Para John Bul Dau e sua esposa, Martha Arual Akech, a casa aberta e a dedicação do Templo de Richmond Virgínia foram suas primeiras experiências dentro de um templo de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Dau, um ex-refugiado de 2,03 m de altura do Sudão do Sul, achou difícil explicar como se sentiu.
“Não sei como explicar meus sentimentos hoje”, disse Dau. “Sinto-me muito abençoado por participar da dedicação da Casa do Senhor.”
Akech, também uma ex-refugiada do Sudão, disse que foi uma “experiência maravilhosa.”
“Senti paz imediatamente assim que entrei. O sentimento de calma foi tão grande que me fez chorar”, disse ela. “Sou muito grata por esta oportunidade de poder participar da dedicação do templo de Richmond. É uma bênção e algo que guardaremos para sempre.”
Uma parte da oração dedicatória do templo de Richmond feita por Presidente Dallin H. Oaks, primeiro conselheiro na Primeira Presidência, repercutiu profundamente em Dau e Akech.
“Oramos pelos milhões de Teus filhos que lutam pela liberdade e aqueles que foram desalojados de suas casas pela devastação da guerra se tornando refugiados em outras nações e lugares. Por favor, os abençoa e a todos os que buscam aliviar seu sofrimento e lhes dá esperança.”
A história de John Dau
Dau cresceu em um vilarejo onde hoje é o Sudão do Sul. Ele tinha 12 anos em 1987, quando sua vila foi atacada durante a Guerra Civil Sudanesa, que custou 2 milhões de vidas. Dau escapou, mas foi separado de sua família.
Sem roupas e comida, Dau e outros conseguiram evitar gangues armadas e animais selvagens enquanto fugiam para um campo de refugiados na Etiópia. Ele e outros milhares de meninos, que ficaram conhecidos como os “Lost Boys” [Garotos Perdidos – em inglês], viveram lá por quatro anos até serem forçados a sair.

Mais uma vez enfrentando fome, desidratação, doenças e violência, Dau estava entre as centenas de pessoas que escaparam da guerra e sobreviveram a uma jornada de seis meses pelo deserto africano, até o campo de refugiados de Kakuma, no Quênia. Enquanto morava no Quênia de 1992 a 2001, Dau aprendeu a ler, escrever e falar inglês.
Em 2001, Dau foi selecionado para emigrar para os Estados Unidos e encontrou um novo lar em Syracuse, Nova York. Nos anos que se seguiram, ele encontrou trabalho e se formou na Universidade de Syracuse.
A experiência como refugiado de Dau foi apresentada no documentário de 2006, “God Grew Tired of Us” [Deus se cansou de nós – em inglês]. Ele também escreveu um livro de memórias com o mesmo título.
Com uma nova vida e recursos, Dau queria retribuir. Ele criou a Fundação John Dau [em inglês] para fornecer assistência médica, nutrição, educação, emprego e esperança ao povo do Sudão do Sul. Ele também se tornou um palestrante motivacional. Ele contou partes de sua história de vida em 2016 , em A Lost Boy Finds His Purpose, [Um dos Garotos Perdidos encontra seu propósito – em inglês].
Eventualmente, Dau encontrou sua mãe e irmã e as levou para os Estados Unidos.
“A razão pela qual sobrevivi não foi porque eu era esperto”, disse Dau em sua palestra. “A razão é por causa de Deus Todo-Poderoso. Deus me ajudou. A segunda razão é que eu não desisti.”
A história de Martha Akech
A experiência de refugiada de Akech foi semelhante à de seu marido. Um dia, em 1989, seu vilarejo no Sudão foi atacado. Ela e sua irmã fugiram para salvar suas vidas. Enfrentando os mesmos perigos e dificuldades descritos por Dau, as meninas primeiro seguiram para a Etiópia e finalmente encontraram segurança no Quênia.
Todas as noites, elas lavavam as poucas peças de roupa que tinham, depois faziam suas orações noturnas e iam para a cama, esperando um dia melhor. Elas também encontraram paz ao frequentarem serviços religiosos nos campos de refugiados.
“Sentimos a presença de Deus conosco. Isto nos ajudou e era nossa única esperança”, disse ela. “Todos os dias, quando as bombas caem do céu, você se esconde, depois sai e espera que amanhã seja melhor. Você apenas tem esperança, fé e confiança de que Deus mudará sua situação.”
Ela passou quase uma década no acampamento no Quênia, onde havia menos oportunidades educacionais para meninas do que para meninos. A maioria das meninas foi enviada para viver com famílias que as tratavam como empregadas não remuneradas, que poderiam ser vendidas em casamento. Felizmente, ela evitou isso.
“Casar-se jovem significaria mais sofrimento, porque você não tem como sustentar seus filhos”, disse ela. “Era o meu maior medo e preocupação, e eu orava todos os dias para que isso não acontecesse comigo. Eu já estava criando minha irmã mais nova.”
Akech conheceu Dau em Kakuma. Eles namoraram por alguns meses antes dela se mudar para Seattle, Washington. Ele se estabeleceu em Syracuse no mesmo ano, e eles mantiveram contato para continuarem o relacionamento à distância.
Eles se casaram em 2007 e hoje têm cinco filhos. Akech se tornou auxiliar de enfermagem, mas não conseguiu terminar o curso universitário de Enfermagem depois que começaram uma família.
Naquele mesmo ano, ela descobriu que seus pais e irmãos estavam morando em Sydney, Austrália.
Dau e Akech se mudaram com a família para Richmond, Virgínia, em 2016.
A lição que Akech frequentemente compartilha de sua história é que, “Qualquer que seja o seu sofrimento, o que quer que esteja acontecendo em sua vida, se Cristo estiver no centro de sua vida, você pode superar.”
‘Eles reconhecem nosso sofrimento passado’
Em 2019, Dau teve um sonho espiritual certa noite que o inspirou a querer aprender mais sobre Jesus Cristo.
Na mesma época, a fundação de Dau recebeu uma doação dos Serviços de Caridade dos Santos dos Últimos Dias, o braço humanitário da Igreja. A contribuição chamou sua atenção e ele quis saber mais sobre a Igreja.
Quanto mais Dau aprendia sobre a Igreja e seu trabalho de caridade, mais impressionado ficava com a fé global.

“Eles estão em todo o mundo, ajudando os outros”, disse ele. “Estas pessoas têm uma forte fé no Senhor. Se não tivessem, por que eles realmente ajudariam estranhos, aqueles distantes que nunca veem e até mesmo pessoas de diferentes religiões? … Quanto mais eu aprendia, mais me apaixonava pela Igreja.”
Eles começaram a se reunir com os missionários e a ler o Livro de Mórmon. Não é de se surpreender que Dau tenha se identificado intimamente com a história de Leí e sua família deixando sua casa, e viajando para uma nova terra com liberdade religiosa. Ele adorou a história de Joseph Smith orando a Deus para saber a verdade sobre a qual igreja se filiar. Ele e sua família foram batizados em setembro de 2020.
“Como Leí e Néfi, aprendemos por meio de nossas provações e experiências no deserto, e nossa fé cresceu”, disse ele.
Ouvir Presidente Oaks, na oração dedicatória do templo, orar pelo alívio dos refugiados que estão sofrendo, tocou o coração de Dau e o lembrou por que ele foi atraído para a Igreja: seu esforço mundial para cuidar de todos os pobres e necessitados.
“Essa foi uma declaração de inclusão”, disse Dau. “Significou muito para mim por causa da minha experiência pessoal como refugiado. Traz uma sensação de conforto para pessoas como nós e outras que passaram por momentos difíceis. Eles reconhecem nosso sofrimento passado.”