Nota do editor: Este artigo foi originalmente publicado em inglês, em junho de 2017.
OXFORD, Inglaterra — De um assento privilegiado como secretário jurídico nos julgamentos do caso Watergate que culminou com saída do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, no início da década de 1970, Élder D. Todd Christofferson, do Quórum dos Doze Apóstolos, testemunhou como Nixon levou sua presidência ao abismo que o destruiu.
A queda de Nixon foi causada por uma consciência entorpecida, disse Élder Christofferson na quinta-feira, 15 de junho de 2017, quando compartilhou as lições que aprendeu sobre a integridade pessoal e o serviço público, com professores e estudantes da Christ Church College em Oxford, Inglaterra. Com uma consciência alerta, disse ele, Nixon poderia ter interrompido o encobrimento de Watergate e salvo sua presidência.
“Uma consciência fraca e, certamente, entorpecida, abre as portas para casos como os de ‘Watergate’, sejam eles grandes ou pequenos, coletivos ou pessoais — desastres que podem ferir e destruir tanto culpados quanto inocentes”, disse Élder Christofferson.
Ele descreveu a experiência impressionante que compartilhou com John Sirica, Juiz Distrital dos E.U.A., quando eles, por meio de fones de ouvido nos gabinetes de Sirica, se tornaram as primeiras pessoas a ouvirem as fitas secretas da Casa Branca, de Nixon concordando com a chantagem. Ele estava disposto a pagar 1 milhão de dólares aos invasores do complexo Watergate para encobrir a atividade ilegal de seu comitê de reeleição. Não há evidências de que Nixon tenha ordenado ou estivesse ciente da invasão.
Mais de 40 anos depois, Élder Christofferson continua a se perguntar por que Nixon permitiu que o escândalo crescesse e se tornasse corrupção.
“A lição de vida que aprendi com sua experiência”, disse ele, “foi que minha esperança de evitar a possibilidade de uma catástrofe semelhante em minha própria vida, jaz em nunca abrir uma exceção: sempre e, invariavelmente, me submeter aos ditames de uma consciência ética. Deixar de lado a própria integridade, mesmo por atos aparentemente pequenos, em questões aparentemente pequenas, nos coloca em risco de perdermos completamente o benefício e a proteção da consciência.”
O escândalo, que completava 45 anos na semana em que Élder Christofferson proferiu este discurso, teve início quando arrombadores invadiram a sede do Partido Nacional Democrata no hotel Watergate, no dia 17 de junho de 1972, para consertar um grampo telefônico que haviam instalado no mês anterior. A polícia prendeu os invasores. Élder Christofferson, recém-formado em Direito pela Universidade Duke, se tornou secretário de Sirica em agosto do mesmo ano. Em setembro, os invasores foram indiciados no tribunal de Sirica.
O juiz e seu secretário logo desenvolveram um relacionamento profundo. Posteriormente, Sirica pediu a Élder Christofferson que estendesse seu cargo de secretário e lhe conferiu responsabilidades importantes. Ele incumbiu Élder Christofferson de tarefas para lidar com os pedidos da mídia do tribunal, redigir a ordem do juiz exigindo que Nixon entregasse suas gravações e, por fim, entregar o relatório de 50 páginas do grande júri, que revelou o papel de Nixon na conspiração ao Comitê de Impeachment da Câmara, no Capitólio dos E.U.A.
“Sem dúvida, eles eram ‘animais políticos’ com o propósito de alcançar a vitória, mas não iniciaram este processo como criminosos”, disse Élder Christofferson a respeito de Nixon, seu procurador-geral, o consultor jurídico da Casa Branca e outros assessores do então presidente. “Muitos até serviram em organizações militares e filantrópicas. Por que eles agiram de tal maneira e o que nos protege, em nossa vida, nosso casamento, nossa família e nossos empreendimentos escolares e vocacionais, contra erros tragicamente destrutivos ou até mesmo uma conduta criminosa?”
Sua resposta, disse ele, é a integridade. A raiz da integridade é a consciência, a qual ele chamou de “um guia pessoal determinante, que toca profundamente a alma de cada pessoa”. A consciência, acrescentou ele, “requer fé em conceitos e valores morais fixos — como a justiça, a misericórdia, o amor, a honestidade, a generosidade, o autocontrole e a integridade — que existem, independentemente da preferência pessoal.”
Algumas forças hoje estão tentando diluir a influência da consciência na sociedade, atacando a ideia de valores fixos, disse Élder Christofferson. Por exemplo, ele chamou o relativismo moral de inimigo da consciência, pois declara que nenhuma alegação moral pode ser verificada como objetivamente verdadeira ou falsa, ou melhor do que qualquer outra.
“Quando não damos ouvidos à voz mansa e delicada da consciência”, disse ele, um caos de alegações de verdade, confusão e estagnação emerge.
Absolutos morais existem, disse ele. Por exemplo, há um consenso de que falar a verdade é certo, e o perjúrio e a mentira são errados, ou que proteger as crianças é certo e abusar delas é errado. Para Élder Christofferson, a aceitação geral de padrões comuns sugere uma fonte comum, um senso moral. Ele afirmou que, na verdade, a religião serviu para identificar e aprofundar a compreensão das leis morais fundamentais.
“Para que as sociedades justas perdurem, as vozes religiosas e éticas devem ser ouvidas”, disse ele.
Caso contrário, sem um fundamento moral, a política se torna a esfera da força bruta.
“Nesse extremo, os fanáticos morais podem ser tão problemáticos quanto os relativistas morais”, disse ele. “Aqueles, quer sejam religiosos ou laicos, que impõem códigos morais rígidos e intimidam ou hostilizam qualquer pessoa que discorde, estão causando um tipo diferente de dano. Vemos isto na política eleitoral, nos campi e em nossos diversos meios de comunicação. Tais indivíduos se preocupam mais em ganhar do que em colaborar. Eles gastam sua energia humilhando os oponentes, em vez de criarem soluções.”
Por fim, ele incentivou os estudantes e professores da Universidade de Oxford a se dedicarem à integridade pessoal e ao serviço público.
“Uma vida dedicada ao serviço ao próximo permite que a consciência floresça”, disse Élder Christofferson. “Servir proporciona uma barreira natural contra os males que fluem do sulco da vontade pessoal e do interesse próprio.” Uma ênfase altruísta, e além da autonomia e satisfação pessoal, protegerá e fortalecerá a consciência.”