Esta é a Parte 1 de uma série de três. A Parte 2 abordará o tema da liberdade religiosa na essência do que significa ser humano. A Parte 3 apresentará uma entrevista com Presidente Dallin H. Oaks.
ROMA, Itália — Na época em que era um jovem professor de Direito na Universidade de Stanford, G. Marcus Cole pegou um jornal e notou uma fotografia de um grupo de freiras, vestidas em hábitos, na primeira página. Como não via freiras católicas vestidas em hábitos desde sua juventude, seu interesse foi despertado.
Um grupo de moças queria se juntar à ordem religiosa das freiras, mas não havia espaço suficiente em seu convento. Então, elas contrataram um arquiteto para elaborar os planos de expansão do convento, os quais foram enviados ao Conselho de Supervisores do Condado de San Mateo (Califórnia).
“Quando o condado de San Mateo analisou os planos do arquiteto, sua resposta não foi aprovar ou desaprovar a expansão do convento”, lembrou Cole. “A resposta do condado foi: ‘Este espaço, este terreno, é valioso demais para ser desperdiçado com oração.’”
O condado comprou o terreno por domínio eminente e o disponibilizou a um construtor.
Cole ficou indignado.
“Se você ainda não pensou seriamente sobre a liberdade religiosa, ou se questiona por que ela é importante, permita-me incentivá-lo a refletir sobre aonde a ausência de liberdade religiosa levaria a sociedade.” — Presidente Dallin H. Oaks
Ele tentou encontrar alguém para ajudá-las, mas não conseguiu. “Eu era um advogado de negócios. Eu não achava que estava capacitado para identificar ou trabalhar com questões de liberdade religiosa.”
Mesmo assim, ele nunca esqueceu da história. E, quando se tornou reitor da Faculdade de Direito da Universidade de Notre Dame, ele se comprometeu a proteger a liberdade religiosa para todos.
A liberdade religiosa é sua paixão.
“Eu não sou especialista em direito constitucional. Eu não sou um estudioso da Primeira Emenda dos Estados Unidos. Sou apaixonado por isso pelo simples fato de ser uma pessoa religiosa. Acredito que Jesus Cristo é meu Senhor e Salvador. Eu acredito que Ele me colocou aqui por uma razão. E, talvez, parte desta razão seja ajudar a tornar o mundo seguro para que outras pessoas também O aceitem.”
Preservar a liberdade religiosa
Em julho, Cole e outros líderes religiosos se reuniram na Cúpula da Liberdade Religiosa de Notre Dame de 2022 em Roma, Itália, para discutirem a necessidade de preservar, proteger, restaurar e defender a liberdade religiosa nos Estados Unidos e ao redor do mundo.
“Se você ainda não pensou seriamente sobre a liberdade religiosa, ou se questiona por que ela é importante, permita-me incentivá-lo a refletir sobre aonde a ausência de liberdade religiosa levaria a sociedade”, disse Presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
“Considere onde a sociedade, nossas vidas e nossa religião estariam se não tivéssemos liberdade religiosa. Se não tivéssemos liberdade religiosa, não teríamos o direito de escolhermos em que acreditar, como agir e o que fazer por causa de nossas crenças.
“Aonde a ausência desses direitos nos levaria? Pensem nisso.”
A liberdade religiosa no mundo todo
Presidente Oaks fez um discurso durante a cúpula, pedindo que seja feito “um esforço global para defender e promover a liberdade religiosa de todos os filhos de Deus em todas as nações do mundo”.
Em uma entrevista antes de seu discurso, Presidente Oaks disse: “A representação mais eficaz da liberdade religiosa é a que defende todas as pessoas, quer elas pertençam a uma religião ou não. A liberdade religiosa não é apenas o direito de acreditarmos, é o direito de colocarmos nossas crenças em prática. E também é o direito de nos reunirmos para termos organizações que ensinem e defendam os princípios religiosos que beneficiam a sociedade como um todo.”
Presidente Oaks, ex-juiz da Suprema Corte de Utah, foi homenageado em 2013 pelo Becket Fund for Religious Liberty com a Medalha de Canterbury da organização por sua “coragem em defesa da liberdade religiosa”.
Liberdade fundamental
Durante uma entrevista com Church News, Cole chamou o discurso de Presidente Oaks de magnífico.
“Parte do que ele comunicou foi que o tempo para nos concentrarmos nas diferenças doutrinárias entre denominações já passou”, disse Cole.
“Temos que reconhecer que todos temos uma unidade de espírito quando se trata de riscos à liberdade religiosa, e que as diferenças doutrinárias não importam quando se trata de nos opormos a essa ameaça, porque ela atenta contra todos nós. E ameaça não apenas nossa liberdade de religião, mas todas as liberdade que amamos.”
A liberdade religiosa é fundamental, mesmo para aqueles que não são religiosos, disse Cole. “Uma das primeiras coisas que temos que fazer é separar a liberdade religiosa das guerras culturais”, disse ele. “Temos que explicar às pessoas por que ela é essencial para nossa existência diária em nossa vida cotidiana.”
A liberdade religiosa é a base de todas as liberdades, continuou ele. “Mas, infelizmente, não estamos fazendo a conexão, pelo menos na sociedade americana, entre liberdade de expressão, liberdade de imprensa e liberdade de religião”, disse ele. “A liberdade de religião, ou liberdade de consciência, é necessária para que possamos desfrutar das outras liberdades que temos.”
A pandemia de COVID-19 expôs como a religião e as pessoas religiosas são vulneráveis, já que os grupos religiosos foram alvo de regulamentação discriminatória, disse ele. “As pessoas religiosas são mais vulneráveis em uma crise, precisamente porque há grandes segmentos da população que não reconhecem o papel que a religião desempenha em nossa vida pública.”
O primeiro direito humano
Nury Turkel, presidente da Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional, disse que se manifestar contra a perseguição religiosa e “tomar medidas para proteger as liberdades religiosas, no país e no mundo todo”, é condizente com os valores dos Estados Unidos da América.
A liberdade religiosa é o primeiro direito humano para o povo americano, observou ele.
“Se importar com a liberdade religiosa, se manifestar contra a repressão religiosa e forçar e pressionar nossas autoridades governamentais a fazerem o que é certo nos torna americanos. Isso é o que fazemos.”
Quando as pessoas podem praticar sua religião em paz, isso cria uma “sociedade harmoniosa, pacífica e tolerante”, disse ele.
Turkel disse que ficou emocionado com a mensagem de Presidente Oaks, a qual pediu que sejam feitos esforços globais “para defender e avançar” a liberdade religiosa. A mensagem tocou muitas pessoas e precisa ser repetida, disse ele. “A liberdade religiosa é muito importante para várias pessoas”, disse ele, observando que aqueles que foram alvo de perseguição religiosa também precisam aprender sobre as experiências de outras pessoas.
Uma questão global
Thomas B. Griffith, ex-juiz federal do Tribunal de Apelações dos Estados Unidos para o Circuito do Distrito de Columbia e santo dos últimos dias, enfatizou que a liberdade religiosa é uma questão global. “A liberdade religiosa é um conceito que é frágil nas melhores circunstâncias, e não estamos nas melhores circunstâncias.”
Referindo-se ao pedido feito por Presidente Oaks a respeito da liberdade religiosa no mundo todo, Griffith disse: “Se olharmos para os parâmetros que determinam qual é a condição da liberdade religiosa mundial, podemos constatar que ela não vai bem.”
Para pessoas de fé, existem poucas questões que deveriam ser mais importantes do que a liberdade religiosa, continuou ele. “Nós, americanos, podemos não estar cientes de quão tênue é essa liberdade e como ela precisa ser defendida por todas as pessoas, sejam elas religiosas ou não. É uma questão de consciência; é uma questão de liberdade de pensamento.”