Em 1931, um jornal publicou a foto de uma pintura de Minerva Teichert que retrata pioneiros santos dos últimos dias se regozijando, enquanto gaivotas comem os gafanhotos que destruíam um campo de cultivo. A figura central é um homem de barba, com os braços estendidos. Outras pessoas se ajoelham ao seu redor no campo, rendendo graças a Deus.
É uma história que Teichert pintou mais de uma vez em sua carreira e uma de suas pinturas mais conhecidas, “Saved by Seagulls” [Salvos pelas Gaivotas], que retrata uma cena semelhante de gratidão e alegria.
Mas os historiadores de arte ficaram perplexos com esta pintura específica, de uma gaivota com o homem de barba. A foto do jornal provou que ela existia, e cartas do agente de Teichert indicam que ela provavelmente tentou vendê-la. Mas não houve registro do que aconteceu com a pintura em si.

Então, em 2021, durante o processo de limpeza e restauração de “Saved by Seagulls”, especialistas em conservação de arte tiraram fotos com luz infravermelha da peça, e descobriram restos de uma obra anterior sob a pintura. As linhas e formas correspondiam às da foto do jornal de 1931. A pintura desaparecida de Teichert foi encontrada.
“O que realmente nunca prestamos atenção, ou certamente eu nunca prestei atenção, é que os números no lado esquerdo desta imagem do jornal... estão alinhados com os números [em ‘Saved by Seagulls’]”, disse Laura Paulsen Howe, curadora de arte do Museu de História da Igreja.


“Saved by Seagulls” foi vendida em 1937, continuou Howe, o que significa que Teichert deve ter pintado a imagem do homem de barba algum tempo antes disso. “Não sabemos o contexto do motivo pelo qual [ela pintou por cima da imagem anterior]”, disse Howe, mas essa descoberta foi “realmente emocionante.”
A história de conservação de “Saved by Seagulls” foi uma das várias que Howe compartilhou no Museu de História da Igreja, na quinta-feira, 23 de maio.
Ela estava acompanhada por Shiree Roberts, supervisora de conservação da Biblioteca de História da Igreja, em um fórum do programa “Noite no Museu” intitulado “Peeling Back the Paint: A Behind-the-Scenes Look at Recent Preservation Treatments of the Paintings of Minerva Teichert” [Removendo a tinta: Uma visão dos bastidores dos recentes tratamentos de preservação das pinturas de Minerva Teichert]. Roberts era a conservadora do Museu de História da Igreja quando a exposição de Teichert do museu, “Com este convênio em meu coração: Arte e fé de Minerva Teichert” [em inglês], foi inaugurada em julho de 2023.
A exposição gratuita apresentava 45 pinturas originais de Teichert e esteve disponível para visualização até 27 de julho de 2024.
Howe disse que o Departamento de História da Igreja leva a sério a responsabilidade de coletar, preservar e compartilhar histórias de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O desafio de uma exposição em um museu, contudo, é que muitas vezes exige um equilíbrio entre “preservar” e “compartilhar.”
“Às vezes, isso pode parecer um cabo de guerra amigável entre especialistas”, disse Howe. “Os conservadores querem garantir que os itens durem e os curadores querem garantir que os itens sejam vistos. Mas acho que Shiree concorda [que], trabalhar juntos para encontrar o equilíbrio entre essas duas coisas é profundamente satisfatório.”

Esforços de conservação
Teichert (1888-1976) encontrou tempo para pintar enquanto ela e o marido criavam sua família, em uma fazenda de gado em Cokeville, Wyoming, informou anteriormente o Church News. Ela também estava envolvida em sua comunidade, adorava aprender, estudar as escrituras e fazer o trabalho de história da família.
Como artista plástica, ela pintou histórias do Salvador, a Restauração do evangelho, temas do Velho Testamento, tais como a coligação de Israel, narrativas do Livro de Mórmon e histórias do oeste dos Estados Unidos, incluindo povos indígenas e colonos do século XIX.
Ela criou de 300 a 400 obras de arte em sua vida. O número exato não é conhecido porque não existe um catálogo completo.
A Igreja foi um dos principais patrocinadores das obras de Teichert, nas décadas de 1930 e 1940. Devido aos esforços de sua amiga e agente, Alice Merrill Horne, as obras de Teichert foram exibidas nas capelas santos dos últimos dias e em outros edifícios da Igreja, tais como a Lion House em Salt Lake City, tabernáculos de cidades em várias partes do estado de Utah e a sala do mundo, do Templo de Manti [em inglês].
Infelizmente, alguns desses locais expuseram a pintura de Teichert a mais desgastes do que outros. Por exemplo, “1847 Madona” ficou durante décadas ao alcance das crianças em idade escolar na South Cache High School, que mais tarde se tornou South Cache Middle School; e “Not Alone” estava pendurado no ginásio de uma capela, antes de ser restaurado e colocado no Templo de Pocatello Idaho.
Durante o evento de 23 de maio, Howe e Roberts detalharam as maneiras pelas quais os grupos de conservação de arte ajudaram a restaurar as pinturas de Teichert.


Para “1847 Madona”, Roberts disse que um dos maiores desafios foi determinar se as várias marcas de grafite eram de Teichert, ou rabiscos de crianças em idade escolar. Os esboços a lápis de Teichert, às vezes são visíveis através de suas finas camadas de tinta, e ela às vezes adicionava linhas de grafite sobre a tinta, de acordo com o site do Museu de História da Igreja [em inglês].
“1847 Madona” também sofria de pintura solta em relevo (quando a tinta começa a se desprender da tela), perda de tinta perto das bordas da moldura e pequenos buracos na tela causados por grampos, entre outros problemas. Roberts explicou que depois de limpar a pintura, os conservadores de arte consertaram a tinta solta em relevo, usando calor e adesivo para nivelar a tinta. Eles então aplicaram a pintura em um novo suporte, preencheram as perdas de tinta e cortaram os fios soltos das bordas da tela.
“Temos que respeitar o artista quando fazemos essas coisas, tanto quanto pudermos”, disse Roberts, acrescentando que “centenas” de horas meticulosas foram gastas na preservação das pinturas de Teichert.


No caso de “Not Alone”, Howe disse que uma equipe de oito pessoas removeu a pintura de 2,30 m x 2,90 m da parede, mas ela não passava pela porta, até a moldura ser removida. Mais tarde, os conservadores de arte trataram a tinta solta em relevo, rasparam um adesivo de resina de cera da parte de trás, e prenderam a peça em um novo suporte.
Para mais histórias de conservação de arte sobre as pinturas de Teichert, consulte a seção “Histórias de Conservação” [em inglês] do site do Museu de História da Igreja.
Preservando a visão do artista
Howe enfatizou que tudo o que curadores e conservacionistas fazem tem como objetivo preservar a visão original do artista.
Na sua função de curadora, isto significa pesquisar o máximo possível as técnicas dos artistas. Por exemplo, que tipo de tinta eles usaram? Eles gostavam ou não de verniz? Que materiais eles preferiam?
“Então esse se tornará o trabalho do curador: pesquisar e descobrir essas informações para que, quando estivermos fazendo escolhas sobre como... conservar uma peça, estejamos fazendo o nosso melhor, para fazê-lo como Minerva gostaria que fosse feito”, disse Howe.

Roberts acrescentou que os conservadores de arte vêm de diversas origens, geralmente uma combinação de Arte, História da Arte, Arqueologia, Antropologia e Ciências Exatas, especialmente Química. Embora seja difícil prever quanto tempo durará qualquer trabalho de conservação, a esperança é que cada peça ganhe pelo menos mais 50 anos de vida.
“[Os conservacionistas] aprendem como extraírem técnicas e ferramentas de todos esses campos de origem, para preservarem materiais do património cultural para o futuro”, disse Roberts.
Howe encerrou expressando sua gratidão pela oportunidade de compartilhar a vida, a fé e a arte de Teichert.
Graças aos esforços dedicados das empresas de conservação, as quais trabalham com o Departamento de História da Igreja, “estas pinturas e estas histórias estarão disponíveis para inspirarem as gerações futuras durante muito tempo”, disse ela.