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Anthony Sweat: Visualizando a Restauração

Artista e professor da BYU discute como as imagens artísticas podem moldar e aprimorar nossa compreensão do evangelho e da história da Igreja

Quando eu era menino, eu esperava ansiosamente pela revista Ensign, que chegava todo mês na caixa de correio da família.

Infelizmente, não era para ler os artigos. Em vez disso, eu visualmente devorava as pinturas. Elas me fascinavam e inspiravam. Minerva Teichert me mostrou a Primeira Visão. Del Parson [em inglês] me colocou na floresta da Pensilvânia para assistir à restauração do sacerdócio Aarônico. Liz Lemon Swindle [em inglês] me levou para a Cadeia de Liberty com o profeta Joseph. Eu viajei para o oeste com C.C.A. Christensen [em inglês] e os pioneiros.

Anthony Sweat é professor de História da Igreja e Doutrina na Universidade Brigham Young.
Anthony Sweat é professor de História e Doutrina da Igreja na Universidade Brigham Young. | Kate Kelson

As imagens artísticas foram um dos meus primeiros e mais poderosos professores do evangelho de Jesus Cristo. Isso também tem sido verdade para muitos aprendizes religiosos, particularmente no cristianismo, onde belos vitrais, estátuas e murais adornam capelas e catedrais há séculos. Hoje, pinturas religiosas são encontradas abundantemente em salas de aula, saguões e corredores dos santos dos últimos dias, no currículo e no ensino da Igreja, e penduradas nas paredes das salas de estar dos membros em todo o mundo. A arte religiosa está em toda parte.

Como artista e acadêmico da história da Igreja, pesquisei e publiquei sobre o uso de obras de arte no aprendizado da história e doutrina da Igreja. Como pintor, também contribuí com minhas próprias imagens para o conjunto de obras de arte sobre a Restauração. Minhas obras de arte tentam combinar o acadêmico e o pictórico, focando frequentemente em aspectos pouco retratados, mas importantes, da história e dos ensinamentos dos santos dos últimos dias, como o adolescente Joseph, encontrando sua pedra de vidente marrom, Joseph Smith traduzindo o Livro de Mórmon com o chapéu branco, a ordenação de homens negros ao sacerdócio durante a época de Joseph Smith, o primeiro batismo pelos mortos registrado e mulheres pioneiras realizando bênçãos de cura pela fé, entre muitas outras imagens.

Pesquisar, pintar, escrever e ensinar sobre essas imagens me levou a compartilhar as cinco sugestões a seguir sobre o uso de obras de arte para ajudá-los a estudarem Doutrina e Convênios e a história da Igreja neste ano.

1. Procure e use obras de arte

A arte visual é uma das linguagens humanas fundamentais e compartilhadas. Ela atravessa barreiras, culturas e o tempo. Ela pode falar sobre coisas de maneiras que fomentam a compreensão e a inspiração.

Faça proveito das excelentes imagens fornecidas com o manual “Vem, Segue-me”. Mostre-as para sua família e classes. Há uma razão para a frase coloquial “uma imagem vale mais que mil palavras”, porque nosso cérebro processa informações visuais mais rapidamente e em taxas mais altas do que o som ou mesmo o toque (ver Isaac Lidsky, “Que realidade você está criando para si mesmo?”, TED Summit, junho de 2016).

Anthony R. Sweat apresenta sua palestra, "Destaques do Bicentenário: Iluminando Doutrinas da Década de Fundação", durante a Semana da Educação no Centro Marriott em Provo na terça-feira, 20 de agosto de 2024.
Anthony R. Sweat apresenta sua palestra, "Destaques do bicentenário: Iluminando doutrinas da década de fundação", durante a Semana da Educação no Marriott Center em Provo, Utah na terça-feira, 20 de agosto de 2024. | Kristin Murphy, Deseret News

Como um manual de ensino da Igreja declarou: “A arte ... pode ajudar a envolver os alunos, principalmente aqueles que aprendem visualmente, e tornar os relatos das escrituras mais marcantes. A arte que você usa deve ser mais do que decoração; ela deve ajudar os alunos a entenderem as doutrinas do evangelho. O Livro de Gravuras do Evangelho e a Biblioteca de Mídia no site ChurchofJesusChrist.org ... contêm muitas imagens e vídeos que podem ajudar os alunos a visualizar os conceitos ou eventos” (Ensinar à maneira do Salvador, “Parte 3: Ensinar a Doutrina”, 2016).

2. Não tenha medo da arte desafiadora

Não tenha medo da arte que representa aspectos desafiadores da mortalidade e da história.

O que torna a arte tridimensional é o uso de destaques, tons médios e sombras. Sem todos os três, as coisas seriam planas. No entanto, às vezes na arte, na história da Igreja e na vida, queremos apenas destaques, os sucessos e triunfos da fé. Mas a mortalidade nem sempre é gloriosa, às vezes pode ser mundana e tem episódios de tragédia e fracasso.

É semelhante com a Restauração. Ela tem destaques, tons médios e sombras. Estamos em um ponto crucial em relação a como a história da Igreja é abordada pela Igreja institucional. Esforços como a história narrativa da Igreja em “Santos”, os Textos sobre os Tópicos do Evangelho e os Documentos de Joseph Smith [em inglês] refletem uma abordagem aberta e diferenciada da história da Igreja, que não foge de assuntos mais difíceis. E nosso uso de obras de arte pode seguir esse caminho.

"O Bosque Sagrado", uma pintura do artista Greg K. Olsen.
"O Bosque Sagrado", de Greg K. Olsen. | The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints

O discurso histórico de Presidente Spencer W. Kimball sobre “A visão do evangelho sobre as artes” [em inglês] pediu que os artistas pintassem “a história da Restauração” e “o restabelecimento do reino de Deus na Terra”, mas também pintassem imagens que retratassem “as lutas e frustrações; as apostasias e revoluções internas e contrarrevoluções daquelas primeiras décadas.”

As imagens da Ressurreição significam muito, por causa do Getsêmani e do Calvário. Há revelações do Missouri em meio ao extermínio. O destaque da Primeira Visão é ofuscado pelos assassinatos em Carthage. Devemos celebrar os ensinamentos sobre o casamento eterno, mas não nos esconder das confusões do casamento plural de Nauvoo. A investidura do templo precede o sepultamento dos pioneiros. Ao abraçarmos a arte que retrata os destaques, os tons médios e as sombras da Restauração, podemos ver Deus mais plenamente trabalhando em nossa história, nos altos e baixos, e da mesma forma conosco.

3. Permita que as obras de arte inspirem e as escrituras/história informem

Às vezes, podemos ter o que é chamado de “amnésia da fonte”, quando se trata de onde/como aprendemos as coisas. Por exemplo, se eu perguntar: “No reino do Milênio, a inimizade das feras cessará e ‘o _______ também habitará com o cordeiro’”, o que automaticamente surgiu na sua cabeça? Provavelmente não é a resposta correta, e talvez seja por causa da arte que fez você pensar em “leão” em vez de “lobo” (veja Isaías 11:6; 65:25).

"O Primeiro Batismo pelos Mortos", uma pintura de Anthony Sweat, um artista e professor da BYU.
"O primeiro batismo pelos mortos" de Anthony Sweat, um artista e professor da BYU. | Anthony Sweat

Algumas pessoas ficam aborrecidas porque a arte muitas vezes não é totalmente precisa em termos de escritura ou historicamente. Mas a precisão histórica perfeita é um ideal impossível, e até mesmo indesejável. Comece a pintar a Primeira Visão, por exemplo. Como você sabe como Deus se parece, ou que Ele usava aquela roupa daquele jeito? Foi assim que Joseph realmente se posicionou? Lembre-se, arte e história falam línguas diferentes. História quer fatos; arte quer significado. História quer validar fontes; arte quer evocar emoção. História é mais substância; arte é mais estilo. História quer precisão; arte quer estética. Embora devamos usar a arte para auxiliar o aprendizado, devemos centralizar nosso aprendizado de história e doutrina em fontes confiáveis (escrituras, palavras dos profetas, pesquisa) e deixar a arte fazer seu trabalho de beleza e inspiração.

4. Tente ler e interpretar a arte

Em vez de criticar o fato de Harry Anderson ter pintado Jesus com uma túnica branca e não vermelha em sua pintura clássica, “A Segunda Vinda”, pergunte qual mensagem a pintura busca comunicar.

A arte fala por meio de como ela usa princípios e elementos de design e seu uso de ícones ou símbolos. Analise meios composicionais como forma, cor, textura, valor, contorno, proporção, contraste, etc. Por exemplo, suponha que uma obra de arte pinte Deus 10 vezes maior do que uma pessoa comum. O que isso poderia estar tentando dizer? Por que geralmente pintamos Jesus usando longas vestes brancas esvoaçantes (quando ele provavelmente não se vestia assim na mortalidade)?

Na minha opinião, a arte não deve ser interpretada como doutrina oficial nem realidade histórica. Arte é expressão visual simbólica e interpretativa, não representação literal. Portanto, que possamos ouvir com nossos olhos enquanto a arte transmite conceitos, ideias, emoções. Vamos deixar a arte nos ajudar a iniciar conversas por meio da interpretação e análise de seus princípios e elementos.

"Cristo Aparece no Templo de Kirtland", uma pintura do artista Walter Rane.
"Cristo aparece no Templo de Kirtland", de Walter Rane. | The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints

5. Abrace várias formas estéticas de arte

Realismo e pinturas bem detalhadas são tecnicamente impressionantes e podem ser poderosas, trazendo o passado quase literalmente à vida. Mas algumas pessoas estão acostumadas a pensar que a melhor arte é a arte mais fotorrealista. Às vezes, no entanto, a “abstração” (a distorção para longe da representação realista) é desejável, porque deixa de fora detalhes que distraem, convidando o observador a participar e completar a imagem mentalmente, e claramente envia a mensagem: “Isto não é história; é arte.”

A abstração também pode falar mais amplamente por ser menos específica. Encontre arte relacionada à Igreja e seus ensinamentos que falem individualmente com você. Não importa se os outros gostam deles, você gosta. Alguns podem ser movidos por ilustrações mais realistas, outros por pinturas clássicas mais dramáticas, outros por imagens coloridas brilhantes e alguns por arte impressionista, geométrica, simbólica, conceitual ou abstrata.

Se a Restauração reúne todas as coisas em uma, não deveria ser surpresa que, com o tempo, nós, como povo, também reuníssemos e usássemos todos os estilos diferentes de arte no processo.

A pintura de Minerva Teichert, "As mulheres de Utah salvam o dia", é vista na entrada de uma exposição dedicada a homenagear seu trabalho e a vida das mulheres pioneiras, na Anthony's Fine Art & Antiques em Salt Lake City, Utah na quarta-feira, 3 de julho de 2024. | Brice Tucker, Deseret News

Abençoados por vivermos em uma época visual

Acredito que somos abençoados por vivermos em uma época artisticamente visual e abundante e por termos uma Igreja que abraça as artes para facilitar o aprendizado do evangelho e a inspiração de seu povo. Nosso grande Criador fez as coisas de modo funcional, “para o benefício e uso do homem”, mas também amorosamente “tanto para agradar aos olhos como para alegrar o coração” (Doutrina e Convênios 59:18). Esses propósitos duplos de função e forma, percepção e inspiração, parecem também se aplicar em nosso uso de imagens artísticas, ao visualizarmos a Restauração neste ano, em nosso estudo de Doutrina e Convênios e história da Igreja.

Anthony Sweat [em inglês] é professor de Doutrina e História da Igreja, na Universidade Brigham Young.

A obra “Christ in a Red Robe” [Cristo em um manto vermelho] foi apresentada em uma exposição com 45 pinturas de Minerva Teichert, no Museu de História da Igreja, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, de 6 de julho de 2023 a 3 de agosto de 2024. | Elder Hunter Winterton, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints
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