AIBONITO, Porto Rico — Ao longo de seus 78 anos de vida, Margarita Reyes passou por muitas “tempestades”: criou um filho com deficiência, passou por furacões, terremotos, enchentes, pandemia e viuvez, só para citar algumas.
Refletir sobre a perda do marido trouxe lágrimas aos seus olhos. Muitas vezes ela se sente solitária. Mas é uma pessoa positiva por natureza e, no geral, disse ela, sua vida é abençoada e boa.
Apoio e visitas ajudam a levantar seu ânimo. Na sexta-feira, 13 de janeiro, ela recebeu dois amigos: Medardo Rosario e Gustavo Pagan. Eles levaram consigo kits de higiene com sabonete, xampu, pasta de dente e outros produtos, uma vez que sair de casa para comprar itens pode ser difícil para ela.
Rosario é coordenador comunitário da cidade de Aibonito. Pagan é o gerente de logística do Project Hope na ilha que, com o financiamento e apoio de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conseguiu ajudar cidades como Aibonito a cuidar de sua população de idosos e vulneráveis. Cerca de 800 pessoas como Reyes vivem nesta cidade e nas montanhas ao seu redor.
Reyes expressou repetidamente sua gratidão pelos suprimentos e pela visita. Rosario prometeu voltar logo.
Nos meses que se seguiram ao furacão Maria em 2017, um líder local disse ao Church News que seu maior medo era “que as pessoas se esquecessem de nós. Não queremos ser esquecidos.” A ajuda de emergência e a resposta da Igreja, e de muitas outras organizações, provam que Porto Rico não foi esquecido e pode ter esperança novamente.
Resposta e preparação para emergências
Ivelisse Colón, assistente do prefeito e líder de serviços para a comunidade em Aibonito, disse que o furacão Fiona, em setembro de 2022, levou muita chuva, sendo a recuperação mais difícil para os idosos. A cidade está trabalhando para que seus moradores estejam mais preparados para a próxima tempestade.
“É importante porque vivemos na rota dos furacões. Essa é a nossa realidade, de 1º de agosto a 30 de novembro”, disse ela. “Temos que ter uma mentalidade para lidar com desastres, e pegar as reservas que organizações como a sua e outras nos trazem, para ensinar as pessoas a serem capazes de lidar com um desastre em sua própria casa.”
Trabalhar em conjunto com a Igreja e organizações sem fins lucrativos é crucial, disse Colón, e a cidade de Aibonito está modelando o caminho para outras cidades da ilha.
“O governo tem o poder e a vontade de alcançar as pessoas e comunidades, mas sem as organizações que nos ajudam, não podemos atingir uma grande quantidade de pessoas e famílias”, disse.
“Às vezes você tem acesso a esses bens, remédios e [kits de] primeiros socorros que são realmente importantes para as pessoas, e o governo tem boa vontade de servir, mas não é o suficiente.”
Colón identificou casas onde as famílias passavam necessidades depois do Fiona, e os missionários da Igreja ajudaram o Project Hope a distribuir milhares de kits e suprimentos de higiene.
Pagan disse que os missionários eram entusiásticos, enérgicos e fáceis de trabalhar. “Eles me perguntavam: ‘Ei, se tiver outra atividade, se precisar de nós, é só chamar!’”
O financiamento da Igreja ajudou o Project Hope a cobrir muitos custos administrativos e, mais recentemente, a comprar vários sistemas de filtragem de água de primeira linha, para distribuir em locais como centros comunitários e prestadores de serviços em Porto Rico.
Pagan levou o Church News para o centro de idosos El Campito em Aibonito, onde seu novo sistema de filtragem de água torna a água mais segura para cozinhar e beber. O filtro, não só ajuda os 50 idosos que vão ao prédio todos os dias, como também ajuda outras 60 pessoas da comunidade que recebem alimentos. Eles sabem que podem confiar que as frutas e verduras lavadas serão seguras para comer e dar para sua família.
“O resultado é vida e saúde”, disse a diretora, Enilda Mateo, expressando sua gratidão enquanto Pagan traduzia.
Gloria Aponte, 92 anos, disse que o centro é melhor do que sua casa. Ela toma aulas de violão e de dança, come bem e passa o tempo com os amigos. “Estou muito feliz com tudo, tudo”, disse ela.
Esforços humanitários em Porto Rico
Nos últimos cinco anos, os esforços humanitários da Igreja em Porto Rico aumentaram com uma substancial ajuda de emergência. Além do furacão Fiona, a ilha enfrentou dois terremotos de magnitude 6,0 em 2019 e 2020, e perdeu mais de 5.000 vidas durante a pandemia de COVID-19.
Em 20 de setembro de 2017, o furacão Maria foi uma das piores tempestades que já atingiu Porto Rico e todo o Caribe. O presidente Edgardo Cartagena, segundo conselheiro na presidência da Estaca Caguas Porto Rico, e gerente de Bem-Estar e Autossuficiência da Igreja em Porto Rico, disse que muitos porto-riquenhos medem o tempo como “antes do Maria e depois do Maria”.
As pessoas ficaram sem energia por muitos meses, seus pais ficaram sem eletricidade por quase um ano. “Muitas pessoas sofreram com isso. Muitos morreram porque não tinham energia elétrica”, disse ele.
O presidente Cartagena estava abrindo um novo local de negócios na época, uma pequena loja no centro da cidade, nas montanhas. O furacão Maria derrubou o serviço de celular e as comunicações.
“Por algum milagre, meus telefones, e os de minha esposa e meus filhos estavam funcionando. Assim que percebi, peguei os cartazes da loja e escrevi: ‘Podem ligar para suas famílias daqui’. Então as pessoas usaram meus telefones para se comunicarem. Foi incrível ouvir suas histórias”, disse ele.
A Igreja forneceu ajuda financeira e participou de 34 projetos humanitários na ilha desde o furacão Maria, incluindo esforços e suprimentos de socorro a terremotos e furacões, ajuda de emergência a hospitais e escolas, situações de seca, doenças e assistência de subsistência, bem como apoio psicossocial.
E desde o Fiona, além do Project Hope, a Igreja financiou projetos da Cruz Vermelha Americana, Programa Mundial de Alimentos da ONU, Rotary Club, Grogo Foundation e outras organizações de caridade, para fornecer suprimentos médicos, kits de higiene, abrigo, água potável, alimentos e assistência financeira aos afetados em Porto Rico.
Assim como Reyes expressou esperança no futuro para a ilha e otimismo para o povo porto-riquenho, o presidente Cartagena sentiu o mesmo.
“Quando Presidente Russell M. Nelson veio para a ilha depois do Maria, ele disse ‘dias melhores virão’”, lembrou ele. “Tenho fé de que dias melhores para Porto Rico estão por vir. Fomos abençoados.”
ServirAgora em Porto Rico
Élder Wilford Taylor e sister Sharla Taylor chegaram à ilha duas semanas depois do Fiona, para servirem como missionários do ServirAgora. Neste chamado, eles estiveram envolvidos em muitos esforços de distribuição de suprimentos e trabalharam ao lado de membros e missionários em projetos de serviço.
“O ServirAgora é totalmente novo aqui”, disse o élder Taylor. “Tivemos algum progresso e alguns obstáculos, e temos sorrisos em nosso rosto toda vez que temos a chance de fazer algo bom para o programa ServirAgora.”
ServirAgora.org é um site e aplicativo onde as organizações comunitárias podem listar suas necessidades, e os voluntários podem encontrar oportunidades de serviço. Os Taylors foram recentemente convidados a participar de um programa de rádio apresentado pelo consultor do governo territorial sobre organizações religiosas.
“Então lá estávamos nós, no rádio, falando sobre o ServirAgora”, disse o élder Taylor. Os dois também visitaram pessoalmente organizações e igrejas, para falar sobre a plataforma e ajudá-los a se inscreverem.
Sister Taylor disse: “Visitar estas agências, é incrível para mim ao ouvir suas histórias. Porque as pessoas geralmente iniciam suas agências por causa de algo difícil em sua vida que elas próprias passaram.
Um membro da igreja católica tem câncer, mas retribui servindo refeições. Um homem, que ficou preso nas Torres Gêmeas na cidade de Nova York em 11 de setembro, voltou a Porto Rico para abrir uma agência para alimentar os sem-teto. “É incrível ouvir as histórias e como eles estão amando e servindo uns aos outros aqui. Eles são pessoas maravilhosas”, disse a sister Taylor.
Os missionários agora estão trabalhando como voluntários duas vezes por semana em comedores, ou cozinhas comunitárias, onde ajudam a servir um almoço quente para os necessitados. E os membros estão encontrando novas maneiras de servirem seus vizinhos
Logo depois do Fiona, os Taylors organizaram missionários, membros da Igreja e seus amigos, 87 voluntários no total, para ajudarem a Cruz Vermelha a embalar caixas de alimentos para enviar pela ilha. Eles trabalharam vários dias em outubro e novembro de 2022.
O presidente Cartagena descreveu um projeto de serviço que os jovens adultos fizeram em sua estaca depois do Fiona. A ilha não foi tão destruída como ocorreu com o furacão Maria ou com os terremotos, mas as pessoas ainda tinham muitas necessidades.
“Em vez de lhes levar suprimentos, queríamos que sorrissem e descansassem do desastre. Então levamos sorvete”, disse ele. “Colocamos sorvete em um caminhão e distribuímos mais de 300 porções para pessoas que estavam tristes em suas casas. Elas haviam sido atingidas pela enchente, então lhes demos uma pausa.”
O serviço abre portas
À medida que os membros servem uns aos outros e ao próximo, eles se aproximam de Jesus Cristo e se tornam mais semelhantes a Ele, disse o élder Taylor.
“O povo de Porto Rico ama doar seu tempo e esforço para ajudar os outros”, disse ele. “Acredito que seja, em parte, por causa das tragédias que eles tiveram aqui. Eles têm que olhar uns para os outros para poderem ajudar.”
O serviço trouxe de volta um senso de comunidade que havia sido perdido, disse o presidente Cartagena.
“Quando fomos atingidos por estas catástrofes, todos se uniram e começaram a se preocupar uns com os outros e ajudar como podiam. Estamos todos juntos nisto e isso é muito importante”, disse.
Quando ele era presidente de ramo, os membros se reuniam como ramo e serviam aos necessitados, e ele viu como isso abria portas para falar sobre a Igreja.
“A maneira como pregamos o evangelho foi por meio do serviço”, disse ele. “Isto abriu pontes para que os missionários pudessem ir até lá e fossem bem-vindos.”