MANTI, Utah — Uma equipe de conservadore-restauradores de arte passou quatro meses nas salas do Templo de Manti Utah, para ajudarem a limparem e, quando necessário, restaurarem os murais da histórica Casa do Senhor.
É “um processo muito meticuloso, muito cuidadoso e muito detalhado, literalmente um centímetro de cada vez”, disse Emily Utt, curadora de locais históricos da Igreja, durante as entrevistas do dia destinado à imprensa do Templo de Manti Utah, em março. A equipe da Preservation and Recovery of Masterpieces of Art, ou PARMA Conservation, em Chicago, Illinois, removeu acabamentos de verniz que acumulavam sujeira e poeira, e também materiais das tentativas anteriores de reparos.
O Templo de Manti Utah de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi rededicado no domingo, 21 de abril, após ter estado fechado por mais de dois anos para reformas. A Casa do Senhor foi originalmente dedicada em 1888. Ela foi ampliada várias vezes ao longo dos anos, tendo sido rededicada em 1985, após uma extensa adição e reforma. Naquela época, as salas de ordenanças foram reformadas, um elevador foi acrescentado a leste da sala celestial, uma entrada separada para o batistério foi acrescentada e as salas ao redor da pia batismal foram convertidas em salas de selamento.
A recente reforma incluiu obras para impedir a infiltração de água na parede leste, escavando até o alicerce e impermeabilizando a área. Outras melhorias incluíram a criação de uma saída para noivas e local para a reunião de grupos de casamento, uma nova sala de espera para casamentos, atualizações de sistemas mecânicos e instalação de projetores e telas para apresentação audiovisual da investidura.

“Precisávamos cuidar dos murais”, disse Emiline Twitchell, conservadora-restauradora do Departamento de História da Igreja, responsável pelo projeto da Igreja de Jesus Cristo, em um relatório publicado no site ChurchofJesusChrist.org [em inglês], em 21 de abril. “Prolongar a vida útil destes murais significa preservar um ponto de entrada simbólico para novos entendimentos da nossa adoração no templo, teologia e relacionamento com o divino.”
Os desafios da equipe da PARMA incluíram a remoção do tipo errado de verniz aplicado há décadas, e que havia aderido quimicamente à pintura subjacente.
“Tivemos que fazer muitos testes para ver que tipos de solventes removeriam a camada de verniz, que estava endurecendo, rachando e descolorindo a pintura. Isso realmente se torna difícil de reverter”, disse Twitchell.

Os conservadores-restauradores estimaram que a “janela” para reverter os danos estava quase fechada.
“Chegou a um ponto em que ninguém seria capaz de removê-los”, disse Elizabeth Kendall, proprietária e codiretora da PARMA Conservation. “Então, os murais teriam ficado do mesmo jeito como estão e ninguém teria conseguido chegar à pintura original.”
Na investidura do templo, os membros da Igreja aprendem mais sobre o plano de salvação e fazem vários convênios sagrados. São apresentados eventos que fazem parte do plano de salvação, incluindo a Criação do mundo, a Queda de Adão e Eva, a Expiação de Jesus Cristo, a Apostasia e a Restauração.
No Templo de Manti Utah, com 6.948 metros quadrados, os membros passam por uma série de salas durante a investidura e, em cada sala, murais foram pintados nas paredes para ajudarem a ilustrar o que é ensinado na sala (em outros templos, dependendo do projeto, as pessoas podem permanecer na mesma sala para a instrução da investidura ou mudarem de sala uma única vez).
Sala da criação

Os murais da sala de criação são os únicos que datam do século XIX e são originais do templo. C.C.A. Christensen, natural da Dinamarca, retratou a criação mostrando os diferentes períodos, incluindo a divisão da água e da terra, das plantas e dos animais. Os murais são pintados nas paredes de gesso.
Christensen estudou pintura na Academia Real Dinamarquesa de Belas Artes. Ele se filiou à A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na Dinamarca e depois foi para o Oeste dos E.U.A. Mais tarde, ele ensinou Arte e Dinamarquês na Snow College.
“Ele teve que visualizar e conceituar algo sobre o qual só se lia a respeito”, disse Utt sobre os murais concluídos em 1886. Ele também aproveitou as últimas descobertas do mundo na época, que incluíam fósseis e ossos de dinossauros.
Parte de sua inspiração de design para algumas das criaturas nos murais vem de “The World Before the Deluge” [O mundo antes do Dilúvio – em inglês], de Louis Figuier, um livro que explorou a descoberta de dinossauros com o que era conhecido na época.

“Ele aproveitou o melhor de sua experiência pessoal com fé, e a combinou com as mais recentes descobertas científicas, estudos e análises, criando uma representação da criação do mundo que é totalmente nova e incomum”, disse Utt.
Foi nesta sala que os conservadores-restauradores passaram a maior parte do tempo, explorando centímetro por centímetro quadrado para limpar e restaurar os murais, disse Utt.
Utt disse que a equipe limpou mais de “130 anos de sujeira”. Ali ela pôde ver sua habilidade como artista “voltando à vida.”
Para os conservadores-restauradores, a sala de criação foi o maior desafio, “porque continha todas as camadas de restaurações anteriores”, observou Kendall.
“Encontramos pelo menos quatro tipos diferentes de tinta, além de um revestimento que é muito difícil de remover. Ele era um artista excepcional, e as pessoas não perceberam isso até que removemos todas as outras renovações que ocorreram ao longo das décadas.”
Para Utt, “a maior emoção deste projeto, para mim, foi conhecer C.C.A. Christensen de uma forma que nunca conheci.” Durante o tour no dia 11 de março, ela apontou um pequeno pássaro em uma árvore que havia sido descoberto durante a meticulosa limpeza.
Sala do jardim


Os murais originais da sala do jardim, representando o Jardim do Éden, também foram pintados nas paredes de gesso, por Danquart “Dan” Anthon Weggeland.
“Então o gesso foi muito danificado ao longo dos anos e, na década de 1930, seu mural foi removido”, disse Utt. As paredes ficaram em branco por algum tempo, até que novos murais foram encomendados para a sala na década de 1940, desta vez em tela aplicada nas paredes.
Joseph Everett começou os novos murais e completou a parede frontal, mas faleceu. Robert L. Shepherd, que fez a arte no batistério, completou os murais usando estilo e paleta de cores semelhantes.
Everett e Shepherd eram “dois grandes artistas de murais da Igreja naquela época”, disse Utt.
Peter Schoenmann, codiretor da PARMA Conservation, observou em ChurchofJesusChrist.org [em inglês] que a tela de pintura nas paredes também apresentava desafios.
“A própria parede de gesso é o que racha”, disse Schoenmann. “Depois o gesso transpõe e transfere para a tela e a tela se divide. Temos que fazer um procedimento cirúrgico em tudo o que fazemos, para que o reparo de uma rachadura pareça invisível ou desapareça.”
Ao consertar rachaduras, Kendall disse: “Usamos pincéis minúsculos, mesmo em rachaduras grandes. … Só pintamos exatamente onde estava a rachadura.”
Sala do mundo

A artista Minerva Teichert foi contratada para criar murais para a sala do mundo, depois que o gesso foi substituído em 1946. Ela criou a pintura em 23 dias úteis, entre abril e maio de 1947, enquanto o templo ainda estava em funcionamento, fazendo uma pausa quando as sessões terminavam.
“Ela é outro exemplo de um santo dos últimos dias que consagrou seu tempo e talentos à Casa do Senhor”, disse a presidente Camille N. Johnson, presidente geral da Sociedade de Socorro, durante os tours do dia destinado à imprensa.
No fundo da sala, há uma representação da Torre de Babel e da dispersão do povo. Ao longo do mural, há uma representação da coligação.
“E é disso que se trata, pois ascendemos desde a queda e no caminho de volta ao nosso lar celestial”, disse a presidente Johnson.

Um lado da sala retrata histórias das escrituras: Abraão, Sara e Ló partindo com suas ovelhas, José sendo vendido ao Egito e Moisés recebendo os Dez Mandamentos, e também peregrinos navegando com a Bíblia. O outro lado inclui pessoas que representam muitas nações e culturas, incluindo Cristóvão Colombo se preparando para zarpar, com movimento em direção à frente da sala. Ao longo da parede, em primeiro plano, estão pessoas na sombra, pedindo ajuda.
“É um grande espetáculo, 120 pessoas marchando em grande visão… cada uma exigindo atenção infinita”, presidente Johnson citando Teichert sobre os murais.
Na frente da sala está um chefe nativo americano, olhando para a sala com os braços abertos, dando as boas-vindas a Sião, e acima dele está uma vista aérea de Manti, com as terras agrícolas e o templo na colina. O chefe é o único que está de frente para a sala.

Para Utt, é um lembrete de que “o único lugar onde encontraremos paz é quando nos achegarmos a Ele” e todos são convidados a virem.
Presidente Johnson disse: “As figuras pintadas por Minerva Teichert exigiam a atenção infinita de um artista. Cada um de nós requer uma atenção infinita e íntima, a qual nos é concedida por Jesus Cristo, o Bom Pastor e Cordeiro de Deus. Portanto, hoje celebramos a visitação pública de um lugar sagrado, a Casa do Senhor aqui em Manti.”
Kendall disse que o mural do mundo estava em tão boas condições que só foi necessário limpá-lo. Mas devido ao tamanho das pinturas nas paredes, foi necessária muita limpeza, acrescentou ela.
Batistério

Shepherd, que finalizou a sala do jardim, restaurou os murais no batistério que incluem representações do batismo de Jesus, de Joseph Smith e Oliver Cowdery, e os do mundo antigo. Quatro painéis de escrituras foram adicionados durante a reforma de 1892.
O gesso estava se separando das paredes e danificando a tela, disse Utt. Os murais foram cuidadosamente removidos e enviados para conservação em Chicago, onde a equipe da PARMA Conservation os limpou e reparou. As paredes foram rebocadas e a arte reinstalada.
É no batistério que os santos dos últimos dias realizam batismos vicários para antepassados que não foram batizados anteriormente.

Preservados por gerações
Tanto Kendall quanto Schoenmann disseram que foi um privilégio trabalhar nos murais do templo.
Kendall disse: “Revelamos algo que foi coberto por décadas e décadas.”
Schoenmann disse: “Estes murais têm um propósito para os santos dos últimos dias. Esperamos que eles permaneçam preservados por muitas e muitas gerações. … Sentimo-nos privilegiados por termos visto e cuidado deles.”