segundos, nos sentamos em silêncio na arquibancada e assistimos ao ensaio que estava acontecendo, e então fiz a pergunta que me consumiu.
“Você não acha que o Senhor deveria ter protegido você e os outros membros de sua caravana porque você estava fazendo um sacrifício para ir ao templo?”
A pergunta deixou Negreiros decepcionada.
Ela apontou o dedo para mim e falou em um português rápido. O tradutor compartilhou seu sentimento em poucas simples palavras. “Ninguém nunca me perguntou isso.”

Em abril deste ano, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias abriu as portas do Templo de Washington D.C., marcando a primeira vez que o público visitou o edifício icônico em quase 50 anos.
Na capital dos Estados Unidos, uma área global onde culturas, ideias e políticas se cruzam, o icônico Templo de Washington D.C. atrai a atenção de milhões de pessoas que dirigem pelo anel rodoviário da Capital, desde sua dedicação em 1974.
O templo de 15.000 m2, que fica em um terreno de aproximadamente 21 hectares, está localizado a 16 km ao norte da Casa Branca. O templo foi fechado em 2018 para que a Igreja pudesse atualizar os sistemas mecânicos e elétricos, renovar os acabamentos e móveis e melhorar os jardins. Por mais de uma década, os santos dos últimos dias a leste do rio Mississippi e ao norte do Canadá e ao sul da América Central viajaram para o templo. Era o destino de longas e difíceis jornadas ao templo que muitas vezes incluíam provações e sacrifícios.
A irmã Reyna I. Aburto, segunda conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro, disse durante a visitação pública que todos nós estamos em uma jornada para o templo.
Usando o templo renovado, reformado e restaurado como metáfora, ela disse [em inglês]: “É a mesma coisa conosco. Precisamos continuar limpando nossa vida e refletindo sobre as coisas que podemos melhorar a cada dia. E isso é uma jornada.”

Todos os dias, os santos dos últimos dias enfrentam os desafios do mundo, continuou ela. “Temos problemas, temos preocupações”, disse ela.
O templo fortalece os santos dos últimos dias que amam o Salvador e desejam aprender sobre Ele e adorá-Lo. “É por isso que é uma jornada”, disse ela, “porque estamos sempre tentando ser melhores.”
As palavras da irmã Aburto me levaram de volta à doce lição que aprendi em Manaus com a irmã Negreiros.
Leia mais: O motivo pelo qual os santos brasileiros viajaram de ônibus e barco por décadas para frequentarem o templo [em inglês]
Nos anos que se seguiram, passei a entender sua mensagem. A jornada para o templo, aquela sobre a qual ela falou como se fosse a experiência de cada santo dos últimos dias, é realmente uma jornada que todos compartilhamos.

Em termos mais simples, é uma jornada que começa onde estamos e termina no templo. Para alguns, como as irmãs Negreiros e Guerreiro, a jornada é física. Para todos nós, é espiritual, um processo de refinamento que, assim como ocorreu com o Templo de Washington D.C. nos últimos anos, nos renova, conserta e restaura.
A mãe de Negreiros me contou que, depois que seu ônibus foi assaltado, os santos dos últimos dias chegaram a São Paulo sem nada. Ainda assim, eles encontraram comida e roupas, doados por membros locais da Igreja que estavam esperando por eles. O presidente do templo os ajudou.
Guerreiro falou de sentir um turbilhão de emoções no templo. Ela não sabia se ria ou se chorava. Uma oficiante do templo lhe disse que ambas eram aceitáveis. “Você pode rir. Você pode chorar. Está tudo bem”, a oficiante lhe assegurou.
Guerreiro disse que olhou para a mulher ali na segurança do templo, contou suas “bênçãos maravilhosas” e respondeu: “Sim, estou bem.”
Ambas as mulheres disseram que nenhuma pessoa na viagem questionou como algo ruim poderia acontecer aos fiéis santos dos últimos dias. Após o assalto, eles ficaram com medo, mas não ficaram magoados.
“Estávamos muito felizes”, disse ela. “Tínhamos chegado ao templo.”