HAMILTON, Nova Zelândia — Aos 86 anos, Hoki Purcell admite que sua audição não é mais o que costumava ser. Mas peça para que ela e outras pessoas, que se lembrem de suas experiências no programa de missionários de serviço de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Pacífico Sul desde o início da década de 1950 até a década de 1970 — especialmente sobre a construção da Church College of New Zealand [Faculdade da Igreja da Nova Zelândia] e do Templo da Nova Zelândia na área de Temple View, no sudoeste de Hamilton — e sua mente se torna afiada e sua inteligência aguçada.
E sua visão? Bem, ela está vendo coisas. OK, vendo as coisas de uma forma figurada.
“Este lugar é sagrado para nós”, disse ela. “E quando olho para o templo, eu vejo os missionários de serviço.”
Isso significa que ela também está se vendo, já que ela e seu marido, Owen Purcell, de 89 anos, serviram juntos como missionários de serviço, trabalhando no projeto do Templo da Nova Zelândia pouco antes de sua dedicação, há quase 65 anos.

Apenas dois dias antes do domingo, 16 de outubro, com a rededicação do que hoje é conhecido como o Templo de Hamilton Nova Zelândia por Élder Dieter F. Uchtdorf, do Quórum dos Doze Apóstolos, os Purcells se juntaram aos companheiros missionários Waitoki Elkington, 92 anos, e George Chase, 82, para compartilharem com o Church News histórias do passado e perspectivas atuais para o que eles esperam que se estenda no futuro.
“Naturalmente, é maravilhoso”, disse Chase enquanto olhava para o templo. “Quando eles disseram que estávamos aqui para construí-lo para a eternidade, era isso que eu esperava.”
Embora a Church College tenha fechado no final dos anos 2000, alguns prédios foram reutilizados e reformados, enquanto outros foram demolidos para darem lugar a uma nova combinação de sede de estaca e salão cultural, e um novo conjunto habitacional. O legado dos missionários de serviço é sustentado por meio de exposições no Matthew Cowley Church History Center and Museum [Centro de História da Igreja e Museu Matthew Cowley], um parque de bairro construído em homenagem, e um vídeo do YouTube produzido pela Área do Pacífico da Igreja no início deste ano [em inglês].
Originalmente apelidado de “O Projeto”, os esforços de construção dos missionários de serviço começaram no início da década de 1950 com a Church College, na verdade uma escola secundária, e se expandiram para o templo em meados da década de 1950, com o então Presidente da Igreja, David O. McKay, dedicando tanto a faculdade quanto o templo em 1958. Mas também incluiu capelas e escolas em todas as ilhas do Pacífico Sul e até a vila Maori no Centro Cultural Polinésio.
Gerentes de construção experientes foram trazidos para dirigirem e supervisionarem o trabalho que estava sendo feito, principalmente por jovens homens maoris, mas também por casais e jovens famílias que foram chamadas.
Chase tinha 17 anos e foi com seu pai à rodoviária, indo para Rotorua para um treinamento. Eles encontraram George R. Biesinger, um dos supervisores de construção, que perguntou o que o adolescente estava fazendo, e o convidou para uma missão de serviço.
“Naquela época, você ouvia seu pai”, disse Chase, que fazia isso e trabalhava, não como aprendiz remunerado, mas como missionário de serviço que recebia 10 libras xelins por semana (10 xelins equivaliam a um dólar). Casais e famílias receberam o dobro dessa quantia.
Foi pedido aos santos dos últimos dias locais que ajudassem com doações e contribuições para ajudar a financiar os missionários de serviço e seus esforços de construção. Os membros contribuíram com dinheiro, roupas e alimentos. Quando a carne e os legumes demoravam a chegar de distritos distantes da Igreja, os missionários de serviço viam ofertas de refeições repetidas, levando à frase “a mesma sopa de sempre.”

Ele chegou no final de 1957 e trabalhou cerca de seis meses antes da dedicação do templo, nos degraus de concreto, calçadas e muros ao redor da propriedade.
Dado seus esforços de construção de capelas, escolas e outros edifícios relacionados à Igreja em toda a área, Chase gosta de rotular os missionários de serviço como “os pais fundadores do Pacífico Sul”.
Owen Purcell chegou mais ou menos na mesma época e trabalhou nas mesmas escadas e muros antes de passar para os projetos da escola. Ele recebeu seu “chamado” como missionário de serviço em um domingo, quando ficou em casa e faltou às reuniões da igreja, se sentindo sonolento e com dor de cabeça. Sabendo que seria um trabalho árduo e que ele estava menos-ativo na Igreja na época, ele ponderou as opções de realizar o trabalho ou ficar em casa.

“Fiquei aqui e permaneci ativo por toda a minha vida”, disse ele, acrescentando que usou o mesmo compromisso de ‘tudo ou nada’ com o que chama de “problema com a Palavra de Sabedoria” na época.
“Prometi nunca mais voltar a ele e, depois de um mês, esse problema ‘foi para o lixo.’”
Porém foram quatro anos de trabalho físico árduo e exigente, às vezes um trabalho inseguro para Owen Purcell. Ele se lembra dos dias quentes de verão em dezembro, de pé no topo da colina onde fica o templo, imaginando não apenas como ele iria direcionar um carrinho de mão duplo pela encosta sem despejar seu conteúdo, mas também ponderando “o que estou fazendo aqui.”

“Mas isso me ensinou uma lição”, disse ele. “Mas a recompensa foi vê-lo concluído. No fim, estávamos todos convertidos e [sabíamos que] a Igreja era verdadeira.”
Como as esposas dos homens que serviam como missionários de serviço, Hoki Purcell tinha tarefas a cumprir no templo e projetos escolares, além das responsabilidades familiares. Ela se lembrou de ter recebido uma escova de dentes para limpar os detritos do novo rejunte instalado nos banheiros do templo, com o supervisor de construção, E. Albert Rosenvall, que mais tarde foi chamado como o primeiro presidente do Templo da Nova Zelândia, dizendo a ela para “pensar nisso como limpa seus dentes, queremos que estejam limpos e brilhantes.”
Ela estava entre as 12 irmãs solicitadas para cuidarem cada uma, de um dos 12 bois de metal para serem instalados na base da pia batismal e limparem o gesso e os detritos dos cascos e das pernas. Elas receberam pequenas picaretas e cinzéis, com instruções para não riscarem ou amassarem o metal.

Ela tentou tornar o trabalho um pouco mais leve, nomeando seu boi “Ferdinand” e incentivando as outras irmãs a nomearem o delas. Então ela começou a cantar para passar o tempo, até que Rosenvall entrou com um dedo pressionado os lábios, indicando silêncio.
“’Você está realizando um trabalho sagrado’”, ela se lembra de ter ouvido Rosenvall falar. “Aprendi uma grande lição naquele dia. Achávamos que era um trabalho árduo, trabalhoso e chato, mas ele nos lembrou que tudo o que fazíamos era sagrado para o Senhor.”

Ela se lembra da noite familiar nas noites de segunda-feira, quando os missionários e suas famílias se reuniam no refeitório Kai Hall, com Biesinger fornecendo uma atualização sobre o trabalho da semana anterior e as metas de construção para a semana seguinte. Os missionários compartilhavam música e testemunhos, com sorvetes sendo distribuídos.
“Éramos tratados como parte do plano, parte da família”, disse ela.
Elkington serviu duas vezes com seu marido, John, como missionários de serviço, primeiro em 1951 na construção da escola quando eles tiveram um filho, e novamente mais tarde para trabalharem no projeto do templo em 1957.

“Meus sentimentos eram de alegria”, disse ela sobre voltar para ajudar a cozinhar e limpar para os homens e jovens que trabalhavam no templo. Os Elkingtons haviam perdido um filho muito cedo, e por isso estavam se perguntando como iriam ao templo no Havaí para selarem a família. “Agora não havia mais necessidade: tínhamos um templo aqui.”
Ainda assim, Waitoki Elkington enfrentou outro desafio, pois o templo estava terminando sua fase de construção e sendo preparado para a dedicação. As finanças limitadas significavam que várias famílias não tinham dinheiro para comprarem roupas e as vestimentas do templo, uma vez que o templo fosse aberto para o trabalho de ordenanças.
Para ganharem dinheiro para cobrir aqueles custos, Elkington e cerca de meia dúzia de outros membros se levantavam antes do amanhecer e iam aos campos próximos para ensacar batatas.
“Construir o templo valeu muito a pena”, disse ela, “mas poder ir ao templo foi o ponto alto. Quando você viu seus companheiros missionários vestidos de branco e o profeta vestido de branco para a dedicação, aquilo foi o sagrado ponto culminante.”
