Há vários anos e cinco dias após ser atacado por um enorme urso pardo no Parque Nacional Grand Teton, no Wyoming, Élder Michael A. Dunn acordou pela manhã e viu a luz do sol entrar pela janela de seu quarto hospitalar em Jackson, Wyoming.
“Eu pude ver as montanhas verdejantes ao redor de Jackson. Acordei e simplesmente chorei, mas derramei as mais maravilhosas lágrimas de alegria por saber que Deus está no céu e no comando do mundo. O mundo é um lugar belo. Tive um forte sentimento (de gratidão) por estar vivo”, disse o atual Setenta Autoridade Geral, na época corredor e maratonista de Park City, ao recordar a terrível experiência de ser atacado por um urso, sua subsequente internação hospitalar de sete dias e sua recuperação em casa. O então primeiro conselheiro no bispado da Ala Park City 1, na Estaca Park City Utah, Élder Dunn, na época com 36 anos, estava passando férias no parque com sua esposa, Linda; seus três filhos, Jeffrey, 10; Brady, 8; Emily, 4, e os pais de sua esposa, Ken e Ginny Poulson, também de Park City.
Escritor sênior da Bonneville Communications em Salt Lake City e vencedor dos prêmios Emmy e Clio por seu trabalho na série de comerciais de televisão “Homefront” da Igreja, o Élder Dunn estava correndo bem cedo em uma manhã de agosto no extremo norte da trilha Emma Matilda Lake Trail quando foi atacado pelo urso.
Sozinho na ocasião, em uma área densamente arborizada e pacata, ele provavelmente assustou o urso, o qual estava comendo entre arbustos frutíferos à beira da trilha. Correndo a toda velocidade, o urso atacou Élder Dunn, causando ferimentos profundos em grande parte de seu corpo.
Em uma entrevista para o jornal Deseret News, ele disse que gritou para alertar outras pessoas que poderiam estar por perto e orou o quanto pôde por socorro. Ao perceber rapidamente que seria inútil lutar contra o urso, o irmão Dunn se encolheu em posição fetal e se fez de morto. O urso então o deixou e se retirou do local. Ele disse que o ataque durou cerca de dois minutos, mas pareceu levar meia hora.
Orar a Deus foi uma reação natural. No dia anterior, Élder Dunn disse que orou enquanto estava em uma trilha diferente.
“A manhã estava muito bonita. Havia chovido na noite anterior e as nuvens pairavam sobre o Lago Jackson de uma forma muito nebulosa. Era possível ver os picos da Cordilheira Teton subindo acima das nuvens. (...) Fiquei tão emocionado com a beleza ao meu redor que parei, me ajoelhei e orei em voz alta. Parece tão irônico. Senti-me muito tocado pela beleza daquela manhã e, apenas um dia depois, fui literalmente atacado por um urso.
“Orar é tão natural para mim quanto correr. Faz parte do cotidiano da minha vida. Ao refletir sobre esta crise, fico feliz que meus instintos foram orar e pedir ao Pai Celestial que me abençoasse e me ajudasse a sair daquela situação. Eu não vi essa petição como uma espécie de oração fútil. (...) Eu sabia que, se a vontade de Deus fosse que eu vivesse, Ele encontraria uma maneira de responder às minhas orações.
“Mas não sabia se conseguiria sobreviver, pois foi um evento muito traumático. No entanto, depois que orei e o urso me deixou, eu sabia que era minha vez de fazer minha parte, me levantar e fazer o máximo possível”, disse Élder Dunn, contando que tirou sua camiseta de manga comprida e fez um torniquete para sua perna direita que havia sido gravemente ferida.
Durante o ataque, ele recebeu várias mordidas, feridas e arranhões em grande parte de seu corpo, incluindo cortes profundos perto da artéria femoral em sua perna. Ele teve cortes em ambos os lados da artéria.
A família do corredor estava acampada a cerca de 8 km em Colter Bay durante o ataque. Após o ataque, Élder Dunn caminhou cerca de 1.6 km, onde encontrou três caminhantes.
“Eu sei que só consegui caminhar e sair daquela situação por causa da ajuda de Deus. Fui abençoado com a habilidade de manter a calma (...) para que eu pudesse me salvar. Eu recebi um senso muito elevado de informação. (...) Havia dois caminhos que eu poderia seguir para voltar ao alojamento: um mais curto e outro bem mais longo. Em minha mente, recebi a confirmação de qual caminho eu deveria seguir: o mais longo. Isto funcionou perfeitamente porque cheguei a uma campina na trilha, onde os caminhantes estavam. Foi isso que me salvou.”
Os guardas florestais chegaram ao local cerca de duas horas depois, e Élder Dunn foi transportado de helicóptero para o Hospital St. John’s, localizado a cerca de 20 minutos de distância por via aérea.
A irmã Dunn e seus filhos estavam a cerca de 8 km de distância, em Colter Bay. Ela disse ter percebido que algo havia acontecido com seu marido, o qual havia levado o carro da família para a área onde ele iniciou uma corrida de 29 km, na trilha muito frequentada que circunda os lagos Two Ocean e Emma Matilda. Os lagos estão localizados a nordeste do alojamento Jackson Lake Lodge.
“Eu sabia que algo estava errado. Reuni todas as crianças e começamos a andar de bicicleta em direção ao alojamento, na esperança de vê-lo. Durante a viagem até o alojamento, fomos parados pelos guardas florestais e informados de que Mike havia sido atacado por um urso e estava sendo levado de helicóptero para o hospital. Em seguida, os guardas florestais transportaram nossa família para o hospital”, disse a irmã Dunn.
O pai da irmã Dunn, Ken Poulson, que estava com outros membros da família no parque, soube do ataque minutos antes de quando planejava deixar o local. Ele avisou Mark Young, o bispo do família Dunn, que, com sua esposa, Sue, e seus filhos, fez uma viagem de cinco horas e 400 km até Jackson, chegando ao hospital logo após Élder Dunn ter sido operado.
Ele passou por duas cirurgias em um período de três dias. Durante o ataque do ursopardo, Élder Dunn sofreu 16 ferimentos ou lacerações, o que fez com que ele tivesse que levar 300 pontos. Ele repetiu as palavras de um médico quando disse que é um milagre as garras do urso não terem atingido uma veia jugular na lateral de seu pescoço. Se a veia tivesse sido atingida, “o médico disse que eu teria morrido em um período de três a cinco minutos”.
Três ou quatro dias após o ataque, ele disse que acordou no meio da noite no hospital e reviveu grande parte da experiência assustadora.
Enquanto ainda estava internado, Élder Dunn disse que telefonou para os caminhantes que havia encontrado no Wyoming, os quais o socorreram no parque.
“Foi tão maravilhoso conversar com alguém que salvou a minha vida. Meu coração ficou repleto de alegria. Só pude expressar o que estava sentindo por meio de minhas lágrimas. Foi tão maravilhoso lhes dizer o quão grato sou por tudo o que eles fizeram.”
Durante a entrevista para o Deseret News, ele também expressou sua gratidão pela equipe de resgate do National Park Service e pelos médicos e outros funcionários do Hospital St. John’s.
Ao refletir sobre suas experiências, Élder Dunn disse: “Há algo sobre estar em uma trilha solitária na montanha que ajuda a esvaziar nossa mente e nos permite refletir e meditar de verdade.” Ele acrescentou que estava profundamente concentrado quando encontrou o urso. Cerca de uma semana antes, ele e sua esposa haviam visto um urso pardo enquanto escalavam o Grand Teton.
“Como a maior parte das pessoas, eu havia imaginado como seria minha morte. Não fico pensando nisso. Contudo, no dia do ataque, cheguei a pensar que iria morrer em uma trilha empoeirada e nas garras de um urso pardo. Percebi que estava em desvantagem e achei que o urso faria o que é comum para este tipo de animal: matar sua vítima. Minha próxima preocupação foi minha esposa. Eu estava preocupado a respeito de quem lhe daria a notícia e como ela reagiria.
Quando voltou para casa, Élder Dunn recebeu cuidados de acompanhamento no Hospital LDS em Salt Lake City e no Summit Sports Medicine em Park City. Um dos tratamentos incluiu uma imersão diária de 20 minutos em uma banheira de hidromassagem com antibióticos tópicos.
Quando entrevistado, ele ainda caminhava lentamente e mancava, mas disse: “Estou me sentindo excelente. Vejo verdadeiro progresso em direção à recuperação. Muitas feridas já secaram e estão cicatrizando muito bem. Tenho cicatrizes agora, mas um cirurgião plástico elogiou bastante o (atendimento médico) que recebi no Wyoming. Temos que esperar cerca de um ano para ver como as coisas vão ficar, e talvez seja necessário fazer alguma cirurgia plástica adicional.”
“Sou um homem de sorte. Espero poder correr novamente”, disse então Élder Dunn, que estava treinando para a Maratona de St. George (Utah).
Ele disse que os membros de sua ala atual e sua antiga congregação (Ala Mt. Olympus 7, Estaca Salt Lake Mt. Olympus), bem como muitos vizinhos de Park City, estavam sendo “maravilhosos e fornecido muito amor e apoio” de diversas formas.
”Todos [foram] extraordinários em termos de serviço prestado e amor demonstrado à minha família. Eles nos envolveram em seus braços e realmente cuidaram de nós.”
A irmã Dunn disse que o acidente e tudo o que aconteceu desde então “aguçou” sua compreensão do quanto a vida é frágil. “Eu tenho um marido muito bom. O incidente me fez compreender isso ainda mais”, disse ela.
Élder Dunn disse que acreditava que ninguém passa por uma experiência que quase leva à morte “sem mudar — esperançosamente para melhor. Esta experiência me proporcionou uma gratidão ainda maior pelas criações de Deus: a Terra, a natureza e até mesmo os ursos.”
Ele manteve um senso de humor na época, que era evidenciado pela camisa com estampa de ursos que usava e pela maneira bem-humorada pela qual se referia a presentes de ursinhos de pelúcia e a uma placa de “travessia de ursos” colocada perto da porta da frente de sua casa.
“Não paro de receber objetos relacionados a ursos e de ouvir piadas sobre ursos”, disse ele.
Após a experiencia, ele declarou que, sobreviver ao ataque e ser o foco do amor e da atenção de sua família e de outras pessoas fez com que “quisesse viver a vida ainda mais plenamente. Eu me pego querendo abraçar minha família por mais tempo e com mais frequência. Isso me deu o desejo de prestar mais serviço ao próximo, sair do meu pequeno mundo e buscar maneiras de atender às necessidades dos outros. Isso me proporcionou um apreço maior pelo evangelho. Isso significa beber mais da fonte da vida. Eu encontro ainda mais significado nas palavras das escrituras. Eu tenho o desejo de lê-las e compreendê-las ainda mais.”