Nota do editor: Este artigo foi originalmente publicado em inglês, em 18 de novembro de 2020
Em 1969, 14 jogadores de futebol americano negros da Universidade de Wyoming abordaram seu treinador para dizer que estavam interessados em protestar contra uma política racial da Igreja. Como resultado, o treinador os expulsou do time na véspera de um jogo contra a BYU, colocando em risco a carreira acadêmica e esportiva desse grupo de atletas, que ficou conhecido como o ‘Black 14’
Esta semana [novembro de 2020], os 11 jogadores vivos e a Igreja [em inglês] estão trabalhando juntos para curar essa ferida por meio da ajuda ao próximo.
Os Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias estão entregando 180 toneladas de alimentos para oito estados, perto de onde vivem os membros do Black 14.
“Famílias e crianças pequenas não passarão fome no Dia de Ação de Graças. Fico um pouco emocionado”, disse John Griffin, um dos jogadores no time da Universidade de Wyoming em 1969.
As entregas estão sendo feitas em nome da Black 14 Philanthropy [Filantropia Black 14] e da Igreja.
“Isto tudo é sobre a cura e a graça do Salvador”, disse Élder Gifford Nielsen, Setenta Autoridade Geral que jogou no time de futebol americano da BYU alguns anos mais tarde, e passou seis temporadas na NFL com o time dos Houston Oilers.
Mel Hamilton, um dos membros do Black 14, havia cultivado relacionamentos com membros da Igreja e líderes locais em Wyoming, o que resultou em uma estreita ligação com Élder Nielsen, que ajudou a organizar as doações com a aprovação da Primeira Presidência.
“Mel Hamilton passou mais de 15 anos interagindo com a igreja e conquistando o respeito dos élderes”, disse Griffin. “O fato deles nos respeitarem e de termos obtido esse respeito por eles, fez com que estivessem interessados em se reconciliar conosco e fazer algo para o nosso bem e o de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É onde estamos hoje. Isso ajudou no processo de cura em geral, pois transformou a história.”
O grupo Black 14 recebeu seu nome em outubro de 1969, quando atletas universitários de várias universidades protestavam contra a BYU à respeito da política da Igreja que impedia os negros de receberem o sacerdócio e entrarem no templo. Essa política foi removida por revelação em 1978.
Os jogadores marcaram uma reunião com seu treinador na véspera de um jogo contra a BYU para perguntar se poderiam usar faixas pretas em seu braço durante a partida. O time da Universidade de Wyoming foi classificado entre os 20 melhores, mas o treinador os dispensou da equipe imediatamente, alegando que eram insubordinados. A decisão se tornou uma grande história nacional. Os jogadores perderam suas bolsas de estudo. Vários tiveram problemas para encontrar outra universidade para jogar, ou descobriram que os empregadores não os contratavam. Mesmo assim, eles foram irreprimíveis. Dois se tornaram campeões do Super Bowl e 10 se formaram na faculdade.
Não iríamos ser definidos por aquele momento. Não iríamos permitir que a atitude do treinador arruinasse nossas vidas”, disse Griffin.
Agora, aos 70 e poucos anos de idade, os jogadores querem retribuir. Eles formaram a Black 14 Philanthropy, e o empenho de Hamilton em melhorar o relacionamento com a Igreja resultou nas doações.
“Nunca odiei as pessoas da religião santo dos últimos dias”, disse Hamilton, que jogou na linha ofensiva do time da Universidade de Wyoming. “Era minha missão (…) falar onde quer que eu estivesse para esclarecer que não odiávamos as pessoas. Só queríamos que a política mudasse. E, graças a Deus, houve uma revelação que a mudou.”
Na verdade, a esposa de Hamilton é parente distante de Brigham Young, e seu filho, Malik, se filiou à Igreja.
No ano passado [2019], a Universidade de Wyoming pediu desculpas formalmente ao Black 14, encerrando 50 anos de conflito entre os jogadores e a instituição. Hamilton convidou Cory Allen, presidente da Estaca Laramie Wyoming, John Williams, diretor do Instituto Religião de Laramie, e Élder Michael Jones, Setenta de Área, para um jantar em homenagem aos jogadores. Durante o jantar, ele perguntou se a Igreja poderia apoiar a Black 14 Philanthropy.
Algumas semanas depois, Élder Nielsen recebeu Hamilton, seu filho e suas respectivas esposas em Salt Lake City, onde assistiram à conferência geral e visitaram a Praça de Bem-Estar. Na primavera passada [de 2019], quando Griffin, Hamilton e Tony McGee, outro membro do Black 14, estavam falando sobre a insegurança alimentar causada pela pandemia do coronavírus, Hamilton decidiu ligar para Élder Nielsen, que consultou os líderes da Igreja e os Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias.
Em seguida, Élder Nielsen conversou com Hamilton.
“Que tal fornecermos 18.000 kg de alimentos para cada um dos nove locais ligados a vocês?” perguntou Élder Nielsen.
Griffin contou que Hamilton telefonou para ele e disse: “Você não vai acreditar nisso.”
“Esta é a maior doação que já recebemos, pelo menos desde os anos em que tenho trabalhado aqui”, disse Andy Olson, gerente do programa de alimentos da Cathedral Home for Children (Lar Catedral para Crianças) em Laramie, Wyoming. “Fazer parte da união do Black 14 e dos santos dos últimos dias para retribuir à comunidade, nos deixa comovidos. Estamos muito animados e honrados por fazermos parte disso.”
Em outro sinal de reconciliação, o Black 14 está adicionando o logotipo da BYU às camisetas que o grupo vende para arrecadar dinheiro para educar e alimentar crianças. Eles esperam adicionar o logotipo da Universidade de Wyoming também, quando as questões legais puderem ser resolvidas. A Igreja está fornecendo US$ 10.000 para ajudar a fabricar as camisetas.
Os 11 jogadores vivos têm hoje por volta de 70 anos de idade. Além de Griffin, Hamilton e McGee, que venceu um Super Bowl com o Washington, também estão vivos Jay Berry, Tony Gibson, Lionel Grimes, Ron Hill, Willie Hysaw, Ivie Moore, Joe Williams e Ted Williams. Joe Williams foi jogador no time do Dallas Cowboys, campeão do Super Bowl de 1972 .
Élder Jones, Setenta de Área que trabalhou com Hamilton e ex-jogador da BYU, é grato pelos membros do Black 14 terem persistido em sua bondade.
“Os membros do Black 14 são pessoas com as quais queremos fazer parceria, aprender e crescer, especialmente à luz do que acabamos de receber de Presidente Nelson e Presidente Oaks”, disse Élder Jones. “Há uma oportunidade de fazermos o bem e trabalharmos juntos.”
No mês passado [outubro de 2020], Presidente Russell M. Nelson pediu aos membros da Igreja que fossem líderes no combate ao racismo.
“Lamento que nossos irmãos e irmãs negros em todo o mundo estejam enfrentando as dores do racismo e do preconceito”, disse ele na conferência geral. “Hoje, peço a nossos membros em todos os lugares, que estejam à frente do abandono de atitudes e ações preconceituosas. Imploro a vocês que promovam o respeito por todos os filhos de Deus.”
Presidente Dallin H. Oaks acrescentou que os santos dos últimos dias “devem fazer mais para ajudar a erradicar o racismo”, especialmente nos Estados Unidos. Ele deu continuidade à mensagem durante um devocional na BYU, onde pediu aos estudantes que atendessem ao chamado de Presidente Nelson.
Élder Nielsen disse que a parceria com os Black 14 é uma história de perdão.
“Podemos perdoar e seguir em frente”, disse ele. “Cabe a cada um de nós tomar essa decisão. Neste caso em particular, Mel tomou a decisão e os membros do Black 14 que estão com ele também tomaram essa decisão, o que nos coloca em uma posição na qual podemos realmente ajudá-los. É por isso que temos tudo isto hoje.”
“Especialmente agora”, disse Hamilton, “neste clima atual que polariza o amor e o ódio, não quero estar nesse lado odioso, e não quero que as pessoas pensem que o Black 14 esteja desse lado. Nós certamente não estamos.”
Griffin, um católico devoto que recebeu um carregamento de alimentos na terça-feira para as Caridades Católicas na Arquidiocese de Denver, disse que as entregas conjuntas de alimentos se tornarão legados do Black 14 e da Igreja.
“Termos a capacidade de retribuir em nossa idade é gratificante para nós”, disse Griffin. “Dou graças a Deus por ainda estar aqui e poder vivenciar isso. É um dia maravilhoso.”