PROVO, Utah — Os anos de 2006 e 2007 registaram um “aumento enorme” no número de nascimentos nos E.U.A., disse Timothy P. Carney, membro sênior do American Enterprise Institute [em inglês].
A primeira filha de Carney nasceu nesse período, e ele se lembra do hospital tê-la colocado em um berçário adicional, montado em um corredor, para acomodar o grande número de bebês. Até celebridades como Tom Cruise, Angelina Jolie e Britney Spears tiveram filhos durante esses anos, disse ele.
Mas em vez do esperado aumento no número de bebês, 2008 teve uma queda significativa, e a taxa de natalidade nos E.U.A. caiu quase todos os anos desde 2007, até à pandemia de 2020, disse Carney.
Esta tendência afetou o número de crianças que vivem no país. Em 2010, os E.U.A. abrigavam 74,2 milhões de crianças com idades entre 0 e 17 anos, de acordo com a pesquisa de Carney. No censo de 2020, esse número caiu para 73,6 milhões e depois caiu mais 2 milhões nos dois anos seguintes.
Carney descreveu essas e outras descobertas em seu novo livro, “Family Unfriendly: How Our Culture Made Raising Kids Mucher Harder Than It Needs to Be” [Família pouco amigável: Como nossa cultura tornou a criação dos filhos muito mais difícil do que o necessário], lançado em 19 de março, pela HarperCollins Books.
Ele falou sobre por que as taxas de natalidade estão diminuindo e explorou os desafios modernos da criação de filhos, durante um fórum do Instituto Wheatley da Universidade Brigham Young [em inglês] na quinta-feira, 14 de março de 2024.
Carney disse que, é uma crença comum que as preocupações econômicas e o egoísmo são os maiores motivos pelos quais as pessoas optam cada vez mais por não terem filhos. Mas ele não acha que seja tão simples.
Em vez disso, ele acredita que as mudanças na cultura parental, e até mesmo as mudanças na forma como as pessoas se veem, são os maiores fatores que explicam por que as pessoas atrasam ou renunciam à concepção.
Por exemplo, Carney disse que os pais se sentem pressionados mais do que nunca, a produzirem o próximo prodígio musical ou desportivo, incentivando os filhos a se destacarem em atividades extracurriculares que as gerações anteriores consideravam apenas divertidas.
E além de sentirem pressão para fazerem mais pelos filhos, os pais sentem uma pressão cada vez maior para fazerem tudo sozinhos. Apesar da criação de filhos ser um “empreendimento comunitário” inerente, se tornou um empreendimento individualizado.
“O fato de que a sociedade não deva, supostamente, ajudar as pessoas a cuidarem de seus filhos é uma ideia nova. É uma ideia insalubre”, disse Carney.
Fazer mais pelos filhos: A ‘armadilha da equipe de viagem’
Uma razão, pela qual as pessoas podem estar adiando a criação de famílias, é o medo de não conseguirem acompanhar as crescentes pressões sobre os pais, para ajudarem seus filhos a alcançarem alturas quase impossíveis.
Carney cunhou o termo “armadilha da equipe de viagem” para descrever a tendência dos pais que incentivam seus filhos a se destacarem nos esportes, na música ou em outras atividades extracurriculares. Para muitos pais, jogar na liga infantil não é mais apenas uma questão de diversão das crianças, se trata de criar a próxima estrela do beisebol [ou do futebol].
Carney disse que ele próprio caiu nessa armadilha, quando um de seus filhos se juntou à equipe de viagem de beisebol de sua escola. Com apenas 12 anos, se esperava que seu filho participasse dos treinos de inverno, e o treinador acreditava que o beisebol não era divertido, a menos que o time estivesse vencendo.
Eventualmente, seu filho interrompeu o treino para passar o tempo simplesmente jogando beisebol com um amigo. Carney ficou “atormentado” pelo medo de que seu filho estivesse desistindo de algo, embora seu filho já estivesse desistindo de tempo com amigos e familiares devido ao beisebol.
“Então isso, para mim, incorpora o espírito da equipe de viagem e alguns de seus danos, que é transformar um jogo em um trabalho, e fazer as crianças pensarem que o objetivo dos esportes é apenas [para que] eles sejam os melhores”, Carney disse.
Isso não quer dizer que as crianças não devam buscar a excelência em quaisquer que sejam seus interesses, esclareceu ele. Em vez disso, quando as crianças são levadas a sentir que todo o seu valor está ligado à forma como praticam e jogam um esporte, ou aprendem a tocar um instrumento, o fracasso pode ser “devastador.”
Ele também incentivou os pais a não transformarem seu tempo juntos em sessões de treinamento, como fez uma vez quando tentou ajudar seu filho a se tornar um jogador melhor, quando tudo o que seu filho realmente queria fazer era arremessar e pegar bolas de beisebol.

Fazer tudo sozinhos
Além de acreditarem que têm de fazer mais do que nunca pelos seus filhos, muitos pais acreditam cada vez mais que precisam fazer tudo sozinhos.
Carney disse que comunidades unidas, geralmente têm mais filhos, porque os pais sabem que, quando precisarem de ajuda, podem contar com os vizinhos.
Por outro lado, quando as pessoas sentem que criar os filhos é um esforço individual e que apoiar as famílias não é problema seu, a escolha de ter filhos pode se tornar angustiante.
O núcleo familiar, disse Carney, é “absolutamente a instituição mais importante do país”, mas não sobrevive sozinha. Assim como um coração não funciona sem cérebro, as famílias foram feitas para confiarem umas nas outras.
“O melhor da comunidade é que ela é relacional e não transacional... você ajuda alguém porque essa pessoa precisa”, disse ele. E eles ajudam porque ninguém está mantendo um livro, registrando tudo aquilo que fazem. Essas são as virtudes que muitas vezes são esquecidas.”
Descrença na bondade das pessoas
Um fator adicional na decisão das pessoas de terem filhos pode ser a forma como elas veem a si próprias e à humanidade como um todo.
Carney disse que, em seu livro, ele argumenta que o aumento no número de bebês nas gerações anteriores ocorreram porque as pessoas acreditavam que elas eram boas pessoas. Por exemplo, depois da Segunda Guerra Mundial, os americanos que serviram como soldados, voltaram para casa e se casaram relativamente rápido com mulheres que mantiveram o país funcionando. Eles acreditavam que eram boas pessoas e, portanto, estavam ansiosos para constituir famílias, disse ele.
Por outro lado, no mesmo período, a Alemanha, Japão e Itália não registaram um aumento no número de bebês na mesma época, disse Carney, e ele acredita que é porque as pessoas nesses países tiveram dificuldade de se verem como boas.
Hoje, muitas pessoas acreditam que a humanidade é inerentemente má, disse Carney. Ele se lembrou de uma conversa com uma mulher, que lhe disse que achava que as pessoas são “o câncer da Terra.”
Além disso, muitos estão preocupados que “a superpopulação esteja matando o planeta”, disse Carney, apesar do número maior do que nunca de aposentados e do número menor do que nunca de jovens trabalhadores para substituí-los. Ele destacou uma variedade de escritores que expuseram sua decisão de renunciar aos filhos, devido a preocupações como as alterações climáticas.
Atitudes como estas, disse Carney, destacam a necessidade da religião nas comunidades. Muitas culturas religiosas ensinam que as pessoas podem ser pecadoras, mas ainda são inerentemente boas e, portanto, ter mais pessoas na Terra é bom.
Em última análise, ter filhos leva as pessoas a melhorarem, segundo Carney. Ele ainda comentou sobre o amor intenso que uma pessoa sente ao segurar seu bebê, misturado com um sentimento de culpa por ter falhado como pai.
“Mas então a esperança volta e diz: ‘Esta pessoa acabou de vir da presença de Deus’”, disse Carney. “Este amor que os filhos estão dando [a você] é o que lhe dá a inspiração e a crença de que você deveria ser, e pode ser, uma pessoa melhor