LONDRES, Inglaterra — Enquanto Élder Quentin L. Cook continuava sua designação de ministério na Área Europa Norte, ele se encontrou com líderes religiosos e educacionais no Santuário da Igreja Ortodoxa Copta em St. Andrew-by-the-Wardrobe, em Londres e na Universidade de Oxford, Inglaterra.
Na quarta-feira, 28 de maio, no centro de Londres, o Arcebispo Angaelos recebeu Élder Cook, do Quórum dos Doze Apóstolos, e outros cinco líderes religiosos para discutirem como grupos e indivíduos religiosos podem ser um exemplo de esperança em um mundo confuso.
“Precisamos dar esperança e oportunidades às pessoas”, disse Élder Cook. Além de sua missão de fé, ele disse que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias tem participado de projetos humanitários em todo o mundo, como parte desta esperança. Ele também falou sobre os esforços da Igreja para oferecer oportunidades educacionais, onde poucas delas existem.
Além destes tipos de esforços por parte de igrejas individuais, Élder Cook disse que tais igrejas devem modelar como é trabalhar em conjunto e ter diálogos civilizados, como este evento proporcionou.
“Precisamos aprender a conversar uns com os outros e não ter o tipo de raiva que existe. Essa é uma das coisas que poderíamos promover como entidades religiosas: diminuir o tom e garantir que nossa própria religião não esteja fazendo nada que promova algo que possa ser prejudicial a outra”, disse ele.
Demonstrando seu amor pela história da Restauração do evangelho e do país onde serviu sua missão, e onde seu bisavô serviu como um dos primeiros missionários da Igreja, Élder Cook descreveu as circunstâncias da época na Inglaterra em relação à liberdade religiosa.
“Sentimos uma enorme dívida de gratidão para com o Reino Unido”, disse Élder Cook. “Eles estavam à frente em termos de liberdade religiosa. Eles estavam à frente na abolição da escravidão”, disse ele sobre o legado do país.
Além de Élder Cook e do Arcebispo Angaelos, da Igreja Ortodoxa Copta, a reunião contou com a presença do Arcebispo Miguel Maury Buendía, núncio apostólico católico na Grã-Bretanha; do Rabino Elchonon Feldman, rabino sênior e representante do rabino-chefe no Reino Unido; do Reverendo Philip Mounstephen, bispo anglicano de Winchester e membro da Câmara dos Lordes; Padideh Sabeti, diretora da Comunidade Bahá’í do Reino Unido; e Fareed Ahmad, Executivo Nacional da Comunidade Muçulmana Ahmadiyya. Élder Michael T. Ringwood, membro da Presidência dos Setenta, e Élder Alan T. Phillips, Setenta Autoridade Geral e segundo conselheiro na presidência da Área Europa Norte, também compareceram e participaram da reunião. O encontro foi organizado e moderado por Matthew Jones, da Fundação FoRB [Liberdade de Religião ou Crença – em inglês].
Algumas dessas religiões são praticadas pela maioria da população em diferentes países ao redor do mundo. Algumas são minorias em cada país onde seus praticantes adoram. Liberdade religiosa, no entanto, não significa ter poder como indivíduo ou como coletivo de religiões.
“Não tem nada a ver com uma fé tentando superar outra”, disse Ahmad. Mas, nos casos em que a religião é abusada para exercer poder sobre os outros, isso tem um efeito subsequente em outros lugares, disse ele.
“Isto causa um efeito dominó. Um impacto sobre um bahá’í no Irã, um muçulmano no Paquistão, um cristão na Síria, terá consequências além das fronteiras”, continuou ele. Estas consequências ocorrem por causa da intolerância e do extremismo, afirmou.
O Reverendo Mounstephen disse que, pessoas que deixam suas casas em busca de um lugar mais seguro para viver estão estatisticamente na minoria religiosa do local de onde saem.
“Se você observar os locais onde a liberdade de religião ou crença é mais comprometida, o que você encontrará são misturas tóxicas de autoritarismo, fundamentalismo e nacionalismo que oprimem as minorias”, disse ele.
O Arcebispo Angaelos disse que, retirar qualquer grupo de uma comunidade remove as pessoas e tudo o que elas trazem consigo, criando uma sociedade monocromática.
“Acredito que somente trabalhando juntos poderemos dar algum passo à frente”, disse ele.
O Arcebispo Buendía parafraseou o falecido Papa João Paulo II, dizendo: “A liberdade religiosa está no cerne dos direitos humanos.”
Ele continuou dizendo que a falta de respeito pela religião de um indivíduo é uma falta de respeito por sua consciência e seus direitos humanos.
Élder Phillips expressou sua gratidão ao grupo por se reunir com perguntas difíceis e o desejo de trabalharem juntos para resolvê-las. Ele também incentivou os líderes a considerarem como os adolescentes, e outras pessoas que estão crescendo em suas crenças, podem contribuir para a discussão.
“A nova geração não gosta de ver outros sendo marginalizados”, disse ele.
Sentado ao lado de Élder Phillips para a discussão, Ahmad disse que uma maneira pela qual a liberdade religiosa é prejudicada para todos é quando membros de uma religião chamam os de outra de seus inimigos.
“Se ‘ele’ é o inimigo, tudo o que eu faço contra ele é justificado. Ele não é meu irmão. Ele não é como eu. Ele é o inimigo. E isto está acontecendo hoje”, disse Ahmad. “Quando ‘ele’ é o inimigo, então todo o respeito acaba.”
O rabino Feldman disse que um trio de jovens judeus foi atacado por um homem com uma faca, poucos dias antes em Londres, no que foi descrito como um ato de violência antissemita [em inglês]. Com o coração pesado, o rabino disse: “Devemos chegar a um tempo em que as liberdades de todos sejam mantidas e protegidas uns pelos outros, porque somos muito mais fortes juntos.”
Sabeti compartilhou as origens da religião Bahá’í no Irã, e disse que as pessoas de fé estão engajadas na construção de suas comunidades e na busca de soluções para problemas, apesar dos preconceitos.
“As comunidades religiosas… estão contribuindo para o avanço das sociedades em que vivemos. Ao persegui-las, elas não apenas violam os direitos humanos, (...) mas também impedem o progresso de toda uma população", disse ela.
De sua parte, Jones disse que vê as religiões sendo culpadas ao redor do mundo por diferentes conflitos do passado e do presente.
“A esperança que isso me traz é que exista a possibilidade da fé ter objetivos comuns”, disse ele. “As [diferentes] fés são parte de uma solução.”
Agradecimentos no pátio da Regent’s Park College
Em reunião no dia seguinte com Sir Malcolm Evans e a Baronesa Elizabeth Berridge na Universidade de Oxford, Élder Cook compartilhou uma cronologia da liberdade religiosa no Reino Unido, desde a Magna Carta, há 810 anos, em 1215, até a tradução da Bíblia do Rei James [Tiago], em 1611, e o trabalho de Sir Edward Coke sobre o Direito Comum Inglês, no início do século XVII. Ele observou que havia compartilhado uma cronologia semelhante na Pembroke College, no mesmo campus, em outubro de 2019.
Élder Cook disse que escolheu falar na Regent’s Park College por causa das liberdades religiosas que o local representa, fruto de sua herança batista. Essas liberdades religiosas foram fundamentais para o trabalho missionário e o crescimento de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em seus primeiros anos no Reino Unido.
Do final do século XVII a 1828, a Igreja Anglicana foi a única igreja estabelecida na nação. No início do século XIX, os metodistas, batistas e outras religiões não anglicanas tiveram um profundo impacto na moralidade do Reino Unido.
Em 9 de maio de 1828, o Parlamento revogou as “Leis de Teste e Corporações”, que impediam os não anglicanos de exercerem plenamente cargos públicos e certas profissões. Este foi um passo significativo em direção à liberdade religiosa para as chamadas crenças e fiéis não conformistas.
“Quando nossos primeiros missionários chegaram ao Reino Unido em 1837, Heber C. Kimball, e mais tarde Orson Hyde, compareceram ao tribunal e conseguiram uma licença legal das autoridades seculares para pregarem sua fé. Essa licença permitiu que os Élderes Kimball e Hyde certificassem sob juramento que as leis de Sua Majestade, a Rainha Vitória, seriam executadas, mas excluía especificamente a exigência de juramentos de lealdade e supremacia à Igreja [Anglicana] estabelecida, o que eles não podiam fazer”, disse Élder Cook.
Élder Cook agradeceu aos representantes das religiões que ajudaram a impulsionar a liberdade religiosa no Reino Unido na década de 1800. Ele observou que seus esforços possibilitaram que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias crescesse tão rapidamente em 1850, que o número de santos dos últimos dias na Inglaterra superava o dos Estados Unidos.
Berridge é membro atual da Câmara dos Lordes. Evans é diretor da Regent’s Park College em Oxford. Eles foram acompanhados por outros acadêmicos renomados e defensores da liberdade religiosa. Élder Ringwood e Élder Phillips também participaram do evento, juntamente com Élder Cook.
“Foi um verdadeiro privilégio e prazer ouvir o que ele tinha a dizer sobre as conexões históricas e a ideia de que é tão importante que todos tenham um espaço para desenvolverem suas tradições de fé, explorar e praticar”, disse Evans após os comentários de Élder Cook ao grupo.
Élder Cook já havia agradecido ao governo do Reino Unido por seu histórico de leis inclusivas que permitiram o avanço da liberdade religiosa na Grã-Bretanha. Durante este ministério, Élder Cook sentiu que era igualmente importante agradecer à comunidade religiosa por seus esforços para lutar e preservar cuidadosamente esses direitos ao longo dos anos.
“Um de nossos propósitos ao virmos aqui, foi o de prestar um agradecimento pessoal. Sentimos uma dívida de gratidão para com vocês”, disse Élder Cook.
Evans reconheceu a visita de Élder Cook como um passo positivo no fortalecimento da união de diferentes grupos religiosos, em um momento de crescente divisão ao redor do mundo.
“Essa é uma maneira de nos unirmos, em vez de, como muitas pessoas presumem, nos separarmos”, disse Evans.
Em Oxford, Élder Cook também visitou um escritório onde parte da tradução da versão do Rei James da Bíblia foi realizada. Esse espaço na Corpus Christi College é agora o escritório de Mark Wrathall, professor de Filosofia em Oxford. Wrathall disse que o escritório pertenceu ao presidente da Corpus Christi College, John Rainolds, no início do século XVII.
“[Rainolds] era um proeminente teólogo puritano da Igreja da Inglaterra que disse ao Rei James que a igreja precisava de uma nova tradução da Bíblia”, disse Wrathall. Ele explicou como Rainolds e sua equipe se reuniam naquele escritório para falarem sobre as traduções e interpretações da Bíblia do século XVII, do hebraico para o inglês.
Élder Cook disse que o significado daquela tradução da Bíblia é profundo para os santos dos últimos dias e para muitos outros cristãos de língua inglesa. Ele disse que estar naquele local histórico foi “muito especial.”
