Nota do editor: Este mês marca o 175º aniversário da chegada da primeira companhia de pioneiros ao Vale do Lago Salgado em julho de 1847, após santos dos últimos dias terem sido expulsos por turbas da região de Nauvoo, Illinois, no ano anterior. Durante este mês, o Church News está homenageando os feitos dos pioneiros que cruzaram as planícies há 175 anos, bem como os dos santos dos últimos dias pioneiros de diversas épocas em todos os continentes. Hoje: Wetekia Ruruku Elkington da Nova Zelândia.
Ultimamente, Vicki Lee Wihongi tem sido uma mulher ocupada.
A pandemia de COVID-19 exacerbou os sentimentos de solidão ou isolamento que muitas pessoas já tinham, ou fez com que tivessem de lidar com problemas de saúde crônicos ou preocupações financeiras crescentes.
Como conselheira licenciada, os negócios, como se costuma dizer, vão bem.
Wihongi também é diretora de um comitê de comunicação da Igreja que está se preparando para a visitação pública do Templo de Hamilton Nova Zelândia.
E ela é mãe de seis filhos, avó de 16 netos e cuida de sua mãe idosa. “Essa é a minha primeira responsabilidade — e o meu primeiro trabalho gratificante”, disse Wihongi com um sorriso.
Mesmo assim, “há sempre muito a ser feito.”
Em meio a fotos de família e credenciais profissionais penduradas no escritório de Wihongi em Hamilton, Nova Zelândia, está a moldura de um retrato em preto e branco de sua bisavó, Wetekia Ruruku Elkington.
Na foto, Wetekia é retratada como uma jovem com cabelos longos e soltos, olhos escuros e inteligentes, e um semblante sereno.
Olhando para o retrato, com conhecimento da vida e do testemunho de sua bisavó e seus tuupuna (ancestrais), faz com que Wihongi se lembre de que não está sozinha. Enquanto aprende sobre o trauma vivido por outras pessoas, seus tuupuna a fortalecem, disse Wihongi, o que permite que ela, por sua vez, ajude seus clientes.

Uma pioneira da Nova Zelândia
Wetekia Ruruku nasceu em 19 de junho de 1879, na Ilha d’Urville em Marlborough Sounds, ao longo da costa norte da Ilha Sul da Nova Zelândia.
Para os maoris, o local é conhecido como Rangitoto ki to Tonga, ou “céu vermelho do sul”, e a ilha montanhosa de 150 km² está coberta de mata nativa espessa, ou floresta.
Filha de um chefe, Wetekia era considerada uma matakite — uma visionária. Quando jovem, ela sonhou certa noite com dois homens pakeha (ingleses), com chapéus e casacos pretos que oravam com o braço direito erguido.
Em seu sonho, havia também um livro com suas páginas abertas para ela. Quando acordou, ela estava feliz e contou a seu pai, Roma Hoera Ruruku, sobre seu sonho. Ele lhe disse: “É um bom sonho, você é abençoada por Deus” (“Turning the Hearts of the Children”, Nolamay Campbell, pág. 160).
Anos antes, Roma Hoera havia presenciado o rei Tawhiao fazer uma profecia semelhante sobre uma nova religião, na qual seus ministros viriam em duplas, orariam com braços erguidos e comeriam, conversariam e viveriam com os maoris.
Portanto, ao ouvir o sonho que sua filha teve, Roma Hoera acreditou nela. Pouco tempo após o sonho de sua filha, ele compareceu a um funeral no qual o homem solicitado a fazer a karakia (oração) ergueu seu braço.
Quando Roma Hoera perguntou ao homem sobre o gesto, ele respondeu que era membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que havia missionários da América, que eles viviam com o povo, falavam sua língua e erguiam o braço quando oravam.

Roma Hoera atravessou o Estreito de Cook até a Ilha Norte e encontrou os missionários, os quais lhe ensinaram o evangelho. Ele foi batizado em 22 de fevereiro de 1892. Ansioso para compartilhar sua nova religião com sua família, ele convidou os missionários para irem à Ilha d’Urville. Wetekia e muitas outras pessoas foram batizadas em 27 de fevereiro de 1892. Não demorou muito até que um ramo fosse organizado e Roma Hoera fosse chamado como o primeiro presidente da unidade.
Cerca de três meses após seu chamado, chegou uma caixa com o Livro de Mórmon. Wetekia exclamou que aquele era o livro de seu sonho. Seu pai lhe deu um alfabeto maori e um exemplar do Novo Testamento, e Wetekia aprendeu a ler sozinha.
Ela se casou com John Arthur (Ratapu) Elkington em 1893. Eles tiveram 13 filhos, tendo sobrevivido nove deles. Seus filhos recordavam que começavam cada dia com uma waiata (canção) e oração, e terminavam cada dia com a leitura das escrituras, uma canção e oração.
Em muitos aspectos, a vida da Wetekia foi definida por atos de serviço abnegado. Ela ensinou e orientou outras mulheres, cuidou e alimentou muitas crianças dentro e fora de sua família, e foi uma defensora ferrenha do evangelho e de sua família. Seu exemplo e seu testemunho levaram outras pessoas à Igreja. Em seus últimos anos, ela ficou paralisada e acamada e, durante o repouso forçado, começou a compilar sua genealogia e gravar as canções e cânticos que aprendeu com seu pai (Veja “Turning the Hearts of the Children”, Nolamay Campbell, págs. 155-167).
Wihongi recordou que muitas terras de sua bisavó foram confiscadas pelo governo, mas ela vendeu uma parte do que lhe restava para poder enviar seus netos, incluindo o pai de Wihongi, a Temple View na Ilha Norte, para que eles ajudassem a construir o Church College of New Zealand (Colégio da Igreja da Nova Zelândia) e o Templo de Hamilton como missionários de obras, um serviço voluntário, na década de 1950.
Wetekia faleceu em 20 de setembro de 1957, na Ilha d’Urville, aos 78 anos de idade.
É difícil mensurar o impacto de Wetekia, disse Wihongi. A vida e o testemunho de Wetekia têm fornecido raízes profundas no evangelho de Jesus Cristo e fortalecido gerações. Wihongi faz parte da quinta geração de membros da Igreja, e seus filhos e netos fazem parte da sexta e sétima gerações, respectivamente, de santos dos últimos dias.
O crescimento da Igreja
Wetekia e seu pai são exemplos de muitos pioneiros na Nova Zelândia que proporcionaram os alicerces espirituais para seus mokopuna (netos).
Os primeiros missionários chegaram à Nova Zelândia em 1854, mas a obra missionária só começou a criar raízes entre as comunidades rurais de maoris no início da década de 1880.
Muitos maoris, como Wetekia e seu pai, reconheceram os missionários santos dos últimos dias como o cumprimento da profecia feita por profetas maoris e estavam prontos para aceitar o evangelho de Jesus Cristo. Em 1887 [em inglês], 2.243 dos 2.573 membros da Igreja na Nova Zelândia eram maoris. Hoje, existem cerca de 113.000 santos dos últimos dias em mais de 200 congregações.
O Livro de Mórmon foi publicado pela primeira vez em maori em 1889, e a Igreja continuou a crescer, graças aos fiéis conversos maoris.

Na década de 1950, a Igreja se esforçou para oferecer maiores oportunidades educacionais, e missionários de obras foram chamados para construir o Maori Agricultural College [Colégio Agrícola Maori] e, mais tarde, o Church College of New Zealand [Colégio da Igreja da Nova Zelândia], assim como outros edifícios religiosos e educacionais.
Em 1955, foram anunciados planos para a construção de um templo que atenderia membros da Igreja em todo o Pacífico Sul. Uma colina verde adjacente ao Church College of New Zealand chamada Tuhikaramea, a 8 km de Hamilton, foi selecionada.
Para ajudar na construção do templo, empreiteiros dos Estados Unidos foram chamados para servirem missões de obras que, por sua vez, treinaram jovens missionários de obras que vieram de toda a Nova Zelândia e dos Mares do Sul.
Presidente David O. McKay dedicou o Templo de Hamilton Nova Zelândia em 20 de abril de 1958. No mesmo ano, foi criada a Estaca Auckland Nova Zelândia.
Outro sinal do crescimento da Igreja no Pacífico Sul foi a abertura de um centro de treinamento missionário em Hamilton, em 1977. A 30ª estaca da Nova Zelândia foi organizada em 2016: a Estaca Dunedin Nova Zelândia.
Presidente Russell M. Nelson anunciou um segundo templo para a Nova Zelândia em Auckland, durante a conferência geral de outubro de 2018. Mais tarde, ele anunciou o local do templo (Redoubt Road na cidade de Manukau), enquanto visitava Auckland durante sua viagem de ministério pelo Pacífico [artigo em inglês], em maio de 2019. Presidente Nelson também anunciou um templo para Wellington, Nova Zelândia, durante a conferência geral de abril de 2022.

Seguindo em frente
Atualmente, a Nova Zelândia é uma mistura de culturas com fortes laços culturais com outras ilhas do Pacífico, explicou Élder Glen Burgess, Setenta de Área.
A maioria dos membros da Igreja na Nova Zelândia ainda é composta por maoris e polinésios. “Eles são amorosos e caridosos por natureza. Servir é algo natural para eles, e têm um profundo amor e crença em Deus”, disse Élder Burgess.
Com o templo de Hamilton fechado para reformas durante os últimos quatro anos, muitos santos dos últimos dias da Nova Zelândia não puderam adorar na casa do Senhor, disse Élder Burgess. Os membros estão aguardando ansiosamente a visitação pública no próximo mês (de 26 de agosto a 17 de setembro) e a rededicação em 16 de outubro.
Wihongi também falou de seu entusiasmo pela abertura do templo de Hamilton. Seu pai foi um missionário de obras que ajudou a construir o templo. Ela passou o primeiro ano de sua vida em um dos baches, ou barracas, no canteiro de obras. Seu filho participou do trabalho de renovação.
E além de seu trabalho com a preparação para a visitação pública, Wihongi também narrou recentemente um vídeo produzido sobre os missionários de obras. Certo dia, enquanto gravava a narração, ela sentiu a presença de seu pai e tio falecidos, e de outros indivíduos que estavam felizes com o trabalho que estava sendo realizado para divulgar a reabertura do templo.

“É um trabalho maravilhoso e gratificante”, disse Wihongi. “Sinto que participar deste trabalho é um grande privilégio.”
Os membros também estão ansiosos para a conclusão do templo de Auckland, acrescentou Élder Burgess. “O novo templo de Auckland servirá como um farol sobre a Rodovia Estadual 1 e será uma característica icônica da paisagem de Auckland.”
No mundo de hoje, há muitas coisas que competem pela atenção e tempo das pessoas, desafiando suas crenças, observou Wihongi. Como conselheira, ela vê muitos com medo em relação ao futuro, assim como a necessidade que as pessoas têm de se sentirem ligadas a algo maior do que elas mesmas.
Tais coisas a tornam muito mais grata por seus tuupuna. “É um belo legado”, disse Wihongi.
A Igreja na Nova Zelândia
Membros: 113.436
Templos: 2 (Auckland e Hamilton)
Estacas: 30
Alas e ramos: 224
Missões: 3
História: Os primeiros missionários chegaram à Nova Zelândia em 1854 e ramos foram estabelecidos. Grandes congregações se desenvolveram na década de 1880. O Livro de Mórmon em maori foi publicado pela primeira vez em 1889. Na década de 1950, muitos membros foram chamados como missionários de serviço para ajudar a construir edifícios educacionais e religiosos, incluindo um templo em Hamilton, que foi dedicado em 1958. Naquele mesmo ano, a Estaca Auckland foi organizada, a primeira da Nova Zelândia.