Depois de uma vida repleta de fé, definida pela dedicação, serviço e testemunho, a irmã Patricia Terry Holland, esposa de Élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, faleceu na quinta-feira, 20 de julho de 2023, aos 81 anos.
Ex-líder geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a irmã Holland, mãe de três filhos, com ainda 13 netos e cinco bisnetos, será lembrada por seu apoio constante ao marido, assim como seus esforços para compartilhar amor e luz pelas nações em todo o mundo.
Nascida no dia 16 de fevereiro de 1942 em Enterprise, Utah, filha de Maeser W. e Marilla Terry, a irmã Holland personificou a fé e legado de seus ancestrais pioneiros. Essa fé a levou da isolada comunidade agrícola de sua juventude, ao casamento e maternidade, liderança geral da Igreja e à visibilidade dos chamados de seu marido, e nos últimos anos, através de enfermidades que ilustraram sua tenacidade e caráter.
Lutando por sua vida
Em uma noite fria de outono em 2014, depois que Élder Holland deixou a cidade para cumprir uma designação para a Igreja, a irmã Holland foi para a cama na casa de sua filha com um forte resfriado. Ela acordou na manhã seguinte não podendo respirar.
Sem qualquer noção do que estava acontecendo, a irmã Holland se perguntou se estava tendo um ataque cardíaco.
Sua família a levou às pressas para o pronto socorro. Dias mais tarde, ela foi diagnosticada com uma terrível forma de pneumonia.
Enquanto a irmã Holland lutava por sua vida, os médicos disseram a seu marido que reunisse sua família.
“Aquele foi um dos poucos momentos fundamentais na história da família”, disse Élder Matthew Holland, o filho mais velho de Élder e irmã Holland, e Setenta Autoridade Geral. “Apareceu do nada.”
Os 30 dias que se seguiram foram de apreensão, continuou ele. “Ela apareceu à beira da morte.”
Apesar das repetidas bênçãos, a irmã Holland não parecia estar melhorando. “Foi um longo período de espera”, disse ele.
Mary Alice Holland McCann, a filha de Élder e irmã Holland acrescentou: “Foi assustador. Houve duas ou três ocasiões em que pensamos que iríamos perdê-la. ... Mas ela aguentou e lutou.”
David Holland, o filho mais novo dos Hollands, disse que aqueles dias e semanas foram um momento de grande reflexão para a família.
O momento foi especialmente delicado para Élder Jeffrey R. Holland, que “passou a vida com o pé no acelerador”, disse David Holland. “Isto o forçou a se sentar por longos períodos de tempo e ter aqueles momentos de contemplação silenciosa.”
O Quórum dos Doze Apóstolos limpou a agenda lotada de Élder Holland. “Pela primeira vez na memória das pessoas, [Élder e irmã Holland] tiveram uma agenda vazia para estarem juntos e lutarem pela saúde dela”, disse David Holland. “Isto teve um impacto duradouro em ambos.”
Ela se preocupava com todos os outros
Mary Alice McCann levou para o hospital enfeites para o Halloween, depois Dia de Ação de Graças e Natal, para decorar o quarto de sua mãe.
“Foi literalmente a luta por sua vida”, disse ela sobre os meses no hospital. “De alguma forma, ela fez isso de forma graciosa.”
Incapaz de respirar ar suficiente, os médicos pediram à irmã Holland que não falassem. Ainda assim, “ela continuou tentando falar com as enfermeiras e perguntando como elas estavam”, disse Mary Alice McCann.
A irmã Holland conhecia todo o pessoal médico que entrava em seu quarto pelo nome. Ela conhecia a situação de cada um. Se uma enfermeira estava triste, ela conseguia ver isto, e certa vez até mandou McCann à loja de presentes, para comprar chinelos para um deles que estava tendo um dia difícil.
“Enquanto ela estava lá, lutando por sua vida, ela continuou a se preocupar mais com todos os outros”, disse McCann.
Para a irmã Holland, aqueles meses foram um período de tempo para se concentrar em seu marido, seus filhos, e nas escrituras.
Enquanto estava na terapia intensiva, os médicos levaram suas escrituras da cama para uma estante no quarto. Sem os livros sagrados em mãos, ela recitou as frases reconfortantes do Salmo 37: “Confia no Senhor…. Descansa no Senhor e espera [pacientemente] Nele.”
Quando começou a melhorar, “eu queria meu Livro de Mórmon em minhas mãos, segurando ele, e quando dormia, eu queria ele debaixo de meu travesseiro. Com os médicos nos dizendo que eu não conseguiria, ... sabia que, se eu sobrevivesse, seria devido às bênçãos do verdadeiro evangelho que o Livro de Mórmon ensina.”
Através de sua fé e determinação, assim como a fé e determinação de seu marido e família, a irmã Holland se recuperou.
Uma tradição de fé
Nascida e criada na cidade de Enterprise, a única filha de uma família com mais cinco filhos, a irmã Holland se autoproclamava de “travessa”; ela adorava cavalos e cachorros, ordenhava vacas e dirigia caminhonetes, e trabalhava com uma habilidade à altura de seus irmãos.
Mais importante, na comunidade do sul de Utah, com gerações de santos dos últimos dias pioneiros, a irmã Holland estava cercada por parentes, a maioria deles tios, tias, ou primos, que descendiam de uma longa linhagem de pioneiros imersos em uma tradição de fé.
“Não conseguia escapar de nada”, disse ela em uma entrevista de 2018 ao Church News.
As famílias viviam daquilo que podiam cultivar na “comunidade bem rural”, e “as pessoas dependiam do que podiam fazer com as mãos”, disse ela. Todos esperavam que as coisas fossem difíceis.
Por causa disso, a fé estava “no sangue, no ar, no concreto, na madeira”, disse Élder Holland.
A irmã Holland acrescentou: “Contavam-se histórias que promoveram a fé e lembravam dos ancestrais que se sacrificaram.”
Quando ela tinha 16 anos, seus pais se mudaram para St. George para que sua única filha tivesse alguém para namorar. E assim, ela conheceu Jeffrey Holland. “Ele era inteligente. Ele era um aluno maravilhoso”, disse ela. “Ele sabia como fazer amigos. Ele tinha simplesmente esta habilidade maravilhosa de fazer as pessoas se sentirem bem.”
Depois de se formar no Dixie College (hoje Utah Tech University), apoiar Élder Holland em seu serviço missionário, e estudar piano e voz com um membro do corpo docente da Juilliard School of Music na cidade de Nova York, ela se casou com seu namorado da adolescência, em 7 de junho de 1963, no Templo de St. George Utah.
Quase seis décadas depois, enquanto refletia sobre conexão que compartilhava com Élder Holland, a irmã Holland dizia: “Ainda continuo aprendendo com a mente brilhante de meu marido.”
‘Ela estava nisso para viver bem’
Sem nenhum dinheiro e com saudades do sul de Utah, o casal se mudou para a BYU em Provo, onde, em uma certa noite, durante uma caminhada pelo campus, Élder Holland perguntou à sua jovem esposa, se eles deveriam desistir e voltar para casa. Lá, literalmente na sombra da Casa do Presidente da BYU, onde eles viveriam no futuro, ela insistiu que ficassem.
A irmã Holland relembrou durante um devocional da BYU em 1985: “Se você ficar no pátio sul da Casa do Presidente, poderá ver o local exato em que dois alunos da BYU frágeis, amedrontados e recém-casados ficaram… lutando contra as lágrimas e encarando o futuro com toda a fé que puderam reunir.”
O casal deu as boas-vindas ao primeiro de três filhos e, quando seus amigos partiram para faculdades de Direito, Medicina e Odontologia, Élder Holland falou sobre ensinar no Sistema Educacional da Igreja. A irmã Holland nunca hesitou, feliz por estar onde ele estava. Ela o apoio enquanto ele estudava para obter seu título de Mestre e Doutor em Filosofia, pela Universidade de Yale.
“Quando olho para trás, meu destino deve ter sido trilhar o caminho que trilhamos, e seguir o caminho que seguimos”, disse Élder Holland, observando que, se ela tivesse resistido, eles poderiam ter perdido tantas coisas preciosas que tiveram.
“Ela estava nisso para viver bem”, disse ele.
Uma tradição de serviço
Além de dar apoio constante ao marido, a irmã Holland também liderou.
Em 1984, ela foi chamada para servir como primeira conselheira na presidência geral das Moças da Igreja, com a presidente Ardeth G. Kapp.
“Ser chamada para servir a nível [da presidência] geral foi uma honra tão grande para mim”, relembrou a irmã Holland em um vídeo e entrevista para um podcast do Church News. “Mas isto me deixou de joelhos. Foi realmente avassalador.”
Seu marido estava servindo como presidente da BYU e, ao seu lado, eles falaram em um devocional memorável na BYU, que ficou conhecido com “o show de Jeff e Pat”, e eles ainda tinham filhos morando em casa com eles.
A irmã Holland relembrou que praticava música com seus filhos às 5 ou 6 da manhã, dirigindo de sua casa em Provo até a sede da Igreja em Salt Lake City, estando em reuniões de diretoria o dia todo, e voltando para casa tarde para tentar cuidar de sua família. As pressões da época “me deixaram de joelhos. (…) Eu sabia que, com todos estes desafios que já tinha, precisava viver pelo Espírito”, disse a irmã Holland.
Seus filhos a viam todas as manhãs suplicando ao Senhor por Sua ajuda, disse ela, acrescentando: “Eles viram o quanto amamos o evangelho e apoiaram isso.”
Durante seu tempo servindo na presidência geral, a Igreja lançou o programa de valores das Moças e o primeiro tema das Moças.
Élder Holland disse que, em certa ocasião, Presidente Gordon B. Hinckley comentou sobre o fato de terem pedido à irmã Holland que assumisse tantas responsabilidades durante aquele período de sua vida. “Presidente Hinckley disse: ‘Não sei o que nos levou a fazer isso’”, relembrou Élder Holland.
“Mas eu sei”, acrescentou Élder Holand. “Pat foi essencial, e digo isso com toda a tendência que tenho por direito; ela foi essencial” ao alicerce do programa das Moças da Igreja.
A irmã Holland foi desobrigada em 1986, deixando seu foco de todas as moças do mundo, para aquela que mais importava para ela: sua própria filha, disse Élder Holland.
Um ano depois, em 12 de março de 1987, a irmã Holland ofereceu um devocional da BYU, intitulado “Mulheres de Fé”.
“Seja qual for a nossa circunstância, podemos estender a mão, tocar, segurar, erguer e nutrir”, disse ela. “Mas não podemos fazer isto isoladamente. Precisamos de uma comunidade de irmãs, enchendo a alma e ligando as feridas da fragmentação. Sei que Deus nos ama individual e coletivamente como mulheres e que Ele tem uma missão pessoal e um propósito individual para cada uma de nós.”
Ministério global
Élder Holland foi apoiado como Setenta Autoridade Geral em 1º de abril de 1989 e posteriormente como membro do Quórum dos Doze Apóstolos, em 23 de junho de 1994. Durante as três décadas e meia de serviço na Igreja, o casal embarcou em designações ministeriais ao redor do mundo e morou na Inglaterra e no Chile.
Enquanto serviam no Chile de 2002 a 2004, sem qualquer experiência com a cultura, o povo ou a língua espanhola, os Hollands testemunharam vários milagres.
Por exemplo, cerca de seis meses depois de sua designação, eles compareceram a uma reunião de conferência de estaca no sábado à noite, em Viña del Mar. A irmã Holland disse ao marido que sentia que precisava falar sobre o dízimo.
Élder Holland respondeu: “Não conhecemos o vocabulário do dízimo. Não sei como você conseguirá fazer isso.” Ao que a irmã Holland respondeu: “Bem, também não sei como conseguirei fazer isso. Mas é isso que eu acho que devo fazer.”
E pelos próximos 20 minutos, ela deu um sermão sobre a lei do dízimo em um espanhol impecável. “Eu nunca tinha visto algo assim em minha vida, ela não conhecia o idioma e não conhecia o vocabulário e nem conhecia os tempos verbais, mas ela se levantou e deu aquele sermão”, disse Élder Holland.
A irmã Holland como autora, recebeu o prêmio Distinguished Alumnus [Ex-aluno Notável] do LDS Business College, hoje Ensign College, em 2012, e era conhecida como uma oradora eloquente.
Em 2018, Élder e irmã Holland acompanharam Presidente Russell M. Nelson em seu primeiro ministério global como o novo Presidente da Igreja, uma viagem de ministério que incluiu oito países em três continentes em 11 dias.
“Ganhei um testemunho tão grande de meu Salvador devido às coisas que testemunhei nas últimas duas semanas”, diria ela ao final da viagem que os levou ao redor do mundo.
Para a irmã Holland, ter participado daquela viagem ministerial foi um milagre. Refletindo sobre a grave doença que quase tirou sua vida em 2014 e limitou sua capacidade pulmonar, ela simplesmente disse: “Sinto que tudo que tenho feito e que tem sido um desafio tem me aproximado cada vez mais do Senhor. Tudo. E não penso que você possa ter dias escuros sem ter luz, ou luz sem escuridão. Precisamos de ambos para que possam inspirar uns aos outros.”
Entretanto, apesar de tudo isto, ela nunca se esqueceu de suas raízes ou da fé que aprendeu em Enterprise que a sustentou ao longo de sua vida.
Em 18 de outubro de 2021, Élder e irmã Holland voltaram para sua cidade natal no sul de Utah.
De pé, ao púlpito onde prestou seu primeiro testemunho e fez seu primeiro discurso quando jovem, a irmã Holland humildemente declarou seu testemunho do Salvador.
“Viajei por todo o mundo, discursei em púlpitos daqui até o Zimbábue e a Índia, e voluntariamente, com meu coração, minha alma e minha fé, servi de testemunha de Jesus Cristo, pois sei que Ele é nosso Salvador, disse a irmã Holland. “Já presenciei e senti muitas coisas, e tenho muito conhecimento para jamais dizer o contrário. Esta é Sua Igreja. Ele está conosco, e somos filhos de um Pai Celestial amoroso.”
