BURLEY, Idaho — Gatlin Bair foi convocado para jogar futebol americano no ensino médio após seu primeiro jogo como calouro, no outono de 2020, mas realizar seu sonho de jogar futebol americano universitário a nível profissional pareceu mais realista um ano depois, quando ele se sentou na arquibancada do Rice-Eccles Stadium em Salt Lake City, Utah, e assistiu ao jogo da Universidade de Oregon contra a Universidade de Utah.
Conforme Bair avaliava os jogadores e observava o jogo de perto, ele sentiu um aumento de confiança.
“Eu posso ser tão bom quanto eles. Posso me ver nessa situação”, disse ele em uma entrevista recente ao Church News. “Ver esses jogadores pessoalmente foi o ponto em que pensei que poderia praticar fisicamente o esporte no próximo nível.”
Mais de dois anos depois, Bair não apenas mostrou que pode jogar com os melhores, mas o wide receiver de 1,87 m de altura poderia escolher quase qualquer programa do país. Todos manifestaram interesse em tê-lo.
Depois de demonstrar suas habilidades e velocidade no All-American Bowl contra os melhores jogadores do ensino médio do país, Bair foi classificado como o 27º candidato geral do país e é o recruta de futebol americano com melhor classificação na história de Idaho.
Espera-se que o jovem de 18 anos escolha entre a Universidade de Oregon e a Universidade de Michigan em 7 de fevereiro, dia nacional de contratação para os candidatos ao futebol americano universitário.
Mas então Bair está se afastando do jogo que ama para fazer algo que considera mais importante: servir missão de tempo integral para A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Bair não vê dois anos longe do futebol americano como um sacrifício.
“Sempre quis servir missão. Isto nunca foi uma dúvida em minha mente”, disse ele. “Acho que o maior sacrifício, como qualquer outro missionário, é estar longe da família. Não ver meu irmão mais velho [servindo atualmente em uma missão] por quase quatro anos será difícil.... Não acho que [deixar o futebol americano] seja um sacrifício, não acho mesmo. Na verdade, serei mais abençoado por isso. O futebol americano sempre estará aqui quando eu voltar. O futebol americano não vai a lugar nenhum.”
Família, corrida e fé
A compreensão da decisão de Bair de servir missão começa em casa, com sua família e sua criação.
Seus pais, Brad e Shae Bair, se conheceram no ensino médio e eram atletas famosos na Universidade de Utah State. Ela era uma saltadora com vara All-American [entre os melhores do país] e ele um campeão de decatlo.
“Obviamente ela era uma atleta muito competitiva e de alto nível”, disse Brad Bair. “A piada no nosso casamento era que eu era o único que conseguia alcançá-la. É por isso que acabamos juntos.”
Após a faculdade, o casal se estabeleceu em Kimberly, Idaho, onde treinou o time de atletismo do ensino médio e supervisionou um clube de atletismo juvenil. Gatlin, o terceiro de cinco filhos, começou a treinar aos 5 anos.
“As crianças cresceram indo para a pista de corrida”, disse Brad Bair. “É algo que fazíamos como família e é parte de nossa identidade. É assim que passamos tempo juntos.”
Além da corrida e da competição amigável na pista, os pais queriam ser relevantes na vida dos filhos e ajudá-los a “se tornarem bons seres humanos”, disse ele.
A família se esforçou para fazer da Igreja, e do fato de serem santos dos últimos dias, sua maior prioridade. Não havia competições aos domingos.
“Sempre íamos à Igreja e provavelmente éramos como todo mundo, acertando ou errando na noite familiar e no estudo das escrituras, mas fazíamos o melhor que podíamos”, disse o pai. “Queríamos ajudá-los a compreenderem que a fé era a coisa mais importante na vida e a verdadeira razão pela qual estamos na Terra. Não é para competir no atletismo e jogar futebol americano, é para nos prepararmos para encontrar Deus. Essa sempre foi nossa prioridade número 1.”
Sua esposa concordou.
“O exemplo é o mais importante”, disse Shae Bair. “Se mostrarmos que isso é importante para nós, então esperamos que nosso exemplo estabeleça essa precedência para eles.”
Família de missionários
Um exemplo de serviço missionário na família Bair começou com Brad Bair. Antes de se casar, ele serviu missão quando jovem no Paraguai.
Na Igreja de Jesus Cristo, uma missão é um período de serviço voluntário, normalmente 18 meses para as moças e 24 meses para os rapazes, quando os missionários se dedicam ao ensino do evangelho, à assistência humanitária ou a outras oportunidades de serviço.
Aqueles que não entendem o que uma missão implica são compreensivelmente céticos quanto ao motivo pelo qual um jovem atleta abandonaria o esporte no auge de seu desenvolvimento, disse Brad Bair.
“O que eles não entendem é que o crescimento mental, emocional e espiritual o ajudará a ser um jogador de futebol americano fenomenal”, disse ele. “A parte física é fácil. A parte difícil é a parte mental, espiritual e emocional. O que prepara você melhor para alguma coisa do que uma missão? Quão melhor jogador de futebol americano ele será porque tem aquela peça que a maioria dos outros jogadores não tem?
O irmão mais velho de Gatlin, Peyton Bair [em inglês], serviu nas missões Arizona Mesa e México Cancún antes de retornar para competir em vários eventos pela equipe de atletismo da Universidade Mississippi State [em inglês]. Peyton também serve como segundo conselheiro na presidência do Ramo Starkville Mississippi.
O segundo filho dos Bairs, Jaxon, serve atualmente na Missão Bolívia Santa Cruz Norte. Quando ele retornar, Jaxon competirá pela equipe de atletismo da Universidade de Arkansas.
Juntamente com o apoio e incentivo de seus pais, testemunhar o serviço missionário de seus irmãos mais velhos influenciou muito Gatlin.
“Uma das maiores coisas pelas quais as pessoas me desanimam é minha decisão de servir missão. Algumas pessoas dizem que sou muito tolo por fazer isso, que isso arruinará minha carreira e que voltarei mais devagar. Elas não entendem por que estou fazendo isso ou o raciocínio por trás disso, não sendo membros ou não experimentando as bênçãos”, disse Gatlin, consciente de ver os efeitos do serviço missionário para seus pais e irmãos. “Acredito que ao retornar, serei muito abençoado por ter servido. Mesmo que eu volte e não esteja exatamente onde estava, acho que tudo valerá a pena.”
Ele continuou: “Meu irmão Peyton está de volta há um ano e meio. As bênçãos que ele teve, o crescimento e as coisas que conseguiu alcançar, são notáveis. Não estou nem um pouco preocupado com isso. Acredito que ficarei bem.”
Gatlin foi designado para servir na Missão Texas Dallas Oeste. Ele começará seu serviço missionário em 19 de fevereiro. Peyton se sente grato por seu irmão mais novo ter decidido “colocar o Senhor em primeiro lugar.”
“Tem sido realmente uma bênção em minha vida”, disse Peyton sobre sua missão. “Aprendi muito naqueles dois anos, e isso me ajudou muito como pessoa e na minha carreira como alteta.... Creio que é uma bênção disfarçada. Ele estará mais maduro e desenvolvido quando voltar, o que é vantajoso para o esporte. Além disso, ele terá um testemunho mais forte e será capaz de tomar melhores decisões.”
Trabalho duro, perseverança, disciplina
Como seus pais eram competidores de atletismo, muitos presumem incorretamente que Gatlin Bair é apenas um “fenômeno genético”, que nasceu com velocidade de velocista. É verdade, até certo ponto, disse o pai, mas a velocidade também pode ser desenvolvida.
“Você não sai do útero correndo 10,15 [segundos nos 100 metros]. Foi um processo longo e ele trabalhou duro nisso”, disse Brad Bair. “Ele tem treinado por praticamente toda a vida.”
Anos de treinamento consistente valeram muito a pena no ano passado, quando Gatlin registrou um tempo de 10,18 segundos na corrida de 100 metros rasos no Texas Relays. Ele venceu a final com o tempo de 10,25.
Mais de um mês depois, Gatlin registrou um tempo recorde de 10,15 na corrida de 100 metros rasos nas preliminares do Campeonato Estadual do Ensino Médio de Idaho em Meridian, Idaho. No dia seguinte, ele igualou seu próprio recorde estadual com outro 10,15 nas finais [em inglês]. Ele foi nomeado Gatorade Boys Track and Field Player of the Year [Atleta Gatorade do Ano do Atletismo Masculino – em inglês] em Idaho.
Mesmo com 73 recepções em 1.017 metros, e um total de 20 touchdowns no futebol americano como aluno do segundo ano, foi o desempenho de Gatlin na pista que chamou a atenção dos recrutadores de futebol americano. Bair começou a receber ligações e visitas de nomes como o técnico de futebol americano da Universidade de Oregon, Dan Lanning, o ex-técnico da Universidade de Michigan, Jim Harbaugh, o ex-técnico da Universidade do Alabama, Nick Saban, o técnico da Universidade da Geórgia, Kirby Smart e muitos outros, disse Cameron Andersen, técnico de futebol americano de Gatlin na Burley High School.
“Todos os times dos Estados Unidos o aceitariam agora”, disse Andersen. “Vê-lo vivenciar esses momentos especiais por causa de seu trabalho duro, é absolutamente incrível.”
Gatlin disse que o processo de recrutamento às vezes era quase assustador. Andersen foi capaz de orientá-lo durante o processo porque ele já havia ajudado outro jogador, o ex-astro da Gooding High School, Colston Loveland [em inglês], a chegar à Universidade de Michigan.
A maioria dos treinadores estava um tanto familiarizada com o que é uma missão, e Gatlin disse que todos estavam dispostos a reservar uma vaga no elenco e uma bolsa de estudos para ele. Um programa até ofereceu financiar sua missão, embora a família tenha recusado. Isso sem falar de outras oportunidades de “nome, imagem e semelhança”, conhecidas como NIL [em inglês, Name, Image and Likeness], que ele diz que não significarão nada de qualquer forma, até que ele comece realmente a jogar futebol.
“No final das contas, o dinheiro que você pode ganhar através de acordos do NIL vem de sua produção no campo de futebol americano”, disse Gatlin. “Se você basear sua decisão no número [de vezes] que eles estão lançando [a bola] para você [durante o recrutamento], provavelmente você não está escolhendo a universidade pelo motivo certo.”
Gatlin já era um candidato de destaque em Idaho quando sua família se mudou de Kimberly para Burley, antes de seu segundo ano no ensino médio. Por causa de seu talento e sucesso, tem havido pressão para ele manter um desempenho de alto nível e ao mesmo tempo ser o principal foco de toda a defesa; ele enfrentou provocações e insultos de oponentes e torcedores; e ele tem sido um dos alvos favoritos nas redes sociais.
Mesmo assim, Andersen diz que seu craque permaneceu humilde, perseverou e continuou a trabalhar. Ele também encontrou um lugar de paz e força espiritual ao frequentar o Seminário, onde estudava as escrituras.
Olhando para trás, aprender a lidar com as adversidades e com um grande holofote promoveram a maturidade e o crescimento de Gatlin, o que ajudou a prepará-lo para uma missão.
“Tem sido muito legal observá-lo, através de pensamentos e orações, lidar com essas situações, ouvir os conselhos de outras pessoas e ter uma mentalidade muito além de sua idade para compreender os outros e como isso não o afeta”, disse o treinador. “Ele será um fabuloso missionário.”
Andersen também diz que Gatlin é tão disciplinado em termos de saúde e nutrição, que seus amigos e companheiros de equipe não conseguem nem fazê-lo comer um doce.
“Se você comer algo ruim, receberá um breve sermão sobre o que [o alimento] contém e como isto afetará negativamente seu corpo”, disse Andersen. “Ele está tão focado em atingir seus objetivos que é quase impossível fazê-lo comer coisas que não sejam benéficas para atingir esses objetivos.”
Servindo na ‘capital mundial do futebol americano’
Andersen diz que Gatlin Bair provou ser um dos melhores candidatos universitários, com seu desempenho contra outros jogadores de alto nível durante os treinos e exercícios que antecederam o All-American Bowl em San Antonio, Texas, em 6 de janeiro.
Gatlin apreciou a oportunidade de se conectar com vários jogadores, muitos dos quais perguntaram sobre seus planos de missão.
“Muitos deles fizeram perguntas sobre o treinamento, como seria e o que eu pensava sobre isso”, disse Gatlin, que espera se exercitar tanto quanto as regras de sua missão permitirem. “Expliquei como é a missão e que pensei que seria uma coisa boa para mim.”
Gatlin retornará em breve ao Texas com um uniforme diferente. Em vez de camiseta jersey, capacete e ombreiras, ele estará usando uma camisa branca, gravata, calça social e plaqueta. Ele sabe que se encaixará perfeitamente.
“Penso que fui chamado para [servir em] Dallas por um motivo. É provavelmente a capital mundial do futebol americano. Sinto que realmente me conectarei com as pessoas de lá”, disse ele com um sorriso.
Gatlin espera que outros jovens santos dos últimos dias que lerem sua história também considerem o serviço missionário.
“Se você dedicar esse tempo ao Senhor, será abençoado por isso”, disse ele. “E quando você voltar, descobrirá que provavelmente terá mais sucesso do que se decidisse não ir.”