Algumas palavras são exibidas sobre a arca que contém os rolos sagrados do Torá nas sinagogas judaicas:
“Da Lifnei Mi Atah Omed.”
Traduzida, a frase significa: “Saiba diante de quem você está.”
A mensagem, disse o rabino Joseph Potasni, um rabino sênior da cidade de Nova York que participou de um painel na Universidade Brigham Young na noite de quinta-feira, 16 de junho, é que “todos nós somos responsáveis por nosso comportamento e, portanto, temos que permanecer fortes no que acreditamos ser certo.”
O rabino Potasnik faz parte de um grupo único de líderes religiosos de Nova York que visitaram a sede da Igreja esta semana e se reuniram com a Primeira Presidência e outros líderes seniores da Igreja, visitaram a Biblioteca de História da Família, o Centro de Conferências e a Praça de Bem-Estar, e participaram da Avaliação Anual da Liberdade Religiosa de 2022 na BYU.
“Temos diferentes formas de adoração e práticas, mas… há espaço suficiente em nossa sociedade para que todos adoremos livremente”, disse o rabino Potasnik, vice-presidente da Comissão de Líderes Religiosos da cidade de Nova York.
A comissão é um corpo de líderes religiosos de diversas tradições na cidade de Nova York, incluindo A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que reconhecem a interação entre religião e governo, disse o rabino Potasnik. “Não basta orar pela paz, é preciso buscá-la…”, disse. “Não estamos separados da sociedade, fazemos parte dela.”
A comissão trabalhou para reduzir as taxas de mortalidade materna, influenciar a reforma penitenciária, apoiar os desprivilegiados, compartilhar uma voz baseada em valores e fé com os governos locais e combater a insegurança alimentar na cidade de Nova York e arredores. Élder Quentin L. Cook, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse que a colaboração inter-religiosa é um modelo de como a religião pode fazer uma diferença positiva.
Comissão de Líderes Religiosos
O reverendo A.R. Bernard, presidente da comissão, disse que, ao longo da história em todas as culturas ao redor do mundo, existem três sistemas: o sistema político ou governo, o sistema econômico ou empresarial e o sistema moral.
“E o pilar do sistema moral, além da educação, são nossas instituições religiosas”, disse ele. “Nós somos a consciência, a voz da consciência, dentro da alma de uma sociedade. Instamos o governo e as empresas a medirem seus julgamentos, à medida que legitimam o poder [lei], distribuem o poder, validam o poder, produzem bens e serviços e buscam o interesse próprio. Nós os exortamos, com uma voz moral muito forte e poderosa, a medirem tais julgamentos e decisões, de acordo com a perspectiva de Deus.”
O reverendo Bernard, fundador do Centro Cultural Cristão em Brooklyn, e o rabino Potasnik foram acompanhados por outros quatro membros da comissão durante a viagem a Utah: a reverenda Que English, diretora do Centro de Parceria do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos E.U.A.; monsenhor Kevin Sullivan, diretor executivo da organização Catholic Charities [Caridades Católicas] da Arquidiocese de Nova York; o bispo Dr. Victor A. Brown, pastor sênior da Mt. Sinai United Christian Church em Staten Island; e Élder David A. Buckner, Setenta de Área. Também participaram do grupo a rabina Diana Gerson, vice-presidente executiva associada do Conselho de Rabinos de Nova York, e Annette Bernard, diretora executiva de assuntos comunitários do Centro Cultural Cristão.
Élder Cook recebeu o grupo e dirigiu um painel de discussão na BYU entre o reverendo Bernard, o rabino Potasnik, a reverenda English e Élder Buckner.
O painel explorou como pessoas de diversas religiões beneficiam as comunidades, tanto por meio da responsabilidade religiosa, quanto pelos serviços práticos e contribuições sociais que as religiões facilitam e incentivam.
A cidade de Nova York, em muitos aspectos, é um exemplo da diversidade religiosa que existe neste país, disse Élder Cook.
“Os Estados Unidos são uma terra de imigrantes. Muitos imigraram para escapar da perseguição, incluindo protestantes, católicos, judeus, muçulmanos, hindus, budistas e outros. Existe uma forte tradição, com fundamentos constitucionais históricos, para proteger os direitos religiosos fundamentais. Essa tradição tem sido uma grande bênção neste país e é reconhecida desde a sua fundação.”
Ao apresentar o painel, Élder Cook enfatizou dois dos benefícios da liberdade religiosa. O primeiro, disse ele, é a forma como a responsabilidade religiosa beneficia a sociedade secular. O segundo é a grande quantidade de boas obras que a religião inspira as pessoas de fé a realizarem em nome de seus semelhantes.
‘Poder na união’
Élder Buckner foi convidado a participar da comissão nos últimos anos porque, segundo ele, os outros membros entenderam que é necessário fortalecer e ouvir todas as vozes e incluir todas as opiniões. O grupo imediatamente se tornou uma família. “Há um poder na união, mas há um respeito pela individualidade”, disse Élder Buckner. Os líderes governamentais e comunitários muitas vezes recorrem às vozes confiáveis da comissão para resolverem situações difíceis e trágicas, disse ele.
Por exemplo, em julho de 2014, Eric Garner, afro-americano de 43 anos, morreu estrangulado por policiais da cidade de Nova York depois de vender cigarros ilegalmente. O incidente tinha o potencial de incitar a violência de multidões na cidade.
“Reunimos todos os líderes religiosos para manifestarmos solidariedade”, disse o rabino Potasnik. “Nós dissemos, ‘esta é a nossa cidade, este é nosso problema.’ E não podemos encontrar uma conclusão construtiva, a menos que todos conversemos uns com os outros.”
O bispo Brown convidou a família Garner e a polícia para se reunirem em uma igreja.
“Quando oramos pela paz, a paz é incompleta, a menos que oremos uns pelos outros. Não posso simplesmente dizer que quero paz para meu povo e ignorar outros povos”, disse o rabino Potasnik.
A reverenda English disse que ter uma frente unificada é essencial.
Houve um tempo em que os líderes da cidade de Nova York consideraram legalizar a prostituição, disse ela. Sabendo que a legalização poderia levar a um aumento da violência na cidade e do tráfico de crianças, o grupo, motivado a agir, decidiu enfrentar o problema em conjunto. “Para esse fim, redigimos uma carta para o governador”, lembrou a reverenda English. “A carta foi assinada por todos”.
A comissão foi uma voz solitária que influenciou a interrupção do movimento. O projeto de lei não foi aprovado. “Por quê?” perguntou a reverenda English. Porque o grupo de rabinos, de reverendos e de santos dos últimos dias se uniu com “uma só voz, que não pôde ser ignorada pelo governo.”
‘O que posso oferecer?’
Precisamos “começar a enxergar nossos locais de adoração como igrejas sem paredes”, disse ela. “Porque, se pudermos enxergá-los como igrejas sem paredes, talvez possamos ver a comunidade. Quando podemos ver a comunidade, podemos enxergar a necessidade. Então, podemos começar a atender às necessidades da sociedade de modo intencional.”
Élder Buckner disse que ter um lugar à mesa da comissão não significa que todos compartilham a mesma opinião. O poder surge quando os que estão sentados à mesa perguntam: “O que posso oferecer?”
“Quando o governo está presente, a primeira coisa que uma pessoa pode querer fazer é dizer: ‘O que podemos exigir neste momento que temos com o comissário? O que podemos exigir nesta hora que temos com o prefeito? Nós não ouvimos isso. Cada conversa acontece da seguinte maneira: ‘Senhor prefeito, o que você precisa? Como podemos dar voz a isso? Onde é mais apropriado que uma voz religiosa e confiável ofereça consolo?’ E isso eleva a conversa todas as vezes. Isso o afasta do engajamento religioso estratégico e convencional e o leva a um nível de propósito mais alto.”
Oferecendo conselhos a outras pessoas que desejam formar um conselho inter-religioso, o rabino Potasnik disse que o modelo é fácil de se replicar. “Temos o talento. Temos as pessoas. Quando temos um sistema de crenças que é forte e bom, não recuamos ou fugimos.”
Havia uma revista chamada Life [Vida]. Após a Life, surgiu a People [Pessoas], depois a Us [Nós] e em seguida, a Self [Eu]. O que começou com “Vida”, terminou com o “Eu”.
Em seguida, citando a tradição judaica de ler o hebraico da direita para a esquerda, o rabino Potasnik acrescentou que todos podem começar com o “Eu”.
“Como vocês sabem, trata-se de todos nós, como um só povo, tentarmos fazer com que a vida tenha mais significado para todas as pessoas. A Comissão de Líderes Religiosos é um exemplo. Vocês podem criar muitas outras em suas comunidades.