Alguns dias antes do Natal de 1981, o mundo de Sherilyn Stinson mudou para sempre, com um simples telefonema.
Ela e seu marido estavam tentando ter filhos há anos. Seu sonho de maternidade se tornou realidade, quando a assistente social ligou para informá-los que um menino estava esperando para ser adotado.
"Assim que o segurei em meus braços, me apaixonei, e soube que ele era 'nosso'," disse ela.
Dois anos depois, também em dezembro, Stinson recebeu outro telefonema: “Gostariam de ter uma menina?”
Stinson escreveu sobre a adoção de Aaron e Allison no artigo “A preciosa dádiva da maternidade” [em inglês] para o Deseret News no Natal de 2008, dizendo: “Em meio à agitação do feriado, meus pensamentos sempre se voltam para as incríveis e corajosas mães biológicas de cada um dos meus filhos, cujo amor abnegado tornou meus sonhos realidade.”
Naquela época, ela não chegou a conhecer essas mães biológicas. “Como eu gostaria que elas pudessem saber que as crianças que elas confiaram a nós se tornaram adultos maravilhosos e bem ajustados. Como eu gostaria que elas pudessem conhecer a alegria extraordinária que trouxeram para nossa vida”, escreveu ela.
Ambas as adoções foram tratadas por meio dos Serviços Familiares de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que, embora não seja mais uma agência de adoção, continua mantendo registros de adoção, podendo apenas fornecer informações não identificáveis, em conformidade com os compromissos originais de privacidade e registros judiciais sigilosos.
A Igreja produziu recentemente um guia, chamado Reunificação na adoção, que descreve diferentes conceitos e recursos para abordar a reunificação do que é conhecido como a tríade da adoção: a criança, os pais biológicos e os pais adotivos. O guia será publicado em breve online na seção Adoção do Auxílio para a Vida na Biblioteca do Evangelho.
Sherilyn Stinson, que hoje é a comissária dos Serviços Familiares, disse que a preocupação com os sentimentos dos pais adotivos, frequentemente impede que as crianças em adoções fechadas, busquem mais informações sobre suas famílias biológicas.
"É importante que os pais adotivos respeitem o desejo de uma criança de preencher as lacunas em sua história e entendam que isso é uma curiosidade saudável, que não necessariamente diminui a força de seu vínculo ou seu papel como pais", disse Stinson.
Um dos recursos que o guia lista são serviços comerciais de correspondência de ancestrais por DNA. Stinson disse que existem preocupações de que essas empresas estejam fazendo isso, sem precauções importantes e considerações sobre privacidade, o que pode resultar em mágoa, decepção ou outras consequências não intencionais.
Mas ela disse que as correspondências de DNA que são tratadas com cuidado e sensibilidade estão resultando em experiências significativas, que podem incluir o encontro com famílias biológicas e a obtenção de história pessoal.
Esse foi o caso da filha de Stinson, Allison, hoje Allison Rasmussen. Quando tinha 34 anos, Rasmussen e sua mãe biológica, Jill Morgansen, fizeram um teste de DNA, descobriram uma sobre a outra, e entraram em contato para se reencontrar.
“Este é um dos resultados mais bonitos, e tanto elas como nós temos um relacionamento muito saudável”, disse Stinson.
'Eu sempre soube'
Rasmussen e Morgansen falaram juntas ao Church News, sobre como se reencontraram. Cada uma delas tinha um testemunho do papel do Espírito no momento certo.
Morgansen, que tinha 16 anos quando engravidou, disse que desde o momento em que sua mãe a levava do hospital para casa, depois de assinar os papéis da adoção, ela sabia que veria o bebê novamente.
"Eu sempre soube que iria encontrá-la. É a mesma coisa quando fiz o teste de DNA", disse ela. "O pensamento nunca passou pela minha cabeça: 'E se eu não encontrar uma correspondência?' Eu simplesmente sabia."
Morgansen comprou o teste de DNA em promoção no outono. Em 23 de dezembro de 2017, ela recebeu os resultados. Agora ela tinha um nome, mas nenhuma foto ou qualquer outra coisa que parecesse correta. Então ela decidiu esperar, dando a si mesma um prazo de seis semanas.
E seis semanas era exatamente o que Rasmussen precisava. Ela também recebeu o teste no outono, mas sua vida estava agitada. Seu marido estava terminando as rotações da faculdade de Medicina em Nova York e fazendo entrevistas para empregos, ao mesmo tempo que se preparavam para voltarem para Utah, e ela prestes a ter seu quinto filho.
O Natal veio e passou, e então houve complicações com o bebê, com um parto assustador, uma viagem de helicóptero e uma internação mais longa: “Foi um período de muito estresse.”
Em fevereiro de 2018, o bebê estava melhor e a vida estava mais tranquila. Rasmussen, seu marido e filhos decidiram ir ao cinema com seus pais em um sábado. Nesse mesmo dia, Morgansen enviou uma mensagem para Rasmussen através do site da empresa de DNA.
Rasmussen viu a mensagem em um semáforo perto do cinema. “Acabei de receber uma mensagem de minha mãe biológica”, disse ela ao marido.
Morgansen e Rasmussen perceberam que tudo aconteceu quando deveria acontecer. Eles trocaram e-mails, conversaram no dia seguinte e depois se encontraram pessoalmente alguns dias depois, nos escritórios dos Serviços Familiares em Sandy, Utah, com álbuns de fotos em seus colos enquanto estavam sentados juntas no sofá.
Reunindo-se e respeitando limites
O Guia de Reunificação Familiar da Igreja explica que a preparação e o apoio são importantes antes do encontro, assim como a preparação emocional, comunicação clara e uma abordagem gradual, tudo que Rasmussen e Morgansen fizeram.
Rasmussen disse que gerenciar expectativas é crucial. “Você não pode entrar pensando que tudo será maravilhoso, ou pensando que será horrível. Você realmente não sabe.”
Morgansen falou sobre a abordagem delas. “Fizemos muitas coisas juntas e nos conhecemos. Allie montou alguns livros com toda a história da vida dela e coisas para mim, e foi muito bom.”
Ambas recomendaram usar um conselheiro ou terapeuta para ajudar no processo. Morgansen disse que o aconselhamento foi especialmente útil para ela, porque o reencontro trouxe à tona algumas coisas com as quais ela não havia lidado por muitos anos, ou que havia até mesmo suprimido ou esquecido.
Respeitar os limites e a privacidade de ambas as partes é importante, explica o guia da Igreja, já que algumas pessoas podem precisar de mais espaço, ou tempo, do que outras, e seus níveis de conforto devem ser respeitados.
Sherilyn Stinson havia comprado dois testes de DNA ao mesmo tempo. Mas seu filho Aaron Stinson nunca tinha sentido curiosidade em encontrar sua família biológica ou necessidade de procurar algo mais.
“Eu me senti realizado como criança e que estava onde deveria estar”, disse ele. Mas quando sua irmã fez o teste de DNA, ele decidiu fazer também.
Enquanto trabalhavam com vários registros e outros meios para identificarem sua mãe biológica, descobriram que ela havia falecido alguns meses antes de poderem se reunir.
“Acho que houve um momento em que me senti um pouco triste por nunca ter tido a oportunidade de, pelo menos encontrá-lo uma vez, e dizer ‘oi’ e ‘obrigado’, ou o que quer que viesse à mente”, disse ele.
Sherilyn Stinson disse que ficou arrasada ao saber da morte da mãe biológica de seu filho, depois de ter se esforçado tanto para identificá-la. “Temos uma dívida tão grande com essas corajosas mulheres, e ansiávamos pelo dia em que poderíamos lhes agradecer. Teremos que esperar até a próxima vida para agradecer a ela.”
Mas Aaron Stinson conseguiu se conectar com uma meia-irmã através do teste de DNA, e eles se veem de vez em quando. Eles têm um bom relacionamento, com limites que ambos apreciam.
“Não sei se emocionalmente eu seria capaz de lidar com o que minha irmã tem com sua mãe biológica”, disse ele. “Acho que isso é o que se perde quando você ouve algumas histórias de reunião de adoção. Algumas pessoas pensam que todos precisam procurar. Mas acredito que existem pessoas, como eu, que estão bem. Aquela é a família delas, e isso é o suficiente para elas.”
Cura e sensação de plenitude
Rasmussen disse que, enquanto crescia, nunca teve sentimentos negativos sobre ser adotada. Ela nunca teve um vazio que precisasse ser preenchido. Para Morgansen, isso foi uma maravilhosa bênção.
"Como mãe biológica, aquilo pelo qual mais orei foi que minha preciosa filha fosse amada e ensinada sobre nosso Pai Celestial e Jesus Cristo, e o amor Deles por ela", disse Morgansen. "Ela sabe quem ela é, uma filha de Deus, e seus pais são pais maravilhosos que incutiram isso nela. Ela não tinha carência alguma que precisasse ser suprida."
Encontrar-se e manter contato ajudou Morgansen a se curar, mesmo sem ela saber que precisava disso. Seu marido e filhos ficaram felizes por ela e por conhecer Rasmussen. Na verdade, ambas as famílias são semelhantes, com relacionamentos próximos e amorosos com primos, tias, tios e membros da família.
Rasmussen disse que sempre se sentiu grata por sua vida.
“Eu sempre soube que talvez nunca soubesse. E eu estava bem com isso”, disse ela. “Eu sempre soube que, se fosse para acontecer, aconteceria.”
Aaron Stinson disse: “Estou contente com a maneira como minha vida tem sido. Sinto que houve uma intervenção divina para me levar à família em que estou. Saber, acreditar e compreender, isso foi o suficiente para mim.”
Os pais adotivos são heróis na mente de Morgansen.
“Isto não tem sido apenas eu e Allison nisso tudo; seus pais têm estado envolvidos em todos os aspectos de tudo isso também, e eu os amo muito.”