Cinquenta anos depois de Krešimir Ćosić, da Universidade Brigham Young, encerrar sua carreira no basquete universitário como membro do Hall da Fama, e ajudar a preencher o então novo Marriott Center com fiéis torcedores dos Cougars, o time masculino de basquete da BYU viajou para o outro lado do mundo para retribuir o favor.
No mês passado em Zadar, Croácia, treinadores e jogadores da BYU visitaram a cidade natal do falecido Ćosić, se reconectaram com sua família e jogaram uma partida amistosa em 23 de agosto, na arena que leva seu nome.
Mas a vida e o legado de Ćosić foram mais do que apenas jogar e treinar outros jogadores de basquete: ele foi batizado como membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias enquanto estava na BYU, chamado como missionário especial para compartilhar o evangelho no decorrer de sua vida diária, ajudou a levar o Livro de Mórmon e organizar unidades da Igreja na Croácia, e serviu como vice-embaixador nos Estados Unidos.
Tudo isso antes de sua vida terminar em 1995, quando ele faleceu aos 46 anos de linfoma não Hodgkin em Baltimore, Maryland.
Com a visita a Zadar, o técnico da BYU, Mark Pope, esperava que sua equipe aprendesse a lição sobre como viver uma vida multifacetada. É algo que o próprio Pope aprendeu, admitindo que sabia pouco sobre Ćosić quando iniciou seu trabalho na BYU em 2011, na época como treinador assistente.
“Uma das coisas incríveis sobre Krešimir é que ele foi um dos grandes jogadores internacionais, nomeado All-American [melhores jogadores dos E.U.A.] e escolhido três vezes no draft da NBA”, disse Pope no final da estadia em Zadar. “Estas foram, provavelmente, [uma das] coisas mais importantes que ele fez na vida.
“Ele é um grande exemplo de ser um grande jogador de basquete e um embaixador ainda melhor para o mundo e seu país. Adoro usá-lo como exemplo para nossos rapazes.”
Ćosić na BYU
Ćosić começou a jogar basquete na adolescência, foi membro da seleção da Iugoslávia aos 18 anos e jogou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1968 na Cidade do México, México. O pivô de 2,10m, que era tão hábil em driblar entre as pernas e passes pelas costas, quanto de jogar perto da cesta, se tornou na época o que era algo raro: um recruta universitário internacional, atraído para a BYU sob comando do técnico Stan Watts, pelo estilo de jogo acelerado dos Cougars.
Com seu inglês limitado dificultando a compreensão completa, Ćosić chegou à BYU, uma instituição patrocinada pela Igreja, sem saber que era uma universidade religiosa, com um código de honra que proíbe álcool e tabaco, e enfatiza a conduta moral. Em vez de desistir e retornar ao país e ao estilo de vida com os quais se sentia confortável, Ćosić permaneceu na universidade, brilhou no esporte e em 1971 foi batizado pelo erudito santo dos últimos dias, Hugh Nibley.
“Há uma centena de razões pelas quais eu não deveria filiar-me à Igreja”, disse ele mais tarde, “e apenas uma razão pela qual eu deveria: porque é verdadeira.”
Depois de jogar seu primeiro ano no time de calouros da BYU, Ćosić foi homenageado três vezes pela Western Athletic Conference [Conferência Atlética do Oeste], em suas últimas três temporadas com os Cougars e levou o time a dois títulos da WAC. Ele alcançou o título de All-American em seu terceiro ano, sendo o primeiro jogador internacional a ganhar o prêmio, com média de 22,3 pontos e 12,8 rebotes naquela temporada, e depois, em seu último ano, 20,2 pontos e 9,5 rebotes.
Ele terminou sua carreira universitária com 1.512 pontos, 919 rebotes e 47 duplos-duplos [jogos em que um jogador atinge dois dígitos (10 ou mais) em duas estatísticas no mesmo jogo: número de pontos, rebotes, assistências, bloqueios ou roubadas de bola].
Depois da BYU
Uma carreira profissional na NBA parecia provável para Ćosić, que foi escolhido no draft após seu primeiro ano pelo Portland Trail Blazers e após seu último ano pelo Los Angeles Lakers. Mais tarde, o Boston Celtics fez uma tentativa de contratar o esguio iugoslavo.
Em vez disso, Ćosić optou por voltar e jogar pela seleção iugoslava por US$ 250 por semana. Ele disputou quatro Olimpíadas, ganhando uma medalha de ouro em 1980 e medalhas de prata em 1968 e 1976, bem como oito campeonatos da EuroBasket e quatro campeonatos da Copa do Mundo de Basquete da FIBA, ganhando o título duas vezes. Ele terminou sua carreira de jogador internacional como o maior artilheiro de todos os tempos do país.
E também jogou e treinou várias equipes profissionais europeias: Iugoslávia, Itália e Grécia, incluindo em seu primeiro ano, quando foi simultaneamente jogador, treinador e diretor de clube no KK Zadar, antes de se concentrar apenas em jogar. Depois de se aposentar como jogador, ele treinou times profissionais e também a seleção da Iugoslávia por vários anos, ganhando uma medalha de prata nas Olimpíadas de Seul em 1988 e medalhas de bronze nos campeonatos da EuroBasket e da Copa do Mundo da Fiba.
Fora o basquete, ele trabalhou para que o Livro de Mórmon fosse traduzido para o servo-croata, se envolvendo pessoalmente na tradução, e também publicado na Iugoslávia. Ele ajudou a facilitar a entrada de missionários no país em 1977 e a organizar ramos da Igreja na cidade onde cresceu, Zadar, sua cidade natal, Zagrebe, e em Belgrado.
Com o início da guerra após a Proclamação da Independência da ex-Iugoslávia pela Croácia, em 1991, Ćosić foi nomeado vice-embaixador nos Estados Unidos, cargo que ocupava quando foi diagnosticado com câncer, em 1994.
Ele entrou postumamente no Hall da Fama do Basquete, em 6 de maio de 1996, o primeiro jogador da BYU a receber tal honra, se juntando a Watts, seu ex-técnico, que havia sido introduzido anteriormente.
Visita da BYU à Croácia
Com viagens e jogos amistosos de verão projetados para fornecerem treinos e jogos adicionais que aprimoram as habilidades no basquete, bem como formam laços como equipe, o time da BYU viajou para a Itália e Croácia de 18 a 28 de agosto. A equipe viajou primeiro pelo norte da Itália, disputando um amistoso e realizando um devocional em Milão, seguido de paradas em Veneza e Trieste, com outra competição nesta última.
Uma vez em Zadar, na costa leste do Mar Adriático, a equipe da BYU e a comitiva dos Cougars chegaram ao Kresimir Ćosić Hall, onde foram recebidos pela família Ćosić e seu ex-companheiro de equipe, Marko Oštarčević. Juntos, eles caminharam por um corredor até a quadra do Ćosić Hall, onde treinadores e jogadores da BYU aprenderam sobre a história da arena e o legado de Ćosić, que continua a inspirar toda a cidade e o país. Uma foto do grupo em frente à estátua de Ćosić, em frente à arena, foi tirada após uma apresentação, e precedeu uma refeição à beira-mar antes do jogo.
“Foi muito divertido nos sentarmos com sua esposa e sua filha, conversar com elas e ouvir histórias”, disse Pope. “Algumas pessoas no grupo acabaram de falar sobre as suas experiências com Krešimir e o quanto ele significa para a Iugoslávia, a Croácia e para eles individualmente. Foi ótimo estar aqui e sentir a reverência que as pessoas têm por ele como jogador de basquete e pessoa.”
Mais tarde naquela noite, na mesma quadra do Ćosić Hall, os Cougars perderam para o atual campeão da liga croata, KK Zadar. Durante o intervalo, o vice-diretor atlético da BYU, Brian Santiago, presenteou a esposa de Ćosić, Ljerka, e a filha Ana, com réplicas de camisetas com o nome de Ćosić e o número 11, semelhantes às que ele usou durante sua carreira na BYU.
A viagem da BYU terminou na Croácia com paradas em Split e Dubrovnik e um desempenho de 3-1 nos quatro jogos amistosos.
O que os jogadores da BYU disseram
O que os membros do time de basquete da BYU disseram sobre suas experiências e atividades com a família Ćosić e sobre estarem em Zadar?
Dallin Hall, um estudante do segundo ano, de 1,93m de Plain City, Utah, disse: “Acho que foi muito especial ver o tipo de impacto que uma pessoa pode causar. A família Ćosić foi realmente incrível, muito gentil. Dá para perceber o quanto as pessoas de lá apreciam o que [Ćosić] fez pelo basquete. Foi legal vivenciar uma cultura e um grupo de fãs fiéis, super apaixonado pelo jogo de basquete. Sinto-me grato pelo que a família Ćosić fez.”
Spencer Johnson, um estudante do último ano, de 1,98m de American Fork, Utah, gostou muito, tanto de seu retorno à Itália, onde serviu como missionário, quanto das experiências da equipe em Zadar: “Foi muito legal estar de volta aqui, na cidade natal de Krešimir, e poder conversar com sua família e ouvir seu legado: ele voltou para sua cidade e país natal, ele é um herói para essas pessoas, [e também] ouvir o impacto que ele teve em tantas pessoas.”
Até a recente viagem, Richie Saunders, um estudante do segundo ano, de 1,98m, de Riverton, Utah, realmente só conhecia Ćosić como um ex-cougar cuja camisa aposentada fica bem acima da quadra do Marriott Center. “Foi legal ver o quão grande sua influência realmente é. Eu o tinha visto apenas como uma camisa nas vigas, mas foi legal ver como todo mundo o conhece e o respeita. Por causa disso, eles sabem quem é a BYU e nós sabemos quem é Ćosić. Temos três jogadores internacionais em nossa equipe e acho que grande parte disso vem dele ter jogado na BYU.”