Várias vezes ao longo dos anos, Kate Holbrook convidou sua ex-professora e amiga, Ann D. Braude, da Harvard Divinity School, para discursar em eventos patrocinados pelo Departamento de História da Igreja de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Somente após chegar a cada evento é que Braude compreendia a pauta estratégica que Holbrook seguia com os convites.
Holbrook estava “construindo uma ponte” na conversa bidirecional entre o estudo da história santo dos últimos dias e o campo dos estudos das mulheres e, além disso, fazendo conexões com as pessoas, disse Braude.
Uma das visitas mais memoráveis de Braude, ocorreu em 2017, quando ela foi convidada a participar de uma conferência sobre organizações religiosas femininas. Como parte do evento, Holbrook organizou um café da manhã, no qual apresentou Braude a vários líderes santos dos últimos dias, incluindo Élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos; a irmã Bonnie L. Oscarson, ex-presidente geral das Moças; a presidente Bonnie H. Cordon, que na época servia como conselheira na presidência geral da Primária, mas que agora serve como presidente geral das Moças; a irmã Sharon Eubank, então primeira conselheira na presidência geral da Sociedade de Socorro e atual diretora de Serviços Humanitários da Igreja; e vários outros.
Braude disse que, como uma estudiosa dedicada ao estudo de mulheres que foram líderes em religião, a reunião foi informativa e proporcionou aos líderes da Igreja a chance de aprenderem com alguém que não compartilha da mesma fé.
“Que proeza de diplomacia bidirecional Kate conseguiu realizar. Sempre fiquei feliz por poder ajudar Kate da maneira que ela achasse melhor”, disse Braude. “Sempre houve um plano, o qual tinha o propósito de construir pontes. (...) Espero que outros tenham visto isso e deem continuidade ao que ela começou.”
Holbrook foi o cérebro por trás do ‘Simpósio sobre Mulheres, Religião e Registros’ [em inglês]. A falecida escritora, historiadora e defensora da história das mulheres santos dos últimos dias concebeu o tema do evento, depois identificou e convidou os participantes antes de falecer em agosto passado, vítima de câncer, aos 50 anos de idade.
Como resultado, muitos participantes, inclusive Braude, prestaram homenagem a Holbrook no simpósio realizado no sábado, 25 de fevereiro, no Teatro do Centro de Conferências em Salt Lake City, Utah, no qual a mãe e familiares de Holbrook estavam presentes.
Simpósio sobre mulheres, religião e registros
O simpósio, patrocinado pelo Departamento de História da Igreja, apresentou um grupo de ilustres estudiosos que discutiram seu conhecimento histórico e arquivístico sobre registros de experiências religiosas de mulheres, incluindo no cristianismo, judaísmo, islamismo e hinduísmo, durante os últimos 300 anos.
O simpósio também comemorou a publicação de vários projetos notáveis que destacam as experiências das mulheres santos dos últimos dias, como os escritos de Eliza R. Snow e Emmeline B. Wells, ex-presidentes da Sociedade de Socorro.
O simpósio serviu para colocar o trabalho que a Igreja tem realizado, sobre a história das mulheres santos dos últimos dias, em diálogo com temas e abordagens mais amplos na história religiosa dos Estados Unidos e na história das mulheres, disse Lisa Olsen Tait, historiadora administrativa do Departamento de História da Igreja.
“As obras que publicamos são uma grande bênção para a Igreja, e muitos santos dos últimos dias têm encontrado histórias e exemplos significativos nessas publicações. No entanto, elas também são um recurso abundante para estudiosos da história das mulheres e da história religiosa. O simpósio ajudou a tornar esses recursos conhecidos”, disse Tait. “Coletaremos as apresentações e publicaremos um livro dos relatórios do simpósio. Isto fornecerá outro recurso para pesquisadores, no qual a história das mulheres santos dos últimos dias faz parte da perspectiva completa.”
Reflexões de Kate Holbrook
Braude fez parte de um painel com três pessoas, que compartilhou “Reflexões sobre o trabalho da Dra. Kate Holbrook” durante o simpósio. Sam Brown, que participou do evento, escreveu sobre o painel nas redes sociais: “Um painel em memória a Kate, entre outros conteúdos maravilhosos.”
Holbrook sabia como apresentar um convite para uma conferência e quando compartilhar uma receita, disse Braude, e graças à sua visão, criatividade, inteligência e esforços incansáveis nos últimos 20 anos, as mulheres santos dos últimos dias têm menos probabilidade de se sentirem mal representadas em ambientes acadêmicos.
Braude disse que ela e Holbrook são membros da mesma tribo.
“É a tribo de mulheres intelectuais que combinam o estudo e a administração para amplificar as vozes das mulheres religiosas e colocá-las em diálogo umas com as outras”, disse ela. “As integrantes desta tribo devem sentir, pelo trabalho de outros estudiosos, o mesmo amor que sentem por seu próprio estudo. Isto exige o reconhecimento de que uma só voz não pode dizer o que precisa ser dito, e que ampliar o nosso conhecimento da verdade requer várias vozes femininas. Kate não apenas entendia isso intelectualmente, mas o sentia em seu coração.”
Holbrook era uma “professora transformadora” e uma “escritora visionária”, disse Laurel Thatcher Ulrich, da Universidade de Harvard.
Jill Mulvay Derr, do Departamento de História da Igreja, elogiou as contribuições de Holbrook para as obras “Os Primeiros 50 Anos da Sociedade de Socorro” e “No Púlpito: 185 Anos de Discursos de Mulheres Santos dos Últimos Dias” [links em inglês], além de sua campanha para estudos mais extensos sobre a vida das mulheres. Ela contava as histórias das pessoas de maneira justa, e se dedicava a recuperar as experiências que outros historiadores consideravam triviais, comuns ou insignificantes. Ela estava preocupada em ensinar as pessoas do passado e do presente, e construir relacionamentos que sustentassem indivíduos por muito tempo.
“Fui sustentada por tal ensino de Kate, e este é o seu legado duradouro”, disse Derr.
História das mulheres santos dos últimos dias
Uma sessão do simpósio deu ênfase exclusiva ao trabalho das mulheres no Departamento de História da Igreja.
Jennifer Reeder, especialista em história das mulheres do século XIX, forneceu informações sobre a importância de projetos digitais recentes, como os discursos de Eliza R. Snow e os diários de Emmeline B. Wells.
Os escritos das duas mulheres santos dos últimos dias da era pioneira estão entre os numerosos documentos preservados no Departamento de História da Igreja, incluindo escritos pessoais, correspondências e autobiografias, bem como trabalhos manuais, amostras, colchas, enfeites de cabelo e outros artefatos feitos por mulheres.
“Cada um, à sua maneira, é um registro valioso de sua fé, religião vivida, familiares e comunidade local, cultura, política e economia, tanto individual quanto institucionalmente”, disse Reeder.
Reeder destacou os seguintes registros:
- Volumes de livros de atas das organizações da Sociedade de Socorro, das Moças, dos Rapazes e da Primária, de 1842 ao século XX.
- O Women’s Exponent [em inglês], um jornal bimestral, criado e dirigido pela Sociedade de Socorro. “As mulheres santos dos últimos dias editaram, coletaram e publicaram mais de 700 resumos biográficos, obituários e séries autobiográficas em 42 anos de publicação”, disse Reeder. “Os relatórios das atas da Sociedade de Socorro local, assim como a correspondência com líderes nacionais do movimento pelo direito ao voto, fazem do Women’s Exponent um verdadeiro tesouro.”
- A publicação de “Women of Mormondom” por Edward W. Tullidge, uma coleção de escritos autobiográficos de mulheres santos dos últimos dias.
- A Caixa do Memorial do Jubileu. Quando a Igreja comemorou seu 50º aniversário em 1880, o qual foi chamado de ano do jubileu, os historiadores coletaram registros, tais como resumos biográficos, histórias, genealogias, cartas de aconselhamento, fotografias, panfletos, artigos de jornal, poesias e outros itens, para serem armazenados em uma caixa. A caixa foi aberta décadas depois, e o conteúdo foi distribuído às descendentes vivas mais velhas. Alguns foram retornados à Biblioteca de História da Igreja.
- O livro “Representative Women of Deseret”, escrito por Augusta Joyce Crocheron em 1884, o qual contém mais de 20 biografias e fotografias de mulheres.
- Os Discursos de Eliza R. Snow.
- Os diários de Emmeline B. Wells.
- ‘No púlpito: 185 Anos de discursos de mulheres santos dos últimos dias’ [em inglês].
- Os primeiros 50 anos da Sociedade de Socorro [em inglês].
- O diário de prisão de Belle Harris, escrito em 1883.
- Projetos futuros incluem uma história da organização das Moças, a qual destaca a história, currículo, atividades, liderança e eventos, de 1870 até o presente; a transcrição das atas da Sociedade de Socorro do século XIX; e um projeto para catalogar os nomes de parteiras nos primórdios da Igreja e criar um banco de dados.
Jill Mulvay Derr e Elizabeth Kuehn, historiadoras do Departamento de História da Igreja, apresentaram pesquisas sobre os escritos de Snow: Derr sobre sua poesia e Kuehn sobre seu ministério público em Utah no século XIX.
Quando Snow faleceu, em 1887, o jornal The New York Times destacou a “perda da poetisa mórmon, uma das figuras centrais do universo santo dos últimos dias”, disse Derr.
“Reverenciada como poetisa de Sião pelos santos dos últimos dias de sua geração, Snow foi, sem dúvida, a principal mulher letrada a emergir do início do mormonismo. Seu legado de registros inclui diários, cartas, discursos, ensaios, recitações infantis, uma biografia familiar e uma breve autobiografia, bem como mais de 500 poemas. Seus poemas (...) documentam sua fé, seus pensamentos, seus relacionamentos e, igualmente importantes, a história e a teologia dos santos dos últimos dias do século XIX.”
O tema da apresentação de Tait foi “Redes de Mulheres Santos dos Últimos Dias” encontradas nos diários de Wells, que são praticamente únicas aos registros das mulheres santos dos últimos dias. Os 47 volumes dos diários de Wells abrangem os anos de 1844 a 1920 e fornecem informações, não apenas sobre sua vida, mas também para a compreensão da experiência religiosa vivida pelas mulheres santos dos últimos dias, nas décadas próximas à virada do século XX.
Um padrão interessante que Tait descobriu ao estudar os diários de Wells é que, grande parte de seus compromissos espirituais ocorreu na companhia de outras mulheres e no contexto de relacionamentos profundos e significativos com suas irmãs no evangelho. Tait citou vários exemplos encontrados nos diários.
“Recuperar as fontes e vozes das mulheres da era anterior, como os diários de Wells, trouxe estas práticas de volta à luz e enriqueceu nossa compreensão das vidas espirituais e redes das gerações anteriores”, disse Tait.
Correção: Uma versão anterior deste artigo afirmava que a presidente Bonnie H. Cordon serviu como presidente geral da Primária da Igreja. A irmã Cordon serviu anteriormente como conselheira na presidência geral da Primária e agora serve como presidente geral das Moças.