Um pedaço do Muro de Berlim está exposto no escritório de Élder Dieter F. Uchtdorf no Edifício de Administração da Igreja em Salt Lake City. Este pequeno fragmento de concreto tem grande significado para o membro do Quórum dos Doze Apóstolos de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Nascido em 1940, o jovem Dieter cresceu em Zwickau, na antiga Alemanha Oriental. Quando tinha cerca de 11 anos de idade, seu pai passou a ser cada vez mais vigiado por ser um dissidente político, e seus pais decidiram que sua família deveria fugir para a Alemanha Ocidental.
Os Uchtdorfs estavam entre os 2,5 milhões de alemães orientais estimados que fugiram para a Alemanha Ocidental entre 1949 e a construção do Muro de Berlim, em 1961. A República Democrática Alemã ergueu a grande barreira de concreto para cortar o acesso dos alemães orientais a Berlim Ocidental e à Alemanha Ocidental.
Em 9 de novembro de 1989 — há 35 anos neste mês — o muro que havia se tornado o símbolo da Guerra Fria foi derrubado. A fronteira foi aberta e os alemães orientais puderam viajar livremente para o oeste.
“Mantenho um pedaço do Muro de Berlim em meu escritório para me lembrar deste grande milagre”, escreveu certa vez o Élder Uchtdorf nas redes sociais. “Nunca pensei que isso aconteceria durante minha vida.”
Os santos dos últimos dias na Alemanha têm demonstrado décadas de “humilde coragem” e “amorosa persistência“, o que tem feito a Igreja progredir na Alemanha, disse Élder Uchtdorf depois de retornar de uma visita a Berlim em 2018.
“Kleine schritte helfen”, disse ele, traduzindo, “Pequenos passos ajudam.”
O milagre de um templo na Alemanha Oriental
Após a rápida construção do Muro de Berlim em 1961, os santos dos últimos dias na Alemanha Oriental ficaram em condições difíceis.
Um trecho de um artigo do Church News [em inglês] fornece algum contexto: “Restrições foram estabelecidas sobre como os membros poderiam adorar. O estado exigiu notificação de reuniões e até mesmo monitorava as reuniões dominicais. Escrituras, manuais, guias e até mesmo hinários não eram permitidos no país. Em certo ponto, toda literatura não autorizada foi queimada. Muitas congregações nem sequer tinham liderança estabelecida.”
Não havia patriarcas, o trabalho missionário era proibido, e o muro impedia os membros da Igreja de visitarem o Templo Suíço [em inglês], o único templo na Europa. No entanto, os membros isolados e devastados pela guerra continuaram a se reunir e a se fortalecerem.
Em 1968, o então Élder Thomas S. Monson visitou a República Democrática Alemã e se reuniu com membros da Igreja na cidade de Görlitz.
Impressionado pela fé inabalável e confiança no Senhor, o jovem Apóstolo e futuro Presidente da Igreja fez uma promessa ousada ao povo [em inglês]: “Se vocês permanecerem leais e fiéis aos mandamentos de Deus, todas as bênçãos que qualquer membro da Igreja desfruta em qualquer outro país serão suas.”
Élder Monson retornou em 1975 para dedicar a terra para a obra do Senhor. Em sua oração dedicatória [em inglês], Élder Monson suplicou por muitas bênçãos específicas para os santos da Alemanha Oriental, incluindo uma maneira de receber as bênçãos do templo.
Quando Élder Uchtdorf soube dessas promessas pela primeira vez, ele disse que ficou cheio de gratidão, mas também de incerteza.
“Parecia não haver nenhuma maneira possível de que estas belas promessas ao nosso povo pudessem acontecer durante sua vida, se é que aconteceriam. Como um templo poderia ser construído e operar na Alemanha Oriental? … Eu me senti de alguma forma como o homem que clamou: ‘Eu creio, Senhor; ajuda a minha incredulidade’”, lembrou o então Presidente Uchtdorf, conselheiro na Primeira Presidência, durante o Simpósio de História da Igreja de 2014.Em seu diário, o então Élder Monson registrou várias experiências [em inglês] que lhe confirmaram que a obra do Senhor avançaria com fé. Membros locais, incluindo Henry Burkhardt, foram fundamentais na construção de um relacionamento com o governo da República Democrática Alemã. Pouco a pouco, as bênçãos prometidas vieram.
Dez anos após a oração dedicatória de Élder Monson, Presidente Gordon B. Hinckley dedicou em junho de 1985 o Templo de Freiberg Alemanha, o primeiro templo na região da antiga Cortina de Ferro.
“A construção do templo de Freiberg é um dos grandes milagres da história da Igreja na Europa”, disse o então Presidente Uchtdorf, em 2014. “É um exemplo maravilhoso de como Deus pode tornar o impossível, possível em qualquer parte do mundo.”
A queda do Muro de Berlim
Na noite de 9 de novembro de 1989, Élder Uchtdorf e sua família estavam juntos em casa na Alemanha, quando souberam que o Muro de Berlim havia sido aberto. Ele estava servindo como presidente de estaca na região de Frankfurt na época.
“Foi um momento realmente comovente”, ele relembrou em uma entrevista de 2014 ao Deseret News [em inglês]. ”Imediatamente pensei em nossa família no leste. Nossos pensamentos foram para os membros da Igreja, devo dizer. Tivemos presidentes de distrito e outros líderes da Igreja hospedados em nossa casa. Nossos corações se voltaram imediatamente para eles. ‘O que eles vão fazer?’”
Élder Spencer J. Condie estava servindo na presidência da Área Europa e assistiu aos acontecimentos de 9 de novembro de 1989 pela televisão em um quarto de hotel em Madri, Espanha.
“Por um tempo, aquilo foi perturbador para a Igreja de uma forma maravilhosa”, disse o Setenta Autoridade Geral emérito ao Deseret News. “Muitas pessoas, que não tinham saído da Alemanha Oriental há 45 anos, queriam ver suas famílias em Stuttgart ou Frankfurt.”
A Igreja logo realinhou estacas para incluir congregações da Alemanha Oriental e Ocidental. Em julho de 1990, missões foram abertas [em inglês] na Polônia, Tchecoslováquia e Hungria, países anteriormente comunistas. Os missionários puderam compartilhar o evangelho de Jesus Cristo com pessoas que haviam sido privadas dos ensinamentos do evangelho por quase 50 anos.
Presidente Wolfgang Paul da Missão Dresden Alemanha disse ao Church News em 1991: “O povo de Dresden, por tanto tempo escondido das belezas de conhecer o Salvador, está respondendo à mensagem do evangelho. Eles têm fome da verdade e aceitam muito bem os missionários.”
A reunificação da Alemanha foi oficializada em 3 de outubro de 1990, hoje comemorada anualmente como o Dia da Unidade Alemã. Ainda servindo como presidente da estaca, Élder Uchtdorf realizou uma reunião especial da estaca de Frankfurt naquele dia.
Foi a primeira vez em sua vida que uma congregação alemã cantou o hino nacional alemão, disse ele ao Deseret News. “E o fizemos com todo o nosso coração. Foi um momento tocante. Naquela época, muitas lágrimas caíram.” Élder Uchtdorf tem servido como autoridade geral desde 1994.
Durante uma designação à Alemanha e Áustria em abril de 2019, Élder Uchtdorf se reuniu com o Ramo Görlitz da Alemanha, onde o então Élder Monson, meio século antes, prometeu todas as bênçãos do evangelho restaurado.
Reunidos com os membros do ramo estavam membros da Alemanha e da Polônia e presidentes de missão de Berlim e Varsóvia. “Para mim, isso é sempre um símbolo do poder do evangelho restaurado de Jesus Cristo, e mesmo nas circunstâncias mais difíceis, o evangelho une as pessoas”, disse Élder Uchtdorf.
“Houve uma união, uma reconciliação no mais alto grau, por causa do evangelho e da Igreja”, acrescentou ele. “Aqui você vê uma reconciliação em ação por causa dos valores e verdades do evangelho.”
Por que isso importa hoje: Uma lição de união
Em uma postagem nas redes sociais em novembro de 2019 [em inglês], comemorando os 30 anos da queda do Muro de Berlim, Élder Uchtdorf continuou a mensagem de união.
“Com o tempo, o milagre da união aconteceu para a Alemanha”, escreveu Élder Uchtdorf. “Há uma grande necessidade de união em nossos relacionamentos humanos também. Talvez tenhamos ‘muros’ figurados em nossas famílias, em nossas amizades, em nossas vidas. Quando nossos muros caem, podemos pensar: ‘Como é possível sentir união quando somos tão diferentes?’”
Em tais circunstâncias, o Élder Uchtdorf sugeriu reaplicarmos os ensinamentos do Salvador. “O Salvador é aquele que pode nos ajudar a derrubar nossos muros”, disse ele. “Tentamos perdoar mais, ser mais gentis, mais compreensivos, mais solidários uns com os outros. Se cometermos erros (e cometeremos), temos o dom do arrependimento para consertar nossos relacionamentos pessoais e nosso relacionamento com Deus”.
“Lembrem-se, por causa do sacrifício do Salvador, podemos experimentar o milagre da união em todos os relacionamentos que temos em nossa vida.”