O chamado para servir na presidência da estaca “foi um grande choque” para o presidente Michael Ballard, que tem deficiência auditiva.
Ele estava servindo como bispo da Ala Utah Valley (de língua de sinais) quando recebeu o chamado para servir como segundo conselheiro da Estaca Provo Utah Sul, uma estaca diversificada que inclui duas alas de língua espanhola e uma ala nativa americana, além da ala de ASL [língua norte-americana de sinais].
“Esta experiência realmente me fez sentir humilde”, disse o presidente Ballard, que serve na presidência da estaca desde dezembro de 2022. “Pessoas com deficiência auditiva raramente recebem tais chamados em unidades locais. O fato de que uma pessoa com deficiência auditiva esteja servindo neste nível é, sobretudo, uma novidade para muitos membros de nossa estaca.
Na história da liderança da Igreja, o presidente Ballard é um dos primeiros membros com deficiência auditiva a servir na presidência de uma estaca.

“Agora, é uma época excelente para ser deficiente auditivo na Igreja”, disse ele. “Na verdade, poder ter responsabilidades e chamados nesse nível é uma experiência pioneira que está ocorrendo entre os membros da Igreja atualmente. ...
“No momento, sou [um dos poucos] servindo neste chamado em particular, mas não serei o último. Conseguimos abrir esta porta para que mais pessoas possam vir atrás de mim.”
O presidente Ballard, assim com o bispo Thomas Graham no Havaí e Katrina Trevenen, presidente da Sociedade de Socorro de sua ala em Utah, conversaram com o Church News sobre suas experiências, como membros com deficiência auditiva, que estão servindo em chamados de liderança em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Michael Ballard: ‘Aprendendo a amar rapidamente’
O presidente Ballard e sua esposa, Justine Ballard, se conheceram em um devocional do Sistema Educacional da Igreja, quando ela frequentava a Universidade Brigham Young e ele estudava na Utah Valley State College. Ela estava aprendendo ASL por seu próprio interesse e decidiu se sentar perto dos intérpretes, onde ele também estava sentado.
Após 16 anos, seis filhos e quatro estados, os Ballards se sentem afortunados por terem frequentado a Igreja em lugares diferentes. A trajetória da formação acadêmica e da carreira do presidente Ballard os levaram ao Colorado, Iowa, Kentucky e Utah. Ele tem doutorado em Filosofia da Educação pela Universidade Drake e atualmente é professor assistente e diretor do programa de ASL e Interpretação da Universidade Utah Valley.
“Em todos os lugares nos quais moramos”, disse Justine Ballard, “encontramos pessoas que realmente se empenharam em garantir que nossa família fosse incluída na ala.”

“Aprendemos a amar as pessoas muito rapidamente”, acrescentou o presidente Ballard. “Tive que aprender a amar pessoas que não me entendem e vice-versa. Acho que aprender a amar rapidamente foi uma grande parte do que aprendemos juntos.”
O presidente Ballard nasceu com audição, mas se tornou deficiente auditivo após contrair meningite espinhal quando bebê. Justine Ballard e seus seis filhos não são deficientes auditivos. Conforme a família tem se mudado para lugares diferentes, as pessoas sempre pedem conselhos a Justine sobre como se comunicar com seu marido e outras pessoas com deficiência auditiva.
A resposta dela é a seguinte: Não tenham medo.
“Vocês não precisam saber tudo antes de darem o primeiro passo”, disse Justine Ballard. “Vocês só precisam dar ao Senhor seus cinco pães e dois peixes, independente do que isto signifique para vocês. O Senhor magnificará suas ações e vocês poderão estabelecer relacionamentos com pessoas que não podem ouvir, ou que tenham qualquer tipo de deficiência ou diferença.”
O presidente Kyle Reyes, presidente da Estaca Provo Utah Sul, descreveu servir com o presidente Ballard como uma honra. Ele observou a capacidade que o presidente Ballard tem de estar verdadeiramente presente com as pessoas com quem se encontra.
“Pessoalmente, aprecio as perspectivas que tenho recebido quando ele se comunica comigo, devido à combinação de sua língua de sinais e da tradução oral proporcionada pelos intérpretes”, disse o presidente Reyes. “Tenho encontrado um significado mais profundo nas conversas com ele, devido à inclusão da representação visual de suas mensagens. Há algo muito sagrado e poderoso em observar como os hinos, as orações e os pensamentos são compartilhados por meio da língua de sinais.”

O presidente Reyes disse que o presidente Ballard envia mensagens regularmente para ele e seu primeiro conselheiro, o presidente Matt Mecham, com palavras e frases que ele está aprendendo em espanhol para se comunicar melhor com as duas alas para falantes do idioma na estaca. “E ele é muito paciente conosco conforme aprendemos a língua de sinais.”
É isso que o presidente Ballard espera que outros vejam em sua experiência de servir na presidência da estaca. “Não parece estranho. ... Há uma diferença de idioma e, na verdade, não há muito mais do que isso”, disse ele.
“Conseguimos abrir esta porta para que mais pessoas possam vir atrás de mim", disse presidente Michael Ballard.
O presidente Ballard também espera poder ajudar jovens com deficiência auditiva. “Minha esperança e desejo é que os jovens com deficiência auditiva possam olhar e pensar: ‘Espere um minuto: há alguém como eu que está servindo nesse nível?’ ... Espero ser alguém em quem os jovens possam confiar, uma pessoa que se pareça e aja como eles.”
Thomas Graham: Utilizando ‘grande tecnologia’
Em uma manhã de domingo na ilha de Oahu, Havaí, o bispo Thomas Graham se prepara para dirigir uma reunião sacramental. É um empenho que inclui um laptop, dois tablets, um smartphone, seu implante coclear, o transmissor e receptor FM e intérpretes de língua de sinais americana. Tudo para ajudá-lo a obter o máximo de informações possível.
“Não é nada menos que um milagre começar nossa reunião no horário”, disse o bispo Graham com um sorriso. “A quantidade de tecnologia necessária para que eu sirva como bispo é fascinante.”
O bispo Graham, que tem perda auditiva total, mas consegue ouvir com certa dificuldade quando usa seu implante coclear, tem servido como bispo da Ala Kahala na Estaca Honolulu Havaí desde o dia 1º de janeiro de 2023. A Ala Kahala é uma ala tradicionalmente regular.

Quando lhe perguntam como as coisas têm ido até agora, o bispo Graham admite que está mais cansado do que o normal. No entanto, ele adora servir. “Adoro o que faço. Poder conhecer as pessoas, ajudá-las e liderará-las as... eu não trocaria isso por nada no mundo. De modo algum.”
O bispo Graham foi criado em uma família nipo-americana no Havaí e se filiou à Igreja quando tinha 24 anos de idade. Ele conheceu sua esposa, Claudia Graham, pouco depois de ser batizado. O casal tem dois filhos e seis netos.
Professor experiente e dedicado, o bispo Graham em breve completará seu 27º ano de trabalho na Hawaii School for the Deaf and Blind (Escola para Surdos e Cegos do Havaí). Atualmente, ele trabalha como secretário da instituição.
“Durante 30 anos, ensinei e trabalhei com jovens fora da Igreja. Esta é minha oportunidade de trabalhar com os jovens da Igreja, usando o mesmo conjunto de habilidades, o mesmo coração. ... Essa, também, é apenas outra razão pela qual eu não trocaria isso por nada”, disse ele sobre seu chamado como bispo.

“Adoro o que faço. Poder conhecer as pessoas, ajudá-las e liderará-las ... eu não trocaria isso por nada neste mundo", disse Thomas Graham.
Claudia Graham gosta de ver os jovens dizendo “oi” para o marido. “Eles parecem muito felizes em vê-lo, assim como ele também fica muito feliz quando os vê. Ele está gostando muito de conhecer cada um deles. E também está conhecendo melhor os membros da ala”, disse ela.
Além disso, ela disse que ele tem ajudado os membros da ala e da estaca a compreenderem a cultura das pessoas com deficiência auditiva e como se comunicar com ele. Conforme o bispo Graham explicou, há muitos tipos de deficiência auditiva. Ele tem perda auditiva degenerativa. Para ele, o inglês (falado e escrito) é sua primeira língua e a ASL (língua norte-americana de sinais) é sua segunda. Fisicamente, muitos de seus alunos na escola para pessoas com deficiências auditivas ouvem melhor do que ele, mas não conseguem compreender o que ouvem, tão bem quanto ele. Por outro lado, os alunos podem se comunicar em ASL melhor do que ele.
Paul W.Y. Kurihara, presidente da Estaca Honolulu Havaí, conhece o bispo Graham desde a década de 1980, quando o bispo era recém-converso. O presidente Kurihara recorda que ele era alegre e positivo e não permitia que sua incapacidade de ouvir o impedisse de participar das atividades.
“Quase 40 anos depois, ele continua sendo engraçado e adora brincar, mas também é um grande líder e membro da Igreja com espírito missionário”, disse o presidente Kurihara. “Ele se dedica completamente ao Senhor e à Sua obra, e adora fazê-lo. Devido à atitude de centrar sua vida em Cristo, ele e Claudia permitem que as pessoas se sintam incluídas, e esquecemos que ele tem deficiência auditiva. Ele pode ter ‘dificuldade em ouvir’, mas pode ‘ouvi-Lo’ claramente por causa de quem é e do que faz.”

Ter deficiência auditiva e servir como bispo de uma ala regular cria uma situação única para o bispo Graham, e ele é grato por conseguir cumprir seu chamado tão bem quanto pode.
“Como diz o ditado, as coisas acontecem ‘no devido tempo do Senhor.’ Se não fosse pela equipe de líderes, apoiadores e intérpretes, pela grande tecnologia que temos agora e, é claro, pelo Senhor, eu não poderia servir como bispo, especialmente como um bispo eficaz, embora ainda seja muito inexperiente e esteja me acostumando com as coisas”, disse o bispo Graham.
Quando as coisas ficam corridas, ele se lembra da origem do chamado. “Esta é a Igreja do Senhor e Ele me chamou. E chamou nossos conselheiros. Eu nem vou chamá-los de meus conselheiros porque eles não são meus, eles pertencem a Ele. ...
“Por mais que eu tenha um testemunho agora, preciso desenvolver um testemunho muito maior de Jesus Cristo. Só espero que este chamado seja uma experiência que me ajude a desenvolvê-lo.”

Katrina Trevenen: Derrubando barreiras
Pouco depois de ser chamada como presidente da Sociedade de Socorro da Ala Elwood 2, Estaca Tremonton Utah Sul, Katrina Trevenen visitou uma mulher da ala que antes não estava disposta a receber visitas.
“Quando ela descobriu que eu tinha deficiência auditiva, de alguma forma as barreiras simplesmente foram derrubadas”, disse Katrina Trevenen. “Acho que isso ajudou.
“Se não foi isto, então foram as minhas as botas de vaqueira”, acrescentou ela, rindo.

Katrina Trevenen e seu marido, Thayne, têm uma família misturada [duas famílias separadas que se uniram], que inclui nove filhos, e se mudaram de Hutto, Texas, para Elwood, Utah, há três anos. Seja andando de moto, fazendo cerâmica, dirigindo a Sociedade de Socorro ou prestando seu testemunho on-line em ASL, Katrina Trevenen busca iluminar vidas e lares e lembrar a todos do poder da Expiação de Jesus Cristo.
“Ele é a única maneira de sobrevivermos a esta vida. Eu não estaria aqui se não fosse por Ele”, disse ela.
Katrina Trevenen nasceu com deficiência auditiva e tem um implante coclear. Criada em Utah, ela frequentou a Igreja com sua família, mas não conseguia entender muito, pois dependia da leitura labial. Aos 18 anos, ela começou a aprender ASL. “Isto me ajudou a reconhecer minha identidade. Eu disse: ‘Uau, perdi muitas coisas’”, disse ela, e se tornou uma grande defensora da comunidade com deficiência auditiva, ganhando o prêmio Miss Deaf Utah (Miss Deficiência Auditiva de Utah), em 1993.

De acordo com seu marido, a maior força de Katrina Trevenen é ouvir os sussurros do Espírito. “Sua vida é uma série de eventos em que ela voluntariamente deixa tudo de lado e se concentra nos necessitados. ... Seu espírito faz com que você se sinta à vontade o suficiente, para compartilhar seus pensamentos e sentimentos, mesmo que tenha acabado de conhecê-la, disse Thayne Trevenen.
“[Jesus Cristo] é a única maneira de sobrevivermos a esta vida. Eu não estaria aqui se não fosse por Ele”, disse Katrina Trevenen.
Katrina Trevenen estava servindo como professora do Seminário em ASL por quase dois anos, quando foi chamada para servir como presidente da Sociedade de Socorro de sua ala regular no final de fevereiro.
O bispo Judd Hamson disse que ela tem sido uma grande, força ajudando a unir todos, tanto em sua presidência quanto na Sociedade de Socorro, após recentes mudanças nos limites geográficos da ala. “Seu amor pelo Salvador e seu sorriso contagiante ajudaram todos a se sentirem bem-vindos”, disse ele.

Além de seu serviço na ala e na comunidade, Katrina Trevenen tem uma grande influência on-line, por meio de sua página no Facebook, chamada Daily-Dove [em inglês], onde ela compartilha mensagens inspiradoras relacionadas ao evangelho em ASL.
A ideia da página Daily-Dove começou em 2019, quando o bloco de reuniões dominicais foi reduzido [em inglês] de três para duas horas, e as reuniões da Escola Dominical passaram a ser realizadas a cada duas semanas, em vez de semanalmente. As classes da Escola Dominical na ala de Katrina Trevenen foram consolidadas e transferidas para a capela, resultando em uma sala de aula e turma muito maiores, onde ela não conseguia mais fazer leitura labial e não tinha um intérprete de ASL. Sem entender o que era ensinado durante a aula, ela se sentiu inspirada a fazer um vídeo ao vivo no Facebook em ASL, sobre os pensamentos que teve ao estudar a lição do “Vem, e Segue-me” da semana.
“Descobri que havia mais pessoas com deficiência auditiva como eu, que estavam em uma ala regular e também tinham as mesmas dificuldades, então elas participavam das aulas que eu estava ensinando em ASL”, disse Katrina Trevenen.
Ela continua compartilhando pensamentos diários e seu testemunho do Salvador, o que tem atraído um público de diferentes religiões cada vez maior. Ela sempre convida missionários de ASL a participarem de suas aulas e responderem a perguntas sobre a Igreja.
“A página Daily-Dove é uma história incrível. Mas não por minha causa, mas por causa Dele”, disse Katrina Trevenen. Recentemente, ela compareceu ao batismo de uma mulher, que viu um de seus vídeos sobre o templo, e quis que os missionários lhe ensinassem mais.

“Elas anseiam por informações”, disse ela sobre pessoas da comunidade com deficiência auditiva. “O campo está pronto para a ceifa, e eu sinto isso. Eu sei que elas estão apenas esperando, ansiando por informações.”
Katrina Trevenen mencionou o trabalho que a Igreja está realizando para ajudar pessoas com deficiência auditiva a terem acesso ao que precisam para aprenderem e viverem o evangelho. “Cada pessoa com deficiência auditiva tem necessidades diferentes”, explicou ela.
Por exemplo, mesmo com o implante coclear, ela às vezes não consegue entender os comentários durante uma aula da Sociedade de Socorro ou perde parte da discussão no conselho da ala. Contudo, ela é grata por aqueles que estão dispostos a trabalhar com ela e está depositando sua confiança no Senhor.
“De alguma forma, está dando certo”, disse ela sobre servir como presidente da Sociedade de Socorro em uma ala regular. “Posso compartilhar meu amor pelo evangelho e por Jesus Cristo, mesmo com deficiência auditiva. De certo modo, isso dá resultado. E foi isso que aprendi, então não preciso temer e posso confiar no Pai Celestial. ... Só preciso ser o meu melhor.”
Correção: Este artigo comentou erroneamente que Michael Ballard é o primeiro deficiente auditivo a servir em uma presidência de estaca. O Church News tomou conhecimento de outro membro com deficiência auditiva, que também está servindo como conselheiro na presidência de sua estaca.